A primeira referência sobre a ‘medicina dedicada aos animais’ foi o papiro de Kahoun, datado de 1980 a.C., encontrado no Egito, que descreve atos relacionados com procedimentos de cura de animais.
No ‘Código de Hamurabi’ está registrado a primeira menção do ofício de veterinário e já com uma punição pelo serviço não feito adequadamente:
‘O veterinário que não exercer bem a sua profissão será castigado’Um importante documento Hitita, o ‘texto Kikkuli’ descreve com detalhes a forma de cuidar e preparar um cavalo para fazer dele um bom trotador. Parece que no entanto que Kikkuli, o autor do texto não era Hitita, mas Ariano. Fez provavelmente uma estadia no império de Hatti à custa do governo do seu país, para depois, ensinar a tecnologia da criação de cavalos. Este texto data de 1300 a.C. sendo o mais antigo manual de criação de cavalos conhecido.
A Veterinária iníciou o seu desenvolvimento na Grécia. Epicarno, filósofo que viveu 540 anos antes de Cristo, escreveu o primeiro tratado sobre a higiene e medicina dos animais.
O historiador Heródoto (484-425 a.C) faz referências aos animais e a forma como deviam ser tratados.
Hipócrates deixou registros em 460 a.C. lecionando sobre doenças auriculares de bovinos, epilepsia em carneiros e cabras. Xenofonte em 430 a. C. escreveu sobre várias moléstias que atacam os animais de criação.
Aristóteles (38-322 a.C) em 384 a.C. discutiu sobre o tema no seu livro ‘História dos Animais’, baseado nos escritos dos predecessores.
Entre os Gregos havia a classe de ‘hippiatroi’ que significa ‘doutor de cavalo’ que se dedicavam exclusivamente no trato destes animais.
Foi em Roma que a Veterinária ganhou status de ciência como pode ser observado pelos escritos de Virgilio, Varrão, Columela, Plínio, o Velho, Tácito e Paládio. Plínio, o Velho escreveu uma enciclopédia de ‘História Natural’ em 37 volumes, em que condensava todos os conhecimentos da época e nela tratava também da matéria.
Cornélio Tácito (?55-120) foi autor da ‘Vida Agrícola’ e ‘Costumes dos Germanos’, em que se ocupa dos temas relativas a criação de gado, comparando a morfologia dos bovinos da Itália de chifres longos com os bovinos da Alemanha de chifres curtos. Também informa que os tributos de guerra eram pagos com couros de bois. Sobre os suínos escreveu que pertenciam à raça Céltica e eram criados em liberdade nos bosques de carvalhos e faias, de cujos frutos se alimentavam.
Também foi em Roma que a ciência ganhou o seu nome em latim ‘Ars Veterinaria’ e ‘medicus veterinarius’, nome que era conhecido quem praticava o oficio.
Um importante tratado sobre Veterinária foi escrito pelo romano Publius Vegetius em 450 a.C e chamava ‘Artis Veterinariae’, que tornou o compêndio para estudo na Europa Ocidental por mais de 600 anos. Foi o primeiro livro de Veterinária impresso no invento de Gutenberg em 1582. Ele indicava que o isolamento dos animais doentes ou feridos evitava contaminações e ensinava procedimentos sobre higiene e saneamento. Estudou detalhadamente a anatomia dos animais de maior interesse econômico na época. .
No século IV Apsirtos (300-?) considerado o ‘pai da Veterinária’ escreveu 121 artigos sobre doenças e sistemas de criação de animais no tratado enciclopédico ‘Hippiatrika’. Foi o veterinário encarregado de cuidar dos cavalos do exército de Constantino, o Grande.
No início da Idade Média, o estudo da ciência entrou em decadência e o ofício foi desprestigiado, passando a ser exercido por ferradores de cavalos, pastores e magarefes.
Averróis, médico e filósofo árabe nascido em Córdoba e falecido em Marrocos em 1198 fez importantes comentários sobre os escritos de Aristóteles sobre o tema. Outro árabe. Abu Berkr dedicou as suas obras aos assuntos relacionados aos equinos, sendo considerado um dos inspiradores de Bourgelat, que veremos mais adiante.
No Renascimento, com a evolução experimentada em todas as artes e ciências, a Veterinária recuperou o seu prestigio e a sua importância. Foram treinados para trabalhar como cirurgiões-práticos de animais os funcionários responsáveis pelas cavalariças e pelas baias dos nobres que possuiam e cuidavam bem dos seus cavalos. Um destes práticos foi Jordanus Ruffus que no reinado de Frederico II tornou-se um grande anatomista e patologista.
O sobrinho do conquistador do México Hernando Cortez, Juan Suáres de Peralta, escreveu entre 1575 e 1580 o primeiro tratado de Veterinária das Américas, conhecido como ‘El Libro de Albeiteria’ onde ensina entre várias coisas, como cuidar e curar as moléstias dos cavalos. Em 1598, Carlo Ruini (1456-1557) publicou um manual de Veterinária chamado ‘Dell’Anatomia e dell’ Infirmidà del Cavallo.’
No século XVI na China existiram bons veterinários e foram publicados trabalhos importantes sobre doenças de cavalos. No entanto, os melhores veterinários especialistas em cavalos eram os Árabes e os Persas.
Em 1600, Olivier de Serres publicou a obra ‘Théatre d’Agriculture’, importante sobre o assunto.
Em 1618, Martin Bohme desenvolveu estudos sobre a arte de curar e evitar doenças dos animais.
No início do século XVIII existiam na Alemanha centros de treinamento (‘Marstalle’) que preparavam alunos para cuidar dos cavalos do exército. O mesmo ocorria na França onde havia ‘marechaux-traitants’ que se especializaram no tratamento de doenças de animais e eram muito requisitados pelas tropas. Foi nessa época que Buffon (1707-1788), iniciou os seus trabalhos.
Louis Jean Marie Daubeton (1716-1800), introdutor dos ovinos Merino na França, escreveu sobre os cuidados que deviam se ter com os rebanhos e realizou estudos sobre o cruzamento progressivo. Foi Tessier o continuador da obra de Daubeton com o livro “Instructions sur les Bêtes à Laine” e Gilbert com o seu “Instructions sur les Moyens d’Assurer la Propagation des Bêtes à Laine de Race Espagnole et sur La Conservation de Cette Race.”
Ainda na França, Garlier publicou em 1770 a sua obra “Traité des Bêtes à Laine”.
Na Inglaterra no século XVIII vários médicos abandonaram o ofício de cuidar de humanos para se dedicarem exclusivamente no tratamento de animais por que a remuneração era melhor.
Apesar destes esforços as zoonoses se multiplicavam assustadoramente e havia entre a população preconceito com as pessoas que cuidavam dos cadáveres dos animais mortos. Na Alemanha quem abatia os cães em época de epidemia de raiva, não tinha direito de cidadania. Como muitas vezes este profissional também exercia a função de veterinário, desprestigiava também este ofício.
Frederico, o Grande da Prússia em 1767 teve dificuldades para conseguir que a ‘Academia de Ciências de Berlim’ homologasse um curso de Veterinária, pois os doutores da academia achavam ‘indigno’ uma pessoa da categoria deles lidar com doenças e cadáveres de animais. O curso só foi criado em 1786, já sob o reinado de Frederico Guilherme II, o seu sucessor.
A primeira escola de Veterinária foi fundada em Lyon na França em 1762 por Claude Bourgelat (1712-1770) ou (1713-1779). Embora Claude Bourgelat não fosse bem preparado para esta missão, o resultado foi bom. Inicialmente os estudos se dedicaram sobre a criação de cavalos. Foi o seu sucessor o padre Jean François Rozier (1734-1779) que expandiu os estudos para outros animais de curral e escreveu “Dictionnaire d”Agriculture”. Por iniciativa de Bourgelat em 1765 foi fundada a segunda escola em Alfort, nas proximidades de Paris, que ficou sendo a mais conhecida. Baseado nestas foram criadas outras escolas em Hanover (1778), Copenhague (1773), Londres (1791), Viena (1768), Turim (1769), Budapeste (1781), Madrid (1792) e Toulouse (1828).
A primeira escola veterinária dos Estados Unidos foi inaugurada em 1809. Acima mostramos foto de uma aula numa escola norte americana na década de 1940.
Em Portugal a legislação miguelina criou em 1830 a primeira escola dedicada a Veterinária.
Na Belgica o ensino de Veterinária começou em 1832 por iniciativa de Graux, com a colaboração de outros mestres que fundaram uma escola de Veterinária em Bruxelas. Em 1836 a escola que era privada foi estatizada pelo governo.
Na Itália surgiram escolas importantes em Perugia (1864), Bolonha (1784), Milão (1791), Napoles (1795) e Pisa (1821).
No Brasil a idéia de criação de estabelecimentos dedicados ao estudo da Medicina Veterinária foi despertada quando em 1875, o imperador Pedro II visitou a Escola Veterinária de Alfort, nas proximidades de Paris, mas só se concretizou, entretanto, com o decreto 8.319 de 20 de outubro de 1910, 35 anos depois, assinado pelo presidente Nilo Peçanha. O documento tornava obrigatório o ensino de Veterinária nas escolas de Medicina.
No mesmo ano foram criadas a ‘Escola de Veterinária do Exército’ e a ‘Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária’, ambas no Rio de Janeiro. A ‘Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária’ só foi inaugurada em 1913 e depois transferida para o interior do estado. Em 1919 foi inaugurada em São Paulo a primeira escola de Veterinária que foi incorporada em 1934 pela recém criada ‘Universidade de São Paulo’ (USP). Em 1913, no governo de Hermes da Fonseca foi regulamentada a profissão de Veterinário.
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(Texto de Leopoldo Costa)




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