2.11.2019

ENTRE A BOCA E O COPO: MICROGESTOS E RITUAIS DO BEBER



Quebra-jejum

São nove horas da manhã. Estou sentada diante de um balcão de um botequim “frege moscas” da Rua da Consolação. Um indivíduo, em pé, debruçado na barra, pede uma branquinha. Uma senhora de tailleur e rabo de cavalo indefectíveis, que tinha entrado por acidente, para comprar cigarros, flagra o pedido do meu vizinho e busca minha cumplicidade insistindo num olhar de condenação.

A correspondência que ela me pede é recusada. Estou muito concentrada em lembrar que, segundo Aluísio de Almeida, se esse cidadão vivesse no começo dos oitocentos, não estaria em nada deslocado dos hábitos vigentes. Segundo esse memorialista, o café só passa a ser utilizado como quebra-jejum aqui no Brasil por volta dos 1800. Antes disso, nos meios rurais e urbanos, bebia-se cachaça ou vinho:

"Café, começou aos poucos, antes de 1800. Antes não era o quebra-jejum. Nos engenhos os donos e hóspedes se dirigiam à casa do estanque, onde se guardavam pipas e barris e aguardente e, tal como na metrópole se fazia com um copázio de vinho tinto, ou mesmo verde, matavam o bicho com um copinho ou cálix de vidro colorido, coisa rara."350

Affonso de Freitas relata a história de Nhéco-Nhenhéco, um preto velho, forro, de 80 anos, que andarilhava pelas ruas paulistanas, com duas colheres de estanho castanholando num prato de folha, como se estivesse tocando pandeiro. Repinicava com tanto virtuosismo que se notabilizou pelo feito. Sentava-se na soleira da porta de alguma residência e iniciava o seu tamborilar no prato, a fim de solicitar refeição. Mas era frequentador assíduo, onde tinha o hábito litúrgico de “matar o bicho”, do boteco do José Frango Assado, um português que tinha venda na Travessa da Sé.351

Mas, sem dúvida que nem o costume nem a expressão foram criações paulistanas. O mata-bicho ficou muito conhecido e em voga em São Paulo e em todo o Brasil, no sentido de ingerir álcool no começo do dia, mas era termo popularismo nascido entre os beberrões da Idade Média europeia.352

Combustível para o corpo e para a alma

As referências sobre o costume do mata-bicho nas tabernas portuguesas são várias. Raul Simões Pinto, em seu livro sobre as tascas do Porto, trata da expressão MATA-BICHO, como um hábito e um termo antigo e tradicional sobrevivente no ambiente desses estabelecimentos localizados nessa cidade:

"Mata-bicho – Expressão utilizada logo pela manhã: pedir uma aguardente ou um bagaço para ‘matar-o-bicho’ do corpo e da alma! Vulgar em zonas piscatórias, mas também de uso corrente nas tascas."353

Até os dias de hoje algumas tascas do Porto servem mata-bicho em copinhos de vinho pequenos, chamados neguinho, de café com bagaço, reminiscência do mata-bicho antigo. Outros alimentam o hábito de tomar um Martini matinal.

Luis Fontes, em seu estudo sobre as tabernas de Braga, aborda uma taxionomia entre as práticas tabernais no que diz respeito às bebidas que se deve tomar pela manhã:

"Quanto a bebidas, a oferta é também variadíssima devendo distinguir-se dois tipos: as que se bebem no período da manhã e as que se bebem após almoço e até à noite. As primeiras são sobretudo bebidas espirituosas ou licores – ginga, aguardente, Martini, etc. e as segundas vinhos e refrigerantes, predominantemente verdes (de casco) e cerveja. O consumo de bebidas da parte da manhã assume características particulares, existindo uma designação popular para tal: ‘matar o bicho’ ou ‘lavar o casco’, operação levada a efeito várias vezes durante o período da manhã e em que se utilizam vários ‘instrumentos específicos’ – trançadinho (mistura de ginga com aguardente), ‘penalty’ (mistura de ginga com água gaseificada), ‘telha’ (mistura de Martini com água gaseificada), ou simplesmente ginga, bagaço, Martini, vinho branco simples, etc."354

Pedro de Andrade, outro estudioso português das práticas tabernais, aponta para essa prática frequente em Portugal, cujo primeiro objetivo era aquecer para o trabalho.355

Vale lembrar que, até os oitocentos, o modelo da termodinâmica estimulava a considerar o corpo como uma caldeira, e posteriormente um motor, que é preciso ser alimentado de combustível. Esse pensamento ratifica a crença nas virtudes do álcool e do trago matinal, que regula e incentiva o ritmo.356 O “consolo”, ou como tantos outros termos utilizados aqui no Brasil, APAGA-TRISTEZA, CURA-TUDO, ESTRICNINA,HOMEOPATIA, PENICILINA 357, quando engolido de uma só vez, desde cinco horas da manhã, faz esquecer, aquece ou refresca, no que for necessário, anima, aclara, cura.

Mas o poder benfazejo do álcool, e sobretudo da cachaça, não para por aí. Câmara Cascudo discorre sobre uma tradição segundo a qual a cachaça, misturada com pólvora, propulsiona a coragem.358

Água para camelo

A sobrevivência do MATA-BICHO está ligada à permanência de uma convicção de que bebida é alimento. Segundo o anedotário biográfico de Noel Rosa, músico carioca e boêmio inveterado, há uma cena em que um amigo encontra-o num botequim, bebendo cerveja logo pela manhã. Seu interlocutor lhe adverte: “Bebendo a essa hora, Noel?!....” A réplica de Rosa é todo um tratado sobre os valores nutritivos da bebida. Mas o amigo rebate: “Está bem, e esse conhaque?” No que Noel retruca: “Mas você não quer que eu coma sem uma bebidinha, não é?”

À parte a pilhéria trágico-cômica de Noel Rosa, sem dúvida ele recorre a uma chave de pensamento segundo a qual bebida e alimento não eram separados. O professor Eddy Stols, especialista em história da alimentação, me falou que até os dias de hoje recomenda-se para a mulher que convalesce do parto, em algumas regiões europeias, um prato feito com carne, ovos e cerveja.359 É a sobrevivência recôndita do costume do medievo de se tomar sopa de cerveja.

Antes que as bebidas quentes e não alcoólicas – café, chá, chocolate – ocupassem um lugar fixo na dieta europeia, o álcool cumpria as vezes de estimulante e de alimento. Lógico que a população do medievo utilizava o vinho e a cerveja para se emborrachar. Mas também é certo que antes da introdução da batata, a cerveja constituía, juntamente com o pão, a dieta básica na Europa. Ainda na segunda metade do século XVII, quando o café era coisa para os iniciados da fina flor, uma família inglesa das camadas mais populares consumia três litros de cerveja por dia.360 Mesmo no decorrer do século XIX, na França, o consumo de aguardente entre os pobres era de meio litro por dia, cinquenta a setenta e cinco litros anuais.361 Ainda resta o velho ditado: água é comida de camelo.

Brinde: o beber lúdico

Entre os rituais do beber em grupo, um dos mais antigos é o brinde, cuja origem remonta do termo grego propinein (em latim propinare), que denomina o gesto dos bebedores que se encaram durante as libações.362 Dentro dos grupos estabelecem-se fórmulas de pronúncia.363 Essa saudação é um compromisso tácito de amizade recíproca. Não participar dele é uma desfeita imperdoável. Aliás, as regras desses rituais eram fixas e quem as rompia podia gerar uma peleja: não se rechaça uma rodada impunemente. Do mesmo jeito, quem aceita participar dela deve ir até o fim. Todos esses ritos carregam um significado cultural dos gestuais de oferta, recebimento, trocas de gentilezas. O conjunto de expressões que envolve as bebidas quentes modernas não pode ser comparado ao cerimonial comunitário que roça o prazer do consumo de álcool. Ninguém brinda nem bebe a saúde de alguém com café364, tampouco se joga um gole de chá no chão, para oferecimento aos santos beberrões.

Braços de sombra erguem copos de sombra

O beber à saúde é uma citação recorrente entre os memorialistas da cidade de São Paulo do século XIX e começo do XX. O cronista Afonso Schmidt, em um de seus textos, dá conta do quanto o brinde faz parte de um vocabulário gestual socialmente discernível ao narrar uma encenação em que braços de sombra erguem copos de sombra, ou seja, ele reconhece o rito pelas silhuetas dos personagens em jogo:

"Sem querer, assisto lá do outro lado da rua, naquela sala, a uma cena representada por silhuetas. A família está ao redor da mesa. Braços de sobra erguem copos de sombra. Depois, alguém, para que os vizinhos da frente não vejam a festa íntima, vai à janela e puxa a cortina. O pano desce, como no teatro."365

Jorge Americano relata a sucessão de brindes de champanhe nas festas de casamentos, após a realização das cerimônias:

"Havia mesa de doces e ‘champagne’. Primeira mesa, segunda, terceira, conforme o número de pessoas e o tamanho da mesa. Na primeira sentavam-se os noivos, os pais, os padrinhos e os convidados de mais idade e categoria. Trocavam brindes. Meia hora depois levantavam, recompunha-se o arranjo e começava a segunda mesa. Os noivos continuavam sentados. Brindes. Levantavam, recompunha-se o arranjo e começava a terceira mesa. Os noivos continuavam sentados. Brindes."366

Segundo John Mawe, os ritos dos brindes durante os banquetes em São Paulo dos 1800 chegavam a durar duas a três horas.367 De outro lado, Saint-Hilaire conta de se entediar com os protocolos do brindar que vigoravam nessa cidade no século XIX:

"O dia de S. Carlos (4 de novembro) era o dia da festa da rainha, que se chamava Carlota. O general ofereceu um banquete, para o qual fui convidado.” O general organizou uma partida de uíste. Depois de servida a sopa, ele se levantou para brindar à saúde do rei, e a banda do regimento, postada à entrada da sala, executou uma marcha militar. Bebemos sucessivamente à saúde do infante D. Sebastião, nascido no mesmo dia alguns anos antes, à da Princesa da Beira, sua mãe, dos paulistas, do capitão-geral e de diversas autoridades locais. Foi por acaso, por assim dizer, que se lembraram da rainha em honra da qual estava sendo realizada a festa. Isso não deve causar surpresa, já que a rainha, nessa época, tinha caído em desagrado. Os convivas brindaram também à saúde uns dos outros. Esse costume, como era praticado então no Brasil e sobre o qual já me referi, é um dos mais incômodos que se pode imaginar. Era preciso que o convidado soubesse o nome de todos os presentes, não esquecesse nenhum, ficasse à espreita do momento em que o escolhido não estivesse comendo ou conversando para chamar o seu nome, observasse a ordem de precedência, gritasse a plenos pulmões de uma extremidade da mesa à outra e estivesse sempre de sobreaviso para empunhar o próprio copo quando o brinde fosse dirigido à sua própria pessoa. Pedi permissão ao capitão-geral para fazer um brinde à união eterna de Portugal e da França. Falei em francês, e o general levantou-se e traduziu para todos as minhas palavras. Bebemos também à saúde do rei Luís XVIII. Em seguida, todo mundo sentou-se, e o general, olhando para mim, fez um brinde em francês em nome da vitória da boa causa."368

Já conforme relata Pires de Almeida, estudantes da Faculdade de Direito, nos idos de 1870, saudavam suas libações com crânios cheios de conhaque e ponche incendiado: “E, a uma, erguendo os crânios em fogo, levantamos estrondoso toast a Álvares de Azevedo, o primus inter pares do byronismo brasileiro.”369

Missa invertida

O beber à saúde, costume de grupo tabernal anterior às sociedades pré-industriais e muito recorrente nos estabelecimentos portugueses e europeus de maneira geral, é uma forma de beber lúdico praticado para conquistar ou reiterar vínculos, posto que unifica simbolicamente todos os envolvidos num beber único.370

Trata-se de um jogo de gestos de uma simultaneidade de expressões, envolvendo o levantar e tocar dos copos, troca de olhares, interpelações, que se comunicam entre si371 e desencadeiam um intercâmbio entre um círculo de bebedores. Esse simples gesto também costura alianças, acordos, invoca consensos.372

Essas fórmulas de saudação garantem um certo sentido na consagração da bebida como elemento de comunhão. Como numa missa invertida, levanta-se taças que não são sagradas.

Assim como outros microgestos, embora tenha se espalhado para etiquetas comedidas em taças de Veuve Clicquot, é uma expressão social da taberna ou tasca, espaço social quase tão antigo quanto o vinho e o beber. Trata-se de um lugar não só de venda e consumo de alcoóis, mas também de toda uma sociabilidade subscrita, o que proporcionou uma acumulação de um repertório particular de práticas.

Esse território nasce no Egito Antigo e é largamente disseminado na Grécia e no Império Romano, que, por conta de sua política expansionista, pulveriza a instituição tabernal por toda a Europa, incluindo Portugal. Esse lugar de venda de vinho a retalho, chega e é reapropriado no Brasil por ocasião da colonização portuguesa e das sucessivas levas de imigrantes portugueses, que tinham como ramo de negócio esse tipo de comércio. Amalgamados com o espaço social, trazem também alguns hábitos milenares, como o beber à saúde.373.

Com o tempo, a tasca ou taberna acabou assumindo uma identidade popular, como discorre Pedro de Andrade:

"A análise econômica do consumo de vinho na tasca, a partir da produção, distribuição, impostos, preços, tipos de consumidores, etc., dá-nos elementos para definir uma configuração que evolui no sentido de uma deserção progressiva das classes dominantes na qualidade de proprietários e frequentadores até a identificação quase mimética da tasca com as classes populares. o que antes era divisão de um espaço social, aliás de feição predominantemente popular, tornou-se hegemonia de um só tipo de economia e de cultura. Este fenômeno de especialização de territórios é mais recente do que se supõe, e só se afirma a partir do fim do século XVIII, quando o café oferece uma alternativa de espaço de sociabilidade à burguesia em ascensão."374

As regras, táticas e comportamentos que norteiam o ato de beber nesses estabelecimentos são, portanto, vestígios de tempos remotos, e que são recriados e reatualizados, com outras ordenações, fórmulas, saudações, dizeres.

É assim que, por exemplo, é bastante fortalecido no Brasil a ABRIDEIRA, de primeiro um costume do Amazonas, que depois derramou-se por todo o país. É o brinde inicial, a abertura do ritual, a primeira dança, a iniciação; na mesma mão em que a SAIDEIRA é o último brinde, o derradeiro gole, a despedida.375

É enfim nesse repertório de reapropriações que o brinde é reiterado e assume aqui no Brasil e em São Paulo, um lugar de destaque entre todos os microgestos do beber, que neutraliza ameaças e dissensos e também fortalece o ajuntamento entre os demais.376 O gesto de oferecer, receber, trocar, firma o estabelecimento de um equilíbrio social estável ligado ao intercâmbio da vida em grupo e ao beber em público, na taberna, na tasca, no botequim.

É um asseguramento do bem-estar e das boas intenções recíprocas. Bebe-se à saúde de alguém, de algo, de algum acontecimento ou passagem. Como num acordo calado, é proibido amaldiçoar ou atrair maus pensamentos durante o ritual.

A expressão de uma simples ação de levantar o copo é um pacto, uma incorporação oral de uma promessa, de um trato: aqui, agora, em torno desta mesa, o mundo é nosso. O bebedor vira o copo e quando volta a ter sua cabeça ereta o universo e o discurso sobre os valores morais vigentes desaparecem. 377 O brinde é uma zona de território livre, autônomo e temporário. É a cama do casal tomada pelas crianças quando os pais viajam. Ali elas casam, brigam, nadam, dividem.

Beber até cair: o beber vertigem

A figura a seguir, de autoria do pintor português José Malhôa 378, denominada Os Bêbados ou Festejando S. Martinho, é uma encenação de interior fechado de taberna, formada por seis homens no entorno de uma mesa. Quatro deles protagonizam os efeitos do vinho, desde o personagem ao fundo, segurando uma malga,379 de semblante ainda altivo e lúcido, até a figura no primeiro plano, à esquerda, já entregue ao sono, debruçado sobre outro homem com os olhos fechados de torpor. Por fim, a figura central debruça o dorso sobre a mesa, com a mão esquerda repousada e a direita demonstra um desgoverno de atitude na sua maneira de segurar a jarra, no desarranjo da mesa com a malga emborcada, seguida de uma poça de vinho, além dos vestígios do repasto, como sardinhas e couves numa dispersão desordenada. Em posição secundária, dois outros atores, à direita, participam e observam, em atitude ambígua.

Essa outra prática do beber em grupo, o beber vertigem, ou o beber até cair, pode ser vista como uma somatória de outros rituais, como os concursos de bebidas – competição para se aferir quem bebe mais, em rapidez ou quantidade, na busca de reconhecimento por meio do beber bem e do bem beber.380 No mesmo esteio, pode ser também o resultado de uma sequência desenfreada de brindes.381

A mesma tática microscópica é vista no poema de Charles Baudelaire, O Vinho dos Trapeiros, que percebe na embriaguez-vertigem-cambaleante desse personagem urbano, que se safa junto às paredes das ruas, uma atitude de desafio e afronta, o que traz à tona o consumo de bebidas alcoólicas como atividade plural, amalgamada com aspectos políticos, sociais e econômicos, e como forma de resistência e reiteração de identidade de grupo382:

"Vê-se um trapeiro cambaleante, a fronte inquieta,
Rente às paredes a esgueirar-se como um poeta
E, alheio aos guardas e alcaguetes mais abjetos,
Abrir seu coração em gloriosos projetos.

Juramentos profere e dita leis sublimes,
Derruba os maus, perdoa as vítimas dos crimes,
E sob o azul do céu, como um dossel suspenso,
Embriaga-se na luz de seu talento imenso."383

Por motivos e crenças bastante similares, Frederico Revalis, 40 anos, nascido em Nova York, foi preso no ano de 1888, quando encontrado dormindo em sono alcoólico profundo, numa carroça do Largo São Francisco, em São Paulo.384

Nos bares, tascas e freges da São Paulo do final do XIX e começo do XX, os rituais do beber até cair eram frequentes. O despojamento da moderação do beber e o entornar até ficar completamente embriagado eram hábitos básicos desses ambientes e as noites terminavam em largas bebedeiras.385

Mas é também nessa época que, pela primeira vez, fala-se dos estragos orgânicos do beber muito, ato praticado durante um longo período de tempo e aceito até então.386 Sem dúvida que esse ponto de inflexão está ligado às novas formas de perceber o corpo, o comportamento, os estados de ânimo, e também uma nova maneira de organização do trabalho e do ócio, como já foi visto.387

Não obstante, sobretudo a partir do começo do século XX, esse novo momento também está associado ao crescimento e à aceleração dos ritmos dos centros urbanos e ao impacto da vertigem coletiva da vida nas cidades sobre a sensibilidade dos habitantes.388 Um dos novos objetos que circulam no espaço urbano e que contribui para a reconfiguração do ritmo das ruas é o bonde. A primeira linha instalada na cidade de São Paulo, à tração animal, foi inaugurada no dia 2 de outubro de 1872. Trinta anos depois, no ano de 1901, surgiram os primeiros bondes elétricos da Light & Power.389 A linha inicial fazia o percurso entre o Largo São Bento e o fim da Barão de Limeira (Chácara do Carvalho).390 A malha desse transporte rapidamente se espalhou, tendo em 1905 substituído completamente os bondes de burro. A concessionária Light estendeu suas linhas aos pontos principais, dentre os bairros isolados mais afastados, atravessando grandes extensões ainda não urbanizadas. Nesse contexto, os elétricos atingiam, em 1914, Santana, Penha de França, Ipiranga, Vila Prudente, Bosque da Saúde, Pinheiros e Lapa. Em 1906 estreou a única linha interurbana, que ia para Santo Amaro.391

E a estética cambaleante do bêbado vivenciado reiteradamente com regularidade secular passa a ser um entrave na circulação no espaço da urbe. Com a instalação das linhas de bondes elétricos, os atropelamentos passaram a ser cada vez mais frequentes. Os relatórios confeccionados pela empresa concessionária desse transporte coletivo dedicavam-se a traçar estatísticas de abalroamentos. Os números aumentavam vertiginosamente ano a ano. Em 1909 houve nove acidentes de morte, setenta e dois com ferimentos, dos quais quatorze eram graves. Apenas três anos depois constam 1.446 desastres, sendo trinta e dois atropelamentos de transeuntes, seis mortes.392

Nesse mesmo período, foi organizada pela empresa uma vasta hemeroteca com artigos de jornal publicados, que relatam vários acidentes com bondes, cujas vítimas estavam embriagadas. Cito abaixo um exemplo, entre tantos casos, de um atropelamento fatal de um vendedor de linguiça:

As 11 e 40 da manhã de hoje, o bonde n. 41, dirigido pelo motorneiro chapa 277, da linha Posto Zootechnico, na Moóca, descia com alguma velocidade a Villa Figueiredo, por onde passava, nessa occasião, um homem de estatura regular, cabello, bigode e barbas grisalhas, que trazia sobre os hombros uma pequena cesta coberta por um panno branco.

O homem andava despreoccupado, ligando pouca importância ao vehiculo, prestes a alcançal-o.

O motorneiro, vendo a linha desempedida, augmentou a marcha.

Num certo momento, porém, o desconhecido atravessou a linha, atirando-se sob as rodas do bonde, tendo o motorneiro feito parar o vehiculo com a maior presteza.

O conductor, Accacio Trindade, chapa n. 112, saltou do seu logar, assim como o srs. coronel Raymundo Pessoa de Siqueira Campos e Augusto Affonso, este morador á rua da Moóca, 360, afim de prestar os primeiros soccorros ao infeliz.
[...]

A pouca distancia do bonde, foram encontrados uma cesta contendo lingüiça, um panno branco e 340 réis em dinheiro. Muitos curiosos compareceram ao local, não sendo, porem, reconhecido o pobre velho.

O carniceiro José Scantara, morador á rua da Moóca, 333, e que se achava entre os curiosos, disse conhecer de vista o velho, accrescentando ser elle vendedor ambulante de lingüiça e que momentos antes passara, um pouco alcoolizado, pela rua da Moóca.393

A mesma história trágica é contada pelo Commercio de São Paulo, desta feitacom direito a identificação da vítima fulminante, o negociante ambulante português Bernardino Tavares da Silva:

"Hontem, pouco depois do meio dia, o português Bernardino Tavares da Silva, negociante ambulante, que um tanto alcoolisado passara pela avenida Taubaté, na Moóca, procurando atravessal-a foi colhido pelo bonde electrico n.41, da linha do Posto Zootechnico. O motorneiro Domingos Vachelli, italiano, ao ver a imminencia do desastre fez parar o vehiculo, não conseguindo evitar, entretanto, que as rodas da frente pisassem o desgraçado homem, matando-o."394

Sobre o tema, outro noticiário do Correio Paulistano dizia respeito a um homem, que muito alcoolizado, tentou em vão atravessar a linha de bonde que percorria a Rua do Gasômetro. O veículo passava pelo local, em sua velocidade regular, mas dada sua pouca destreza, devido ao estado de ânimo, foi colhido pelo coletivo:

"Na rua do Gazometro quase em frente á casa n. 91, occorreu ontem ás 9 horas da noite, lamentável desastre, de que foi victima um pobre homem alcoolizado, que por alli transitava. Trata-se de um individuo de cor parda, que não soube declarar o nome e não era conhecido das pessoas que presencearam o
accidente.

A’quella hora passara pela referida rua, com regular velocidade, o bonde de cargas n. 224, conduzindo dois reboques.

O desconhecido que, como dissemos, estava alcoolizado tentou imprudentemente atravessar a linha e foi colhido pelo bonde. [...]

Sobre o facto foi aberto inquérito, pelo capitão Oliveira Ancêde, primeiro subdelegado do Braz, que ouviu as testemunhas Roque Henrique, Vicente Carderi e Romeu Rialti, contestou um em affirmar que a victima estava em estado de embriaguez, sendo impossível ao motorneiro evitar o desastre."395

Sem dúvida, dentro desse contexto urbano, mais precipitado e frenético, havia pouco espaço para os bêbados debruçados sobre a poça de vinho de José Malhôa ou para Frederico Revalis, sucumbido pelo sono da embriaguez, dentro de uma carroça estacionada.

Em O Clube dos Haxixins, Théophile Gautier relata uma experiência de embriaguez em que a sua mudança de percepção em relação ao tempo é tamanha, que ele sonha que o tempo morreu e que ele caminhava para seu funeral. As pessoas, vestidas de preto, aproximavam-se dele com ar triste, e apertavam-lhe a mão, em meio a relógios paralisados. É a encenação de um sujeito com uma percepção do tempo e do espaço absolutamente deslocada e com uma saturação das sensações e dos afetos, a perda do senso e dos perigos, o abandono, a sedação, por conta da ebriedade, atravessando ruas de tráfego intenso de novos objetos tecnológicos, tais como bondes elétricos e carros. Diante da paisagem urbana que se forma, passa-se ao empenho de se criar meios de intervir nos corpos que não obedecem, que estão em descompasso com os novos sinais e com a aceleração da velocidade dos fluxos da cidade.

Isso porque a embriaguez desencadeia uma apreensão peculiar do espaço-tempo de seu entorno. Os rostos, objetos e passagens públicas mudam sucessivamente de forma, expressão, velocidade e tamanho. O bêbado absorve-se nas suas imagens e nada o sustenta ou reprime. A conversa fica incoerente. Tenta agarrar as palavras, mas elas fogem; posto que a consciência está envenenada. Os reflexos sucumbem e surgem os picos de alegria e tristeza; chora todas as amarguras até que o sono doma tudo.396 Passa horas olhando para o copo, que também pode ser uma pedra sagrada. Sente como uma eternidade a espera pelo garçom ou o bonde ou a vez. Detém-se em reconhecer as partes de seu próprio corpo e de seus gestos num deleite único. O bêbado contempla-se. Só ele mesmo se acolhe.

O riso, assim como todas as suas próprias manifestações, o impressionam tal como se fossem eventos externos. O espaço pode se expandir, o chão verte-se íngreme. Os objetos tornam-se mais sedutores ou ameaçadores, na alternância entre o sono e a vigília. Uma bagunça de buzinas pode virar um concerto ou fanfarra. Há um excesso de confiança nas próprias funções reguladoras. Os sentidos se agigantam As impressões acústicas e visuais se sobrepõem, o que pode desencadear um efeito devastador das circunstâncias de espaço e uma desorientação na percepção do tempo transcorrido para deslocamento.397

Todo esse entorpecimento cabe numa distância média de vinte e cinco centímetros, entre a boca e o copo de bebida.398 No percurso desse intervalo tão pequeno e efêmero cumprem-se tantos perigos, aventuras, rituais, costumes, gestos, um conjunto de práticas sociais cotidianas inerentes ao beber.

É mastigando, feito vidro moído, esses pequenos microacontecimentos, vertigens, ludicidades e cotidianos, completamente apartados das convenções morais vigentes e das regras de conduta e fluxos de circulação, que percebe-se todo um caldo de cultura e um campo de embates, entre o olhar excludente da moça de tailleur ao ver seu vizinho pedindo pinga, entre o bonde e o vendedor de linguiça bêbado, entre o protocolo comedido e o pacto do brinde.

A saber, do mesmo modo que existe um vocabulário iconográfico que cerca os hábitos de consumo dos alcoóis399, percebe-se também um vocabulário gestual, visto aqui como um conjunto de atitudes como aquisições sociais, apropriações formais e inconscientes. Trata-se aqui de um repertório gestual e moral singular, à margem de uma normatização de ações historicamente construída, do comedimento verbal, comportamental e do transitar, balizada na modéstia e nas regras da polidez.400

Faz parte desse repertório o livro intitulado Alcoóis, de Guilhaume Apollinaire401, uma coletânea de poemas que surpreenderam pela ausência total de vírgulas, pontos ou interrogações. Nos versos contínuos os copos se estilhaçam com a vibração de sorrisos, agulhas de relógio andam no sentido contrário, bêbados atravessam ruas, pontes, botequins, terraços esfumaçados, linhas de bonde, cidades, redes elétricas, sem quebras ou interrupções. Ele tinha razão. A embriaguez não tem pontuação. Mas tem um escore só seu, todo particular.

Notas

350 ALMEIDA, Aluísio, “Vida Cotidiana da Capitania de São Paulo (1722-1822)”. In: MOURA, Carlos Eugenio Marcondes de (Org.). Vida Cotidiana em São Paulo no século XIX: memórias, depoimentos, evocações. São Paulo: Ateliê Editorial/ Fundação Editora da UNESP/ Imprensa Oficial do Estado/Secretaria do Estado da Cultura, 1998. pp. 5-75, p. 25.
351 FREITAS, Affonso Antônio de. Tradições e Reminiscências paulistanas. Belo Horizonte/São Paulo: Editora Itatiaia/EDUSP, 1985. p. 71.
352 Idem, ibidem, p. 56.
353 PINTO, Raul Simões. As tascas do Porto. Porto: Afrontamento, 2008. p. 35.
354 FONTES, Luis. As tabernas de Braga. Braga: Gráfica São Vicente, 1987. Separata da Mínia, 2ª. Série, 8, 1986, p. 14-15.
355 ANDRADE, Pedro de. “O beber e a tasca, práticas tabernais em corpo vínico”, In: Revista Povos e Culturas, n. 3, 1988. Lisboa: Centro de estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa, pp. 223-263, p. 237.
356 CORBIN, Alain. “Bastidores.” In: PERROT, Michelle (Org.). História da vida privada. v. 4 (Da Revolução Francesa à Primeira Guerra). São Paulo: Companhia das Letras, 1991. pp. 413-614, p. 583
357 SOUTO MAIOR, Mário. Cachaça. Brasília: Thesaurus, 2005. p. 16-17.
358 CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da Cachaça. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 48.
359 Anotações de aula de curso ministrado pelo professor visitante Eddy Stols no programa de pósgraduação da UNESP de Assis, Disciplina Tópicos Especiais/História da Alimentação. 2007
360 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Historia de los estimulantes. Barcelona: Anagrama, 1995. p. 36.
361 CORBIN, Alain. “Bastidores.” In: PERROT, Michelle (Org.). História da vida privada. v. 4 (Da Revolução Francesa à Primeira Guerra). São Paulo: Companhia das Letras, 1991. pp. 413-614, p. 585.
362 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Historia de los estimulantes, cit., p. 202.
363 Schivelbush cita algumas dessas pronúncias no caso das tabernas inglesas do XIX: “Vengan las copas, bebe a la salud, bebe después de mí, bebe conmigo, bebe la copa entera, bebe la mitad, y yo brindaré por ti.” Ou outra do século XIII: “Brindo por vuestra salud; bebed tanto como yo”. SCHIVELBUSCH, ibidem. p. 202.
364 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Historia de los estimulantes. Barcelona: Anagrama, 1995. p. 208.
365 SCHMIDT, Afonso. São Paulo de meus amores. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Primeira edição: 1954. p. 148.
366 AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895-1915). São Paulo: Carrenho Editorial/Narrativa Um/Carbono 14, 2004. p. 277.
367 MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil (1807-1810). São Paulo/Belo Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1978. p. 73.
368 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à Província de São Paulo. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1976. p. 142-143.
369 ALMEIDA, Pires. A Escola byroniana no Brasil. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura/Comissão de Literatura, 1962. p. 28.
370 ANDRADE, Pedro de. “O beber e a tasca, práticas tabernais em corpo vínico”, In: Revista Povos e Culturas, n. 3, 1988. Lisboa: Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa, pp. 223-263, p. 235.
371 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. “O Corpo na cidade das águas: São Paulo (1840-1910)” In: Revista Projeto História, Revista do Programa de Pós-graduados em História e do Departamento de História, PUC-SP, São Paulo, n. 25, dez. 2002, p. 101.
372 NAHOUM-GRAPPE, Véronique. “La risa del bebedor, el rictus del toxicomano”. In: EHRENBERG, Alain et all (Org). Individuos bajo influencia. Buenos Aires: Editorial Nueva Visión, 2004. pp. 159-176, p. 163 e 174.
373 ANDRADE, Pedro de. op. cit., p. 240; BRUNO, Ernani da Silva. Equipamentos, usos e costumes da Casa Brasileira. São Paulo: Museu da Casa Brasileira, 2001. v. 1, p. 293; PINTO, Raul Simões. As tascas do Porto. Porto: Afrontamento, 2008.
374 ANDRADE, Pedro de. “O beber e a tasca, práticas tabernais em corpo vínico”, In: Revista Povos e Culturas, n. 3, 1988. Lisboa: Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa, pp. 223-263, p. 242.
375 CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da Cachaça. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 11 e 82.
376 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Historia de los estimulantes. Barcelona: Anagrama, 1995. p. 202.
377 NAHOUM-GRAPPE, Véronique. “Histoire et anthropologie du Boire en France du XVI au XVIII siècle”. In: LE VOT-IFRAH, Claude; MATHELIN, Marie; _______. De l’ivresse à l’alcoolisme: études ethnopsychanalytiques. Paris: Bordas, 1989. p. 90-91.
378 Sobre José Malhôa: pintor português nascido em 1855, em Caldas da Rainha, Portugal. Ainda pequeno parte para Lisboa para estudar. Frequenta a Real Academia de Belas-Artes. Foi grande retratista de rituais coletivos e dos costumes populares portugueses, dentre as varias experiências e vivências de grupo, a “celebração pagã do vinho, a embriaguez a uma mesa de taberna ou a sentimentalidade castiça e portuguesa de ouvir e cantar o fado”. Participa da Exposição Universal de Paris, em 1900, onde ganha medalha de Prata. Visita o Brasil em 1906 por conta de uma exposição individual sua realizada no Real Gabinete Português de Leitura. HENRIQUES, Paulo. José Malhôa. Lisboa: INAPA, Coleção Pintura portuguesa do século XIX, 2002. p. 18.
379 Malga: tigela ou prato fundo vidrado. NOVO Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 1.070.
380 ANDRADE, Pedro de. “O beber e a tasca, práticas tabernais em corpo vínico”, In: Revista Povos e Culturas, n. 3, 1988. Lisboa: Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa, pp. 223-263, p. 243.
381 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Historia de los estimulantes. Barcelona: Anagrama, 1995. p. 44.
382 Sobre o assunto ver BOLLE, Willi. Fisiognomia da metrópole moderna: representação da história em Walter Benjamin. São Paulo: EDUSP, 2000, p. 77-78; BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III – Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 9-29
383 BAUDELAIRE, Charles. As Flores do mal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 379.
384 Processo criminal, n. ordem 4021, Caixa 121, Notação 2366, Autuação 1888.
385 PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e Sobrevivência: a vida do trabalhador pobre na cidade de São Paulo (1890-1914). São Paulo: EDUSP, 1994. p. 254.
386 NAHOUM-GRAPPE, Véronique. “Histoire et anthropologie du Boire en France du XVI au XVIII siècle”. In: LE VOT-IFRAH, Claude; MATHELIN, Marie; _______. De l’ivresse à l’alcoolisme: études ethnopsychanalytiques. Paris: Bordas, 1989. p. 83-84.
387 Ver capítulos 6 e 7.
388 SALIBA, Elias Thomé. Raízes do Riso. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 188.
389 SCHMIDT, Afonso. São Paulo de meus amores. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Primeira edição: 1954. p. 208-209.
390 AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895-1915). São Paulo: Carrenho Editorial/Narrativa Um/Carbono 14, 2004. p. 186.
391 LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da Grande São Paulo, estudo de geografia urbana. Tese de doutoramento, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, da Universidade de Campinas, Fundação IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia, Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica, Rio de Janeiro, 1971.
392 Relatório Anual, Eletropaulo, 1907-1909, S. Paulo, 7 de fevereiro de 1910, W.N.Walmsley, General Manager; e Relatório Jurídico, Eletropaulo, 1910-1912, São Paulo, 28 de janeiro de 1913, W.N.Walmsley, General Manager. Fonte: Fundação do Patrimônio da Energia de São Paulo.
393 Volume 004, Microficha 132. 1 / 3.15 p. 25, A Gazeta, 2 jul. 1908. Fonte: Fundação do Patrimônio da Energia de São Paulo.
394 Volume 004, Microficha 132. 1 / 3.15 p. 25, Commercio de São Paulo, 3 jul. 1908. Fonte: Fundação do Patrimônio da Energia de São Paulo.
395 Recortes de Jornal. v. 7, 132. 1 / 1. 15, Correio Paulistano, 5 ago. 1910. Fonte: Fundação do Patrimônio da Energia de São Paulo.
396 LONDON, Jack. Memórias Alcoólicas. São Paulo: Paulicéia, 1993. p. 44.
397 BENJAMIN, Walter. O Haxixe. São Paulo: Brasiliense, 1984.
398 RAUTUREAU, Aléxis. Le Bar. Paris: Quespire Éditeur, 2008. p. 7.
399 Ver capítulo 7, Entre o palhaço e o equilibrista.
400 A modéstia, sinônimo de temperança, segundo Jean Schmitt é uma noção que permanece atual nas regras da polidez e nos códigos de comportamento: “No vocabulário antigo e medieval, modéstia não significa certamente, ou não somente, a nossa ‘modestia’. A palavra é tomada no sentido etimológico: sua raiz ‘modus’ significa (entre outras coisas) a medida, a justa medida, em relação à qual o respeito escrupuloso é uma virtude, nomeada precisamente a ‘modestia’. Para os Antigos e depois para os autores cristãos, modéstia era sinônimo de ‘temperantia’, quando não constituía uma de suas subcategorias.” SCHMITT, Jean-Claude. “A moral dos gestos.” In: SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de (Org.). Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995. p. 143.
401 APOLLINAIRE, Guilhaume. Alcoóis e outros poemas. São Paulo: Martin Claret, 2005.

Texto de Daisy de Camargo em "ALEGRIAS ENGARRAFADAS: OS ALCOÓIS E A EMBRIAGUEZ NA CIDADE DE SÃO PAULO NO FINAL DO SÉCULO XIX E COMEÇO DO XX",Tese apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista para a obtenção do título de Doutor em História (Área de Conhecimento: História e Sociedade), Assis 2010, excertos pp.204-222. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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