O período de 1975 a 1985 foi marcado pela deterioração da economia
brasileira, fortemente abalada pela alta dos preços do petróleo, aumento dos
juros internacionais, expansão quase descontrolada da dívida externa e inflação
galopante. Um dos piores períodos para as empresas aqui instaladas. A década de 1980 é conhecida pelos
economistas como a ‘década perdida’.
O presidente Ernesto Geisel (1907-1996) eleito pelo colégio
eleitoral para substituir Garrastazu Médici (1905-1985), adotou uma política
mais liberal, contrapondo com a ‘linha dura’ do seu antecessor, permitindo a
‘reabertura política’, que culminou com o fim da ditadura em 1985. A reação dos
partidários da ‘linha dura’, que não aceitavam a reabertura foi contundente,
adotando até atos terroristas para tentar desestabilizar o governo. Com o
término do governo de Geisel, seu sucessor foi João Figueiredo (1918-1999).
Antes da posse de Figueiredo e durante todo o ano de 1980 e no ano de 1981
foram explodidas ou desativadas pela polícia
meia centena de bombas de fabricação caseira que produziram várias
vítimas. O objetivo era colocar a culpa
nas organizações clandestinas de ideologia comunista. Os alvos preferidos foram
redações e bancas de jornais, teatros e recintos de shows musicais, livrarias,
supermercados e edifícios públicos. No dia 30 de abril de 1981, no Riocentro,
zona sul do Rio de Janeiro, uma bomba que ia ser detonada na caixa de
distribuição de energia elétrica que fornecia energia para a aparelhagem de luz
e som do ‘Show do Trabalhador’, com um público de 20 mil pessoas, explodiu no
colo do sargento Guilherme Ferreira do Rosário e feriu gravemente o motorista
do carro capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do DOI-CODI do Exército,
desmascarando toda a farsa.
Finalmente em 1985, com o término do governo de Figueiredo,
foi eleito o oposicionista Tancredo Neves (1910-1985) para substituí-lo, que
morreu antes de tomar posse. Assumiu a presidência o vice José Sarney. Uma de suas medidas de maior impacto na
economia foi a criação do Plano Cruzado, em 28 de fevereiro de 1986, que a
princípio pelo congelamento, teve efeito
na contenção dos preços e no aumento do poder aquisitivo da população. O plano
perdeu sua eficiência com uma grave crise de abastecimento, a cobrança de ágio
disseminada entre fornecedores e a volta da inflação. Outros planos posteriores
vieram, como o Plano Bresser e o Plano Verão, sem sucesso no combate à escalada
inflacionária.
A deterioração da situação das empresas no período pode ser claramente visualizada se compararmos os índices de rentabilidade média sobre as vendas das 10 maiores empresas privadas instaladas no Brasil.
·
1975 4.2%
·
1976 3.4%
·
1977 2.8%
·
1978 3.1%
·
1979 2.3%
·
1980 3.2%
·
1981 0.1%
·
1982 1.3%
·
1983 0.9%
·
1984 1.1%
·
1985 0.7%
MAIORES EMPRESAS
PRIVADAS POR VOLUME DE VENDAS
Todos os dados
foram extraidos das publicações ‘Melhores e Maiores’ da Editora Abril, edição
especial da revista ‘Exame’, sempre publicado no mês de julho do ano
subsequente.
No período, a maioria das 10 maiores empresas destacados no
ano, pertencia aos setores de distribuição de petróleo e indústria
automobilística.
ANO DE 1975
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Volkswagen
|
1,1%
|
2
|
Shell
|
0,9%
|
3
|
Esso
|
2,1%
|
4
|
Ford
|
1,5%
|
5
|
General Motors
|
-
|
6
|
Light
|
15,0%
|
7
|
Atlantic
|
2,2%
|
8
|
Texaco
|
2,5%
|
9
|
Mercedes-Benz
|
12,2%
|
10
|
Copersucar
|
-
|
As vendas da Volkswagen (que representaram uma terça parte das vendas da Petrobrás no ano) foram 2,4 vezes maior que a vendas da Copersucar e a rentabilidade média das vendas das 10 maiores foi de 4,2%. Das empresas do ranking deste ano, apenas a Mercedes-Benz, a General Motors, a Copersucar e a Light não aparecem em todos os anos focalizados.
No ano a empresa mais endividada entre as 500 maiores foi a
Cruzeiro do Sul (RJ) com o índice de 111.0% sobre o patrimônio.
ANO DE 1976
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
2,3%
|
2
|
Volkswagen
|
1,4%
|
3
|
Esso
|
1,8%
|
4
|
Light
|
12,9%
|
5
|
General Motors
|
(-0.1)%
|
6
|
Ford
|
(-2,1)%
|
7
|
Atlantic
|
1,5%
|
8
|
Texaco
|
3,0%
|
9
|
Mercedes-Benz
|
13,2%
|
10
|
Sanbra
|
3.5%
|
A líder em vendas do ano (Shell) superou as vendas da
Volkswagen em 8%, sendo também 2,4 vezes maior do que as vendas da décima
colocada no ranking (Sanbra). A rentabilidade média das 10 maiores foi de 3,4%
sobre as vendas.
A empresa mais endividada
entre as 500 maiores do ano foi a Olerol (PR) com o índice de 196.0%
sobre o patrimônio.
ANO DE 1977
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
2,4%
|
2
|
Volkswagen
|
2.3%
|
3
|
Esso
|
2.3%
|
4
|
Light
|
13,0%
|
5
|
Atlantic
|
1,8%
|
6
|
Mercedes-Benz
|
15.2%
|
7
|
Texaco
|
2.3%
|
8
|
Ford
|
(-3,1)%
|
9
|
General Motors
|
(-11.1)%
|
10
|
Sanbra
|
2,5%
|
Não foi um ano auspicioso para o setor automobilístico. A
Volkswagen sofreu um decréscimo nas vendas de 5.5%, a General Motors decréscimo
de 5.2%, a Ford crescimento de 1.6% e a Mercedes-Benz crescimento de 15.7%. Chamou
a atenção os prejuízos das duas montadoras de veículos norte-americanas (Ford e
General Motors), contrapondo com os lucros, até maiores do que do ano anterior,
das montadoras alemãs (Volkswagen e Mercedes-Benz). Os prejuízos somados da
Ford e General Motors foram equivalentes às vendas da Perkins (motores) no
mesmo ano. A rentabilidade média das 10 empresas do ranking foi de 2.8% sobre
as vendas.
A empresa mais endividada
entre as 500 maiores do ano foi o Frigorifico Guapeva (SP) com o índice
de 113.0.% sobre o patrimônio.
ANO DE 1978
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Souza Cruz
|
2.6%
|
2
|
Shell
|
3.7%
|
3
|
Volkswagen
|
2.8%
|
4
|
Esso
|
1.1%
|
5
|
General Motors
|
(-1.0)%
|
6
|
Ford
|
6,8%
|
7
|
Atlantic
|
1.5%
|
8
|
Texaco
|
1.2%
|
9
|
Mercedes-Benz
|
12.0%
|
10
|
Copersucar
|
0.1%
|
A Souza Cruz, que nos três anos anteriores ocupava o décimo
terceiro lugar no ranking das maiores empresas privadas do Brasil, galgou para
o primeiro lugar, apesar das vendas brutas terem diminuído 0.5% comparando com
1977. A General Motors, crescendo nas vendas o mesmo percentual da Volkswagen,
não conseguiu apresentar lucro. A Ford cresceu 20.6% e mostrou um resultado satisfatório.
A média da rentabilidade das vendas das dez maiores do ranking foi de 3.1%. A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a Ferteco (RJ) com o índice de 141.0% sobre o patrimônio.
A média da rentabilidade das vendas das dez maiores do ranking foi de 3.1%. A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a Ferteco (RJ) com o índice de 141.0% sobre o patrimônio.
A Light deixou de ser privada e, portanto não constou do ranking. No final da década de 1970, o contrato de
concessão da Light com o governo federal, assinado no início do século e com
validade de setenta anos seria encerrado, com a obrigação da entrega dos ativos
pela empresa (na época pertencente a Brascan) ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras,
principalmente no momento político vigente (ditadura militar), o então Ministro
das Minas e Energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu em janeiro
de 1979 por US$ 680 milhões, o controle acionário da Light e estatizou-a.
ANO DE 1979
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
2.3%
|
2
|
Souza Cruz
|
2.5%
|
3
|
Volkswagen
|
2.6%
|
4
|
Esso
|
2.1%
|
5
|
Ford
|
1.6%
|
6
|
General Motors
|
(-5.3)%
|
7
|
Atlantic
|
2.6%
|
8
|
Texaco
|
2.8%
|
9
|
Mercedes-Benz
|
9.0%
|
10
|
Ipiranga
|
2.3%
|
A General Motors aumentou 4.8% as vendas, mas apresentou um
prejuízo de 5.3%, equivalente ao volume das vendas da Mangels (metalúrgica) no
mesmo ano. A venda da Shell foi 2.75 vezes maior que as vendas da Ipiranga, recém-incluída
no ranking das 10 maiores. A rentabilidade média das vendas do grupo das 10
maiores foi de 2.3%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a
Philip Morris (SP) com o índice de 126.0% sobre o patrimônio.
ANO DE 1980
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
1,9%
|
2
|
Esso
|
1.6%
|
3
|
Souza Cruz
|
2.6%
|
4
|
Volkswagen
|
(-1.4)%
|
5
|
Atlantic
|
1.1%
|
6
|
Texaco
|
0.9%
|
7
|
Copersucar
|
0.1%
|
8
|
General Motors
|
9.0%
|
9
|
Ford
|
4.6%
|
10
|
Mercedes-Benz
|
11.9%
|
Todas as empresas montadoras de veículos, que constaram do
ranking das 10 maiores, sofreram redução nas suas vendas: Volkswagen -15.1%,
Ford -10.3%, General Motors -7.6% e Mercedes Benz – 0.5%. Foi o reflexo da
crise econômica que atormentava o país. A inflação do ano foi de 97.9%. A
rentabilidade média das 10 maiores foi de 3.2% sobre as vendas.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou
sendo a Philip Morris (SP), com o índice de 124.0% sobre o patrimônio.
ANO DE 1981
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
1.1%
|
2
|
Esso
|
1.2%
|
3
|
Souza Cruz
|
5.0%
|
4
|
Atlantic
|
1.8%
|
5
|
Texaco
|
1.5%
|
6
|
Volkswagen
|
(-10.9)%
|
7
|
Copersucar
|
-
|
8
|
Pão de açúcar
|
1.6%
|
9
|
Ipiranga
|
0.9%
|
10
|
Ford
|
(-1.6)%
|
Repetindo o ano anterior houve nova redução nas vendas das
empresas montadoras: Volkswagen -26.8%, General Motors -24.4% (caiu para décimo
segundo lugar no ranking de vendas), Mercedes-Benz -13.5% (caiu para décimo
primeiro lugar no ranking de vendas) e Ford -13.2%. O prejuízo da Volkswagen
foi igual as vendas anuais da Telefunken (eletrônica). O Pão de Açúcar apareceu pela primeira vez
entre os 10 maiores em vendas.
A rentabilidade média das vendas das 10 maiores foi
praticamente nula. (0.1%)
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a
Fiat (MG) com o índice de 105.0% sobre o patrimônio. A Fiat que estava colocada
em décimo sexto lugar entre as 500 maiores empresas no ano anterior, teve uma
redução de 21.4% nas vendas, caindo para o vigésimo quarto lugar no ranking.
ANO DE 1982
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
0.2%
|
2
|
Souza Cruz
|
3.6%
|
3
|
Esso
|
1.0%
|
4
|
Volkswagen
|
0.5%
|
5
|
Texaco
|
1.2%
|
6
|
Atlantic
|
1.6%
|
7
|
Pão de Açúcar
|
2.2%
|
8
|
Copersucar
|
0.1%
|
9
|
General Motors
|
1.0%
|
10
|
Ford
|
1.9%
|
A rentabilidade das vendas das 10 maiores empresas foi de
1.3%. As vendas da Shell foram equivalentes a três vezes a venda da Ford, a
décima colocada. A inflação começou a crescer descontroladamente: no ano foi de
99.7%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano voltou
a ser a Philip Morris (SP) com o índice
de 147.0% sobre o patrimônio. Existiam duas empresas com a mesma razão social.
A Philip Morris Brasileira que produzia os cigarros, sediada no Paraná, e a
Philip Morris Marketing, que fazia a comercialização, com sede em São Paulo. O
produto mais conhecido da empresa era Marlboro.
ANO DE 1983
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
(-1.0)%
|
2
|
Souza Cruz
|
5.1%
|
3
|
Esso
|
2.7%
|
4
|
Volkswagen
|
(-0.7)%
|
5
|
Copersucar
|
0
|
6
|
General Motors
|
(-1.1)%
|
7
|
Pão de Açúcar
|
1.4%
|
8
|
Texaco
|
2.0%
|
9
|
Atlantic
|
2.8%
|
10
|
Ford
|
(-2.1)%
|
Redução dramática do crescimento das vendas em geral. As 10
maiores do ranking tiveram um decréscimo médio de 5.1%. A Souza Cruz foi quem
teve a maior redução de 19.2%. Inflação do ano foi de 211.0% e a rentabilidade
média das vendas foi de 0.9%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou
sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 204.0% sobre o patrimônio.
ANO DE 1984
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
0.1%
|
2
|
Esso
|
1.5%
|
3
|
Souza Cruz
|
3.8%
|
4
|
Volkswagen
|
0.8%
|
5
|
Copersucar
|
0.1%
|
6
|
Pão de Açúcar
|
0.7%
|
7
|
Texaco
|
0.7%
|
8
|
Atlantic
|
0.8%
|
9
|
Ford
|
2.3%
|
10
|
General Motors
|
0.3%
|
A inflação anual atingiu o índice de 223.8%, dificultando a
administração de preços das empresas. Houve um decréscimo médio de 1,8% nas
vendas anuais das empresas. A rentabilidade das vendas foi de 1.1%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou
sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 306.0% sobre o patrimônio.
ANO DE 1985
Empresa
|
Rentabilidade
Vendas
|
|
1
|
Shell
|
(-0.1)%
|
2
|
Volkswagen
|
(-1.7)%
|
3
|
Esso
|
1.0%
|
4
|
Souza Cruz
|
3.3%
|
5
|
Pão de Açúcar
|
1.1%
|
6
|
Ford
|
1.7%
|
7
|
Copersucar
|
0.1%
|
8
|
General Motors
|
-
|
9
|
Atlantic
|
0.6%
|
10
|
Texaco
|
1.4%
|
No ano registrou-se no Brasil o maior índice de inflação de
toda a história: 235.1%, levando o país para uma grande crise monetária. A
rentabilidade das vendas do grupo das 10 maiores empresas foi de 0.7%, sendo o
crescimento das vendas praticamente nulo.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou
sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 444.0% sobre o patrimônio.
A Philip Morris a partir de 1986 começou a reduzir
drasticamente o seu nível de endividamento ficando durante uma década (até
1995) numa média de 95% sobre o patrimônio.
O que posso comentar sobre o q esta acontecendo agora com o que vem acontecendo desde sempre, porque ao invés de atirar a primeira pedra não olhemos lá atrás p analisar bem o que está acontecendo.
ReplyDeleteAcredito que o que está acontecendo hoje é retrato de um passado tão, tão distante, muitas pessoas que estão organizando essas manifestações algumas nem sabem o acontecera no passado, infelizmente qd apontamos um dedo p alguém esquecemos que tem quatro dedos apontando p nós ☝