7.11.2012

ESPINAFRE, NUTRITIVO E DELICADO


Apesar de não ser o mesmo espinafre dos países do hemisfério norte, a hortaliça que se come por aqui é igualmente saborosa e nutritiva.
Um passeio pelos hortifrútis e feiras livres nesta época do ano é de de dar água na boca. Em plena safra, os vegetais folhosos se destacam pela excelente qualidade e ótima aparência, colorindo as prateleiras com tons de verde que vão do mais claro ao mais escuro. Com texturas e formatos variados, a exposição desse grupo de hortaliças mostra todo o vigor e a generosidade da natureza. É inquestionável que as folhas, cruas ou cozidas, são mais usadas na elaboração de saladas frias, muito apreciadas no verão. No entanto, preparos que aquecem o corpo e satisfazem o paladar no inverno também podem, e devem, ser feitos com elas.
Presente em qualquer manual de alimentação saudável, o espinafre é um ingrediente que merece uma especial atenção. Sua cor tinge os pratos com um verde bem escuro, que indica a presença de vitaminas e minerais tão necessários ao organismo. O sabor delicado e a textura macia se prestam a cozimentos que resultam em diversificadas e saborosas receitas. Entretanto, verdade seja dita: o espinafre que se cultiva e se come no Brasil é da espécie Tetragonia tetragonoides, popularmente conhecida como espinafre-da-nova-zelândia, o que causa muita confusão com o espinafre verdadeiro, da espécie Spinacia oleracea, mais consumida nos Estados Unidos e na Europa.
Apesar da inexistência, o nosso espinafre, que como diz o nome popular é originário da Nova Zelândia, não deixa nada a desejar ao outro. Cru ou cozido, da mesma forma põe no prato sabor e saúde. Outro fato curioso, além de sua falsa identidade botânica, é o mito que cerca o espinafre (tanto o "verdadeiro" quanto o "falso") com relacão ao seu elevado teor de ferro. A confusão é creditada ao erro de um médico naturalista alemão, Emil von Wolf, que no fim do século XIX publicou um estudo no qual afirmava que o espinafre continham 10 vezes mais ferro do que outros vegetais normalmente consumidos.
Popeye, o clássico personagem das histórias em quadrinhos e desenhos animados, eternizou essa lenda do poder do espinafre ao devorar latas e mais latas da hortaliça para ficar forte e musculoso e salvar sua namorada, Olívia Palito, das garras de seu eterno inimigo Brutus. O marinheiro ainda hoje é visto na TV comendo a hortaliça para se fortalecer. O mito, no entanto, foi desfeito no começo do século XX, quando um grupo de cientistas mediu a real quantidade do mineral contida na verdura. Para se ter uma ideia, a flor do brócolis tem quatro vezes mais ferro na sua composição.

Todavia, quando se trata de receitas não tem confusão nem discussão. Verdadeiros, falsos e outras espécies pouco conheCidas mas igualmente nomeadas (como o espinafre-d'água da Malásia, chamado por lá de kangkung), o que importa é o indiscutível e saboroso resultado. No mundo inteiro, o vegetal é consumido e preparado de formas diversificadas.
Os espanhóis gostam de consumi-lo num fumegante ensopado com grão-de-bico e carne de porco, no recheio das tradicionais tortilhas e à moda catalã (depois de cozida, a hortaliça é adicionada a uma mistura de pinhões, passas e queijo). Os franceses adoram usá-lo em omeletes, crepes e souflês e os italianos em recheios de massas e tortas, enquanto os orientais costumam degustá-lo salteado, com alho e óleo de gergelim.

Excerto do texto de Patricia Crespo publicada no jornal "Estado de Minas", caderno "Degusta" do dia 8 de julho de 2012, com o título de "Verde que te quero no prato". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

No comments:

Post a Comment

Thanks for your comments...