6.05.2017

A ECONOMIA PERNAMBUCANA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX


Produtora de açúcar e algodão, dois gêneros de grande procura na Europa, a economia pernambucana desfrutava, no início do século XIX, de uma posição privilegiada no comércio internacional. Seus principais concorrentes — os Estados Unidos com o algodão e o Haiti com o açúcar — haviam-se afastado do mercado, envolvidos que se achavam em suas lutas de independência. Seu afastamento provocou uma diminuição daqueles produtos, cujos preços, consequentemente, subiram de maneira vertiginosa, beneficiando os plantadores pernambucanos. Além disso, as guerras napoleônicas e o conflito anglo-americano de 1812-1814 reforçaram ainda mais essa situação, dando início a um período de euforia não apenas para Pernambuco, mas para todo o Brasil.

Pagando as contas da Corte

Foi em meio a esse clima de prosperidade geral que a Corte portuguesa chegou ao Brasil, em 1808. Impulsionando o comércio, a abertura dos portos e os tratados assinados com a Inglaterra a partir de 1810 representaram um novo fator de crescimento econômico.

Mas, se o Brasil obtinha maiores facilidades para a colocação de seus produtos no exterior, importava, em troca, um volume cada vez maior de mercadorias britânicas. Acostumada ao fausto europeu, a Corte traria seus antigos hábitos para os trópicos, revolucionando os costumes da terra. E os colonos, mirando-se no exemplo da nobreza, não se contentavam mais com a vida simples de antes: queriam também usufruir dos requintes que as facilidades de importação propiciavam.

Assim, o comércio externo do país tomava-se deficitário. Por mais que aumentassem, as exportações não chegavam para pagar os luxos da Corte e os custos de ampliação da dispendiosa burocracia estatal. Nem mesmo o ouro brasileiro foi suficiente para cobrir o desequilíbrio comercial. Em pouco tempo toda a reserva disponível do metal foi drenada para o exterior e a pequena produção aurífera não bastava para repô-la.

A solução foi recorrer a empréstimos junto aos governos estrangeiros. Com o ouro desaparecendo de circulação e os empréstimos externos cada vez mais volumosos, a base monetária perdeu a estabilidade. Assim, pode-se identificar nessa época a origem remota de dois problemas que a economia brasileira arrastaria ao longo de sua história: inflação e dívida externa.

O gosto amargo da recessão

Como um dos pólos dinâmicos da produção brasileira, Pernambuco carregava boa parte desse desequilíbrio econômico. Enquanto as cotações do açúcar e do algodão estiveram em alta, foi possível contornar os problemas, mas logo a situação se modificou.

O fim do império de Napoleão Bonaparte permitiu às potências europeias um controle mais efetivo sobre a economia mundial. As tradicionais rotas de comércio tomaram-se mais seguras e restabeleceu-se o poder de manipulação dos grupos importadores de gêneros tropicais. Nos Estados Unidos,encerrada a guerra com a Inglaterra, em 1814, rearticulou-se a produção algodoeira.

A consequência disso tudo foi a queda de preços dos dois principais produtos de exportação de Pernambuco: : açúcar e o algodão. A situação deste último era ainda agravada pela concorrência do Maranhão, onde, o cultivo havia se expandido no período favorável.

O sonho de riqueza chegava ao fim e, ao acordar, os pernambucanos constatavam a dura realidade de uma economia frágil, dependente e em processo de recessão.

Texto publicado em "Saga - A Grande História do Brasil", Abril Cultural, São Paulo, 1981, editor Victor Civita, vol.3, Império (1808-1870) p.56-57. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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