5.28.2017

RASPUTIN: HIPNÓTICO E DEVASSO


Grigori Efunovich Rasputin (1872-1916), o místico siberiano com “olhos estranhos”, foi um sucesso em termos sexuais, mesmo pelos padrões atuais. Quando jovem, em sua aldeia natal de Pokrovskoye, Rasputin juntou-se a uma seita herética conhecida como “Os Flagelantes”, cujas orgias noturnas, de feitiçarias, danças frenéticas e cópulas indiscriminadas, eram praticadas como um pré-requisito pecaminoso para a redenção.

O nome Rasputin, que lhe foi dado pelos aldeões, significava “o devasso”. Ao descobrir que seu rival, o sacerdote local, estava prestes a iniciar uma investigação sobre suas heresias, Rasputin deixou a jovem esposa e sua fazenda para ir pregar seu evangelho sexual em outros lugares. A princípio, apregoava suas ideias nos bosques, depois passou a fazê-lo em cabanas de camponeses, onde as mulheres perturbadas iam procurá-lo, como salvador e curandeiro. Frequentemente ele aparecia nos banhos públicos, exibindo o corpo imenso e rude para as mulheres jovens, que invariavelmente o admiravam.

Mais tarde, quando elas iam procurá-lo em busca da redenção, Rasputin aconselhava-as a se degradarem e “experimentarem a carne”. A voz dele mudava então, tornava-se suave e sedutora. Aproximava-se das moças mais bonitas, a fim de acariciá-las, afagar-lhes os seios, até que ficassem completamente confusas, dominadas pela excitação sexual e pelo fervor religioso. Até mesmo os maridos presentes não objetavam, já que Rasputin convencera-os de que suas relações com as esposas eram um ato de redenção pela vontade de Deus. Não demorou muito para que hordas de camponeses se jogassem aos pés dele, por toda parte, beijando a bainha de seu cafetã preto e gritando:
- Padre Grigori, nosso Salvador!

Notícias dos poderes de curandeiro do homem santo barbado e imundo, com uma personalidade hipnótica, chegaram ao quarto de doente do filho único do Czar, Alexis, que era hemofílico. A menor queda causava no mesmo instante um inchaço roxo, de hemorragia interna. Os médicos da corte nada conseguiam fazer. A Czarina já recorrera a místicos, quando estava tentando desesperadamente conceber um herdeiro para o trono. Um deles, um clarividente de segunda categoria e antigo auxiliar de açougueiro, convencera-a de que ela estava grávida, quando isso não era verdade. Foi deportado por causa disso, mas não antes de predizer que apareceria um novo “amigo” e homem santo para ajudar a Czarina.

Foi em novembro de 1905 que Rasputin foi convocado ao palácio pelo Czar Nicolau e a Czarina Alexandra. Sem a menor inibição, ele abraçou e beijou a ambos e murmurou uma prece sobre o menino doente. Conquistou rapidamente a confiança de Alexis, massageando-lhe gentilmente o corpo dolorido e contando histórias siberianas, de cavalos corcundas e cavaleiros sem pernas.

O menino reagiu prontamente, as dores e os inchaços se atenuaram. A Czarina em lágrimas beijou a mão do “novo amigo”, a quem considerou enviado pelos céus pára restaurar a saúde do filho. Sempre que Alexis tinha uma hemorragia interna, Rasputin ia imediatamente postar-se a sua cabeceira. Não demorou muito em ganhar a posição política de “Czar acima dos Czares”, pois Nicolau e Alexandra passaram a consultá-lo em todas as questões importantes. Na prática, ele era “um membro” da família real.

Rasputin tratou de consolidar seu poder rapidamente. Instalou um escritório-apartamento e centro de redenção em São Petersburgo, a capital da Rússia naquele tempo. Pedidos de favores políticos, que ele tinha o poder de conceder, proporcionaram-lhe fabulosos “honorários” de ricos e poderosos. Muitas vezes, Rasputin gastava tudo o que havia recebido no mesmo dia, com os pobres e necessitados.

Sua sala estava sempre apinhada de mulheres ansiosas, competindo por seus favores sexuais-religiosos. Rasputin não hesitava em atender às escolhidas, num quarto contíguo, que era chamado de “o santuário dos santuários”. Ele preferia as beldades aristocratas às suas equivalentes camponesas, “porque cheiram melhor”. Mas jamais pensou em melhorar os seus próprios odores de camponês e continuou a comer com as mãos. Mas seus discípulos viam nele a reencarnação de Cristo, enviado para resolver o conflito entre a frustração sexual- e os princípios de castidade impostos pelo clero ortodoxo. Muitas mulheres encontraram pela primeira vez uma felicidade quase idílica nos braços do “Santo Sátiro”.

Algumas, no entanto, não estavam preparadas para a redenção e saíam correndo do quarto, furiosas, as roupas em desalinho, chorando ou gritando freneticamente. Agentes da polícia secreta, sempre por perto com a missão de protegerem Rasputin, tratavam de afastar discretamente as mulheres ultrajadas. Umas poucas apresentaram queixas, afirmando que Rasputin as violentara. Mas tais acusações jamais passaram das escrivaninhas das autoridades a quem haviam sido apresentadas, pois todos temiam tomar uma iniciativa qualquer contra Rasputin. Os que tentavam incorriam invariavelmente no desfavor do Czar e da Czarina, que ignoravam as acusações ou simplesmente não acreditavam nos excessos atribuídos a Rasputin.

Foram feitas muitas tentativas para assassinar Rasputin, encarado como personificação do Demônio e uma ameaça à monarquia. Prelados e monarquistas reacionários não apenas objetavam ao estilo de vida dele, mas também a seu evidente populismo camponês. Iliodor, o mais eminente prelado-orador daquele tempo, que já tinha sido amigo de Rasputin, organizou uma conspiração contra ele. Amaldiçoou publicamente o monge camponês e publicou um panfleto cheio - de acusações falsas, intitulado “O Santo Demônio”. Citava inclusive cartas da Czarina, que roubara da escrivaninha de Rasputin, insinuando que havia um relacionamento sexual entre os dois. Como não podia deixar de acontecer, isso causou um furor nacional.

Uma prostituta psicótica, com mania de religião, foi introduzida na conspiração. Apresentando-se como uma peregrina à procura de caridade, ela foi procurar. Rasputin. Quando ele meteu a mão no bolso para tirar algum dinheiro, a mulher cravou-lhe uma faca na barriga, gritando:
- Matei o Anticristo.

Mas o grande vigor e a presença de espírito de Rasputin salvaram-lhe a vida. Ele conseguiu evitar a queda e comprimiu a mão sobre o ferimento, para estancar a hemorragia. Depois de uma operação de emergência, na própria sala de seu apartamento, Rasputin pairou entre a vida e a morte por várias semanas, enquanto o Czar Nicolau preparava-se para a I Guerra Mundial. Rasputin, que sempre se opusera aos senhores da guerra da monarquia, culpou-se por não estar bem o suficiente para dissuadir o Czar de lançar a Rússia no holocausto, como já o fizera dois anos antes, ao convencer Nicolau a não se envolver no conflito nos Balcãs. Nisso, pelo menos, Rasputin era um autêntico homem de paz.

Enquanto a guerra ia de mau a pior, um aristocrata requintado, Príncipe Fellx Yusupov, ofereceu uma festa para Rasputin no porão de seu palácio, usando a própria esposa como isca. Yusupov fascinou Rasputin por sua habilidade em tocar guitarra e cantar as cantigas ciganas. Na noite de 29 para 30 de dezembro de 1916, Rasputin estava no palácio de Yusupov, divertindo-se intensamente. Poucos dias antes, o Ministro do Interior alertara-o para uma conspiração para assassiná-lo. Rasputin bebeu vários copos de vinho envenenado e comeu diversas fatias de bolo, com cianureto suficiente para matar uma vaca. Nervosamente, Yusupov tocava guitarra e cantava as músicas que lhe eram pedidas, esperando que seu convidado se decidisse a cair morto.

Como Rasputin resistisse, o príncipe se retirou por um momento, alegando que precisava falar com a esposa no andar superior. A esposa, na verdade, estava na Crimeia. Acalmando os outros conspiradores, que já estavam começando a ficar impacientes, o príncipe voltou com uma pistola. Atirou em Rasputin, que saiu para o pátio a cambalear. Outro conspirador também alvejou-o.

Apunhalaram-no repetidas vezes. Dois dias depois, o corpo de Rasputin foi encontrado no Rio Neva, sob o gelo, um braço solto, os pulmões cheios de água. Rasputin ainda estava vivo quando o jogaram no rio e morrera por afogamento. Ainda não havia completado 44 anos.

Camponeses pesarosos de todos os cantos do país e as mulheres que o adoravam choraram a morte do homem que julgavam ter sido enviado por Deus para revelar a verdade ao Czar. Rasputin profetizara corretamente:

- Se eu morrer, o Czar não vai demorar muito a perder a coroa.

Texto traduzido por Alfredo B. Pinheiro de Lemos, publicado em "Almanaque Para Todos" de Irving Wallace e David Wallechinsky, Editora Record, Rio de Janeiro,1975, excertos pp.106-108, vol.II. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.  

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