6.30.2012

SERGIO ARNO, BRAVO CHEF!


Sergio Arno figura entre os cinco melhores profissionais do mundo em culinária italiana.
Com apenas 12 anos, Sergio Arno já fazia pratos sozinho. Preparava molhos, arroz e outras receitas simples, misturando tudo o que encontrava pela frente. Assim, foi percebendo que sabia fazer boas combinações, era criativo e tinha um dom especial para a alquimia da arte culinária. Mas até se tomar o nome conhecido que é hoje, muita água passou por debaixo da ponte. Foi considerado mau aluno, por isso o pai resolveu colocá-lo para trabalhar na empresa da família. Aos 14 anos, era operário, montava enceradeiras e outros eletrodomésticos. Mais tarde, foi trabalhar como office boy na Ciba-Geygi, e aos 24 anos era gerente-geral da multinacional Goyana Plásticos. Por volta dos 18, conheceu Maria Graça, italiana recém-chegada de Milão, e começou a namorá-la. Casou-se aos 25. A mãe da moça, de Florença, vivia dando recepções em casa. 
Como sabia do entusiasmo dele pela culinária o convidava regularmente para ajudar na cozinha, Esse foi o grande aprendizado de sua carreira. "Foi ela quem realmente me ajudou a me desenvolver, dando dicas importantes", reconhece, com gratidão. Com ela, Sergio aprendeu segredos de pratos mais refinados e molhos sutis. As receitas foram apurando seu paladar. Passado um tempo, mudoq-se para Milão, onde trabalhou numa subsidiária da Pirelli. Passava o dia carregando caminhões e levando pneus nas costas. À noite, quando voltava para casa, encontrava uma mulher que não entendia bem dos afazeres domésticos. Ele, então, arregaçava as mangas e lavava, passava, limpava e, é lógico, cozinhava. O emprego acabou não dando certo e ele se viu casado e desempregado. Sem querer voltar ao Brasil de mãos vazias, resolveu estagiar num restaurante. Conseguiu, com o auxílio de sua professora de idiomas, um estágio no restaurante La Vecchia Cucina, em Florença.

CARA E CORAGEM

Passado um ano, Sergio voltou ao Brasil. Na mala, muita vontade de abrir a própria casa, mas nenhum· dinheiro. Ele deparou-se com a expectativa familiar de que viraria um executivo da Arno. Conversou com o pai sobre a ideia do restaurante e ele pediu ao filho que fizesse dois jantares: caso gostasse da comida, emprestaria o dinheiro. Ele cozinhou, mas o pai achou as refeições apenas regulares. Mesmo assim, emprestou US$10 mil, que mal davam para comprar as panelas. Mas o chef conseguiu ficar sócio de um restaurante falido, com 60% de participação. Pintou o nome La Vecchia Cucina no toldo, fez uma reforma rápida e passou tinta nas paredes. Abriu a casa. Avisou a quem podia sobre a inauguração, contando apenas com ele e um garçom para trabalhar. O restaurante lotou.
Naquela noite, Sergio serviu 38 pessoas. Como não tinha um esquema montado nem mão de obra suficiente para atendê-los, corria da cozinha para as mesas, das mesas para a recepção. Fez de tudo: tirou pedido, manobrou carros, recebeu gente, serviu mesas, cozinhou e fechou contas. No dia seguinte, recebeu mais de 50 telefonemas. E quando a noite começou, havia fila de espera. Na mesma semana, o crítico gastronômico e chef Sílvio Lancelotti, que havia jantado no La Vecchia Cucina na noite seguinte à inauguração, publicou uma matéria elogiosa, de primeira página, em um jornaL A partir daí, a carreira de Sergio Amo cresceu. Em seis meses ele recebeu três estrelas do Guia Quatro Rodas, tornando-se o chef mais jovem e com o maior número de prêmios daquele ano. Hoje, 25 anos depois, ele marca presença em todo o Brasil com a rede de franquias La Pasta Gialla.
Considerado o melhor chef de cozinha italiana da América Latina pelo Instituto de Culinária Italiana para Estrangeiros de Costigliole d'Asti na Itália, recebeu diversas vezes a chancela de excelência em alta gastronomia da imprensa nacional. Cozinheiro nato, como gosta de ser reconhecido, Sergio Arno aprecia compartilhar com amigos e clientes deliciosos assados, massas e outras delícias.
Trabalha como um alquimista que mistura sabores e pratos tradicionais para depois, aprovados, renovar o cardápio das casas. Assim, nasceram também o Alimentaria di Sergio Arno e o Armazém Sergio Arno. Para sustentar todo esse sucesso de qualidade, ele mantém, no Bairro do Itaim, em São Paulo, uma massaria própria. "É dela que saem todas as massas e molhos para as minhas casas", revela o chef.
Sergio enveredou também pela literatura.Lançou, no ano passado, 10 anos de La Pasta Gialla, com as receitas mais pedidas nessa década da marca. Mas sua jornada nesse campo teve início com uma coleção italiana adaptada para a culinária brasileira, editada pela Júlio Louzada Publicações (365 saladas, 365 primi piatti, 365 secondi piatti, 365 receitas rápidas e 365 receitas de preparo antecipado. Ele também assina "A Cozinha do Amor e da Paixão" (Editora DBA. 1999). Por ser muito romântico, o chef reuniu no livro uma centena de receitas, cada uma delas ligada a uma pessoa importante que passou por sua vida.

Texto de Mirian Pinheiro publicado no jornal "Estado de Minas" de 17 de junho de 2012, no caderno "Degusta" com o título de "Brava Gente! Bravo Chef!". Digitado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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