8.18.2012

MARTINHO DA VILA : CONFESSO QUE BEBI


Ao ter a notícia de que o amigo Sérgio Magalhães Gomes Jaguaribe parou de beber, tive vontade de,em solidariedade a ele, parar também. Pensei seriamente, mas mudei e ideia ao falar com a minha cabeça:“Pô!Não é justo.O Jaguar nasceu antes de mim e começou primeiro.E eu ainda tenho de desvantagem  os dois anos que, por maluquice, fiquei abstêmio”.O cara bebeu muito mais que eu.  Só no tempo do ‘Pasquim’(que ele fundou com o Sérgio Cabral e o Tarso de Castro)o scotch que consumia por semana dava para encher uma tina daquelas que os mocinhos usavam para se banhar nos filmes de faroeste americano e as cervejas que ele bebeu poderia encher uma piscina olímpica.Quem quiser comprovar o que digo, leia o seu livro ‘Confesso Que Bebi’, que eu confesso que não li, antes.Havia apenas feito só uma leitura dinâmica e só agora percorri o livro devagar.Aí entendi porque o Cabral encerrou o prefácio com a frase “Que delícia!”. É mesmo uma obra deliciosa e divertida.Nas entrelinhas tem muitas informações sobre a cidade dos cariocas, cuja maior declaração de amor foi feita pelo vascaíno Sérgio pai,em uma palestra:“A minha carioquice é tão grande que até torço pelo Flamengo quando ele joga com qualquer time de outra cidade”.
Conversando com Léo Christiano sobre a situação do Jaguar, o Léo me embrou que o cartunista morou em Vila Isabel,bebeu até no meu butiquim e escreveu:“Pra quem já enfrentou–e superou– tantos desafios,acho  natural que o Martinho José Ferreira (...) seja autor de uma façanha aparentemente impossível: abrir um boteco carioca para malandro nenhum botar defeito, dentro de umshopping. Só vendo—e bebendo—para crer.Parece um lance de filme de ficção científica: a gente saido corredor de um shopping, igual a qualquer outro do mundo — nesta merda de globalização todos se parecem, seja em Paris, Londres ou Caracas — e entra em outra dimensão,um boteco onde Nelson Cavaquinho e o próprio Noel, padroeiro de Vila Isabel, se sentiriam em casa, ou melhor,no bar da esquina”. Em seguida o mestre dos botecos, das charges e das crônicas que escreve aqui neste nosso jornal aos sábados, descreveu o Butiquim do Martinho nos seus mínimos detalhes e dissertou sobre os petiscos, a cachaça, o chope, a música...
Terminou o relato no seu livro de confissão afirmando: “A coisa rola sabe-se lá até que horas e a fina flor do samba comparece para assinar ponto. Beth Carvalho, a madrinha-mor do samba,Noca, Luiz Carlos, que é também da Vila,Nelson Sargento,Walter Alfaiate, a rapaziada e, evidentemente, o dono”. Valeu Jaguaribe! O Butiquim do Martinho chegou a ser catalogado como um dos melhores bares do Rio, já fazia  parte  da identidade da Vila do Perna,mas,infelizmente, tive de fechar.Também parei de frequentar outros e diminuí o consumo de álcool. Quando atingir a sua idade,meu bom Jaguar, serei solidário com você. Abraços.

Texto de Martinho da Vila publicado no jornal "O Dia", Rio de Janeiro de 12 de agosto de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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