4.23.2011

EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA E DEMOGRÁFICA DE MINAS GERAIS

Leopoldo Costa

PRIMÓRDIOS

Até 1709, Minas Gerais fazia parte da Capitania do Rio de Janeiro, como um Distrito. Neste ano, a Coroa adquiriu as capitanias de São Vicente e Itanhaém reunindo-as sob o nome de São Paulo. No dia 9 de novembro de 1709, um alvará régio criava a Capitania de São Paulo e Minas Gerais, tendo como primeiro governador o Capitão-General Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725)

Em 2 de dezembro de 1720, a Capitania de Minas Gerais foi separada de São Paulo, sendo instalada em 18 de agosto de 1721, com a posse do primeiro governador D. Lourenço de Almeida (?1680-1750).

Nesta época, segundo Diogo de Vasconcelos (1843-1927), na sua ‘História Antiga de Minas Gerais’ a população da Capitania era de 80.000 pessoas.

A capitania confrontava-se ao norte  com a Bahia, tendo como limite o Rio Verde e com Pernambuco, limitatada pelo Rio Carinhanha.
Ao sul, era separada de São Paulo pela serra da Mantiqueira e do Rio de Janeiro, pelos rios Preto, Paraibuna e Paraíba do Sul. A oeste, limitava com Goiás e a leste com Espírito Santo, Porto Seguro e parte da capitania da Bahia.de Todos os Santos.
Tinha 112 léguas de comprimento norte-sul e 80 léguas de largura leste-oeste. O território tinha o formato de um gigantesco grão de feijão.

O primeiro registro de exploração do território de Minas Gerais foi em 1573, quando Sebastião Fernandes Tourinho, procedente de Porto Seguro, subiu o Rio Jequitinhonha atingindo o coração de Minas Gerais.

EVOLUÇÃO DA DIVISÃO ADMINISTRATIVA

Em 1714 existiam apenas 4 comarcas: 

Comarca
Municípios e Freguesias
Nome Atual

Vila Rica
Vila Rica do Pilar de Ouro Preto
Ouro Preto (elevado a Vila em 1711)
Vila Real de Nossa Senhora do Carmo
Mariana (elevado a Cidade em 1745)



Rio das Mortes
São João del Rey
São João del Rey  (Vila em 1713)
São José del Rey
Tiradentes (Vila em 1718)
Arraial dos Carijós (Real Vila de Queluz)
Conselheiro Lafaiete (Vila em 1790)
São Carlos do Jacuí
Jacuí (Vila em 1814)
Santa Maria do Baependi
Baependi (Vila em 1814)
Campanha da Princesa
Campanha (Vila em 1798)
Nossa Senhora da Piedade de Barbacena
Barbacena (Vila em 1791)
São Bento do Tamanduá
Itapecerica (Vila em 1789)

Serro
Vila do Príncipe (Serro)
Serro (Vila em 1714)
Fanado das Minas Novas
Minas Novas (Vila em 1729)


Sabará
Vila Real de N. Sra. Conceição do Sabará
Sabará (Vila em 1711)
Vila Nova da Rainha do Caeté
Caeté (Vila em 1714)
Pitangui
Pitangui (Vila em 1715)
Paracatu do Príncipe
Paracatu (Vila em 1798)




















 Fonte: Casal, Aires de,- Corografia Brazilica ou Relação Historico-Geografica do Reino do Brazil-1817- (adaptado pelo autor, com os nomes atuais e as datas).

Em 1776, a Província com uma população de 319.769 habitantes, contava  ainda com 4 comarcas acima destacadas.

Tinha uma única cidade, a Vila Real de Nossa Senhora do Carmo que foi assim considerada em 1745, por Carta Régia, com o nome de Mariana, em homenagem a D. Maria Ana da Áustria, esposa do então rei de Portugal, D. João V.  

   Quadro Populacional da Província de Minas Gerais em 1776
  
Vila Rica
Rio das Mortes
Rio das Velhas
Serro
Total

Homens
Brancos
7.847
16.277
8.648
8.905
41.677
Pardos
7.981
7.615
17.011
8.186
40.793
Pretos
33.961
26.199
34.707
22.304
117.171
Total
49.789
50.091
60.366
39.395
199.641

Mulheres
Brancos
4.832
13.649
5.746
4.760
28.987
Pardos
8.810
8.179
17.225
7.103
41.317
Pretos
15.187
10.862
16.239
7.536
49.824
Total
28.829
32.690
39.210
19.399
120.128

Total
Brancos
12.679
29.926
14.394
13.665
70.664
Pardos
16.791
15.794
34.236
15.289
82.110
Pretos
49.148
37.061
50.946
29.840
166.995
Total
78.618
82.781
99.576
58.794
319.769











  Fonte: Veiga, José Pedro Xavier da,- Ephemerides Mineiras-1778- adaptado pelo autor

Em 1819/1810, o viajante inglês John Mawe (1864-1829), que percorreu grande parte do território de Minas Gerais estimou a sua população em 360.000 habitantes. Também observou que a força policial era de 1.400 homens.

Em 1854, a Província de Minas Gerais era constituída por 15 comarcas que compreendiam 50 municípios que eram divididos em 206 freguesias e estas em 430 distritos.

Eram as seguintes as 15 comarcas e os 50 municípios da Província de Minas Gerais:

 Divisão Administrativa de Minas Gerais em 1854

Comarca
Municípios
Nome Atual

Ouro Preto
Ouro Preto
Ouro Preto
Queluz
Conselheiro Lafaiete
Bonfim
Bonfim

Rio das Velhas
Sabará
Sabará
Curvelo
Curvelo
Pitangui
Pitangui
Dores do Indaiá
Dores do Indaiá

Serro
Serro
Serro
Conceição
Conceição do Mato Dentro
Diamantina
Diamantina

Jequitinhonha
Minas Novas
Minas Novas
Rio Pardo
Rio Pardo de Minas
Grão Mogol
Grão Mogol

Rio de São Francisco
São Romão
São Romão
Januária
Januária
Montes Claros
Montes Claros

Paracatu
Paracatu
Paracatu
Patrocínio
Patrocínio

Paraná
Araxá
Araxá
Uberaba
Uberaba
Desemboque
Desemboque  ( Distrito  de Sacramento)

Rio Grande
Tamanduá
Itapecerica
Formiga
Formiga
Piumhi
Piumhi

Sapucaí
Pouso Alegre
Pouso Alegre
Itajubá
Itajubá
Jaguari
Camanducaia
Caldas
Caldas

Rio Verde
Campanha
Campanha
Baependi
Baependi
Cristina
Cristina
Aiuruoca
Aiuruoca

Rio das Mortes
São João del Rey
São João del Rey
São José del Rey
Tiradentes
Oliveira
Oliveira
Lavras
Lavras

Pomba
Pomba
Rio Pomba
Piranga
Piranga
São Januário do Ubá
Ubá
Mar de Espanha
Mar de Espanha

Piracicaba
Mariana
Mariana
Santa Barbara
Santa Barbara
Itabira
Itabira
Caeté
Caeté

Paraibuna
Barbacena
Barbacena
Rio Preto
Rio Preto
Santo Antônio do Paraibuna
Juiz de Fora

Três Pontas
Três Pontas
Três Pontas
Passos
Passos
Jacuí
Jacuí
Fonte: 1. Quadro Demonstrativo das Comarcas, Municípios, Freguesias e Districtos, contendo o número de quarteirões, e dos votantes e eleitores da Província por Freguesia –1854- publicado no Relatório Anual do Presidente da Província de Minas Gerais. A nomenclatura dos lugares foi atualizada pelo autor.

O RECENSEAMENTO DE 1872

A população total da Província pelo Recenseamento realizado em 1872, era de 1.384.580 habitantes e distribuída em 62 municípios. 

 População da Província de Minas Gerais em 1872

Município
População Livre
População Escrava
População Total
Ouro Preto
42.582
5.632
48.214
Queluz
42.909
13.993
56.902
Pitangui
33.763
6.590
40.353
Santa Barbara
40.734
7.610
48.344
Ponte Nova
49.627
7.604
57.231
Sabará
46.467
8.982
55.449
Caeté
13.958
2.798
16.756
Bonfim
29.762
5.822
35.584
Santa Luzia
21.478
5.953
27.431
Sete Lagoas
12.104
2.295
14.399
Grão Mogol
49.304
3.352
52.656
Minas Novas
50.135
4.312
54.447
Rio Pardo
44.861
6.722
51.583
Guaicuí
6.701
484
7.185
São Romão
6.940
433
7.373
Paracatu
31.760
2.638
34.398
Bagagem
23.167
2.963
26.130
Santo Antônio dos Patos
 13.686
1.395
15.081
Patrocínio
24.201
7.177
31.378
Uberaba
16.676
3.302
19.978
Prata
8.788
1.886
10.674
Três Pontas
18.139
5.997
24.136
Dores da Boa Esperança
15.713
4.764
20.477
Baependi
5.881
729
6.610
Aiuruoca
13.110
3.564
16.674
Passos
1.938
413
2.351
Alfenas
21.135
4.170
25.305
Piumhi
18.864
4.012
22.876
Cabo Verde
11.091
1.510
12.601
Tamanduá
26.981
4.764
31.745
Formiga
17.181
3.625
20.806
Oliveira
19.157
7.889
27.046
Pouso Alegre
17.929
4.075
22.004
Paraíso
17.371
4.164
21.535
Ouro Fino
20.595
3.574
24.169
Jaguari
11.520
1.070
12.590
São João del Rey
28.008
8.092
36.100
Bom Sucesso
10.976
2.324
13.300
Lavras
23.430
8.380
31.810
Barbacena
29.165
10.348
39.513
Juiz de Fora
3.600
2.157
5.757
Porto do Turvo
10.601
3.651
14.252
Pomba
25.528
7.028
32.556
Leopoldina
26.633
15.253
41886
Mar de Espanha
19.632
12.658
32.290
Santíssimo Sacramento
20.173
2.582
22.755
Rio Novo
15.838
6.957
22.795
Santa Rita do Turvo
30.460
6.636
37.096
Piranga
18.241
4.195
22.436
Monte Alegre
8.659
2.573
11.232
Santo Antônio do Monte
16.489
1.842
18.331
Total da Província
1.133.641
250.939
1.384.580





























































Fonte: Relatório Anual da Presidência da Província –Recenseamento 1872-  Adaptado pelo autor.

Detalhes do Município de Oliveira em 1872


Paróquias

População Livre

População Escrava

Total
Nossa  Senhora de Oliveira
2.980
1.390
4.370
São Francisco de Paula
4.090
1.471
5.561
Nossa Senhora da Glória de Passa Tempo
2.230
746
2.976
Nossa Senhora do Carmo do Japão
2.487
923
3.410
Santo Antônio do Amparo
4.162
2.352
6.514
Nossa Senhora da Aparecida do Cláudio
3.208
1.007
4.215
Total do Município de Oliveira
19.157
7. 889
27.046
  













Fonte: Relatório Anual da Presidência da Província –Recenseamento 1872-  Adaptado pelo autor

VILA DE SÃO JOSÉ DEL REY

Arraiais da Vila de São José del Rey em 1802

Nome Primitivo do Arraial
Nome Atual do Lugar
Bichinho
Vitoriano Veloso, povoação de Prados
Nossa Senhora da Conceição dos Prados
Prados
Santo Antônio da Lagoa
Lagoa Bonita, distrito de Cordisburgo
Olhos d’Água
Olhos d’Água, povoado de Tiradentes
Nossa Senhora da Penha de França da Laje
Resende Costa
Nossa Senhora da Glória de Passa Tempo
Passa Tempo
Nossa Senhora do Carmo do Japão
Carmópolis de Minas
Nossa Sra da Conceição  Aparecida de Cláudio
Cláudio
Nossa Senhora de Oliveira
Oliveira
Santo Antônio do Amparo
Santo Antônio do Amparo
Santa Ana do Jacaré
Santana do Jacaré
Bom Jesus do Jacaré
Cana Verde
Bom Jesus dos Perdões
Perdões
São Bernardo
Não Identificado
Nossa Senhora do Bom Sucesso
Bom Sucesso
São Tiago
São Tiago
Santa Rita do Rio Abaixo
Ritápolis
Córrego
Não Identificado
São Sebastião da Vitória
São Sebastião da Vitória, (distrito de São João del Rey)
Fonte: Avulsos Arquivo Publico Mineiro adaptado pelo autor. Nome atual pesquisa do autor

O município de Oliveira em 1854 tinha uma área territorial muito extensa (146 léguas quadradas ou 4.619 km²). Ao sul, limitava-se com o município de Lavras, a oeste com os municípios de São José del Rey (Tiradentes) e São João del Rey, ao norte com Queluz (Conselheiro Lafaiete),Bonfim e Sabará e ao leste com Tamanduá (Itapecerica) e Pitangui.

Tinha em 1854, como armamento oficial 20 espingardas e 15 baionetas e um efetivo policial, conjugado com São João del Rey, Lavras e São José del Rey (Tiradentes) de 1 comandante superior, 2 ajudantes de ordens, 1 secretário geral, 1 quartel mestre superior, 1 cirurgião mor, 5 tenentes coronéis, 6 majores, 3 quartéis mestres, 3 cirurgiões, 18 capitães, 18 tenentes, 31 alferes, 3.922 guardas ordinários e 876 guardas de reserva.

Oliveira era conhecida anteriormente como "Picada de Goiás" sendo rota dos aventureiros que partiam de São Paulo rumo às minas de ouro de Goiás e Mato Grosso.
Passa Tempo e Japão foram onde  se estabeleceram os primeiros habitantes do município de Oliveira, entre os anos de 1700 e 1734, o ultimo ano foi o  ano que Manoel Pacheco Barroso, procedente de Lagoa Dourada estabeleceu uma sesmaria nos sertões da cabeceira do Rio Pará (Passa Tempo)
O primeiro morador de Oliveira foi Domingos Vieira da Mota que era residente em Passa Tempo e conseguiu uma sesmaria na região em 1754. Esta sesmaria foi transferida para Antônio de Oliveira Jorge e terminou por ser arrematada em hasta pública  em 1758, por André Diniz Linhares.

A freguesia de Passa Tempo foi criada em 14 de julho de 1832, abrangendo, além da própria, as capelas filiais dos distritos de Nossa Senhora do Carmo do Japão e a de São João Batista (hoje Morro do Ferro, distrito de Oliveira). A freguesia foi canonicamente instituída em  31 de julho de 1833, tendo como primeiro vigário o Padre José Fabião Cordeiro. Pela lei n° 556 de 30 de agosto de 1911, Passa Tempo foi desmembrado de Oliveira e considerada vila, e em 10 de setembro de 1925, foi elevado a categoria de cidade.

Em 1854, um relatório publicado pelo Governo Provincial, baseado em informações das respectivas Câmaras, dizia o seguinte:
 “A capella de N. Senhora do Carmo do Japão e a de S. João Baptista tem ornamentos decentes para a celebração dos officios divinos, e cada uma possue por patrimônio uma morada e casas ordinárias. A Matriz (de Passa Tempo) está muito arruinada e as suas obras são orçadas em 4:876$. Possue em dinheiro 1:300$ e mais 500$ que recebeo dos cofres públicos e tem ainda a receber 400$ decretados pela Lei Provincial n° 660. Possue os ornamentos mais necessários para a celebração do culto divino.”
A capela de Nossa Senhora de Oliveira, padroeira e doadora do nome para o município, foi construída entre 1754 e 1758.

Em 1816/1820, Auguste de Saint- Hilaire (1779-1853), viajante francês que percorreu o interior do Brasil, descreveu Oliveira:
“Entre a fazenda das Vertentes do Jacaré e o arraial de Oliveira, distante dela três léguas e meia, as terras montanhosas e cortadas de matas e pastagens apresentam vastas e despovoadas extensões. Não encontrei ali um único viajante, não vi um único boi, tendo notado a presença de apenas duas propriedades, uma ao longe e outra á beira do caminho. Na véspera eu havia subido sempre, mas nesse dia o caminho começou a descer abruptamente, de uma forma muito pronunciada. Pouco depois atravessei, por uma ponte de madeira em péssimas condições, como de resto são todas as da região do Rio Jacaré que nasce na fazenda onde eu passara a noite e lhe dá o nome (fazenda das Vertentes do Jacaré). Eu tinha subido o morro para chegar ás nascentes desse rio e em seguida descera para me achar de novo as suas margens. Pouco antes de chegar ao arraial de Oliveira atravessei um pequeno vale muito aprazível, de onde já podia ter uma visão do lugarejo ao longe e no qual já se viam algumas casinhas. Em Oliveira vi-me num rancho imundo, misturado com tropeiros de todas as cores. Havia sacos de algodão amontoados em todos os cantos e cangalhas empilhadas umas sobre as outras. Dois ou três fogões rústicos cozinhavam a comida dos tropeiros. Uma dezena de pessoas nos rodeou, maravilhadas com a paciência de José Mariano em preparar os animais para empalhar. Os mineiros tem uma acentuada aversão por viagens marítimas, mas em compensação gostam de viajar por terra. A liberdade desfrutada nos ranchos agrada especialmente aos jovens. Depois de uma jornada fatigante eles saboreiam o repouso estendidos displicentemente sobre couros e se divertem tocando violão ou contando suas aventuras. Oliveira, ou Nossa Senhora de Oliveira, onde passei a noite, pertence a Paróquia de São José, (hoje Tiradentes) uma pequena cidade situada, como já disse antes, a duas léguas de São João Del Rei. O arraial conta-se entre os poucos que não devem a sua fundação á presença de ouro em suas terras. Sua existência se deve unicamente ás vantagens de sua localização. De fato, várias estradas importantes passam pelo lugarejo: a que vai de Barbacena ao Arraial de Formiga, a que liga a região do Rio Grande á cidade de Pitangui, a que vai do Rio de Janeiro e São João Del Rei a Goiás, a de Vila de Campanha a Formiga etc. O povoado é rodeado de morros e está situado ao alto de uma colina de cume achatado. É composto de duas ruas, sendo a principal bastante larga. A maioria de suas casas é de um só pavimento, mas cobertas com telhas e bastante amplas para os padrões da região. De um modo geral são caiadas, com portas e janelas pintadas de amarelo e emolduradas de cor-de-rosa, o que forma um contraste bastante agradável com as paredes brancas. Uma grande parte dessas casas, mesmo as mais bonitas, só são ocupadas no domingo, pois pertencem a fazendeiros que passam o tempo todo em suas terras e só vão ao povoado nos dias em que a missa é obrigatória. Oliveira conta com duas igrejas, sendo que a mais importante foi construída numa elevação no centro da rua principal e a igual distância das fileiras de casas. É uma igreja muito bonita no seu interior. Para orná-la foi empregada uma pedra de uma bela tonalidade verde, que o mineralogista Pohl(1) afirma tratar-se de talco petrificado.  Encontram-se em Oliveira várias lojas de tecidos e armarinhos com variado estoque, além de botequins, uma farmácia e dois albergues, cada um com seu rancho. Há também alfaiates, sapateiros, serralheiros etc.” 
Em nota de rodapé, Saint- Hilaire observou:

 ”As casas de Oliveira não são palácios, mas vê-se pelo que descrevo aqui, que não merecem o nome de choças que lhes dá Pohl. Não concordo igualmente, com esse autor nem com Eschwege quanto ao número de ruas que há em Oliveira, pois ambos afirmam que ali só existe uma”

O arraial de Nossa Senhora de Oliveira da Picada de Goiás, foi elevado a freguesia em 14 de julho de 1832 por decreto da Regência do Padre Feijó, sendo a paroquia instituída canonicamente em 14 de julho de 1833.
Em 16 de março de 1839, pela lei Provincial  n.º 134 foi elevado a vila com o nome de Nossa Senhora de Oliveira, criando-se assim o município, que foi  desmembrado de São José del Rey e instalado em 9 de julho de 1840.
A vila foi elevada a cidade  pela lei Provincial n.º 1.102 de 19 de setembro de 1861, tendo o seu nome simplificado para Oliveira.

Detalhes do Município de Oliveira em 1854

Freguesias
Distritos
Nome Atual

Vila de Oliveira
Oliveira
Oliveira
Cláudio
Cláudio
Carmo da Mata
Carmo da Mata

Passa Tempo
Passa Tempo
Passa Tempo
Japão
Carmópolis de Minas
São João Batista
Morro do Ferro ( Dist. Oliveira)


 Santo Antônio do Amparo
Santo Antônio do Amparo
Santo Antônio do Amparo
Bom Jesus dos Perdões
Perdões
Cana Verde
Cana Verde
Santa Ana do Jacaré
Santana do Jacaré
Bom Sucesso
Bom Sucesso
Bom Sucesso
















Fonte: 1. Quadro Demonstrativo das Comarcas, Municípios, Freguesias e Districtos, contendo o  número de quarteirões, e dos votantes e eleitores da Província por Freguesia –1854- publicado no Relatório Anual do Presidente da Província de Minas Gerais. A nomenclatura dos lugares foi atualizada pelo autor.
(Cabe observar que São Francisco de Paula, pertencia ao município de Tamanduá (Itapecerica) e só foi  em 1867 elevado a freguesia e então transferido para o município de Oliveira..(Foi um dos lugares de Minas Gerais que mais mudaram de nome: Em 1923,  o nome do distrito foi trocado para Jacareguai, Em 1924, voltou de novo para São Francisco de Oliveira, Em 1962 foi elevado a município com o nome de Wenceslau Braz e em 1964 voltou a chamar São Francisco de Paula)
   
No Relatório Provincial do ano de 1853, a população total para o município de Oliveira, não discriminando livres e escravos, era de 28.502 almas. A população dos vários distritos que compunham o município era a seguinte:

Lugar
Habitantes
Vila de Oliveira
4.200
Cláudio
3.842
Mata do Carmo (Carmo da Mata)
1.216
São Francisco de Paula
1.920
Japão  (Carmópolis de Minas)
2.445
Passa Tempo
1.743
São João Batista (Morro do Ferro)
1.003
Santo Antonio do Amparo
2.080
Santa Ana (Santana do Jacaré)
913
Cana Verde
1.488
Bom Jesus dos Perdões (Perdões)
4.452
Bom Sucesso
3.200
Total
28.502

Em 1854, A freguesia de Oliveira tinha 561 votantes e 13 eleitores, Passa Tempo 274 votantes e 6 eleitores, Santo Antônio do Amparo 448 votantes e 11 eleitores e Bom Sucesso 152 votantes e 4 eleitores, totalizando 1.435 votantes e 34 eleitores para o município.


Em 1836, o município de Oliveira, tinha 75 engenhos de açúcar e a Província de Minas Gerais tinha 3.729 engenhos.

A 1ª Constituição do Império do Brasil, outorgada no dia 25 de março de 1824, instituiu o 'voto censitário', ou seja, os eleitores eram selecionados de acordo com a renda anual. O processo eleitoral era realizado em dois turnos: eleições primárias, para a formação de um colégio eleitoral que nas eleições secundárias, elegeria os senadores, deputados e membros do Conselho da Província.

Nas eleições primárias, só podiam votar os cidadãos brasileiros, católicos e com renda líquida anual superior a 100 mil réis. E, só podiam ser eleitos para o Colégio Eleitoral, aqueles cuja renda anual ultrapassasse 200 mil réis. Para a Câmara dos Deputados, exigia-se do candidato a renda mínima de 400 mil réis; para o Senado, a exigência era de 800 mil réis anuais.
Assim, podemos considerar que na época, apenas 5% da população do município de Oliveira, tinha renda anual acima de 100 mil réis.

JAPÃO DE OLIVEIRA

As origens do Japão de Oliveira (Carmópolis de Minas)  devem remontar entre os anos de 1700 e 1704. De 1704, data-se a construção da fazenda do Sobrado no povoado de Japão Grande, uma das primeiras da região.
A capela de Nossa Senhora do Carmo deve ter sido instalada entre 1707 e 1736, (existe controvérsia entre os historiadores locais) como filial da capela de Santo Antônio da Vila de São José del Rey, permanecendo como tal até 1853, quando foi transferida como filial da capela de Nossa Senhora da Glória de Passa Tempo.
A povoação do Japão em 1795, tinha apenas 90 fogos e uma população de 747 pessoas.
Passa Tempo tornou-se curato em 1773. Em 1832 foi promovida a freguesia. Em 23 de setembro de 1861, foi criado nesta freguesia, o curato de Nossa Senhora do Carmo do Japão, sendo o primeiro cura, o Padre José da Costa Ribeiro.

Em 1826 a população do arraial era a seguinte:

Classificação
Habitantes
Homens brancos livres
159
Mulheres brancas livres
193
Homens pardos livres
60
Homens pardos cativos
52
Mulheres pardas livres
67
Mulheres pardas cativas
41
Homens negros livres
27
Homens negros cativos
426
Mulheres negras livres
20
Total
1.234

Em 24 de setembro de 1862, o curato do Japão foi elevado a freguesia pela lei provincial n° 1.144, sendo o primeiro cura, Padre José da Costa Ribeiro, o vigário colado.

Em 1870, Pereira Magalhães, no ‘Almanack Administrativo, Civil e Industrial’, informava que a Freguesia do Japão, tinha uma população de 4.000 homens livres, 2.000 escravos e exportava para a Corte anualmente, 2.000 cabeças de bois, e 1.000 cabeças de gado caprino.
A informação da população, pode estar um pouco exagerada, pois pelo Recenseamento de 1872, a população do distrito de Japão, não passava de 3.410 habitantes.

O município, com o nome de Carmópolis de Minas, foi criado pela lei n° 336 de 27 de dezembro de 1948, sendo desmembrado do município de Oliveira, de onde era distrito.

MINAS GERAIS EM 1952.

Em 1952, o estado de Minas Gerais contava com 382 municípios, não incluindo Ataléia, Mantena e Nanuque, da zona litigiosa com o Espirito Santo. A população total era de 7.900.000 habitantes, excluindo os 130.000 habitantes da zona litigiosa. A taxa demográfica era de 13,6 habitantes por km².
As maiores cidades eram as seguintes:

Cidade
Habitantes
Belo Horizonte
350.000
Juiz de Fora
130.000
Teófilo Otoni
92.000
Caratinga
77.000
Montes Claros
75.000
Uberaba
73.000
Barbacena
70.000
Fonte: IBGE
João Monlevade era um distrito de Rio Piracicaba e mais populoso do que muitas cidades do estado. Só em 1962 o distrito foi elevado a cidade.

As maiores cidades  em 1968 eram as seguintes:

Cidade
Habitantes
Belo Horizonte
1.167.000
Juiz de Fora
194.000
Teófilo Otoni
134.000
Governador Valadares
125.000
Caratinga
123.000
Montes Claros
121.000
Uberlândia
101.000
Uberaba
101.000
Patos de Minas
83.000
Fonte: IBGE

 DIVISÕES ADMINISTRATIVAS APÓS 1872.

Pela lei n° 843 de 7 de setembro de 1923, foi feita uma ampla reformulação da divisão administrativa de Minas Gerais. O estado tinha na época 214 municípios e foram efetuadas 324 modificações nos nomes de lugares. 
Talvez, influenciados pela Semana da Arte Moderna que tinha sido realizada em São Paulo em 1922, os legisladores tentaram dar uma conotação de origem indígena a todos os topônimos, abandonando o seu significado religioso, que sempre foi o critério dos colonizadores portugueses, para a nomenclatura dos lugares que descobriam ou exploravam.
Desta feita, São Gonçalo do Brumado virou Caburu, São José da Cachoeira virou Ituí, São José da Ponte Nova virou Taparaduba, São Pedro de Alcântara virou Ibiá, São Roque virou Itaobim, São Sebastião da Barra Mansa virou Juruaia, São Sebastião de Entre Rios virou Matipoó e a lista segue por ai.
Houve também uma troca indiscriminada de nomes, transferindo a nomenclatura tradicional de um lugar para outro, sem o menor critério.


Em 1943, pelo decreto lei n° 1.058 foram feitas outras modificações nos nomes de muitos lugares.


Em 1953, pela lei n° 1.039, datada do dia 12 de dezembro, também houve mudanças radicais. 81 alterações foram feitas na nomenclatura estabelecida nas reformas anteriores.


Pela lei n° 2.764 de 30 de dezembro de 1962, houve de novo uma série de modificações, desta feita, a tônica foi o intuito de homenagear pessoas que nada tinham com a história dos lugares: Lagoa dos Veados passou a chamar Doutor Campolina, Sobrado do Rocha passou a chamar Monsenhor Isidro, Gangorras passou a chamar José Gonçalves de Minas, São João da Lagoa passou a chamar Simão Campos, Monjolos passou a chamar Pedro Lessa, Coroas passou a chamar Coronel Xavier Chaves e Bananal passou a chamar Nacip Raydan, nome esse até difícil para explicar as crianças que estão se alfabetizando. 

RECENSEAMENTO DE 2000

É interessante observar, que em pleno século XXI, o estado de Minas Gerais continua sendo um estado com a maioria da população concentrada em pequenos núcleos. Pelo Recenseamento de 2000, Minas Gerais contava com 853 municípios, sendo 3 com população acima de 500 mil habitantes: Belo Horizonte, Contagem e Uberlândia, 20 municípios médios com população acima de 100 mil habitantes, 143 municípios pequenos e 687 verdadeiros 'vilarejos'.
Nos três municípios mais populosos residiam 3.277.757 habitantes, ou 18% da população do estado.
Nos municípios médios residiam 3.754.716 habitantes, ou 21% da população do estado. Nos municípios pequenos e 'vilarejos', residiam 10.859.021 habitantes, ou 61% da população do estado. Uma média de 13.083 por município.
A densidade demográfica do estado era de 30,41 habitantes por km². Nos grandes centros era de 703,47 habitantes por km², nos médios de 142,05 habitantes por km², vindo a cair para 19,48 habitantes por km² nos pequenos municípios.

(1) Trata-se do mineralogista, geólogo, botãnico e médico austríaco Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834) que veio para o Brasil na denominada 'Missão Austríaca' acompanhando a princesa Maria Leopoldina. Viajou pelo Brasil  entre 1817 e 1821 e escreveu o livro 'Viagem ao Interior do Brasil'.

( abril de 2003)

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