10.15.2011

O FASCÍNIO DAS ESCRAVAS NEGRAS

O fascínio exercido pelas mulheres negras sobre os brancos. Relato de um viajante francês da década de 1850

Somos forçados a reconhecê-lo: essas criaturas (que é preciso não confundir com as 'moças das flores e dos perfumes') são encantos poderosos para triunfar do odioso preconceito da cor, e poder curvar, com os braços cheios de cadeias - no país de escravos - a fonte altiva de senhores implacáveis.Esse fato incontestável bastaria por si só para afirmar a soberania do prestígio que a beleza encerra. Com efeito, o senhor, que se gaba de não ter senão sangue-azul nas veias, paga a sua dívida à sociedade, desposando uma branca; mas, logo que um herdeiro lhe nasce, ele abandona a mulher da sua raça por uma rapariga de cor. (...)
Veremos em breve quão funesto foi para a segurança do lar o exemplo do chefe da família.
Essa predileção, que parecerá certamente extravagante às pessoas que nunca viveram nas colônias, não se explica unicamente pela superioridade física das mulheres de cor. (...)
Como acabamos de declarar, ele poderá mudar de favorita, mas se conservará sempre fiel ao culto da cor.
Sem dar a esta anunciação todo o desenvolvimento que ela comporta, cremos dever lembrar aqui um axioma português que encerra (para o leitor que quiser seriamente interrogar) a explicação natural do fenômeno de que se trata.
Eis o texto da sentença: 'Aquele que sentiu duas vezes o cheiro acre, mas embriagador da catinga da negra, achará, desde então, muito desenxabido o cheiro que exala a pele da mulher branca'. (...)
As pomadas e essências de que as comediantes fazem uso diário impregnam suas carnes e suas vestimentas de um cheiro particular, que inunda a atmosfera em que elas vivem. Esse cheiro, repugnante a princípio, e que a paixão unicamente poderá impor às naturezas nervosas e débeis, acaba, depois de uma freqüência habitual, por ser necessário e indispensável. Completa a harmonia terrível, que contém o amor atormentado, despótico, corrosivo da cortesã. As capitosas emanações do almíscar correspondem às emoções violentas que se sentem perto dela. Umas atordoam o cérebro, ao passo que as outras torturam o coração, subjugando-o. (...)
Aí está por que a catinga é menos perniciosa que o cheiro produzido pela maquillage (perdoar-me-ão o emprego desta palavra consagrada para caracterizar o sistema de caiadura usado por essas mulheres).
O primeiro cheiro é franco e leal, porque é natural; o segundo é fictício, habitua à hipocrisia, e logicamente, depois de ter pervertido o gosto, conduz à decadência do ser moral."

No livro 'Mulheres e Costumes do Brasil' de Charles Expilly, tradução de Gastão Penalva. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1977, pp. 101-4.Editado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa.

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