6.02.2011

CAPRINOS - PRINCIPAIS RAÇAS BRASILEIRAS

Leopoldo Costa

Os caprinos foram domesticados à cerca de 14.000 a.C., nas montanhas Zagros, no atual Irã. Foi um dos primeiros ruminantes criado pelo homem para fornecer carne, leite e lã, especialmente nas regiões áridas e de topografia irregular. Eles são poucos exigentes no tocante a alimentação e podem sobreviver alimentando de tudo, folhas de arvores, arbustos do deserto, rizomas e tubérculos. Os caprinos consomem por dia a média de 4,5 kg de matéria seca por cada 100 kg de peso vivo.

O Brasil hoje tem um rebanho de 9.100.000 de cabeças de caprinos. A criação é concentrada nos estados nordestinos que respondem, por 86% do rebanho total.  A Bahia tem o maior rebanho com 2.800.000 de cabeças, Pernambuco o segundo com 1.600.000 de cabeças, Piauí o terceiro com 1.400.000 cabeças, Ceará o quarto com 1.000.000 de cabeças, Paraíba é o quinto com 650.000 cabeças e o Rio Grande do Norte tem 400. 000 cabeças. Fora do nordeste o estado de maior rebanho é o Paraná com pouco mais de 180.000 cabeças. Nos últimos 35 anos a população média de caprinos no Brasil ficou em torno de  10 milhões de cabeças sem grandes variações, sendo o recorde em 1990 quando alcançou quase 12 milhões de cabeças.


Um dos maiores criadores de caprinos do Brasil, que colaborou com a seleção e preservação de mais de uma dezena de raças é Manuel Dantas Vilar Filho, mais conhecido como Dr. Manelito, na sua fazenda Carnaúba, no município de Taperoá no planalto do Borborema na Paraíba.







As mais conhecidas raças brasileiras são as seguintes:

Azul

A raça Azul tem origem na África e pertence ao tronco das 'cabras anãs do oeste africano', conhecida pela sigla em inglês WAD (West African Dwarf). Até o final da década de 1870 estas cabras eram expostas no Zoológico de Londres. A primeira criação na Inglaterra foi a de Sam Woodiwiss que adquiriu os primeiros exemplares numa exposição em Londres no ano de 1875. A raça é denominada Pigmeu. As orelhas são curtas, eretas ou horizontais, os chifres curtos são mais delicados nas fêmeas. O pelo é  curto, mas os  dos machos são mais duros e compridos. A coloração mais comum varia de castanho amarelado ao cinza, porém existem espécimens de pelagem branca e amarela. Existem duas estirpes a destacar: Nigeriana e Camaronesa. A Camaronesa é mais peluda, mais pesada e tem o focinho mais curto do que a Nigeriana. Tem geralmente uma mancha em forma de estrela na testa. Existem dezenas de denominações locais nos diversos países da África ocidental. As cabras originais da raça Azul são animais dóceis, têm o tamanho de um cachorro e gostam da companhia humana e por esta razão foram desenvolvidas nos Estados Unidos, na Holanda e na Alemanha raças mestiças com base em animais puros importados da África que podem ser vendidos até  como animais de estimação e viver nos quintais das residências. Nos Estados Unidos, onde a raça é denominada Anã ou Pigmeu Africana  o registro genealógico começou em 1975. Hoje, já existe a variedade ‘Kinder’, obtida por meio do cruzamento com a raça Anglo Nubiana, cujo registro começou em 1988. A variedade ‘Pygora’ (junção de PYgmy e AnGORA) surgiu em1980 em Oregon pelo cruzamento da Anã africana com a Angorá, que começou a ter um livro de registro genealógico em 1987.A cabra Azul brasileira não é miúda e tem sofrido muita mestiçagem. A pelagem é  mais azulada do que as africanas, podendo apresentar as extremidades bastante escuras e a grande maioria apresenta uma estrela clara na testa.
Os sertanejos têm grande estima pelas cabras azuis, sendo muitas de boa aptidão leiteira, recebendo muitos nomes: Azulega, Zulanha, Cabra-da-Serra, Azulona e Azulã.

Bhuj Brasileira

A Bhuj Brasileira é derivada da raça Kutchi das regiões áridas da Índia, próxima ao Paquistão. A primeira importação brasileira ocorreu em 1962  e depois da exigida quarentena em Fernando de Noronha os animais foram entregues aos compradores de Pernambuco e outros estados do nordeste. Houve cruzamentos sem controle com os animais locais. Depois de certo tempo, a grande maioria dos animais puros foi dizimada por verminoses, restando apenas os seus descendentes mestiços. São animais com cabeça pequena e bem conformada perfil ultraconvexo e orelhas com implantação baixa e soltas, paralelas a face, com as extremidades voltadas para fora, longas, largas e pendentes, ultrapassando a ponta do focinho. Nos machos, os chifres são curtos, fortes, chatos, saindo para cima e ligeiramente para trás, quase sempre formando uma leve espiral, mais delicados nas fêmeas, em arco ou levemente para frente. A pelagem é preta com orelhas e focinho chitados, com os pelos médios nos machos e mais curtos nas fêmeas. A pele é solta e escura e as mucosas também escuras. Esta raça é apresentada no padrão homologado pela ‘Associação Brasileira de Criadores de Caprinos’ como de múltipla aptidão, mas apresenta baixa produção de leite e de carne, apesar da estatura elevada. É mesmo uma raça para produzir pele.

Canindé

A raça pertence ao tronco das Pirenáicas. Um caprino semelhante é encontrado nos Alpes suiços, o Grisone Preto, parente próximo do  Alpino Inglês e do Poitevine da França. No Brasil a raça existe desde o período colonial, quando alguns animais foram desembarcados na Bahia sendo seus descendentes espalhados  pelo Agreste nordestino.  Quase foi extinta na grande seca de 1877, restando apenas alguns grupos de animais que foram encontrados no vale do rio Canindé no Piauí. Tem semelhança com as raças nordestinas Moxotó e Repartida. Com a degeneração por cruzamentos intersanguineos ganharam cor avermelhada, que substuiu o branco original e algumas se tornaram até peludas. G. Corlett Pinheiro Júnior no seu livro ‘ Caprinos no Brasil’ escreveu que eram 'caprinos da zona do Canindé, muito frequentes no Ceará e que são conhecidos como raça ou cabra Canindé, com peso médio de 39 kg e cerca de 56 cm de altura na cernelha, com 65 cm de comprimento'. Hoje  animais da raça são encontrados no Ceará, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Possui aptidão leiteira acima da média do caprino nordestino comum. Pesa de 35 kg a 40 kg e alcança altura de 55 cm. Apresenta perfil reto e frequente ausência de chifres. Sua conformação geral é boa, pois mostra tendência para o tipo leiteiro, além de produzir carne e pele. O nome Canindé é oriundo de ‘Calindé’ que era a tanga branca, de algodão rústico, usada como única vestimenta pelos escravos, alusão da parte coberta do corpo de cor branca, com o restante de cor preta. Outros afirmam que o nome tem origem em Canindé que significa ‘faca pontuda’, usada principalmente no sertão cearense e também pode significar as pedras ou lascas rochosas que serviam para afiar as peixeiras no sertão do Piauí.

Graúna


As cabras pretas, originárias dos Pirineus, vieram para o nordeste nos primórdios da colonização. Com a miscigenação descontrolada haviam, porém, perdido a aptidão leiteira. O criador de Taperoá PB, Manuel Dantas Vilar Filho (Dr. Manelito) um preservador de raças de caprinos, resolveu infundir sangue da raça Murciana preta no seu plantel de animais para recuperar a aptidão leiteira da Grauna, mantendo as suas características raciais. Com o sucesso outros criadores passaram a adquirir animais da fazenda Carnaúba para melhorar rebanhos leiteiros, no Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Também conhecida por Preta Graúna ou Preta de Corda. Apresenta pelagem preta, sem quaisquer outras nuanças. É rústica, com peso corporal entre 35 kg e 40 kg. Tem aptidão mista, para carne e para leite.

Gurguéia

A raça Gurguéia também é nativa do nordeste, tendo como berço de formação a região do vale do Gurguéia, no estado do Piauí. Alguns sugerem que seja descendente da raça  Charnequeira de Portugal. Seu nome se deve a um afluente do Rio Parnaíba com este nome. A formação dessa  raça se deu através de um processo de seleção natural ao longo dos anos em condições ambientais adversas, dando origem a animais de grande rusticidade e adaptabilidade, porém de pequeno porte e de baixo potencial leiteiro. Tem pelagem castanha, o ventre e os membros são pretos, e possui uma listra preta no dorso.






Marota

Também é nativa da região nordeste do Brasil. Originou-se de um processo de seleção natural dos caprinos introduzidos pelos portugueses na época da colonização. Também denominada de Curaçá, a raça Marota tem como características principais a pelagem branca uniforme, além de pele, mucosa e cascos claros. Os animais são de pequeno porte e leves, com os adultos pesando cerca de 36 kg. Os estudos em animais da raça Marota indicam uma  prolificidade entre 1,30 a 1,53 por parição. Em animais inferiores a um ano de idade, a mortalidade alcança a média de 30%. Ao completar o primeiro ano de vida os animais atingem cerca de 17 kg.

Moxotó

Originária do vale do rio Moxotó, em Pernambuco de onde ganhou o nome, Foi Renato Faria que descreveu a raça em 1937, identificando-a com este nome.Também chamada de ‘Lombo Preto’ é a única raça brasileira reconhecida internacionalmente e que tem registro genealógico próprio. A raça é oriunda de animais do grupo pirenáico sendo descendente da raça Serpentina de Portugal, introduzidos no século XVII pelos colonizadores, portugueses e criados sem os devidos cuidados quanto à seleção e alimentação. Os animais podem atingir 62 cm de altura. As fêmeas adultas pesam de 30 kg a 40 kg. Das raças nordestinas é a que apresenta a pelagem mais uniforme, da cor branca ou baia com um contorno preto em torno dos olhos e duas listras também pretas, que descem até a ponta do focinho. As orelhas, o ventre, os membros, as mucosas, as unhas e o úbere também são pretos. Existe a ocorrência de animais mochos.

Repartida

Raça nativa do nordeste brasileiro descendente das raça suiça Walliser Schwartzhals ou da francesa Valais Pescoço Preto, com algum sangue africano  Os animais apresentam pelagem cinzenta na parte anterior do corpo e baia na posterior, com delimitação irregular. É também conhecida como Surrão, nome de um saco de couro para transportar sal para o gado, que tinha um lado mais sujo do que o outro devido ao uso, isso pela  mistura de pelos claros e pretos apresentada por alguns animais. É especializada  na produção de pele. Os animais têm peso mínimo de 36 quilos, a cabeça de tamanho médio com pelagem escura e manchas baias irregulares. Chifres divergentes para trás e para os lados ou ligeiramente para trás e para os lados com pontas reviradas. A pelagem é preta na parte anterior do corpo e baia na posterior, porém com delimitação irregular. Pescoço preto com bordo inferior baio. Orelhas manchadas com a parte interna preta. Cauda preta na parte dorsal e clara nas bordas.

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2 comments:

  1. se o brasil tem 9.000.000 cabeças de caprinos a soma da produção dos estados deveria dar essa quantia exata mais não dá...

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  2. Porque esta raça vive no nordeste que é um local tão seco, e é uma grande produtora de carne a raça Repartida? Alguém poderia mim responde?

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