1.22.2018

A BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI



Biblioteca de Nag Hammadi é uma coleção de textos gnósticos do cristianismo primitivo (período que vai da fundação até o Primeiro Concílio de Niceia em 325 d.C.) descoberta na região do Alto Egito, perto da aldeia de Nag Hammadi em 1945.

Helmut Koester em seu livro "Introdução ao Novo Testamento' sustenta que cerca de dez escritos achados em Nag Hammadi são anteriores ao ano 150.

Em dezembro de 1945, Mohammed Ali Samman e seu irmão, enquanto procuravam por fertilizante em cavernas de rocha calcária perto da atual Hamra Dom no Alto Egito, encontraram numa jarra de argila treze códices de papiro acondicionados em couro. Os códices contêm textos sobre cinquenta e dois tratados majoritariamente gnósticos, além de incluírem também três trabalhos pertencentes à "Corpus Hermeticum" e tradução parcial da "A República de Platão".

A descoberta não foi inicialmente reportada por nenhum dos irmãos, que tentaram ganhar dinheiro pelos manuscritos vendendo-os individualmente. Conta-se também que a mãe dos irmãos queimou diversos dos manuscritos. Como resultado, o que passou a ser conhecido como "Biblioteca de Nag Hammadi" foi uma acumulação gradual de achados e sua importância passou despercebida por algum tempo após os achados iniciais.

Em 1946, os irmãos se desentenderam e deixaram os manuscritos com um sacerdote copta, cujo cunhado, em outubro daquele ano, vendeu um dos códices ao Museu Copta no Cairo (Codex III na coleção atual). O especialista em copta e história das religiões residente Jean Dorese, percebendo a importância do achado, publicou a primeira referência a ele em 1948. Com o passar dos anos, a maioria dos códices foram passados pelo sacerdote para um antiquário cipriota no Cairo e em seguida retidos pelo Departamento de Antiguidades, que temia que eles fossem vendidos fora do país. Após a revolução de 1956, os textos foram entregues ao Museu Copta e declarados tesouro nacional egípcio.

Enquanto isso, um único códice foi vendido no Cairo para um antiquário belga. Ele foi adquirido pelo Instituto Carl Gustav Jung, Zurique, em 1951. Por isso, este códice é conhecido como Codex Jung (Codex I na coleção). A morte de Jung em 1961 provocou uma disputa sobre a possa do Codex Jung, atrasando a entrega das páginas ao Museu Copta somente em 1975, após a primeira edição do texto já ter sido publicada. E assim, todos os papiros foram finalmente reunidos no Cairo.

Entre os escritos de Nag Hammadi mais conhecidos de nome é "O Evangelho Segundo Tomé" e "O Evangelho da Verdade", atribuídas ao líder gnóstico Valentiniano.

Em 1966, durante o Congresso de Messina na Itália, cujo objetivo era discutir o Gnosticismo, James M. Robinson, reuniu um grupo de editores e tradutores na tarefa de publicar uma edição bílingue dos códices de Nag Hammadi em inglês. Em colaboração com o Instituto de Antiguidades e Cristianismo da Universidade de Claremont  na California a tradução foi finalmente publicada em 1977: "The Nag Hammadi Library in English'. Uma tradução da obra está disponível em português: James Robinson. "A Biblioteca de Nag Hammadi". Editora Madras, São Paulo, 2006.

James M. Robinson nessa obra,  sustenta que estes códices podem ter pertencido ao monastério de São Pacômio localizado nas redondezas e tenham sido enterrados após o bispo Atanásio de Alexandria ter condenado o uso não crítico de versões não canônicas dos testamentos em sua Carta Festiva de 367 d.C.

Após o Concílio de Niceia,alguns monges decidiram desenterrar os papiros e os esconderam em potes de barro na base de um penhasco chamado Djebel El-Tarif. Ali ficaram esquecidos e protegidos pela falta de umidade do local, por mais de 1500 anos. Esta situação mudou apenas em 1945 quando Mohammed Ali Samman e seu irmão  acharam os papiros.

Escritos os de Nag Hammadi evidenciam o processo que conduziu às primeiras definições dogmáticas e não  podem, ser descartados em nome de sua suposta heterodoxia.  Os escritos de Nag Hammadi tornaram complexos a discussão relativa à formação do Novo Testamento. Longe da simplicidade em atribuir apenas a Constantino, no século IV, a confecção de um todo que em meados do século anterior já estava pronto, devemos nos dar conta de que a definição do cânon do Novo Testamento foi extremamente controvertida, e vários dos escritos que ora vêm à luz conviviam em pé de igualdade, quanto a sua aceitação no século II, com escritos que foram canonizados.

Códices de Nag Hammadi

Códice I (Códice Jung)
NHC I, 1 — Oração do Apóstolo Paulo
NHC I, 2 — Apócrifo de Tiago também conhecido como o O Livro Secreto de Tiago
NHC I, 3 — O Evangelho da Verdade
NHC I, 4 — Tratado sobre a ressurreição
NHC I, 5 — Tratado tripartite
Códice II
NHC II, 1 — Apócrifo de João a versão longa
NHC II, 2 — Evangelho de Tomé
NHC II, 3 — Evangelho de Filipe
NHC II, 4 — Hipóstase dos Arcontes
NHC II, 5 — Sobre a origem do mundo
NHC II, 6 — Exegese da alma
NHC II, 7 — Livro de Tomé o Adversário
Códice III
NHC III, 1 — Apócrifo de João a versão curta
NHC III, 2 — Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível, também conhecido por Evangelho dos Egípcios
NHC III, 3 — Eugnostos, o abençoado (também conhecido como Primeira Epístola de Eugnostos ou Carta de Eugnosto, o Bem-aventurado
NHC III, 4 — Sofia de Jesus Cristo
NHC III, 5 — Diálogo do Salvador
Códice IV
NHC IV, 1 — Apócrifo de João a versão curta
NHC IV, 2 — Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível
Códice V
NHC V, 1 — Eugnostos, o abençoado
NHC V, 2 — Apocalipse de Paulo
NHC V, 3 — Primeiro Apocalipse de Tiago ou Primeira Revelação de Tiago
NHC V, 4 — Segundo Apocalipse de Tiago ou Segunda Revelação de Tiago
NHC V, 5 — Apocalipse de Adão ou Revelação de Adão
Códice VI
NHC VI, 1 — Os Atos de Pedro e dos Doze Apóstolos
NHC VI, 2 — O Trovão: a Mente Perfeita
NHC VI, 3 — Discurso Autorizado
NHC VI, 4 — O Conceito do Nosso Grande Poder
NHC VI, 5 — A República de Platão
NHC VI, 6 — O Discurso sobre o Oitavo e o Nono ou Discurso sobre a Ogdóade e a Enéade
NHC VI, 7 — A Oração de Ação de Graças
NHC VI, 8 — Asclépio 21-29 ou Excerto do Discurso Perfeito, Apocalipse de Asclépio
Códice VII
NHC VII, 1 — Paráfrase de Sem
NHC VII, 2 — Segundo tratado do grande Sete
NHC VII, 3 — A Revelação de Pedro ou Apocalipse gnóstico de Pedro
NHC VII, 4 — Ensinamentos de Silvano
NHC VII, 5 — As três estelas de Sete
Códice VIII
NHC VIII, 1 — Zostrianos
NHC VIII, 2 — A Epístola de Pedro a Filipe
Códice IX
NHC IX, 1 — Melquisedeque
NHC IX, 2 — O Pensamento de Norea
NHC IX, 3 — Testemunho da Verdade
Códice X
NHC X, 1 — Marsanes ou Marsano
Códice XI
NHC XI, 1 — A Interpretação do conhecimento
NHC XI, 2 — Exposição Valentiana (Sobre a Unção, Sobre o Batismo (A e B) e Sobre a Eucaristia (A e B))
NHC XI, 3 — Alógenes ou Alógenes, o Estrangeiro
NHC XI, 4 — Hipsifrone
Códice XII
NHC XII, 1 — Sentenças de Sexto
NHC XII, 2 — Evangelho da Verdade
NHC XII, 3 — Fragmentos
Códice XIII
NHC XIII, 1 — Protenoia trimórfica
NHC XIII, 2 — Sobre a Origem do Mundo (fragmentos)

(Texto de Leopoldo Costa)

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