10.21.2011

RETRATO DO BRASIL EMPRESARIAL DE 1975 A 1985

Leopoldo Costa.

O período de 1975 a 1985 foi marcado pela deterioração da economia brasileira, fortemente abalada pela alta dos preços do petróleo, aumento dos juros internacionais, expansão quase descontrolada da dívida externa e inflação galopante. Um dos piores períodos para as empresas aqui instaladas. A década de 1980 é conhecida pelos economistas como a ‘década perdida’.
O presidente Ernesto Geisel (1907-1996) eleito pelo colégio eleitoral para substituir Garrastazu Médici (1905-1985), adotou uma política mais liberal, contrapondo com a ‘linha dura’ do seu antecessor, permitindo a ‘reabertura política’, que culminou com o fim da ditadura em 1985. A reação dos partidários da ‘linha dura’, que não aceitavam a reabertura foi contundente, adotando até atos terroristas para tentar desestabilizar o governo. Com o término do governo de Geisel, seu sucessor foi João Figueiredo (1918-1999). Antes da posse de Figueiredo e durante todo o ano de 1980 e no ano de 1981 foram explodidas ou desativadas pela polícia  meia centena de bombas de fabricação caseira que produziram várias vítimas.  O objetivo era colocar a culpa nas organizações clandestinas de ideologia comunista. Os alvos preferidos foram redações e bancas de jornais, teatros e recintos de shows musicais, livrarias, supermercados e edifícios públicos. No dia 30 de abril de 1981, no Riocentro, zona sul do Rio de Janeiro, uma bomba que ia ser detonada na caixa de distribuição de energia elétrica que fornecia energia para a aparelhagem de luz e som do ‘Show do Trabalhador’, com um público de 20 mil pessoas, explodiu no colo do sargento Guilherme Ferreira do Rosário e feriu gravemente o motorista do carro capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do DOI-CODI do Exército, desmascarando toda a farsa.
Finalmente em 1985, com o término do governo de Figueiredo, foi eleito o oposicionista Tancredo Neves (1910-1985) para substituí-lo, que morreu antes de tomar posse. Assumiu a presidência o vice José Sarney. Uma de suas medidas de maior impacto na economia foi a criação do Plano Cruzado, em 28 de fevereiro de 1986, que a princípio  pelo congelamento, teve efeito na contenção dos preços e no aumento do poder aquisitivo da população. O plano perdeu sua eficiência com uma grave crise de abastecimento, a cobrança de ágio disseminada entre fornecedores e a volta da inflação. Outros planos posteriores vieram, como o Plano Bresser e o Plano Verão, sem sucesso no combate à escalada inflacionária.


A deterioração da situação das empresas no período pode ser claramente visualizada se compararmos os índices de rentabilidade média sobre as vendas das 10 maiores empresas privadas instaladas no Brasil.
·        1975          4.2%
·        1976          3.4%
·        1977          2.8%
·        1978          3.1%
·        1979          2.3%
·        1980          3.2%
·        1981          0.1%
·        1982          1.3%
·        1983          0.9%
·        1984          1.1%
·        1985          0.7%
        

MAIORES EMPRESAS PRIVADAS POR VOLUME DE VENDAS

Todos os dados foram extraidos das publicações ‘Melhores e Maiores’ da Editora Abril, edição especial da revista ‘Exame’, sempre publicado no mês de julho do ano subsequente.
No período, a maioria das 10 maiores empresas destacados no ano, pertencia aos setores de distribuição de petróleo e indústria automobilística.

ANO DE 1975



Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Volkswagen
1,1%
2
Shell
0,9%
3
Esso
2,1%
4
Ford
1,5%
5
General Motors
-
6
Light
15,0%
7
Atlantic
2,2%
8
Texaco
2,5%
9
Mercedes-Benz
12,2%
10
Copersucar
-

As vendas da Volkswagen (que representaram uma terça parte das vendas da Petrobrás no ano) foram 2,4 vezes maior que a vendas da Copersucar e a rentabilidade média das vendas das 10 maiores foi de 4,2%. Das empresas do ranking deste ano, apenas a Mercedes-Benz, a General Motors, a Copersucar e a Light não aparecem em todos os anos focalizados.
No ano a empresa mais endividada entre as 500 maiores foi a Cruzeiro do Sul (RJ) com o índice de 111.0% sobre o patrimônio.


ANO DE 1976


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
2,3%
2
Volkswagen
1,4%
3
Esso
1,8%
4
Light
12,9%
5
General Motors
(-0.1)%
6
Ford
(-2,1)%
7
Atlantic
1,5%
8
Texaco
3,0%
9
Mercedes-Benz
13,2%
10
Sanbra
3.5%

A líder em vendas do ano (Shell) superou as vendas da Volkswagen em 8%, sendo também 2,4 vezes maior do que as vendas da décima colocada no ranking (Sanbra). A rentabilidade média das 10 maiores foi de 3,4% sobre as vendas.
A empresa mais endividada  entre as 500 maiores do ano foi a Olerol (PR) com o índice de 196.0% sobre o patrimônio.

ANO DE 1977


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
2,4%
2
Volkswagen
2.3%
3
Esso
2.3%
4
Light
13,0%
5
Atlantic
1,8%
6
Mercedes-Benz
15.2%
7
Texaco
2.3%
8
Ford
(-3,1)%
9
General Motors
(-11.1)%
10
Sanbra
2,5%

Não foi um ano auspicioso para o setor automobilístico. A Volkswagen sofreu um decréscimo nas vendas de 5.5%, a General Motors decréscimo de 5.2%, a Ford crescimento de 1.6% e a Mercedes-Benz crescimento de 15.7%. Chamou a atenção os prejuízos das duas montadoras de veículos norte-americanas (Ford e General Motors), contrapondo com os lucros, até maiores do que do ano anterior, das montadoras alemãs (Volkswagen e Mercedes-Benz). Os prejuízos somados da Ford e General Motors foram equivalentes às vendas da Perkins (motores) no mesmo ano. A rentabilidade média das 10 empresas do ranking foi de 2.8% sobre as vendas.
A empresa mais endividada  entre as 500 maiores do ano foi o Frigorifico Guapeva (SP) com o índice de 113.0.% sobre o patrimônio.

ANO DE 1978


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Souza Cruz
2.6%
2
Shell
3.7%
3
Volkswagen
2.8%
4
Esso
1.1%
5
General Motors
(-1.0)%
6
Ford
6,8%
7
Atlantic
1.5%
8
Texaco
1.2%
9
Mercedes-Benz
12.0%
10
Copersucar
0.1%

A Souza Cruz, que nos três anos anteriores ocupava o décimo terceiro lugar no ranking das maiores empresas privadas do Brasil, galgou para o primeiro lugar, apesar das vendas brutas terem diminuído 0.5% comparando com 1977. A General  Motors, crescendo nas vendas o mesmo percentual da Volkswagen, não conseguiu apresentar lucro. A Ford cresceu 20.6% e mostrou um resultado satisfatório.
A média da rentabilidade das vendas das dez maiores do ranking foi de 3.1%. A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a Ferteco (RJ) com o índice de 141.0% sobre o patrimônio.

A Light deixou de ser privada e, portanto não constou do ranking. No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos seria encerrado, com a obrigação da entrega dos ativos pela empresa (na época pertencente a Brascan) ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras, principalmente no momento político vigente (ditadura militar), o então Ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu em janeiro de 1979 por US$ 680 milhões, o controle acionário da Light e estatizou-a. 

ANO DE 1979


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
2.3%
2
Souza Cruz
2.5%
3
Volkswagen
2.6%
4
Esso
2.1%
5
Ford
1.6%
6
General Motors
(-5.3)%
7
Atlantic
2.6%
8
Texaco
2.8%
9
Mercedes-Benz
9.0%
10
Ipiranga
2.3%

A General Motors aumentou 4.8% as vendas, mas apresentou um prejuízo de 5.3%, equivalente ao volume das vendas da Mangels (metalúrgica) no mesmo ano. A venda da Shell foi 2.75 vezes maior que as vendas da Ipiranga, recém-incluída no ranking das 10 maiores. A rentabilidade média das vendas do grupo das 10 maiores foi de 2.3%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a Philip Morris (SP) com o índice de 126.0% sobre o patrimônio.

ANO DE 1980


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
1,9%
2
Esso
1.6%
3
Souza Cruz
2.6%
4
Volkswagen
(-1.4)%
5
Atlantic
1.1%
6
Texaco
0.9%
7
Copersucar
0.1%
8
General Motors
9.0%
9
Ford
4.6%
10
Mercedes-Benz
11.9%

Todas as empresas montadoras de veículos, que constaram do ranking das 10 maiores, sofreram redução nas suas vendas: Volkswagen -15.1%, Ford -10.3%, General Motors -7.6% e Mercedes Benz – 0.5%. Foi o reflexo da crise econômica que atormentava o país.  A inflação do ano foi de 97.9%. A rentabilidade média das 10 maiores foi de 3.2% sobre as vendas.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou sendo a Philip Morris (SP), com o índice de 124.0% sobre o patrimônio.

ANO DE 1981


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
1.1%
2
Esso
1.2%
3
Souza Cruz
5.0%
4
Atlantic
1.8%
5
Texaco
1.5%
6
Volkswagen
(-10.9)%
7
Copersucar
-
8
Pão de açúcar
1.6%
9
Ipiranga
0.9%
10
Ford
(-1.6)%

Repetindo o ano anterior houve nova redução nas vendas das empresas montadoras: Volkswagen -26.8%, General Motors -24.4% (caiu para décimo segundo lugar no ranking de vendas), Mercedes-Benz -13.5% (caiu para décimo primeiro lugar no ranking de vendas) e Ford -13.2%. O prejuízo da Volkswagen foi igual as vendas anuais da Telefunken (eletrônica).  O Pão de Açúcar apareceu pela primeira vez entre os 10 maiores em vendas.
A rentabilidade média das vendas das 10 maiores foi praticamente nula. (0.1%)
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano foi a Fiat (MG) com o índice de 105.0% sobre o patrimônio. A Fiat que estava colocada em décimo sexto lugar entre as 500 maiores empresas no ano anterior, teve uma redução de 21.4% nas vendas, caindo para o vigésimo quarto lugar no ranking.

ANO DE 1982


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
0.2%
2
Souza Cruz
3.6%
3
Esso
1.0%
4
Volkswagen
0.5%
5
Texaco
1.2%
6
Atlantic
1.6%
7
Pão de Açúcar
2.2%
8
Copersucar
0.1%
9
General Motors
1.0%
10
Ford
1.9%

A rentabilidade das vendas das 10 maiores empresas foi de 1.3%. As vendas da Shell foram equivalentes a três vezes a venda da Ford, a décima colocada. A inflação começou a crescer descontroladamente: no ano foi de 99.7%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano voltou a  ser a Philip Morris (SP) com o índice de 147.0% sobre o patrimônio. Existiam duas empresas com a mesma razão social. A Philip Morris Brasileira que produzia os cigarros, sediada no Paraná, e a Philip Morris Marketing, que fazia a comercialização, com sede em São Paulo. O produto mais conhecido da empresa era Marlboro.

ANO DE 1983


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
(-1.0)%
2
Souza Cruz
5.1%
3
Esso
2.7%
4
Volkswagen
(-0.7)%
5
Copersucar
0
6
General Motors
(-1.1)%
7
Pão de Açúcar
1.4%
8
Texaco
2.0%
9
Atlantic
2.8%
10
Ford
(-2.1)%

Redução dramática do crescimento das vendas em geral. As 10 maiores do ranking tiveram um decréscimo médio de 5.1%. A Souza Cruz foi quem teve a maior redução de 19.2%. Inflação do ano foi de 211.0% e a rentabilidade média das vendas foi de 0.9%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 204.0% sobre o patrimônio.

ANO DE 1984


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
0.1%
2
Esso
1.5%
3
Souza Cruz
3.8%
4
Volkswagen
0.8%
5
Copersucar
0.1%
6
Pão de Açúcar
0.7%
7
Texaco
0.7%
8
Atlantic
0.8%
9
Ford
2.3%
10
General Motors
0.3%

A inflação anual atingiu o índice de 223.8%, dificultando a administração de preços das empresas. Houve um decréscimo médio de 1,8% nas vendas anuais das empresas. A rentabilidade das vendas foi de 1.1%.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 306.0% sobre o patrimônio.

ANO DE 1985


Empresa
Rentabilidade Vendas
1
Shell
(-0.1)%
2
Volkswagen
(-1.7)%
3
Esso
1.0%
4
Souza Cruz
3.3%
5
Pão de Açúcar
1.1%
6
Ford
1.7%
7
Copersucar
0.1%
8
General Motors
-
9
Atlantic
0.6%
10
Texaco
1.4%

No ano registrou-se no Brasil o maior índice de inflação de toda a história: 235.1%, levando o país para uma grande crise monetária. A rentabilidade das vendas do grupo das 10 maiores empresas foi de 0.7%, sendo o crescimento das vendas praticamente nulo.
A empresa mais endividada entre as 500 maiores do ano continuou sendo a Philip Morris (SP) com o índice de 444.0% sobre o patrimônio.
A Philip Morris a partir de 1986 começou a reduzir drasticamente o seu nível de endividamento ficando durante uma década (até 1995) numa média de 95% sobre o patrimônio.

1 comment:

  1. O que posso comentar sobre o q esta acontecendo agora com o que vem acontecendo desde sempre, porque ao invés de atirar a primeira pedra não olhemos lá atrás p analisar bem o que está acontecendo.
    Acredito que o que está acontecendo hoje é retrato de um passado tão, tão distante, muitas pessoas que estão organizando essas manifestações algumas nem sabem o acontecera no passado, infelizmente qd apontamos um dedo p alguém esquecemos que tem quatro dedos apontando p nós ☝

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