5.31.2011

CAPRINOS - PRINCIPAIS RAÇAS DO MUNDO

Leopoldo Costa

Existem mais de duas centenas de raças de caprinos domesticados no Mundo. A Universidade Estadual de Oklahoma, nos Estados Unidos, através do seu projeto  'Breeds of Livestock', desenvolvido pelo Department of Animal Science, listou e descreveu 101 raças. Descrevemos aqui 13 das principais raças mundiais. As raças brasileiras serão assunto de outro artigo.

Alpina

A raça é originária da parte meridional dos Alpes suíços. É também criada em regiões da França, Itália, Alemanha, Estados Unidos e Canadá.  Os animais apresentam cabeça triangular, perfil semicôncavo ou retilíneo, orelhas eretas e curtas e porte médio. Cor escura  na face, no ventre, na parte dianteira dos membros e na linha dorsal. O peso varia de 70 kg a 90 kg nos machos e de 50 kg a 60 kg nas fêmeas. A raça é criada no Brasil para a produção de leite, principalmente em São Paulo e na região sul, onde a média diária de produção tem variado de 2,0 kg a 4,0 kg  para um período de lactação entre 240 e 280 dias. Existem animais desprovidos de chifres (mochos) que são conhecidos como Oberhasli, que é considerado outra raça[1].

Altai

A raça é resultado do cruzamento de reprodutores Don com fêmeas nativas e foi formada entre 1944 e 1982 nas fazendas coletivas do Gorno-Altai, região autônoma da antiga União Soviética. Este trabalho foi feito principalmente na fazenda coletiva de Kosh-agach e na fazenda Edigansky, buscando um animal ideal  para a produção de lã e de carne, sem perder a boa adaptabilidade às condições especiais da região.  Os animais eram mantidos em regime de pasto durante todo o ano.  Os animais Altai são uniformes na cor, tamanho, conformação e produção de lã,têm um peso relativamente elevado, carne de boa qualidade e são capazes de engordar rapidamente durante um curto período de verão, quando as pastagens estão em melhores condições. O peso vivo dos machos é entre 65 kg e 70 kg e o das fêmeas entre 41 kg e 44 kg. A lã das cabras Altai tem alta qualidade podendo ser preta ou cinza escuro.

Anglo-Nubiana

A raça Anglo-Nubiana surgiu em torno de 1895, do aprimoramento feito com os cruzamentos de reprodutores da raça Nubiana com cabras nativas da Inglaterra, predominantemente a Zaraibi e a Chitral, após intenso processo de seleção genética buscando a dupla aptidão para leite e carne. A Nubiana pertence ao tronco das raças asiáticas-africanas, sendo consolidada em torno de 1860 no vale do Alto Nilo, da região da Núbia, hoje pertencente ao Sudão. A raça prospera em vários países e foi introduzida no Brasil em 1932. No nordeste a raça é bem apreciada em virtude da sua adaptação as condições climáticas da zona semi-árida. Os animais têm a cabeça pequena, boa conformação, perfil convexo, com orelhas podendo ir até abaixo do focinho. Machos e fêmeas são mochos. Os machos têm pelos finos, longos e brilhantes. As fêmeas têm pelos flexíveis e mais curtos. Pele quase sempre escura, solta e de espessura média.

Angorá

A raça é muito antiga e conforme registros bíblicos, contemporânea de Moisés, o que permite fixar o seu aparecimento entre 1500 e 1400  a.C.  A Angorá (em turco Ancara keçisi) é uma raça que se originou em Ancara (anteriormente conhecida como Angorá) e seus arredores, no centro  da Anatolia e capital da Turquia. É um animal de pelagem longa que é criado principalmente para produzir 'mohair'. O ‘mohair’ tornou-se uma lã bastante procurada  na Europa a partir do século XIX. Com o aumento da procura, houve a necessidade de aumentar o rendimento de ‘mohair’ e foram feitos cruzamentos de Angorá com outras raças para atingir este objetivo. O ‘mohair’ é similar a lã de carneiro na sua composição química, porém é uma fibra mais longa, mais resistente e suave ao toque. Cada animal produz entre cinco e oito quilogramas por ano. A raça Angorá foi introduzida na Inglaterra durante o reinado de Carlos V em 1554.  Em 1765, foi importado pelo governo espanhol um lote de animais da raça e em 1795, outro lote bem maior foi importado pela França. Em 1838 chegaram à África do Sul os primeiros animais da raça. A introdução nos Estados Unidos aconteceu em 1849, por James P. Davis. Foram sete animais adultos, presente do sultão Abdülmecid I (1823-1861) do Império Otomano, em reconhecimento pelos seus serviços dele no desenvolvimento da cultura de algodão  na Turquia. A efígie de um animal da raça Angorá foi a figura constante no reverso das notas de 50 liras turcas entre 1938 e 1952.

Bagot

Supõem-se que a Bagot possa ser descendente da raça Schwarzhal do vale do Ródano. A Bagot é uma das mais antigas raças da Grã  Bretanha. Diz uma lenda que foi introduzida no ano de 1380 em Blithfield Hall, Staffordshire.  Dizem que alguns animais foram trazidos para a Inglaterra quando do regresso dos Cruzados. Alguns destes animais o rei Ricardo Coração de Leão (1157-1199) deu de presente ao fazendeiro John Bagot que morava em Blithfield Hall  em reconhecimento por um bom dia de caça proporcionado por ele no Babots Park.  Estes animais foram soltos e tornaram-se semisselvagens. A raça na década de 1950 quase foi extinta. Com muito esforço isto foi evitado por alguns criadores de Staffordshire e no fim da década de 1990 já havia cerca de 200 fêmeas de alto padrão na Grã-Bretanha.

 Bhuj

É uma raça especializada na produção de pele originária na Índia, na área semidesértica que bordeja o golfo de Kutch, próxima à fronteira do Paquistão. Por isto é também conhecida como Kutch. Apresenta  animais com cabeça pequena e bem conformada, perfil ultraconvexo, olhos de cor preta ou castanha, orelhas com as extremidades voltadas para fora, longas, largas e pendentes, ultrapassando a ponta do focinho. A pelagem é preta ou castanha escura, sendo a pele solta e escura. No Brasil os primeiros exemplares foram importados da Índia em 1962, junto com gado Zebu,  por criadores de Pernambuco e outros estados nordestinos. Estes animais em pouco tempo morreram vitimados por verminoses, restando apenas os descendentes mestiços e a raça passou a ser chamada de Bhuj brasileira, reconhecida pela Associação Brasileira de Criadores de Caprinos.

Bôer

A raça tem como ascendentes os caprinos selvagens capturados pelos Hotentotes e outras tribos nômades do sudoeste da África do Sul. Teve miscigenação com outros animais europeus e asiáticos em razão da importância estratégica da região do Cabo, ponto de parada das embarcações nas rotas marítimas com destino a India e Extremo Oriente.  Também  é conhecida por Africânder ou Afrikaner, foi melhorada pelo cruzamento com reprodutores Angorá, no período entre 1800 e 1820, quando a sua criação foi desenvolvida  na província do Cabo.  O nome é derivado da palavra holandesa ‘boer’ que significa ‘fazendeiro/agricultor’. Em 4 de julho de 1959 foi fundada a ‘Associação Sul Africana de Criadores de Caprinos Boer’, que passou a ser responsável pelo registros genealógicos  e melhoria da raça. Foi estabelecido cinco estirpes de animais: Boer comum, Boer pelo longo, Boer mocho, Boer nativo e Boer melhorado. É um animal forte, robusto e de aparência vigorosa. Apresenta pelos curtos sobre uma pele solta, macia e pregueada, responsável pela boa adaptação a condições climáticas adversas. A boa produção de leite, as altas taxas de fertilidade e fecundidade com alta incidência de partos duplos, são características da fêmea.

Charnequeira






































É originária do Alentejo, em Portugal e tem seu nome derivado do seu habitat primitivo, as charnecas. Aparentemente é descendente do C. aegagrus, tendo mais tarde recebido sangue do tronco Pirenaico. Outros afirmam que seria descendente do C. falconeri, ou de sua parente na Europa o caprino palustre de Reitimagri ou Capra hircus sterpsicerus. São animais corpulentos com dupla aptidão para carne e leite. As fêmeas pesam de 45 kg a 50 kg e os machos de 55 kg a 60 kg. Têm a pelagem vermelho claro ou mais escuro até castanho carregado, pelo liso, curto e por vezes brilhante. Cabeça média de perfil retilíneo a subcôncavo, de fronte convexa seguida de pequena depressão e de chanfro retilíneo. Focinho fino, boca regular e lábios finos, olhos vivos e acastanhados, orelhas pouco destacadas direitas e de comprimento médio e com chifres grandes, largos, juntos na base, dirigidos para cima e ligeiramente inclinados para trás, divergentes, retorcidos na ponta ou nitidamente espiralados como saca-rolhas, rugosos e de seção triangular. Podem ocorrer animais mochos.

Don

A raça Don foi descoberta no antigo território do baixo Volga na União Soviética.em 1933/1934 por uma expedição da ‘All-Union Institute of Sheep and Goat Husbandry’ .Como o seu habitat era localizado na bacia do rio Don, a raça ganhou este nome. Os animais são de tamanho médio, têm constituição forte, e boa conformação. O peso vivo médio dos machos é de 70 kg. A forma do corpo é arredondada e maior do que das fêmeas. Os chifres são grandes. O peso vivo médio das fêmeas é de 36 kg. Os cabritos pesam 2 kg no nascimento, 14 kg ao desmame, 27 kg na idade de 1,5 anos e 30 kg na idade de 2,5 anos. São os que têm a maior produção de lã  (uma média de 500 g por cabra). A raça é também boa produtora de leite. O rendimento médio num período de lactação de 5 meses é  entre 130 e 140 litros. O leite tem alto teor de gordura. São muito prolíficos. Uma taxa média  de 145 a150 crias  por 100 partos.  As peles dos animais são de boa qualidade e bem valorizada. Um dos maiores rebanhos de Don era o da fazenda coletiva de Svetly Coloque Oktyabr, situada na região de Volgogrado. Em 1984, essa fazenda possuia 6.500 caprinos, a maior parte com lã cinza escuro e produziu 5.000 kg de  ‘cashmere’ de alta qualidade.

Mambrina

A raça Mambrina é originária do Oriente Médio. Apresenta duas variedades, a Samar, mais antiga, da região de Mossul (Iraque) e a Damasquina na região próxima a Damasco (Síria). Foi introduzida no Brasil no final do século XIX, através da empresa Hagenbeck, que ofertava os animais aos criadores. Alguns desses animais, de longos pelos e coloração negra, ficaram registrados em fotografias da família Lutterbach.  No Brasil é também conhecida como Indiana, Síria ou Zebu. Na Bahia, os primeiros animais desta raça apareceram na década de 1940, e logo veio a ser a raça de maior participação no rebanho  de caprinos  do estado. O corpo é um pouco mais compacto que na cabra Nubiana e a pelagem é variável,  podendo ser preta, castanha, amarelada, cinzenta ou combinações delas. Os pelos são cerrados e lustrosos, havendo animais tanto de pelos curtos como compridos. No Brasil, os animais de pelos curtos são preferíveis e evidentemente mais comuns, por serem mais adaptados ao clima. O peso médio é de 40 kg na fêmea e 60 kg no macho e a estatura vai de 70 a 75 cm na fêmea e 80 a 90 cm no macho. Esta raça é especializada na produção leiteira  com um rendimento  diário entre 2 a 4 litros de leite de bom paladar,  com 4% de gordura.  As cabras são prolíficas, tendo até dois partos por ano, quase sempre de gêmeos.

Murciana







































A raça é originária da região de Múrcia, no sul da Espanha e pertence ao tronco das Pirenaicas. Existem hoje três estirpes:  a Hora, que é criada entabulada, a Campeira de Cartagena e a Serrana, estas últimas criadas a regime de pasto. Os criadores e zootecnistas espanhóis têm dedicado, ao longo das últimas décadas, bastante esforço na seleção para o aprimoramento da raça, objetivando á produção de leite. No Brasil, na década de 1990 foi introduzido um lote desta raça por criadores do estado da Paraíba. São animais de pelos curtos e finos, de cor preta, avermelhada ou castanho-escuro. A cabeça é triangular, de perfil reto com frontal amplo e ligeiramente deprimido ao centro. As orelhas são de tamanho médio, eretas e muito móveis. É um animal geralmente mocho, de porte pequeno, com peso variando nas fêmeas adultas de 45 kg a 60 kg, e nos machos adultos de 60 kg a 70 kg. A altura média é de 0,80 m nos machos adultos e de 0,70 m nas fêmeas. A média de produção é de 600 kg de leite por período de lactação. A raça brasileira Graúna é descendente da Murciana.

Saanen

Também conhecida como Gessenay (sinônimo de Saanen em francês) é originária do vale de Saanen, nos cantões de Berna e Appenzell na Suiça. Raça muito difundida nas regiões mais frias da Europa e dos Estados Unidos por sua alta produção leiteira e duração de lactação. É considerada a raça de melhor produção de leite do mundo, produzindo num período médio de lactação de 10 meses cerca de 3 litros/dia com 3,5% de gordura.Uma cabra dos Estados Unidos produziu 1821 litros de leite em 300 dias. Tem a pele rosada, pelos curtos e cor branca ou quase branca, olhos amarelos e orelhas médias e levantadas. Existem animais  mochos. É uma raça de animais grandes e altos: o macho pesa entre 70 kg e 90 kg e tem altura entre 80 e 95 cm e a fêmea pesa entre 45 kg a 60 kg medindo entre 70 e 85 cm. Existem rebanhos da raça no Brasil no Rio Grande do Sul, pois não suporta temperaturas altas.

Savana

A raça surgiu no ano de 1957 na África do Sul, a partir de cruzamentos realizados pelo criador S.U.Cilliers e seus filhos, de fêmeas nativas com pelagem colorida com um reprodutor branco de origem européia. Os descendentes espalharam para cerca de uma centena de outros fazendeiros na própria África do Sul que difundiram a raça, muito resistente aos parasitas e com eficiente produtividade em carne.  O habitat das cabras brancas era uma savana, perto do rio Vaal, vivendo em condições climáticas extremamente rigorosas e como resultado da seleção natural somente sobreviveram  os  animais mais aptos. Esta seletividade deu aos descendentes  boa adaptação a ambientes hostis e ter facilidade de manejo. A cabeça é triangular, as orelhas de comprimento médio a longo. A pele é flexível, grossa, totalmente pigmentada de preto e os pelos são curtos. A raça é de grande porte, os machos podem passar de 130 kg. As fêmeas pesam normalmente entre 60 kg e 70 kg. São compridos, de boa conformação de carcaça, lombo comprido e largo, com pernil bastante desenvolvido.

Toggenburg

Originaria da Suíça, do vale do Toggenburg, no cantão de Saint-Gall, pelo cruzamento  de animais da raça amarela de Saint-Gall com osda raça de animais brancos de Saanen. É uma das raças de maior rebanho  na Suíça, sendo também bem difundida na Inglaterra e nos Estados Unidos, pela sua aptidão para a produção de leite. A cabra recordista dos Estados Unidos produziu 2010 litros de leite em um período de lactação. Apresenta pelagem parda, quase da cor de chocolate, com duas faixas cinzentas que partem da boca atingindo a orelha. Pode ter pelo comprido ou curto e as barbichas são muito desenvolvidas nos machos. As orelhas são eretas e dirigidas para frente.  Os machos pesam em média 70 kg e têm uma altura média de 80 cm e as fêmeas pesam em média 50 kg e medem em média 70 cm.

***

[1] O Oberhasli é uma raça leiteira  de origem suíça. É de tamanho médio e vigorosa. Sua cor é camurça.

3 comments:

  1. Olá. Muito boa as informações encontradas aqui. Com certeza irei usar parte do que encontrei aqui. Precisamos de mais blogs e sites especializados. Meus parabéns.
    pedrofabricio@pfsonhador.com.br

    ReplyDelete
  2. Esse texto é muito bom dispensa comentários. Pretendo num futuro próximo criar caprinos na região de Araci-Bahia.

    ReplyDelete
  3. Será que encontra desse caprino Angorá em alguma região Brasileira ?

    ReplyDelete

Thanks for your comments...