3.21.2011

A CARNE NA COGNIÇÃO HUMANA


Os ancestrais humanos habitantes das savanas secas e abertas da África, há cerca de 2 milhões de anos atrás, começaram a incluir rotineiramente a carne em suas dietas para compensar o sério declínio da qualidade dos alimentos vegetais, de acordo com o antropólogo físico da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Foi esta nova dieta com carnes, plena de nutrientes densos, que providenciou a catálise da evolução humana, particularmente o desenvolvimento do cérebro. Sem carne, é improvável que os proto-humanos teriam assegurado energia e nutrição suficiente com o consumo de vegetais disponíveis em seu meio-ambiente africano nesta época para evoluir às criaturas ativas, sociáveis, inteligentes que se tornaram.

Diversos professores e cientistas da Universidade de Berkeley afirmam que as primeiras espécies humanas caçavam e consumiam carne desde 2,5 milhões de anos atrás.

Em muitas partes do globo, onde as pessoas têm pouco acesso à carne, ocorre o risco de má nutrição. Isto acontece por exemplo, no sul da Ásia, onde se baseiam pesadamente em alimentos vegetais somente, arroz polido, e desenvolvem a doença nutricional, o beribéri. No próprio EUA, na região sul, onde muitas pessoas dependem em grande escala do milho, é comum o desenvolvimento de outra doença nutricional, a pelagra.

A carne supriu os primeiros humanos não somente com todos os aminoácidos essenciais, mas também com muitas vitaminas, minerais e outros nutrientes necessários, permitindo que fizessem uso marginalmente dos vegetais de baixa qualidade, como raízes, alimentos com poucos nutrientes, mas com muitas calorias. Estas proteínas, em conjunto com os carboidratos energéticos, complementaram a expansão do cérebro humano e, além disso, permitiram que os nossos ancestrais aumentassem de tamanho corporal, permanecendo ativos e sociais. O cérebro é um cruel consumidor de calorias. Necessita de glicose 24h/dia. A proteína animal não fornece todas estas calorias, daí a necessidade da complementação com carboidratos. Protegidos da deficiência nutricional pela carne, os ancestrais humanos puderam também intensificar seu uso de alimentos de origem vegetal com compostos tóxicos como os glicosídeos cianogênicos, alimentos que os outros primatas evitaram. Estes compostos podem produzir cianeto, veneno mortal, para o organismo, mas foram neutralizados pela metionina e cistina, aminoácidos ricos em enxofre presentes na carne. É difícil encontrar metionina suficiente em plantas. A maioria dos grãos domesticados - trigo, arroz, milho, cevada, centeio e triguilho - contém este composto cianogênico assim como muitos tipos de feijões e raízes amplamente consumidas, como taro e mandioca.

Como os alimentos vegetais disponíveis aos primeiros humanos no meio-ambiente, ressequido e deflorestado, se tornaram menos nutritivos, a carne foi crítica para crianças desmamadas. Sem a carne, esses pequenos infantes não poderiam ter obtido material substancial suficiente para compor os nutrientes necessários para crescimento e energia do desenvolvimento cerebral. Os cientistas discordam das teses que afirmam que carne possa ter sido somente um alimento marginal para os primeiros humanos. A incorporação da matéria animal na dieta exerceu papel absolutamente essencial na evolução humana.

Nutrição e o cérebro humano

A ingestão alimentar pode afetar o humor, comportamento e função cerebral. Uma pessoa com fome se sente irritada e cansada, ao passo que uma pessoa ao terminar de consumir uma refeição se sente calma e satisfeita. Uma pessoa sonolenta pode sentir-se mais produtiva após uma xícara de café e um pequeno petisco. Consumir um bife antes da prova na Escola, permite que o cérebro fique mais alerta. Um indivíduo com consumo menor de alimentos ou energia do que o necessário, por um longo período, pode ficar apático e temperamental.

O cérebro humano possui altas necessidades em energia e nutrientes. As mudanças em ingestão energética ou nutricional podem alterar a química cerebral e o funcionamento dos nervos do cérebro. A composição da ingestão em energia e vários nutrientes diferentes afeta os níveis dos elementos químicos no cérebro chamados de neurotransmissores. Os neurotransmissores transmitem impulsos nervosos de uma célula nervosa para outra, e influenciam o humor, padrão em sono e pensamentos. As deficiências ou excessos de certos tipos de vitaminas ou minerais podem danificar os nervos cerebrais, causando mudanças na memória, limitando a capacidade de resolver problemas e desequilibrando a função cerebral.

Vários fatores nutricionais podem influenciar a saúde mental, incluindo: ingestão total energética, ingestão de nutrientes básicos (proteínas, carboidratos e gorduras), ingestão de álcool, e ingestão de vitaminas e minerais. Com frequência as deficiências em múltiplos nutrientes são responsáveis pelas mudanças no funcionamento do cérebro, mais do que um nutriente isolado. Pobreza, ignorância e dietas absurdas contribuem para deficiências nutricionais.

Proteínas e saúde mental

As proteínas são constituídas por aminoácidos ligados juntos em várias sequências e quantidades. O corpo humano pode produzir alguns dos aminoácidos, mas 8 aminoácidos essenciais devem ser supridos pela dieta. Uma proteína completa ou de alto valor biológico contém todos os 8 aminoácidos essenciais em quantidades necessárias ao organismo. Alimentos ricos em proteína de alto valor biológico incluem as carnes, leite e derivados, e ovos. Feijões secos, ervilhas, grãos, oleaginosas (nozes) e sementes também contém proteínas, embora as proteínas destes alimentos de origem vegetal sejam pobres em um ou mais aminoácidos essenciais, ou seja, incompletas. A ingestão protéica e a ingestão de aminoácidos individuais podem afetar o funcionamento do cérebro e da saúde mental. Muitos dos neurotransmissores do cérebro são produzidos a partir dos aminoácidos. O neurotransmissor dopamina é produzido a partir do aminoácido tirosina. O neurotransmissor serotonina é produzido a partir do aminoácido triptofano. Se o aminoácido necessário não estiver disponível, os níveis de cada neurotransmissor em particular diminuem e o funcionamento do cérebro e o temperamento podem ser afetados. Por exemplo, se houver falta de triptofano no organismo, não será produzida serotonina suficiente, e os níveis cerebrais baixos em serotonina estão associados com depressão e mesmo agressão em alguns indivíduos. Da mesma forma, algumas doenças podem causar um acúmulo de certos aminoácidos no sangue, levando ao dano cerebral e problemas mentais. Por exemplo, o acúmulo do aminoácido fenilalanina em indivíduos com uma doença chamada de fenilcetonúria pode causar dano cerebral e retardo mental.

Cognição e nutrientes da carne

Cognição ou a habilidade em percepção, pensamentos e lembranças, é influenciada por muitos fatores, um dos quais é a nutrição. A má nutrição protéico-energética, síndrome da múltipla deficiência em nutrientes, está associada com várias deficiências cognitivas e comportamentais. Entre as crianças, a má nutrição protéico-energética impacta negativamente no desenvolvimento mental e a cognição. Reduz também a interação da criança com o meio-ambiente, e que por sua vez leva a problemas com atenção, percepção, motivação, controle motor, atividade física e responsabilidade. Cada um destes comportamentos pode comprometer a capacidade da criança em aprender e sua atuação na escola. Entre os idosos, a má nutrição leva a deficiências cognitivas e reduz sua capacidade em independência. Mesmo deprivações nutricionais a curto-tempo, fome, ou o pular refeições podem afetar negativamente o desenvolvimento e atuação cognitiva. Deficiências de nutrientes específicos, em particular ferro e zinco, podem estar envolvidas em muitos dos mesmo efeitos atribuídos à má nutrição protéico-energética. A função cognitiva desequilibrada é um dos eventos potenciais severos associados com as deficiências em ferro, zinco e algumas vitaminas do complexo B. Como carne bovina é uma boa ou excelente fonte de muitos nutrientes (exemplo: ferro prontamente disponível, zinco, várias vitaminas do complexo B, etc.) envoltos no desenvolvimento cognitivo, é de particular interesse verificar até quanto a falta do seu consumo está afetando a cognição.

Assim, considerando os benefícios potenciais do ferro, zinco e outros nutrientes na cognição, a necessidade do cumprimento destes nutrientes é importante para todas as idades. A biodisponibilidade de zinco difere entre os alimentos. Em geral, o zinco é mais disponível nos alimentos de origem animal que de origem vegetal. É sabido que o fitato presente em cereais e legumes limita a biodisponibilidade de zinco. As pessoas podem ter risco de ter deficiência suave de zinco como resultado de más escolhas de alimentos, incluindo a baixa ingestão de produtos de origem animal, como carnes vermelhas, detentoras de alta quantidade de zinco prontamente disponível. Poucos estudos avaliaram o efeito do status de zinco na função cognitiva de adultos. Entretanto, dois estudos pilotos feitos com humanos mostraram que a deficiência suave de zinco prejudica a performance neuropsicológica de tarefas como memória visual de curto prazo. Com base em dados experimentais animais, a deficiência materna suave e moderada de zinco podem afetar de forma adversa tanto a função cognitiva da mãe humana como o desenvolvimento de seu bebê. Portanto, isto é particularmente verdadeiro durante os anos iniciais, quando o cérebro está se desenvolvendo, e por consequência suas funções subsequentes, e mesmo durante os anos finais, para ajudar a manter a cognição.

A carne bovina é importante fonte de ferro e zinco biodisponível da dieta. Considerando o papel potencialmente benéfico desses nutrientes no desenvolvimento e na função cognitiva, a ingestão de carnes vermelhas, como carne bovina, pode melhorar a cognição, particularmente em pessoas com deficiência ou em risco dela.

 Por Licinia de Campos in  www.agripoint.com.br. Adaptado e editado para ser postado por Leopoldo  Costa.

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