MERINO
Raça de origem espanhola mundialmente conhecida e especializada na produção de lã fina.
Não existe consenso quanto a sua origem. Para M. B. Helman ela descende de uma forma de ovino selvagem natural da península da Anatólia (Ásia Menor), o 'Ovis arkal', conhecido na região como ‘Ovelha das Estepes’, que teria sido difundido em tempos remotos pelas costas do mar Mediterrâneo e chegado ao sul da península Ibérica. R. D. Montilla defende a tese a sua origem no próprio sul da Espanha com o cruzamento do 'Ovis orientalis' com 'Ovis vignei', que acompanharam a emigração dos Camitas ao longo da costa mediterrânea.
Outros argumentam que a raça foi introduzida na Espanha no ano de 712 pelos Mouros, depois das batalhas que conseguiram expulsar os Visigodos.
Os Fenícios são apontados pela introdução de ovinos no norte da Africa e no século XII a tribo de Mouros Beni-Merines introduziram estes ovinos na Espanha, sendo o nome da raça uma corruptela do nome da tribo.
Outros defendem que ela procede dos ovinos selvagens e bravios que Columela (4-70) relatou que havia comprado em Cadiz de um africano domador de feras e que fazia parte de uma coleção de animais ferozes importados da África.
Numa outra versão consideram o Merino como descendente da antiga raça Tarentina da Itália. Columela no seu livro ‘De Re Rustica’ relata que o seu tio levou para a Espanha uma certa quantidade de ovinos de Tarento.
Os Merino primitivos teriam lã pigmentada e seus descendentes foram criados pelos Turdetanos, Vetões e Lusitanos, antigos povos da península Ibérica.
Durante o período de ocupação da península Ibérica pelos Romanos, Visigodos e Mouros a criação de ovinos para a produção de lã foi fomentada e foi iniciada a fabricação de tecidos de lã que foram exportados para outros lugares.
Entre os séculos XIII e XIV a raça recebeu influência de material genético proveniente de animais da Inglaterra.
Com base na produção de lã dos Merino a Espanha construiu um monopólio de lã fina que perdurou do século XII ao século XVI, comercializando o produto principalmente para Flandres e Inglaterra.
A maioria dos rebanhos (cabañas) era de propriedade da nobreza ou da Igreja. Durante o inverno as ovelhas pastavam nas planícies do sul e no verão nos planaltos do norte.
As quatro estirpes de Merino, que originou a maioria dos rebanhos foram a Real Escurial, o Negretti, o Infantado e o Paula.
Antes do século XVIII, a exportação de Merino da Espanha era proibida e punida como um crime e a pena era de morte. Apenas com a subida ao trono da dinastia dos Bourbons, com Filipe V (1683- 1746) em 1700, é que as exportações foram autorizadas.
Em 1723, alguns animais foram exportados para a Suécia, mas a primeira grande remessa foi enviada por Fernando VI da Espanha (1713-1759) a seu primo, o príncipe eleitor de Saxônia, em 1765. Outras exportações da estirpe Escurial para a Saxônia ocorreu em 1774, para a Hungria em 1775 e para a Prússia em 1786.
Mais tarde, em 1786, Luís XVI da França (1754-1793) recebeu 366 ovinos selecionados a partir de 10 diferentes criadores para a sua fazenda real de Rambouillet.
Em Portugal oficialmente a introdução dos Merinos se deve a iniciativa do Marquês de Pombal (1699-1782), que foi Secretário de Estado do Reino de 1750 a 1777, no reinado de José I (1714-1777). Antes porém houve aquisições clandestinas e esparsas feitas por criadores portugueses nas províncias fronteiriças, principalmente de Extremadura.
Sir Joseph Banks (1743-1820), botânico e naturalista inglês adquiriu em 1787 dois carneiros e quatro ovelhas através de Portugal, e em 1792 comprou mais 40 animais da estirpe Negretti diretamente da Espanha.
O rei Jorge III da Grã Bretanha (1738-1820) para fundar o rebanho real importou da Espanha em 1808, 2.000 ovinos da estirpe Paula.
Em 1790, o rei de Espanha Carlos IV (1748-1819), deu alguns Merinos da estirpe Escurial ao governo holandês, estes foram enviados para a Africa e prosperaram na colônia holandesa do Cabo.
Os primeiros quatro machos da raça foram importados pelos Estados Unidos em 1791 para Delaware. Em 1793, Sir William Foster de Boston importou da Espanha duas ovelhas e um carneiro reprodutor e deu de presente a um amigo. Ignorante do valor do animal o amigo abateu e assou os três animais. Conta-se que mais tarde, arrependido, esta pessoa adquiriu por mil dólares (de 1800) um reprodutor da Merino que não era tão bom como o que tinha abatido e assado.
Em 1802, o coronel David Humphreys, embaixador dos Estados Unidos na Espanha, introduziu a raça Vermont na América do Norte com uma importação de 21 machos e 70 fêmeas de diversas estirpes de Portugal e uma importação adicional de 100 Merinos da estirpe Infantado da Espanha em 1808.
O embargo britânico sobre as exportações de lã e roupas de lã para os Estados Unidos antes da Guerra de 1812 fez com que o governo através de William Jarvis, do corpo diplomático, autorizasse entre 1809 e 1811 a importação de aproximadamente 3.500 ovinos Merino de Portugal.
Durante as Guerras Napoleônicas (1793-1813) quase foi destruído o rebanho Merino espanhol. Milhares de animais adultos foram abatidos ou ficaram dispersos pelos campos, sendo presa fácil para os predadores.
Em 1794 a raça chegou ao Uruguai. Manuel José de Labarden importou da Espanha 10 carneiros e 20 ovelhas da raça Merino para a sua estância.
Em 1797, e os ingleses enviaram para a Austrália, uma de suas colônias recentemente descobertas, dois carneiros e quatro ovelhas da raça Merino, que menos de 100 anos depois, já se reproduziria num rebanho de 100 milhões de cabeças.
A Argentina recebeu os primeiros Merino em 1813. Foi Henry Lloyd Halsay, estancieiro de descendência britânica quem importou 100 ovelhas e alguns carneiros reprodutores da Espanha. Esta partida foi um contrabando que atravessou a fronteira de Portugal até Lisboa, sendo daí embarcada para o Rio de Janeiro e depois, com a conivência dos brasileiros, para Buenos Aires.
No Brasil, em 1854, o governo do Império importou da Alemanha um lote pioneiro de carneiros Merino.
Por seleção genética surgiram algumas variações da raça Merino como Rambouillet (na França), Electoral (na Alemanha), Vermont (nos Estados Unidos), Merino Australiano e Merino Argentino.
Hoje no Brasil está mais presente o Merino Australiano. Os maiores rebanhos são encontrados no Rio Grande do Sul.
Merino Australiano |
Os primeiros ovinos que chegaram a Austrália foram 70 cabeças sobreviventes da viagem da Primeira Frota que chegou em janeiro de 1788, poucos meses depois o rebanho tinha sido reduzido para apenas 28 ovelhas e um carneiro.
Em 1797 algumas autoridades australianas adquiriram algumas cabeças de ovinos da colônia holandesa do Cabo, África do Sul que foram revendidas a John MacArthur, Samuel Marsden e William Cox.
Em 1801, a Austrália tinha 33.818 ovinos. Em 1805, John MacArthur trouxe da Inglaterra mais sete carneiros e uma ovelha Merino, provenientes do plantel particular do rei Jorge III. Ele foi pioneiro em 1812 na introdução do Merino Electoral na Austrália.
Em 1836 a Austrália tornou-se a maior produtora e exportadora de lã do mundo, ultrapassando a Argentina que deteve esta posição durante muito tempo. Uma das vantagens da lã australiana era a finura dos fios.
Na década de 1880, ovinos da raça Vermont (uma estirpe de Merino dos Estados Unidos) foram importados procurando melhorias para o rendimento de lã por animal. A experiência foi desastrosa pois prejudicou a qualidade da lã.
A grande seca que assolou o território australiano entre 1901/1903 reduziu a população ovina de 72 milhões para 53 milhões de cabeças e encerrou a criação do Vermont.
A Austrália importou Merino de todas as variedades existentes: Electoral, Negretti, Rambouillet, Vermont, etc. O Merino Australiano foi constituído pela mistura dessas variedades, com as seguintes proporções aproximadas de sangue: 25% de Merino Espanhol; 40% de Vermont; 30% de Electoral e Negretti; 5% de Rambouillet francês.
O tipo atual é um ovino de grande produção, rendimento econômico bem adaptado às condições naturais e ao sistema de exploração extensiva, com um velo de muito peso, e com uma lã extraordinariamente uniforme em finura e comprimento, cor branca característica e externa suavidade ao tato. O comprimento da mecha foi sem dúvida o fator determinante do aumento do peso em lã do Merino Australiano.
Existem na Austrália quatro tipos de Merino, segundo as características da lã que produzem: Tipo extra fino, tipo fino, tipo médio e tipo forte. Os dois primeiros tipos são criados nos campos altos de Nova Gales do Sul, Vitória e Tasmânia; o terceiro tipo é criado nas planícies áridas e secas do oeste de Nova Gales do Sul e Queensland; o quarto tipo, de dupla utilidade, é criado na região mais quente da Austrália Ocidental. Nas exposições, os quatro tipos são julgados como categorias diferentes.
A pele do Merino Australiano é muito fina, rosada, sem pregas, salvo no pescoço, onde são muito desenvolvidas e características. Os cascos são claros. Cabeça de perfil convexo, larga, tamanho médio, com a fronte bem arqueada. Chanfro largo, quase direito, com duas ou mais rugas transversais. Orelhas curtas, grossas e carnosas. Olhos grandes, claros, brilhantes, descobertos. Boca pequena, com lábios fortes, bem superpostos. Os chifres, presentes apenas nos machos, são bem postos, corrugados, distanciados da face e espiralados para fora. Pescoço curto, musculoso, bem unido à cabeça e ao tronco. Corpo cilíndrico, com um comprimento maior que o duplo de sua altura. Cruzes um pouco mais altas que a linha das costas, bem unidas ao pescoço. Peito amplo e saliente, a caixa torácica grande, com costelas bem arqueadas e espaçadas, deixando ilhais curtos. Dorso e lombo direitos e largos. Garupa redonda, em harmonia com o corpo, sem rugas e com cauda alta. Membros de altura média, separados, bem aprumados, com ossatura não muito grossa, porém forte.
O Merino Australiano é um ovino essencialmente produtor de lã, porém os tipos médio e forte podem produzir bons cordeiros para corte, quando convenientemente alimentados.
No Rio Grande do Sul, tem revelado rusticidade, suportando bem o excesso de umidade durante os períodos chuvosos de inverno. Os cordeiros são fracos ao nascer e exigem maiores cuidados durante a parição, que devem ser programadas para ocorrer nos meses de abril e maio, quando as condições são mais favoráveis.
RAMBOUILLET
Durante o século XVII ocorreram as primeiras tentativas de introduzir os Merino espanhóis na França. O governo espanhol, para proteger o seu monopólio na produção de lã fina proibia as exportações considerando a desobediência como crime punido com a pena de morte. Em meados do século XVIII, com a proibição suspensa pelos reis da dinastia de Bourbon, o intendente de Gasconha, Bearn e Navarra Antoine Megret d’Etigny (1719-1767), realizou a primeira importação.
Um pouco mais tarde o fazendeiro De Perce promoveu os cruzamentos dos Merino com ovelhas nativas.
Quando Daniel Charles Trudaine (1703-1769) era ministro de estado francês, encarregou Louis Jean Marie Daubenton (1716-1800) de fazer um estudo para melhorar a produção de lã da França. Ele escreveu sobre os cuidados que deviam se ter com os rebanhos e realizou diversos trabalhos sobre o cruzamento progressivo. Foi Henri-Alexandre Tessier (1741-1837) e François-Hilaire Gilbert (1757-1800) os continuadores da obra de Daubeton.
Daubenton convenceu Anne Robert Jacques Turgot (1727-1881), o novo ministro das Finanças (de 1774 a 1776) a importar duzentos Merino da Espanha para distribuir a diversos criadores.
Quando em 1786, o rei Luis XVI (1754-1793) adquiriu a propriedade de Rambouillet nomeou Tessier como seu administrador e este solicitou ao rei a importação de ovinos da Espanha para formar o rebanho da propriedade. O rei espanhol concordou em enviar 366 animais Merino de 10 diferentes criadores e na viagem foram perdidas 80 cabeças. Com estes ovinos foi iniciada a formação da raça de Rambouillet, que veio a ser uma das mais famosas do mundo na produção de lã.
Os primeiros Rambouillet foram importados pelo Brasil, procedentes da Argentina, em 1864. Fazia parte de um lote de ovinos que o governo federal adquiriu para incrementar a ovinocultura no Paraná.
Assuntos muito interessantes, elucidativos. Pura cultura! Pesquisava sobre Merino Espanhol e cheguei, felizmente, aqui. Parabéns! Obrigada.
ReplyDelete