Leopoldo Costa
A região costeira do território que constitui hoje o estado de Santa Catarina foi desde a época do descobrimento visitada por navegantes de várias nacionalidades. Afora a controvertida versão da presença do francês Binot Paulmier de Gonneville que ali teria estado durante seis meses em 1504, existe consenso entre os historiadores quanto a viagem dos portugueses Nuno Manuel e Cristóvão de Haro que passaram pela região em 1514 e deram o nome de ilha dos Patos à atual ilha de Santa Catarina. No ano seguinte Juan Díaz de Solís (1470-1516) com sua expedição passou pelo litoral catarinense em direção ao rio da Prata. Devido ao mal tempo, algumas embarcações naufragaram na região, sendo que onze náufragos dessa expedição foram bem recebidos pelos índios Carijós e terminaram casando com indígenas. Outras expedições espanholas detiveram-se no litoral catarinense a caminho do rio da Prata. Rodrigo de Acuña, em 1525, que deixou dezessete tripulantes na ilha onde se fixaram voluntariamente. Sebastião Caboto (1484-1557) que em 1526-1527, ali se abasteceu seguiu para o Prata e depois retornou. Após Caboto nela aportaram Diego García de Paredes (1510-1563) e em 1535 Gonzalo de Mendoza. Em 1541 Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1490-1557) partiu da ilha de Santa Catarina para transpor a serra do Mar e atingir por terra o Paraguai.
As chamadas Terras de Santana, que incluía a ilha de Santa Catarina, foram doadas na concessão das capitanias hereditárias no ano de 1534 a Pêro Lopes de Souza (1497-1539), irmão de Martim Afonso de Souza. O donatário não interessou pela doação e jamais veio a tomar posse da área, que era pequena para os padrões das outras capitanias. Em 1711, a Coroa retomou a posse comprando a área doada do descendente de Pêro Lopes de Souza, e herdeiro, o marquês de Cascais (1590-1674).
Antes da retomada do território pela Coroa, existiam em Santa Catarina as povoações de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco, atual São Francisco (fundada em 1645), Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis (fundada em 1651) e Santo Antônio dos Anjos da Laguna, a atual Laguna. Laguna foi fundada em 1676 pelo paulista Domingos de Brito Peixoto. Em 1684 foi iniciado o seu povoamento definitivo, tornando a partir de então um polo irradiador da colonização de Santa Catarina e posto avançado na conquista do Rio Grande do Sul.
Escreveu Aroldo de Azevedo no seu livro ‘O Brasil e suas Regiões’ cuja primeira edição saiu em 1970/1971: ‘O mais antigo núcleo criado pelos portugueses em Santa Catarina foi a povoação de Nossa Senhora do Rio São Francisco (1645), que se tornou vila em 1660 e é a atual cidade de São Francisco do Sul. Seguiram-se os povoados de Nossa Senhora do Desterro (1651), atual Florianópolis, e de Santo Antonio dos Anjos de Laguna (1676), vila em 1714, atual cidade de Laguna. Entre 1748 e 1756 numerosas colonos açorianos vieram reforçar essa corrente povoadora. No século XIX foram fundados inicialmente três núcleos coloniais o de São Pedro de Alcântara (1829), no vale do pequeno rio Maruim, a poucas dezenas de quilômetros da ilha de Santa Catarina, com imigrantes alemães; e os de Nova Trento e Nova Itália (1836), na bacia do Tijucas, com imigrantes italianos. Vieram depois os núcleos germânicos de Blumenau (1850) e de Joinville (Colônia Dona Francisca) (1851), no vale do Itajaí-Mirim, com colonos alemães e italianos. Em 1875, italianos fixaram-se na bacia do Itajaí-Açu , em seu trecho setentrional, fundando os núcleos de Ascurra, Rodeio, Arrozeira e Timbó, não muito distantes de Blumenau, e pela mesma época e na década de 1880, na região meridional, onde vieram a surgir Urussanga, Criciúma e Turvo. Ao findar o século passado (1897), colonos alemães estabeleceram-se no vale do rio Itajaí do Norte, onde fundaram Hamônia, que é hoje a cidade de Ibirama’
Aproveitando da disponibilidade de terras e da existência de gado livre nas pastagens, foram criadas muitas fazendas de criação de gado. Em 1651 dois paulistas, Francisco Dias e José Velho Monteiro, estabeleceram currais de criação de gado na ilha de Santa Catarina. Monteiro, ansioso por obter fortuna fácil, resolver pilhar um navio espanhol que aportara na ilha carregado de prata do Peru. Em represália, foi atacado por piratas contratados pelos espanhóis que o assassinaram. Seus companheiros decepcionados abandonaram a região e retornaram para São Paulo.
Em meados do século XVIII, uma nova atividade instalou-se em Santa Catarina: a pesca da baleia. Inicialmente como monopólio da Coroa e mais tarde autorizado a título precário pelo marquês de Pombal (1699-1782) a diversos concessionários que criaram a ‘Companhia de Pesca das Baleias’. A Companhia conseguiu bons resultados até sucumbir em 1801 devido à concorrência dos ingleses instalados nas ilhas Malvinas, que vinham caçar as baleias nas mesmas áreas dos catarinenses com melhores equipamentos.
Em 1746 para melhorar as condições de vida do arquipélago dos Açores, o rei João V de Portugal (1689-1750) mandou publicar um edital convocando os açorianos a imigrarem para o Brasil. O transporte seria gratuito até o local de assentamento e cada família receberia ferramentas agrícolas, uma espingarda, duas vacas e um cavalo. Tomariam posse de um quarto de légua em quadra de terra e ganhariam dois alqueires de sementes. 7.817 pessoas se alistaram para vir ao Brasil e o local escolhido pela Coroa foi a ilha de Santa Catarina. Em 1748 começaram a chegar as primeiras famílias. Mais tarde, cerca de 1.000 casais foram transferidos para o litoral norte do Rio Grande do Sul.
O Morgado de Mateus (1722-1798) governador da capitania de São Paulo, então o administrador da região, logo após assumir o cargo em 1764 se preocupou em povoar os sertões de Curitiba e de Santa Catarina. Convocado pelo governador em 1766, o fazendeiro paulista Antonio Correa Pinto de Macedo instalou uma fazenda de criação de bois na região de Lajes. Foi autorizado a empregar os índios Carijós já civilizados para os trabalhos da fazenda. A fazenda foi o embrião da cidade de Nossa Senhora dos Prazeres dos Campos de Lajes, a atual cidade de Lajes. Na região de Lajes foram estabelecidas outras fazendas de criação que em meados do século XVIII chegaram a ter um rebanho de 200 mil cabeças de gado. Com o sucesso continuou a expansão e os novos espaços descobertos a oeste de Lajes foram chamados de Campos Novos. Atribui-se ao fazendeiro de Curitiba João Gonçalves de Araújo haver descoberto estes campos quando caminhava em direção da fumaça de queimada (coivaras) que neles faziam os índios. Desde então começou a paulatina ocupação dos campos por aventureiros provenientes tanto de Lajes e de Palmas.
A expansão demográfica do planalto catarinense, para oeste de Lajes se deu pela procura de mais espaço para a criação de gado o que foi realizado principalmente pelos paulistas. Com esta expansão houve o estabelecimento dos municípios de Curitibanos em 1869, por desmembramento de Lajes e o de Campos Novos em 1881, por desmembramento de Curitibanos. Curitibanos teve sua expansão baseada na criação de gado. O povoamento ocorreu lentamente, na forma de ocupação dispersiva dos campos.
Em 1859 o presidente da província de Santa Catarina informava no seu relatório anual, que a criação de gado continuava bem desenvolvida no município de Lajes. Observou, porém, que os criadores descuidavam da manutenção da pureza das raças e só estavam preocupados com o número de cabeças que possuíam.
Escreveu Paulo José Miguel de Brito em 1816 no seu livro 'Memória Política da Capitania de Santa Catarina: 'A agricultura, tem um grande obstáculo nesta Capitania, o qual consiste na falta de fazendas de criação de gado vacum, cavalar e lanígero; o que é devido ao desmazelo ou ignorância daqueles, a quem cumpre prover e vigiar sobre tais objetos de administração pública. (...) Semelhante falta em um país, que até 1808 era puramente agrícola, é na verdade bem notável! A consequência dela é que todos os lavradores vão ou mandam comprar os seus gados à Capitania do Rio Grande, não só os que são necessários para os trabalhos da lavoura, mas até os que são precisos para o sustento dos habitantes, pois que todo o gado, que se mata e corta nos açougues, se vai comprar à referida Capitania. Contudo os lavradores conservam sempre algumas rezes para os seus serviços e trabalhos campestres, e da propagação destas rezes destinam as que podem dispensar para as vender aos navegantes, que aportam na Ilha de S. Catarina. (...) Em consequência deste péssimo sistema de regime sai anualmente grande quantidade de dinheiro, que se ficasse girando dentro dela, lhe seria muito útil. Fazendo abstração do grande número de rezes que os lavradores vão comprar no Rio Grande para os seus trabalhos, e tratando somente dos gados que também lá vão buscar os arrematantes dos açougues, direi que durante os anos que residi em Santa Catarina, não se mataram menos de mil rezes por ano somente no açougue da Vila Capital, cujas rezes, ainda quando não custassem no Rio Grande mais que 3$600 cada um, importam na quantia de 3:600$000 réis que, com as despesas do custeamento na condução para a Ilha de Santa Catarina, que hoje não importa em menos de 1:200$000, faz um total de 4:800$000 réis por ano. Esta despesa já no ano de 1794, em que somente se mataram 700 rezes, subiu a 2:090 réis’.
Os tropeiros passavam pelo território de Santa Catarina grande quantidade de muares e bovinos com destino a feira de Sorocaba. O movimento de passagem por Lajes entre 1851 e 1860 representou a média anual de 53.614 mulas[1].
Continuou muito importante no interior catarinense a atividade de criar gado para o consumo das cidades litorâneas e para exportar para São Paulo. O gado catarinense era exportado por via marítima até o porto de Santos. No ano fiscal de 1874/1875 o preço do couro seco na província de Santa Catarina, era de 600 réis por quilograma. O do toucinho era de 420 réis por quilograma.
A Guerra do Contestado que começou em outubro de 1912 e terminou em agosto de 1916 com a prisão de Adeodato, o último líder teve cerca de 8.000 mortos, feridos e desaparecidos. Originou-se nos conflitos sociais causados pela falta de regularização da posse de terra, agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo do monge João Maria e pela crença, por parte dos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa. O nome de Contestado é devido ao fato de que os agricultores contestaram a doação de terras ditas devolutas, que o governo federal fez a 'Southern Brazil Lumber & Colonization Company' e a 'Brazil Railway Company'. Esses posseiros desapropriados e os trabalhadores que foram demitidos pela companhia da estrada de ferro em 1910, liderados pelo monge José Maria organizaram uma comunidade para tentar a retomada das terras. Uniram-se a eles pequenos fazendeiros que sentiram a ameaça das desapropriações. A união destas pessoas em torno de um ideal, levou à formação de um grupo armado. O monge e os líderes organizaram a comunidade messiânica que chegou a ter 40.000 pessoas onde tudo pertencia a todos e não havia dinheiro sendo apenas permitidas trocas.
Depois, da chegada dos imigrantes não portugueses, principalmente dos alemães e italianos, houve um eficiente desenvolvimento da pecuária de leite, com alto índice de produtividade por unidade de área. Havia uma grande produção de leite por vaca que na maioria era criada entabulada.
A suinocultura alcançou no estado nível de eficiência comparável aos melhores criadores europeus. São criadas raças como Landrace, Wessex, Saddleback e Hampshire, consideradas as melhores do mundo. No vale do rio do Peixe ás margens da rodovia que liga Porto Alegre e São Paulo é onde se desenvolve a maior criação. Concórdia, por exemplo, pode ser considerada o polo desta região e tem grande fabricas de industrializados de suínos.A cidade começou a existir na década de 1920, com a chegada de colonizadores do Rio Grande do Sul, descendentes dos imigrantes italianos e alemães. O rebanho de suínos do estado de Santa Catarina que era de 5.359.000 cabeças em 1965, ocupando o quarto lugar do Brasil, hoje é de 7.988.000 cabeças, sendo o maior rebanho estadual brasileiro, ultrapassando estados de maior extensão territorial e tradição de criação de suínos, como Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
O rebanho catarinense teve a seguinte evolução:
1938
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1950
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1957
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1964
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Bovinos
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911.000
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1.200.000
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1.510.000
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1.741.000
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Equinos
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299.000
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500.000
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425.000
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423.000
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Suinos
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1.280.000
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1.650.000
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3.732.000
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5.075.000
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Ovinos
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92.000
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-
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178.000
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254.000
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Caprinos
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38.000
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-
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126.000
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200.000
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A criação de gado bovino de Santa Catarina atual tem dois aspectos: bovinos de corte e bovinos de leite. Como vimos, a pecuária de corte é tradicional nos Campos Gerais desde os tempos coloniais. Já a pecuária de leite é mais recente e foi incrementada após a chegada dos imigrantes alemães em pequenas e médias propriedades com boas pastagens e excelente produtividade que possuem gado da raça Holandês, Jersey e Guernsey. A produção de leite por hectare é a maior do Brasil.
O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia nos 293 municípios do estado de Santa Catarina 3.900.000 cabeças de bovinos. Possuía o 13º maior rebanho do Brasil.
Os cinco maiores rebanhos de Santa Catarina, que representavam 8% do total, estavam nos seguintes municípios:
· Lajes 101.000 cabeças
· São Joaquim 73.000 cabeças
· Concórdia 60.000 cabeças
· Coronel Freitas 55.000 cabeças
· Campos Novos 52.000 cabeças
Boa noite. Poderia dizer quem cria gado leiteiro da raça Guernsey em Santa Catarina, como mencionado?
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