HISTÓRIA DA RAÇA GUZERÁ

Leopoldo Costa

Segundo o prof. Alberto Alves Santiago, no seu livro 'Pecuária de Corte no Brasil Central' (1970): 'O rebanho brasileiro denominado de Guzerá foi formado por um contingente de animais perfeitamente enquadrados no padrão da raça Kankrej, em meio de populações que desta se distanciam em maior ou menor proporção. Dentro do vasto rebanho genericamente denominado Guzerá, poderiamos identificar inúmeros representantes das raças afins, especialmente da Malvi, Hissar e Tharparkar. Temos encontrado animais cuja carcterização nos lembra até outras raças, embora situadas no Nordeste da Índia, à grande distância dos pontos em que se demoraram e efetuaram compras os brasileiros que lá estiveram'.

Mason no seu livro 'A World Dictionary of Livestock Breeds, Types and Varieties' de 1996, relata que a raça Guzerá foi desenvolvida nos Estados Unidos com a importação de zebuinos Kankrej no período de 1875 até 1964. Ele não menciona que antes, em 1870, já tinha entrado um touro Kankrej no Brasil e menciona apenas superficialmente da colaboração do Brasil para o desenvolvimento da raça.


A raça Kankrej, uma das maiores e mais pesadas da Índia, foi estabelecida na região sudoeste ao deserto de Cutch, no oeste do país, precisamente às margens dos rios Banas e Saraswati. No estado limítrofe de Radhanpur uma raça semelhante a Kankrej é conhecida como Wadhiar, no estado de Cutch é conhecida como Wagad ou Wagadia, que era como chamavam os vaqueiros que cuidavam do rebanho. A raça tem o nome tirado do distrito de Kankrej, região de Gujarat do Norte, no estado de Bombaim,  costa oeste da Índia. 

A história do Kankrej é muito antiga, alguns historiadores afirmam que ela já estava presente no território do subcontinente indiano, quando os Arianos invadiram a região a caminho dos planaltos do Iraque. Os arqueólogos que desde a década de 1930, estão explorando os sítios de Mohenjo-Daro (em Sindh) e Harappa (em Punjab) ambos no Paquistão, encontraram objetos de cerâmica (selos) com a imagem da cara de um boi com as feições da raça e no museu de Bagdá, no Iraque, existem tmbém  peças e objetos  de ouro reproduzindo touros Kankrej. O brasão do Ministério da Agricultura da Índia trás a efígie estilizada de um touro Kankrej.

No Brasil


Os animais da raça Guzerá foram os primeiros zebuínos a ser importados pelo Brasil. O seu nome é uma corruptela de Gujarat.

Em 1870, o 1º barão de Duas Barras, João Antonio de Morais (m. 1883) importou um touro Kankrej para a sua fazenda de Cantagalo, na província do Rio de Janeiro. Ele foi cruzado com vacas taurinas e originou mestiços fortes que foram usados com sucesso na tração das carroças que transportavam café no início da expansão da cafeicultura na então província do Rio de Janeiro.


Foi a raça de maior rebanho no Brasil até a década de 1920, quando foi suplantada pela introdução da raça Indubrasil. A sua criação concentrava-se no Rio de Janeiro, Minas Gerais, sul de Goiás e norte de São Paulo. Com a 'febre do Indubrasil' a raça Guzerá foi relegada e sobreviveu por que alguns criadores como João de Abreu Júnior de Cantagalo (RJ) e Cristiano Pena de Curvelo (MG)  teimaram em manter e melhorar os seus rebanhos.


Apesar de não serem muitos, os criadores eram abnegados e competented e na Exposição Nacional de 1936,  no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Getúlio Vargas, animais da raça foram destaque. Esta performance impressionou o presidente que também era criador de gado europeu em São Borja (RS). A raça foi então escolhida para a  implantação dos núcleos de desbravamento e colonização do governo federal, dentre os quais o "Projeto Radambrasil". 

Com a divulgação, animais Guzerá espalharam por várias regiões principalmente no Nordeste, onde foi a raça que sobreviveu, produtivamente, durante os cinco anos consecutivos de seca (1978-1983), além de ter enfrentado também outras secas históricas como a de 1945 e 1952. 

Durante o governo de João Goulart, em 1962 foram incluidos animais Krankrej puros na importação de zebuínos da Índia, o que injetou sangue novo no rebanho nacional.