Lord Samuel Vestey |
Em 1883 William, então com apenas 24 anos, foi enviado para Chicago, nos Estados Unidos onde a família construiu uma fábrica de ‘corned beef’, para usar a grande disponibilidade de carnes industriais da capital da indústria da carne norte-americana.
Em 1890 foi incubido de viajar para a Argentina para prospectar o mercado.
Em 1897 a família inaugurou um armazém frigorífico em Liverpool. Antes, em 1895, já tinham inaugurado um dos primeiros armazéns frigoríficos em Londres. Depois foram estabelecidos armazéns em Hull e Glasgow e mais tarde expandindo para outros países, estabeleceram armazéns frigoríficos em Moscou, São Petersburgo, Vladivostok, Riga, Nova York e Johannesburgo.
Em 1915, construíram em Hankin, na China, a primeira das cinco fabricas que foram proprietários para processar ovo em pó que estabeleceram no país, tornando-se assim, o principal fornecedor de ovo em pó para a Europa, um produto inovador.
Estabeleceram uma rede de açougues (casas de carne) em Liverpool e Londres e foram os pioneiros do uso da refrigeração nestas lojas o que permitiu melhorar a aparência dos produtos e consequentemente a lucratividade do negócio. Chegou a possuir 2.500 pontos de vendas. Naquele tempo, os açougueiros tinham que vender no sábado a qualquer preço, todas as carnes que sobrasse, porque aos domingos, por lei os estabelecimentos não poderiam abrir.
Incrementaram os negócios pioneiramente, com a importação de carne resfriada da América do Sul e também realizaram importações da Austrália e a Nova Zelândia.
Em 1914 inauguraram um matadouro-frigorífico em Bullocky Point, Darwin (Austrália) que passou a produzir e exportar principalmente carne ovina para a Inglaterra. Naquele tempo a carne ovina era muito barata na Austrália e tiveram grandes lucros.
Em 1915 adquiriram o ‘Frigorífico Las Palmas’ em Zarate, às margens do rio Paraná, na Argentina, reformando-o para ser um grande frigorífico exportador. O frigorífico tinha sido instalado em 1886 por Hugh Nelson, que era um dos maiores concorrentes da família e tinha uma rede de açougues em Liverpool, Dublin e Manchester.
Em 1912, depois de uma das primeiras crises do café, foi iniciado o processo de aquisição de fazendas no Brasil, principalmente no estado de São Paulo, sempre em locais estratégicos proximos das ferrovias e iniciaram a criação de gado e o plantio de grãos, principalmente milho. Chegou a possuir 44.500 hectares de terras e 150.000 bois.
Entre 1908 e 1920 os irmãos Vestey também adquiriram fazendas e matadouros frigoríficos na Venezuela e Austrália, além de construir novos armazéns frigoríficos na Nova Zelândia, Argentina e Madagascar.
Em 1920 adquiriram o ‘Frigorífico Liebig’ de Fray Bentos no Uruguai, um dos pioneiros na produção de extrato de carne. Foi reformado em 1924 e com o nome de ‘Frigorífico Anglo’, além de produzir extrato de carne e ‘corned beef’, passou a produzir uma grande variedade de enlatados de carne que eram embarcados para a Europa e os Estados Unidos no porto anexo a fábrica. Encerrou as suas atividades em 1979.
Em 1923 o grupo Vestey adquiriu o mais antigo frigorífico do Brasil a ‘Companhia Frigorifica e Pastoril’ que foi instalado em 1913 na cidade de Barretos (SP) por Antonio Prado (um dos maiores acionistas da ‘Companhia Paulista de Estradas de Ferro’). Em 1914 saiu deste frigorífico a primeira remessa de carne congelada do Brasil para a Inglaterra. Trocou o nome para ‘Frigorífico Anglo’. O recorde de abate anual desde frigorífico foi no ano de 1941, quando foram processadas 259.000 cabeças de bovinos. Houve dias em que foram abatidas 3.000 cabeças. Em 1993, com a determinação de sair do ramo de produção de carne no Brasil, que já não era mais vantajoso, o Frigorífico Anglo foi vendido para dois dos seus diretores e os Vestey’s encerraram as suas atividades industriais no mercado de carne em Barretos.
Em 1916 o Grupo adquiriu as instalações da antiga fábrica de cerveja ‘Teutônia’ (fundada em 1895 e na época pertencente a Brahma) em Mendes (RJ) transformando-a depois de uma complicada reforma em 1917, em um matadouro frigorífico, que adotou também com o nome de ‘Frigorífico Anglo’. O frigorífico foi desativado em 1966, depois de sofrer um misterioso incêndio que destruiu toda a sua documentação contábil.
Em 1921 adquiriu o ‘Companhia Frigorífica Rio Grande’ de Pelotas, que tinha sido construído em 1917 por um grupo de estancieiros da região e passava por dificuldades financeiras. A ‘Companhia Frigorífica Rio Grande foi comprada pela ‘Lancashire General Investiment Trust Limited’, uma das holdings do Grupo em 1921. Foi constituída no Rio Grande do Sul, a 'Sociedade Anônima The Rio Grande Meat Company’ com sede em Pelotas, que recebeu autorização para funcionar no estado através do decreto do governo nº 2.766 daquele ano.
Em 1924, a ‘The Rio Grande Meat Company’ passou a denominar-se também ‘Frigorífico Anglo’. O frigorífico foi reformado em 1932 e encerrou os abates em 1979, ficando a partir desta data, apenas com a industrialização de carnes e de frutas. Hoje é um campus da Universidade Federal de Pelotas.
Em 1915, devido à pressão do fisco inglês determinada pelo governo de David Lloyd George (1863-1945), para evitar a sonegação de impostos de que a empresa do Grupo era suspeita, a sede da empresa foi transferida provisioriamente para Buenos Aires, fugindo assim do pagamento dos impostos no Reino Unido.
Em 1930, o Grupo tinha 30.000 empregados em todo o mundo e obteve um lucro liquido de 300.000 libras esterlinas.
Em 1927 instalou em Buenos Aires (Doca Sud) o maior matadouro frigorífico do mundo na época também chamado ‘Frigorífico Anglo’.
Em 1934, foi criada uma comissão do Senado argentino,provocada por denúncias de fazendeiros, para iniciar uma investigação sobre as atividades dos frigoríficos estrangeiros instalados no país. De pronto, todos se negaram a prestar informações e a comissão teve que obtê-las à força. Neste processo foi preso por desacato a autoridade, o britânico Richard Tootell, presidente do ‘Frigorífico Anglo’. Nas investigações posteriores foram descobertos 39 caixas de documentos confidenciais e comprometedoes da empresa num carregamento de carne enlatada para Londres. O Ministério do Exterior da Argentina, por via diplomática, tentou convencer os ingleses a fornecer as informações para acabar com a crise. O próprio Lord Vestey teve de interferir ordenando que fossem apresentados às autoridades argentinas, os livros contábeis e as informações necessárias.
Em meados do século XX as empresas do Grupo dominavam o comércio de carne na Inglaterra, vendendo além de carnes resfriadas e congeladas toda uma gama de enlatados e sub-produtos.
Foi expandida a rede de açougues ‘Dewhurst’ que abriu lojas em todo o país, sendo pioneiro na exposição dos produtos em vitrines bem iluminadas e chamativas para atrair os consumidores, o que logo foi copiado pelos concorrentes. Em 1995, devido a concorrência dos supermercados e a falta de rentabilidade, encerrou as atividades fechando mais de 300 lojas.
O Grupo teve grandes problemas com posse de terras na Austrália, onde foi acusada de usar indevidamente a mão de obra dos aborígenes. Em 1966, depois de uma greve e revolta dos aborígenes, foi forçado pelo governo da Austrália a ceder terras para os nativos.
Em 1927 adquiriu a ‘Fazenda São Sebastião’ em Caraguatatuba com uma área de 4.020 alqueires e passou a produzir bananas, toronjas (grapefruit) e outras frutas que eram exportadas 'in natura' para a Europa. Essa atividade foi encerrada em 1967, devido ao declínio do mercado da Europa e a forte concorrência dos países produtores da América Central. Produzia até uma afamada marca de cachaça, a ‘São Francisco’, que foi mais tarde vendida a outra empresa e ainda continua no mercado. A fazenda possuia um embarcadouro próprio para pequenos barcos e chatas, que levavam as frutas até o porto de Santos. Tinha uma ferrovia de 120 km com 12 locomotivas e 200 vagões para o transporte interno dos produtos colhidos até o embarcadouro. Parecia uma cidade chegando a ter 4.000 moradores, com cinema, capela e locais de lazer para a população. A ‘Fazenda dos Ingleses’, como era chamada, foi o empreendimento que desenvolveu a cidade de Caraguatatuba, capacitando-a para tornar-se independente de São Sebastião em 1947. Em 1954 o governo do Estado de São Paulo desapropriou 1.300 alqueires da fazenda para instalar um parque estadual. Na década de 1960 foi vendida.
Em 1930, o Grupo adquiriu uma antiga fazenda de café em Vassouras (RJ) a ‘Fazenda São Luis da Boa Sorte’ que tinha sido herdada em 1842 por Paulo Gomes Ribeiro de Alencar. A fazenda foi pioneira no uso de máquinas agrícolas movidas a vapor. Mais tarde foi vendida. Hoje é um ponto turístico da cidade.
A Agro-Pecuária CFM da família Vestey, no Brasil desde 1908, gerencia atualmente 11 fazendas nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia. Seu sistema de produção eficiente resulta em volumes impressionantes colhendo por ano quase 2 milhões de toneladas de cana de açucar. Nas fazendas são produzidos por ano uma média de 5,5 milhões de litros de leite a pasto e comercializados quase três mil touros Nelore e Montana.
Touro da raça Pitangueiras |
A família Vestey arrendou e abateu gado no estabelecimento denominado ‘Companhia Frigorífica de Santos’ que esteve em atividade de 1924 a 1947 e exportava a totalidade de sua produção. O gado chegava ao abatedouro pela estrada de ferro em vagões próprios para transporte de animais. Eram abatidos, refrigerados e colocados nos navios da ‘Blue Star Line’ para seguir para a Europa.
Foi construído mais dois matadouros frigoríficos, um a em Goiânia (GO) em 1974 e outro em Gurupi (TO) em 1988. Em 1989 adquiriu o ‘Frigorífico Atlas’ de Santana do Araguaia (PA), que tinha sido inaugurado em 1982, mais não veio a reiniciar as suas atividades, sendo vendido mais tarde.
Na Venezuela, em 2005, teve as fazendas invadidas pelo exército e só depois, de um acordo, onde cedeu 2 fazendas, teve a garantia da posse das outras oito. Recentemente voltou a ter problemas com o governo,
A família é uma das vinte mais ricas do Reino Unido.
Hoje a liderança do grupo é do Lord Samuel Vestey nascido em 1941, sobrinho do primeiro Lord Vestey, que entre outros bens particulares é proprietário de uma fazenda de 2.400 hectares em Stowell Park, condado de Gloucester na Inglaterra, avaliada pelos jornais ingleses em 15 milhões de libras, uma das maiores do hemisfério Norte.
(Texto de Leopoldo Costa)
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Veja também:
ARMOUR NO MERCADO DA CARNE
SWIFT NO MERCADO DE CARNE
WILSON NO MERCADO DE CARNE
http://stravaganzastravaganza.blogspot.com/2011/02/wilson-uma-das-tres-maiores-no-mercado.html
FAZENDA DOS INGLESES (CARAGUATATUBA)
http://stravaganzastravaganza.blogspot.com/2012/01/fazenda-dos-ingleses-caraguatatuba.html
BLUE STAR LINE - HISTÓRIA DA EMPRESA
http://stravaganzastravaganza.blogspot.com/2011/11/blue-star-line-uma-empresa-dos-vesteys.html
Olá Leopoldo,
ReplyDeleteAchei muito bom o seu texto sobre os empreendimentos da família Vestey. Você poderia me indicar algum livro que me traga mais informações sobre o grupo?
Agradeço desde já.
Excelente matéria, conheça a casa dos profissionais do ponto de vendas !!!
ReplyDeletewww.marketingtradeshowbrasil.com.br
oi, Leopoldo; primeiro lugar parabéns pelo trabalho e pelos posts. Materiais sempre interessantíssimos, resgatadores da história e alimentadores de tantas lembranças! Há dois livros que julgo interessantíssimos: "Around Smithfield" e "The Vestey's Affair".... vc os conhece? Abraços!
ReplyDeleteOi, Eli, muito obrigado pelo seu comentário o primeiro livro eu conheço, e trata-se dos meios ilícitos (evasão de impostos, principalmente) que a família usou para acumular a riqueza. Usei alguma informação do livro no meu post. Continue nos prestigiando com suas importantes intervenções. Abraço.
ReplyDeleteLeopoldo
Boa Tarde, Sou morador de Mendes,RJ, onde havia um frigorifico do grupo, e ainda hoje existe uma vila com o nome da familia (Vila Vestey ou Westey). Gostaria de saber se você possui outras fotos do frigorifico, ou da vila que possa me ceder. A proposito, existe um equívoco no nome do antigo proprietário da Fazenda São Luiz da Boa Sorte, nao se trata de Paulo Gomes Ribeiro de Alencar, mas sim de Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, família tradicional no ciclo do café. Como historiador, a temática muito me interessa. Se pudermos trocar informações serei muito grato.
ReplyDeletemeu contato é profsantos1969@hotmail.com
ReplyDeleteEstimado prof. Adelci,
ReplyDeleteAgradeço a correção do nome do antigo proprietário da Fazenda São Luiz da Boa Sorte.
Quanto a fotos do frigorifico de Mendes eu só disponho da que postei na matéria.
Leopoldo
Parabens pelo seu trabalho! Nasci na Fazenda Sao Sebastiao (Fazenda dos Ingleses)em 1958. Eu adoraria saber quem eram os outros ingleses que faziam parte do Grupo Vestey, que eram donos do Frigorifico Anglo e da Fazenda. Existia algum Mr. Brown que minha avo trabalhava para eles? E outros nomes ou sobrenomes, saberia me dizer? Muito importante para mim. Grata pela atencao. Miriam, neta de um ingles, quem sabe proveniente dessas familias.
ReplyDeletemiwilly@hotmail.co.uk
Trabalhei no Grupo Vestey, décadas de 60 e 70, nos ramos de navegação marítima e de prospecção de cargas frigoríficas no RS. Muitas saudades, principalmente de chefes e colegas de trabalho daqueles tempos: Mr. Edmund Vestey, Frederick Charles Prosser, sua esposa Mrs. Wendy Erika Prosser, Stanley William Haddock, Frederick Tate, Timothy Kemp, Alick Stuart Beck, Robert (Bobby) Beck, Alastair Leslie, Ronald Colquhoun, Fred Hahn, e centenas de outros que faziam parte da Blue Star Line, Lamport & Holt Line e Calmedia Lines. Bom lembrar.
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