O dia 5 de Maio é o Dia Mundial da Língua Portuguesa. É uma boa ocasião para tentar perceber como a nossa língua tem vestígios da história do mundo. Façamos uma viagem por dez palavras — que servirão de exemplos.
Antes das dez palavras, peço que imagine uma ilha isolada durante milénios, no meio do oceano, uma ilha onde o povo que lá existe, depois de uma migração antiga, perdida nos tempos imemoriais dos mitos e das lendas, nunca mais contactou com nenhum outro povo. Haverá certamente, nessa ilha, uma língua — nunca se encontrou um grupo de seres humanos que não usasse a linguagem humana.
Ora, a língua dessa ilha, depois de milénios encerrada sobre si própria, pouco nos diz sobre a história do mundo. Talvez nos diga muito sobre a história da ilha. Talvez se tenha dividido em várias línguas, ou talvez haja vários registos, vários usos da língua. Talvez haja registos de guerras em ditados ou expressões. Talvez o sotaque das várias áreas da ilha nos ajude a pintar a sociedade da ilha — mas a história do mundo está fora da língua ou das línguas desta ilha imaginária.
Há pouquíssimas línguas assim. A grande maioria das línguas vive em espaço aberto, com fronteiras que são mais ilusórias que reais, e recebe e transmite palavras e frases como ventos que passam. O português é assim — e é assim talvez, arrisco dizer, de forma mais marcada do que outros idiomas. O português não é uma ilha. Nunca foi uma ilha.
Afinal, a área onde a língua se desenvolveu está nos confins do mundo antigo. O centro desse mundo era aquilo que nós hoje, na Europa, chamamos de Médio Oriente. Era um mundo que se estendia da China até a estas costas perdidas, longínquas, encostadas ao Atlântico. Onde é hoje Portugal chegavam ecos desse centro e chegavam palavras que ficavam nestas praias como destroços.
Depois, este fim do mundo transformou-se, durante algum tempo, no centro de um outro mundo, um centro de um mundo que já não vivia no eixo terrestre que passava pela Europa e pela Ásia, mas um mundo que se comunicava pelos oceanos. Lisboa foi um dos centros e a língua, em vez de receber destroços, deixou pedaços pelo mundo inteiro, que ainda ouvimos em línguas longínquas.
Mais tarde, o que já era então Portugal tornou-se não o fim do mundo, não o centro do mundo, mas um lugar da Europa, encostado a um dos cantos daquilo que foi o centro do mundo e hoje tenta perceber que lugar tem. Portugal ficou entre o centro e a periferia — e a sua língua com ele. «A sua língua» talvez não seja correcto. A língua já não é só de Portugal há muito tempo.
Comecemos então uma pequena viagem à história do mundo com base nas palavras da nossa língua. A primeira palavra será:
1. ÁGUA
Comecemos no início dessa história. Para isso é preciso fazer uma experiência mental. A escrita surgiu há aproximadamente 5000 anos — quase tudo o que sabemos sobre a história das línguas e da linguagem humana aconteceu nesses 5000 anos. É certo que, através do método comparativo, conseguimos perceber que existiram línguas anteriores, como o proto-indo-europeu, mas mesmo assim não conseguimos recuar mais do que 1500 anos em relação à invenção da escrita.
Ora, é certo que, antes da escrita, já existiam muitas línguas humanas. Aliás, os primeiros registos da escrita são em sumério, uma língua diferente de todas as outras que se conhecem, uma pequena amostra de tudo o que perdemos de todos os milhares ou mesmo milhões de anos de história da linguagem. Havia línguas que se cruzavam, se influenciavam, se dividiam e se misturavam. As línguas já tinham muito do que temos hoje — e, acima de tudo, já eram substância do pensamento, canal de comunicação, pintura identitária e material artístico.
Da forma dessas línguas antigas pouco sabemos. Houve quem tivesse tentado encontrar palavras cuja semelhança em línguas muito distantes apontasse para palavras primordiais. Uma das hipóteses é a palavra «água», que tem sons parecidos em muitos recantos do globo. A hipótese é muito frágil e provas não há. Tenho, porém, quase a certeza de que, sim, há muitas palavras que saem hoje da nossa boca que descendem directamente de palavras com muitos milhares de anos, muitos mais milhares de anos do que a escrita. Que fique «água» como símbolo dessas palavras, seja ou não verdade que é uma dessas palavras.
A segunda palavra do nosso percurso é…
2. MAGIA
Deixemos o mundo da especulação. O que parece mais do que certo é que o português nasceu de uma particular forma de latim vulgar, influenciada por línguas anteriores, de que pouco se sabe. Esse latim nasceu de outras línguas anteriores, que surgem do proto-indo-europeu, que terá sido falado na zona da actual Ucrânia há aproximadamente 6500 anos. Línguas descendentes do proto-indo-europeu falam-se hoje na Índia, no Irão, na Europa — e em muitos lugares do mundo, para onde foram transportadas nas expansões marítimas de vários povos.
A existência de uma língua latina no ocidente da Península Ibérica é já testemunho da história do Império Romano e da sua expansão. O latim chegou ao fim da Terra, ao Finisterra, ao Noroeste da Hispânia.
Além das palavras indo-europeias mastigadas na Península Itálica, o latim trouxe palavras gregas e mesmo palavras de outros lugares do mundo. Por exemplo, a palavra «magia», a segunda palavra do nosso percurso. É uma palavra grega, que veio a bordo do latim — e já tinha chegado ao grego a partir do persa antigo.
O latim que aqui veio dar era o latim vulgar, o falar do povo, que se misturou com outras línguas, dando a quem vivia nesse Ocidente uma língua com palavras longínquas e palavras mais próximas. A nossa língua sempre foi feita de materiais de várias paragens. Ou seja, palavras como «magia» juntaram-se a palavras que já cá estavam antes da chegada do latim. Pouco sabemos delas. Talvez «murchar», que poderá ter vindo do latim — mas também poderá vir de uma palavra mais antiga, que já cá estaria. Estamos ainda em tempos com poucos ou nenhuns registos.
Chegamos agora à terceira das nossas dez palavras:
3. LUA
O fim do Império Romano está também inscrito na língua. Ainda antes de «lua», falo de «LUVA», uma palavra de origem germânica que aqui chegou no final do Império Romano. Era uma palavra da língua gótica, trazida pelos povos germânicos para a Península. Por cá, a língua gótica ficou apenas numa ou outra palavra integrada no nosso latim hispânico. Curiosamente, o gótico manteve-se durante séculos do outro lado da Europa, na Crimeia. A História do mundo é bem mais complicada do que parece.
Não são muitos os exemplos de palavras destes povos no português, porque os germânicos que vieram ocupar a Península — os suevos e os visigodos — assumiram o latim como seu e, provavelmente, não vieram em grande número. Os habitantes da península continuaram a ser hispanos, romanos, agora em novos reinos com uma nobreza germânica.
Desses tempos podemos dizer, com alguma segurança: o latim falado no século VI já não era igual ao latim do apogeu do Império Romano. Algumas características da nossa língua, como o uso de «segunda-feira», «terça-feira» e todas as outras feiras, vêm dessa época. É bem possível que também tenha sido por esta época que começaram fenómenos fonéticos — como a queda do /n/ e do /l/ intervocálicos — que deram forma à língua, mas que só se encontrariam na escrita muito depois.
A palavra «lua», por exemplo, que não é a «luna» castelhana, mas sim esta outra palavra mais curta e vocálica. Os falantes começaram a deixar cair os /n/ e os /l/ entre vogais. Porquê? Não sabemos. Foi, se quisermos, um erro que se cristalizou. Afinal, cada língua é uma colecção de erros de línguas anteriores. Todos falamos latim deturpado — mas o próprio latim já era uma língua anterior deturpada. Assim se fazem as línguas da humanidade.
4. AZUL
No século VIII, a Península Ibérica passa a estar, em grande parte, sob controlo muçulmano. A presença vê-se na língua: há muitas palavras de origem árabe — e também de origem persa com passagem pelo árabe. Palavras tão importantes como «açúcar» ou «laranja» ou «azul»… Não há dia que um português não use palavras de origem árabe.
Vemos como a língua portuguesa testemunha a respiração dos impérios e a força das guerras desses tempos. A expansão dos reinos cristãos de norte para sul, em cinco faixas, traz os vários dialectos latinos de norte para sul, misturando-os com o moçárabe, língua latina com forte influência árabe, falada no sul da Península.
O romance do noroeste da Península chega a Lisboa no século XII, com o Reino de Portugal, e mistura-se com o moçárabe e com o árabe. Há que dizer que haveria também línguas do Norte de África nesta mistura — muito está por fazer para saber a influência dessas línguas no português. Há quem diga, por exemplo, que «azul» não nos chegou pelo árabe, mas tem origem amazigh (as línguas que chamamos, por vezes, de berberes). Como a atenção dada a estas línguas pela historiografia portuguesa foi muito vaga, não é impossível que, de facto, nos tenham escapado muitas palavras do Norte de África na nossa língua.
Chegamos agora à palavra que é o nome da língua:
5. PORTUGUÊS
O Reino de Portugal assume o romance do Noroeste — a que podemos chamar galego ou, numa invenção terminológica muito posterior, galego-português — como língua da administração, com especial força no reinado de D. Dinis.
No entanto, só no século XV alguém escreve o nome «português» como nome da língua: o infante D. Pedro, no prefácio de uma tradução de Cícero.
Durante o século XVI, depois da expansão da imprensa pela Europa, o português ganha gramáticas e começa a padronizar-se lentamente. É também esta a época do apogeu da influência castelhana, uma das línguas da corte. O castelhano era língua de prestígio e o português enche-se de palavras e construções dessa língua próxima. É a primeira das línguas de prestígio que oferecem materiais ao português; ainda veremos outras duas antes de chegar ao final desta história.
No século XVI, a língua a que chamamos português tem materiais asiáticos (árabes e persas), norte-africanos, celtas, castelhanos e, certamente, de outras paragens que não reconhecemos. É um latim já misturado, com tintas de toda essa massa continental que chamamos o Velho Mundo. Olhando para a composição química da nossa língua, vemos a história da Antiguidade.
O português começa a sair da Europa na expansão. Este é o segundo momento da nossa história. A presença do português noutras línguas é o testemunho da história da Modernidade, com tudo o que tem de bom e mau. A história é longa e sofrida.
A primeira palavra que trago é de outra língua:
6. PAPIAR (do cabo-verdiano)
O português chega a África, Ásia — e também à América. Comecemos por África: para lá da presença, crescente, do português em vários países, temos também palavras de origem portuguesa em várias línguas. Por exemplo, a palavra árabe para laranja, tal como a palavra turca, grega e em muitas outros idiomas, parece ter origem no nome de «Portugal».
Mas continuemos para lá dessas curiosidades. No meio do Atlântico, temos hoje Cabo Verde, com uma população de origem africana e europeia, que fala o cabo-verdiano, a que chamamos, sem mais, crioulo, embora haja muitas outras línguas crioulas. Do outro lado do Atlântico, por exemplo, encontramos o crioulo papiamento, que parece ter uma relação forte com o cabo-verdiano e é oficial em ilhas das Caraíbas. O próprio nome parece vir de «papiar», uma palavra cabo-verdiana.
Os crioulos são testemunho da cruel história do Atlântico e do seu tráfico de escravos, mas também — e acima de tudo — da capacidade linguística dos seres humanos: em situações de transmissão linguística parcial, as novas gerações criaram línguas novas, com uma gramática diferente e com vocabulário apanhado do que ouviam em redor. A criatividade linguística dos seres humanos está sempre à espreita para florescer.
Chegou agora a hora de atravessar o Atlântico, tal como muitos escravos fizeram, e encontrar a palavra (quase inevitável)…
7. SAMBA
Na América, a que chamámos o Novo Mundo, o português transformou-se. Uma primeira fase foi de imensa modificação, com a língua a recriar-se na boca de indígenas, escravos e colonos, ao lado das chamadas línguas gerais, de origem tupi-guarani, faladas por muitos. O português do Brasil ainda tem hoje, na oralidade, muito dessa primeira fase.
Depois, no final do século XVIII e no século XIX, o português padronizou-se também no Brasil e o novo Estado assumiu a norma da língua tal como a encontrava nas obras portuguesas; muito mudou, entretanto, e estas duas formas — uma oral, com origem no século XVI, e outra escrita, com origem no século XIX, contaminaram-se e pintam hoje um quadro linguístico muito complexo.
O português do Brasil é outra história, testemunho da história da América, do Brasil, da Humanidade, muito, mas mesmo muito para lá deste recanto europeu onde o latim tinha vindo parar mais de 1000 anos antes.
A palavra «samba», entre tantas outras, serve de mostra dessa origem africana, europeia e americana do português do Brasil.
Naveguemos até ao Índico. A nossa oitava palavra é, em suaíli, o nome de Portugal:
8. URENO
… uma transformação da palavra «REINO», a palavra que os habitantes das costas africanas do Índico ouviam dos navegadores a caminho da Índia.
No Índico, o português transformou-se em lingua franca, usada por portugueses, mas também por outros europeus, como os holandeses, e pelas populações locais para contactar com europeus. Ainda hoje encontramos línguas de origem portuguesa em países como o Sri Lanka e centenas de palavras portuguesas em línguas como o indonésio.
Também encontramos palavras portuguesas no japonês, como sabemos. Não, ao contrário do que se diz, «arigato», mas a palavra japonesa para «pão», só para dar um exemplo — ou ainda, para dar outro exemplo, «igirisu», que significa «inglês», mostrando como os portugueses foram quem apresentou a muitos asiáticos os europeus, agora vindos do mar e não das longas rotas terrestres.
Olhemos agora para uma palavra muito diferente, talvez inesperada neste contexto:
9. FETICHE
O português andou pelo mundo e trouxe de volta palavras ou deu-lhes novos significados. Por exemplo, a palavra «fetiche», que encontramos com formas diferentes em muitas línguas, tem origem no «feitiço» português, um velho vocábulo que já tinha vindo do latim com o sentido de qualquer coisa artificial. Uma coisa postiça, ou seja, feitiça. Podemos demorar um pouco mais na história desta palavra, porque diz-nos muito sobre a história do mundo dos últimos séculos.
Os navegadores portugueses, aportados na Costa do Ouro, um território longínquo que pouco conheciam, encontraram objectos mágicos, idolatrados por quem ali vivia. Eram amuletos, que existem em todas as culturas (afinal, os navegadores também levavam as suas cruzes), mas que, nas mãos dos outros, ganham um ar mágico e exótico.
Estes objectos pouco naturais ganharam o nome de feitiços, uma palavra que depois ganhou também o próprio significado de efeito mágico.
Ora, de regresso à Europa a bordo das caravelas, ou melhor, das bocas dos navegadores, a palavra portuguesa foi usada por escritores do Norte da Europa para descrever os hábitos e costumes da Costa do Ouro.
O primeiro, que se saiba, foi o explorador holandês Pieter de Marees, que em 1602 usou a palavra na obra Descrição e Relato Histórico do Reino do Ouro da Guiné — mas em holandês — para designar os amuletos usados pelos habitantes da zona. Lá pelo meio da obra aparecia a palavra «fetissos» (não nos queixemos da maneira como aparece escrita; nem nós tínhamos uma ortografia estável para as nossas palavras, quanto mais os holandeses).
A obra foi traduzida para francês poucos anos depois e o tradutor aproveitou a importação «fetissos». A palavra chegou assim à língua que, à época, era bem capaz de a espalhar pela Europa toda. Com o tempo, os franceses começaram a escrever «fétiche» — e os ingleses rapidamente a puxaram para a sua língua, como é costume, agora na forma «fetish».
Adoptada pelo francês e pelo inglês, a palavra tinha o futuro garantido…
No final do século XIX, começou a ser usada para definir uma fixação sexual num objecto ou parte do corpo — um tipo muito particular de idolatria. A partir deste sentido mais restrito, alargou-se de novo, num jogo de inspiração e expiração, ganhando conotações mais gerais — podemos ter um fetiche por livros amarelos, por exemplo.
A partir do inglês e do francês, «fetiche» espalhou-se pelas línguas da Europa e regressou, qual palavra bumerangue, ao português, vinda dos pérfidos mares do Norte, agora mais atrevida e sabida — as viagens mudam uma pessoa e mudam as palavras ainda mais.
Como disse, esta história mostra-nos muito sobre o mundo e sobre as línguas: a forma como as palavras viajam e mudam; a força do francês, primeiro, e do inglês depois como línguas da ciência, em substituição do latim; a maneira como as línguas emprestam palavras umas às outras e como se criam terminologias científicas e técnicas e como, depois, esses mesmos termos se transformam em novas palavras.
Interrompo agora um pouco esta nossa viagem por dez palavras. Ainda falta uma última, que nos vai fazer olhar para o futuro da língua.
Antes disso, volto à origem, ao Noroeste da Península. Note-se que o romance do noroeste peninsular é agora a língua de Portugal, mas também da Galiza, onde só foi padronizada nos últimos 50 anos, mas era falada por praticamente todos até há muito pouco tempo. Se alguém atravessasse a fronteira entre Portugal e a Galiza no final do século XIX não encontraria grandes diferenças entre as falas das aldeias de um lado e de outro.
Entretanto, as línguas europeias tinham passado por um processo de padronização muito acelerado, motivado pela expansão do conceito de Estado-nação. Cada Estado escolhe uma língua e uma forma particular dessa língua como língua oficial. A literatura nesse padrão torna-se símbolo nacional. A terminologia técnica nessas línguas também se padroniza, por vezes internacionalmente.
Várias outras línguas ficaram invisíveis, apesar de faladas, e entre elas o galego. No entanto, foi também nesta época que algumas destas outras línguas, no contexto do Romantismo oitocentista, explodiram em vários renascimentos literários que tentavam recuperar um passado medieval. Também o galego voltou em força à escrita e à literatura.
Hoje, se andarmos pela Galiza, vamos também encontrar as velhas palavras portuguesas nas placas, como recordação que a história começou ali. A fronteira a norte de Portugal é uma linha que divide o território onde o português surgiu e que mostra como as línguas dos estados tiveram uma sorte muito diferente das línguas que não são dos estados.
Também aí temos a história do mundo: a criação dos padrões das línguas nacionais em paralelo à defesa das línguas que ficaram de fora dessa história.
Desçamos até Lisboa e oiçamos alguém a conversar entre amigos. Pode ser que surja a palavra…
10. BUÉ
É uma palavra que é desconhecida dos brasileiros, por exemplo. Quer dizer «muito». Há várias teorias sobre a sua origem, mas a mais comum diz-nos que veio de uma palavra do quimbundo, uma língua de Angola.
Terá sido trazida para Portugal no momento da descolonização, por quem retornou à metrópole e por todos os africanos que vieram para Portugal, sendo mais um testemunho da História: as independências do mundo durante o século XX e os grandes movimentos populacionais das últimas décadas.
Esta palavra africana no meio de Lisboa servirá também como lembrança de que o futuro do português passa por África. A língua está a crescer tremendamente neste continente e não espantará que seja aqui que resida o maior número de falantes dentro de algumas décadas.
Foi uma história contada em poucos minutos: vimos, espero, como a língua portuguesa, tal como é falada hoje, tem vestígios de histórias muito antigas, desde o Império Romano, a Rota da Seda, a expansão islâmica, a expansão dos povos ibéricos pelo mundo, o tráfico de escravos, a história do Índico, o desenvolvimento das línguas nacionais, a importância do francês e do inglês como línguas da ciência — e, agora, o crescimento de África. Tudo isto está inscrito nas palavras que usamos, testemunhos da história do mundo.
Esta crónica começou como conferência dada na Universidade de Cartago aos alunos de Português, a convite da Prof.ª Maria de Lurdes Ferreira, leitora do Instituto Camões. Dedico-a a Anis Mokni, tradutor tunisino e professor de Português.
Texto de Marco Neves publicado em "Quora" no dia 5 de maio de 2023. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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