6.06.2017

MOVIMENTOS CULTURAIS, ESPIRITUAIS E ARTÍSTICOS


A civilização ocidental não se desenvolveu em obediência a uma orientação constante. Tanto no campo da filosofia como no da moral e da estética, a evolução do pensamento realizou-se ao influxo de movimentos culturais e espirituais que, partindo do tronco da cultura, frondejaram em múltiplas direções.

Entre esses movimentos, destacam-se, por sua importância os seguintes:

Materialismo

Pensamento filosófico que só admite como substância e matéria, atribuindo todos os fenômenos, inclusive os mentais, a agentes materiais. Segundo esse pensamento, o físico e o espiritual são aspectos ou modos da matéria: e já que esta pode ser concebida de diversos modos, existem várias espécies de Materialismo.

Encontra-se esse movimento espiritual em todos os momentos críticos da história do pensamento. Na Antiguidade foram materialistas quase todos os filósofos pré-socráticos, embora de maneira simplista. Depois do pensamento espiritualista e teológico de Platão e Aristóteles surgiu o Materialismo sistematizado, com Demócrito e Epicuro, que atribuíam a origem das coisas ao movimento dos átomos.

Foram expoentes do Materialismo no século XVIII Holbach, Diderot, La Mettrie, etc.; no século XIX Marx, Engels, Feuerbach, Vogt, Moleschott e Büchner. A própria inconsistência da teoria filosófica do movimento fê-lo aparecer dogmático e contraditório.

Sofística

Após as Guerras Pérsicas e a do Peloponeso, verificou-se na Grécia um grande florescimento da democracia, pelo que a «gente nova» de Atenas tratou de formar uma aristocracia diferente: a aristocracia da cultura. Desde Homero, a capacidade política e a eloquência se haviam considerado inseparáveis; a nova cultura assumiu forma caracteristicamente retórica, tendo por expoentes os sofistas, os primeiros que na Grécia antiga cobraram para ensinar. Foram relativistas cépticos, isto é, ocuparam-se sobretudo do homem, criticando de maneira dissolvente o dogmático naturalismo racionalista que havia dominado o pensamento grego. A palavra 'sofista' chegou até nós com um sentido depreciativo em virtude da opinião manifestada sobre aqueles filósofos por Sócrates, Platão, Aristófanes e Aristóteles, que os censuravam por defender ao mesmo tempo o bom e o mau.

Idealismo

É a tendência filosófica que sustenta ser espiritual a substância última do real, e que a ideia é principio do ser e do conhecer. Em arte e literatura, é um processo imaginativo para elevar acima da realidade sensível as coisas que se representam ou se descrevem. No campo da cultura, é a ânsia de perfeições ou ideais situados além da realidade que nos rodeia. O Idealismo nunca foi em si mesmo um movimento espiritual definido, mas antes inspiração de diversos movimentos. Na filosofia, seus cânones estão representados no Espiritualismo.

Espiritualismo

Movimento vigoroso e multiforme que aparece e  todas as épocas da história do pensamento. No terreno da Metafisica, sustenta que toda realidade é, no fundo, espiritual; mas como o espiritual pode ser concebido sob formas diversas, há várias modalidades de Espiritualismo. De um modo geral, o Espiritualismo é uma afirmação do predomínio, ou pelo menos da independência, do espírito em relação às forças do corpóreo ou da matéria. O Espiritualismo busca na consciência individual, como atos concretos e primitivos desta última, os valores estéticos e religiosos. Os caracteres da teoria espiritualista que concebe o físico como psíquico, são bem visíveis no pensamento de Platão (427-347 a.C) e renascem vigorosos em Santo Agostinho (354-430). Na Idade Moderna, os motivos platônico-agostinianos, despojados de sua roupagem teológica, aparecem em Descartes (1596-1650), Locke (1632-1704), Leibnitz (1646-1716), Berkeley (1685- 1753), Fichte (1762-1814) e, mais recentemente, Benedetto Croce (1866-1952).

Platonismo 

Dos vários movimentos filosóficos que emanaram dos ensinamentos de Sócrates, o Platonismo é o mais rico em ressonâncias espirituais e o que maior influência exerceu na história da filosofia e da cultura em geral. Característica da filosofia de Platão é a sua teoria das Ideias: os objetos materiais são meras representações transitórias de ideias imutáveis que estão fora do tempo e do espaço. Como o mundo das ideias é um mundo de valores espirituais, os ensinamentos de Platão visam a definir a vida justa do indivíduo e da sociedade. As ideias são também Ideais, fins de nossa conduta: aspiramos por eles, amamo-los, e daí ser o amor platônico uma aspiração ao ideal, ao perfeito. A primeira escola de Platão, a velha Academia, desenvolveu sobretudo os aspectos ético e religioso de sua filosofia. De origem pagã, o Platonismo registrou sua maior fecundidade no Cristianismo, forma religiosa mais complexa e mais rica em sentimentos espirituais.

Cepticismo

Movimento que surgiu no século III a.C, quando se iniciava a decadência do mundo grego. Com o Estoicismo e o Epicurismo, forma o grupo das três grandes filosofias da época helenística. O Cepticismo põe em dúvida a existência da verdade ou afirma que o homem é incapaz de conhecê-la. As principais razões em que se apoia são o caráter falaz dos meios cognoscitivos de que dispõe o homem; a dependência de todo pseudo-conhecimento com respeito às circunstâncias de sujeito, objeto, tempo e lugar; a existência de opiniões contraditórias sobre cada questão, etc. Os representantes do Cepticismo antigo foram Pirro (360-270 a.C) e seus discípulos. Na época moderna foram cépticos, a seu modo, Montaigne, Pascal, Hume e outros.

Epicurismo

Doutrina de Epicuro, filósofo do século III a.C, que ao lado do Cepticismo e do Estoicismo forma o grupo das três grandes filosofias helenísticas. Epicuro ensinou que o mundo exterior é produto do um concurso fortuito de átomos, o que o maior bem da vida é o prazer, ou seja, a ausência do dor: a virtude nos ensina a renunciar aos prazeres inferiores, que podem acarretar, e a preferir o gozo mais elevado da paz de espírito.

O Epicurismo é uma filosofia de decadência,expressão de uma sociedade sem inquietações, dedicada a colher os frutos de uma cultura que atingira o apogeu. Entre os seus discípulos romanos figuram Horacio, Ático e Plinio, o Moço.

Como movimento espiritual moderno foi revivido na França por Pierre Gassendi (1592-1655). Muitos franceses eminentes professaram os seus princípios, entre os quais Moliere, La Rochefoucauld, Rousseau e Voltaire. Hoje se confunde o Epicurismo com o Sibaritismo, isto é, a propensão a uma vida regalada e sensual.

Estoicismo. 

Zenão do Cítio (Chipre), antigo mercador fenício, estabeleceu sua escola filosófica na 'stoa poikile» ou pórtico multicor de Atenas. Daí ter-se chamado estoico êsse movimento espiritual continuado por Cleantes e Crisipo. Foi o Estoicismo a mais importante das filosofias «helenísticas», tendo dominado, durante quatro séculos, a vida espiritual do Império Romano. Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio foram os expoentes máximos do Estoicismo novo, que teve um caráter especialmente moral e religioso. Embora os estoicos professassem o materialismo, sua concepção do mundo não é mecânica, mas antes teológica e panteísta. Sua doutrina ética exalta a virtude como único meio de alcançar a felicidade. A virtude funda-se no saber, consistindo a missão suprema da filosofia em ensinar o homem a ser virtuoso. As virtudes fundamentais são a sabedoria, a fortaleza da alma, que se manifesta no domínio de si mesmo e na impassibilidade diante da dor, e por último, a Justiça.

Alexandrinismo ou Escola de Alexandria

Tendências literárias, científicas artísticas e filosóficas que se desenvolveram em Alexandria, cidade fundada no Egito por Alexandre Magno. Nesse movimento fundiram- se com o Helenismo o Judaísmo, em primeiro lugar, e o Cristianismo, depois. Sua principal ramificação é o Neoplatonismo. Embora a cultura alexandrina tenha representado, em sua época, uma civilização nova, cheia de ímpeto vital, hoje, ao falar em Alexandrinismo, pensamos numa elegância formal, refinada e caprichosa, mas sem vigor e sem base de sinceridade.

Gnosticismo

Conjunto de seitas e doutrinas filosóficas que, nascendo no Oriente, se estenderam por quase todo o mundo greco-romano até o século II, chegando a infiltrar-se no Cristianismo. Suas teses fundamentais eram:
(1) a salvação mediante um conhecimento místico superior («gnosis») revelado e esotérico ou vedado ao comum dos crentes;
(2) uma completa concepção cosmológica baseada num dualismo do Bem e do Mal transferido do mundo ético ao divina;
(3) a aceitação de mitos, mistérios, teorias e fatos das mais diversas procedências, devidamente transformados para melhor adaptação ao sistema.

Foram elementos do Gnosticismo a Filosofia grega, a Cabala hebraica, a Mitologia babilônica, o Dualismo persa e a Revelação cristã. Seus principais mestres foram Basílides, Valentim, Bardesanes e Márcio. Entre os escritores ortodoxos que os combateram sobressai Santo Irineu.

Neoplatonismo

Sistema filosófico fundado por Amônio Sacas em Alexandria, e cujo expositor principal foi Plotino (205-270 a.D.). Inspirou- se nas doutrinas de Platão (dualismo de espírito e matéria) e no misticismo judaico e oriental; proclamou a necessidade de o homem libertar-se do sensualismo por meio de uma disciplina ascética, e afirmou que a alma em estado de êxtase pode chegar à intuição direta de Deus. Com seus elementos de ascetismo e mística, o Neoplatonismo exerceu considerável influência sobre os Padres da Igreja (especialmente Santo Agostinho). Na Idade Média foi geralmente proscrito como heterodoxo. Os humanistas do Renascimento italiano, em sua reação contra as racionalizações aristotélicas então predominantes, recorreram pela segunda vez à metafisica idealista de Platão, dela passando ao Neoplatonismo (Marsílio Ficino, Niccolá da Cusa, Giordano Bruno). Desde então o Neoplatonismo exerceu profunda influência no idealismo e espiritualismo modernos.

Patrística

Esta palavra designa hoje o desenvolvimento doutrinal dos primeiros cinco séculos do Cristianismo através da tradição oral, de Jesus Cristo aos Apóstolos e destes a seus discípulos e sucessores, os Padres da Igreja Tertuliano, Orígenes, São Clemente, São Gregório de Nazianzo, São Basilio, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, etc. Lutaram estes apologistas e defensores do Cristianismo contra:

a) as perseguições seculares;
b) as acusações de impiedade dos filósofos pagãos;
c) as interpretações dos Gnósticos.

A exposição da doutrina foi feita em termos filosóficos tirados do Platonismo e do Estoicismo então em voga. No decorrer da polêmica contra os Gnósticos foram se cristalizando os dogmas da teologia cristã; Deus criador e salvador; a Encarnação; a Trindade; a Revelação; o livre arbítrio; o perdão dos pecados; a ressurreição da carne. Foi a época em que se alicerçou o mais poderoso movimento espiritual de todos os tempos.

Cavalaria

Na sociedade medieval, os filhos menores perdiam as prerrogativas feudais, abandonando os castelos a fim de correr mundo e ganhar a vida com o manejo das armas. Criou-se, assim, uma casta de cavaleiros ousados e turbulentos que vagueavam em busca da fortuna, com grave perturbação da ordem. Pouco a pouco, graças à intervenção da Igreja e da autoridade real, o espirito belicoso e heroico da Cavalaria se foi disciplinando a serviço de um ideal de justiça. A força emprestou seu braço ao direito; a virtude, a devoção, a honra foram objeto de culto.

Se não são estes os fatos dominantes no mundo cavalheiresco que se lança às Cruzadas nos séculos XI, XII e XIII, exprimem eles um movimento espiritual que afirma na cultura do Ocidente uma noção heroica da vida e exalta os valores e méritos individuais. O movimento assume forma exemplar nas ordens de cavalaria; os romances corteses e as canções de gesta são a linguagem poética em que se expressa; e as famosas novelas de cavalaria são sua encarnação hipotética, com heróis de força hercúlea, virtude perfeita e bondade inefável.

Misticismo

Doutrina que proclama a comunicação imediata entre o homem e a divindade por meio da visão intuitiva ou do êxtase, em que a pessoa se desprende do sensível e do racional. O Misticismo surge em todas as religiões através da história: o Taoismo na China, o Ioga na Índia, o Sufismo no Islã, a Cabala entre os judeus, etc. No Ocidente, inspirou o Neoplatonismo de Plotino e exerceu grande influência no Cristianismo medieval através de Santo Agostinho e São Dionísio, o Areopagita. Grandes figuras da mística medieval foram São Bernardo (1091-1153), Hugo de São Victor (1096-1141) e São Francisco de Assis (1181-1226). Nos séculos XIV e XV sobressaíram Meister, Eckhart, Heinrich Seuse, Jau van Ruysbroeck, Johann Tauler, Santa Catarina de Siena e Tomás de Kempis. O século XVI assiste ao apogeu dos místicos espanhóis, entre os quais florescem as duas grandes figuras místicas das letras castelhanas: São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus.

Escolasticismo

Sistema filosófico as escolas monásticas da Idade Média, cujos caracteres fundamentais foram:

1) exposição das teses de Aristóteles e discussão silogística para chegar à solução de cada questão.
2) íntima relação entre a Filosofia e a Teologia, para demonstrar a concordância entre os dogmas revelados do Cristianismo e as conclusões da razão natural.

Foram grandes figuras do Escolasticismo Santo Anselmo (1033-1109), Guilherme de Champeaux (1070-1121), Santo Alberto Magno (1206-1280), São Tomás de Aquino (1227-1274),Duns Escoto (1273-1308) e Guilherme de Occam (1270-1347). Em seguida entrou em decadência até o século XVI, quando renasceu com os teólogos espanhóis, principalmente Francisco Suarez (1548-1617). Em meados do século XIX iniciou-se na Itália um movimento de renovação (neo-escolasticismo) que rejeita as formas antiquadas e procura incorporar aos princípios escolásticos os resultados positivos da ciência moderna, constituindo a direção filosófica predominante no mundo católico de hoje.

Humanismo

Movimento cultural nascido na Itália no século XV. Rompendo com o escolasticismo medieval, constituiu a primeira etapa do Renascimento.Foram seus precursores Dante, Petrarca e Boccaccio. A Antiguidade clássica, revivida através das «humanidades», representa, no entender dos humanistas, o modelo ideal para a educação do homem completo. Houve, dentro do Humanismo duas tendências: uma procurou assimilar a cultura clássica no seio da tradição cristã; outra quis restaurar não só a arte como o espirito pagão da antiguidade greco-romana. O Humanismo foi, de certo modo, uma revolta contra o predomínio eclesiástico, impelindo alguns espíritos em direção à Reforma. Entre os humanistas destacaram-se Pico de La Mirandola, Erasmo, Tomas Morus, Piero Pomponazzi, Luis Vives, etc. Em anos recentes, deu-se o nome de «humanismo ou hominismo» a uma forma de Pragmatismo surgida na Inglaterra.

Reforma

Grande movimento de rebeldia religiosa iniciado por Martinho Lutero (1483-1546), que quebrou a unidade da Igreja do Ocidente, deu origem a novos organismos eclesiásticos e inaugurou uma época na história da espiritualidade cristã. A revolta começou em 1517, ao publicar Lutero suas 95 teses em desafio à teoria e à prática das indulgências.

A Reforma alcançou completa expressão sociológica e eclesiástica, bem como sua sistematização doutrinária, graças ao espírito lógico e jurídico do suíço João Calvino (1509-1564). O Protestantismo constituiu, mais que uma «reforma», verdadeira revolução religiosa, política, social e cultural decorrente de múltiplas causas morais, doutrinárias, econômicas, étnicas e políticas. Como movimento espiritual, dominou os séculos XVI e XVII. Logo sobrevieram novos problemas e novas orientações: ao biblicismo da Reforma sucedeu a crítica da razão, e às discussões sobre o dogma, o Iluminismo.

Eufuísmo

Estilo literário em moda na Inglaterra na segunda metade do século XVI. A palavra deriva de Euphues, protagonista alambicado das obras de John Lyly. Caracterizou-se este estilo pelo emprego constante de paralelismos e antíteses, frequentes evocações clássicas e símiles relacionados com uma História Natural fabulosa, engenhosos jogos de palavras, vocábulos rebuscados em fontes latinas, etc. Chegou a constituir o modo de falar e de escrever das pessoas elegantes. Foi esse movimento precursor do Gongorismo espanhol, do Marinismo italiano e do Preciosismo francês.

Culteranismo

Corrente literária e artística espanhola, também chamada de Gongorismo por ter sido seu mais insigne expoente o cordovês Luis de Góngora y Argolo (1561 1627). Preconizava formas intensas o extremadas na esfera da arte. Procurou criar uma língua poética de caráter aristocrático e em plano superior à popular, transplantando para o idioma castelhano uma multidão de vocábulos latinos e de outras procedências. E abusou das metáforas, de imagens ousadas e engenhosas, das transposições e das alusões mitológicas. O Gongorismo é uma manifestação espanhola do espírito de cultismo que se estendeu pela Europa no século XVI, produzindo o Eufuísmo na Inglaterra, o Marinismo na Itália e o Preciosismo na França. (Não deve ser confundido com o Conceptismo de Quevedo.)

Marinismo

Tendência literária e artística italiana iniciada pelo poeta Giambattista Marini (1569-1625), que se caracterizou pelo polimento da forma e «indiferença com relação ao conteúdo». Seu estilo pontilhado de ousadas metáforas foi grandíloquo e sentencioso. Tratava-se de um movimento de insurreição contra a poética clássica, tido como iniciador da maneira e do gosto barrocos na Europa, e corresponde ao Gongorismo espanhol, que floresceu na mesma época.

Preciosismo

Escola literária francesa do século XVI e princípios do XVII, caracterizada pelo estilo afetado e retórico de que Molière escarneceu na comédia «As preciosas ridículas». Foi uma tendência paralela ao culteranismo espanhol, ao marinismo italiano e ao eufuísmo inglês. Serviu-lhe de centro o Hotel de Rambouillet, onde se reunia a flor da aristocracia francesa da época. Vicente Voiture (1597-1648) foi seu mais célebre poeta.

Conceptismo

Corrente literária espanhola representada por Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645), e cujo verdadeiro codificador foi Baltasar Gracián (1601-1658). Para o Conceptismo a qualidade do estilo se constitui de dois elementos: o conceito, ato de entendimento, e a agudeza, ornato exterior. Respeitando a língua tradicional, conduz o pensamento através de enigmas, antíteses, sutilezas e associações inesperadas.

Plateresco

Tendência ornamental da primeira fase da Renascença espanhola, no século XVI. Caracterizam esse estilo os medalhões, as colunas recobertas de folhas e grinaldas, molduras verticais, fórnices e grandes planos vazios limitados por um lavor não raro arrebicado. Foi antecessor do Barroco e do Churrigueresco. Como exemplos do estilo Plateresco (de prateiro) podemos citar o Hospital de Santa Cruz de Toledo, a fachada da Universidade de Alcalá de Henares, o palácio dos Condes de Benavente, em Baeza, a sacristia da Catedral de Sevilha. Muitas das igrejas coloniais da América espanhola ostentam esse estilo, mais ou menos modificado.

Barroco

Estilo ornamental nascido na Itália no século XVI e que se caracteriza pelo excesso do formas pesadas e retorcidas. Floresceu na Europa até o século XVIII, quando triunfou a arte clássica.

Variante espanhola foi o estilo Churriqueresco inicado por Ribera e Herrera, o Moço e generalizado pelo célebre José Churriguera (1650-1723). Embora a palavra 'barroco' se aplique especialmente a arquitetura, identifica também, por extensão, as obras de escultura, pintura e literatura em que predominam o ornato e a pompa.

Foram típicos artistas barrocos Giovanni Lorenzo Bernini (1598-1680) e Francesco Borromini (1599-1667), na arquitetura; Bernini, na escultura; Pietro Berrettini da Cortona (1596-1669) e Pedro Paulo Rubens (1577-1640), na pintura.

Jansenismo

Doutrina de Cornelius Jansen (1585-1638), bispo holandês de Ypres  e de seus seguidores, os quais sustentaram que o pecado original corrompeu radicalmente a natureza humana; que o homem éincapaz de resistir à concupiscência, sem o concurso da graça divina:que Cristo não morreu por todos os homens, mas por aqueles que os inescrutáveis desígnios de Deus predestinaram à salvação. Os principais promotores do movimento foram Antoine Arnauld (1612-1694), sua irmã Madre Angélica e Blaise Pascal (1623-1662). O Jansenismo vigorou na França de 1635 aos meados do século XIX, sendo que na Holanda perdura até hoje. Constitui um dos aspectos mais enigmáticos da história religiosa do mundo moderno.

Classicismo

Sistema artístico ou literário baseado na imitação dos modelos da Antiguidade greco-romana. Hoje se consideram clássicos um autor ou uma obra dignos de ser imitados em qualquer literatura ou arte. Em música, o termo é geralmente aplicado á produção dos grandes compositores do século XVIII. Como movimento espiritual, o Classicismo inclui várias correntes surgidas depois da Renascença e inspirados na concepção grega da beleza. caracterizando-se pela perfeição da forma com efeitos de regularidade, equilíbrio, simplicidade e justeza de proporções. Para o Classicismo as conquistas da arte são árduas e só se alcançam mediante severa disciplina e laborioso estudo. A palavra também traduz o culto do objetivo em oposição às interpretações subjetivas que deformam a realidade por falta ou por excesso, como é o caso do Romantismo, Impressionismo, Surrealismo, etc.

Neoclassicismo

Movimento intelectual dominante na Europa nos séculos XVII e XVIII, destinado a restaurar o estilo clássico tanto na arte como na literatura, para o que tornava os clássicos mais como mestres do que como modelos. Foram expoentes da literatura neoclássica, na França, Fénelon, Voltaire, La Harpe; na Inglaterra Johnson, Pope, Keats e Butler; e na Espanha Meléndez Valdés, Leandro Fernández de Moratín e Quintana. A arquitetura, a escultura e a pintura neoclássicas surgiram como consequência dos descobrimentos arqueológicos levados a cabo em Herculano, Pompéia e Roma.

Arcadismo

Os antigos gregos deram o nome de Arcádia a um fértil vale do Peloponeso, rodeado de altas montanhas, cujos habitantes levavam uma plácida e simples vida pastoril, isolados do resto do mundo. Com o nome de Arcadismo, os literatos que se agrupavam em torno de Cristina da Suécia (1626-1689) fundaram uma tertúlia em Roma, em 1690. Propunham-se eles reconduzir a poesia e a literatura em geral às fontes primitivas da natureza, depurando os sentimentos e simplificando a forma «pervertida pelo mau gosto barroco». Foram precursoras dêsse movimento as novelas pastoris publicadas, com o nome de «Arcádia», por Jacopo Sannazaro (1504), Philip Sydney (1580) e Lope de Vega (1598). Os anseios de uma livre e pura expressão lírica do sentimento passaram dos idílios da literatura às pastorais pictóricas (Domenichino, Poussin, Lorraine, Corot e Watteau), conferiram um matiz bucólico às reuniões palacianas de Versalhes e continuaram influindo sobre a literatura e as artes até o advento do Romantismo.

Pietismo

Movimento religioso iniciado dentro da Igreja Luterana em fins do século XVII. Exaltou a prática da piedade, infundindo vida nova ao ideal evangélico. Foi fundado por Philipp Jakob Spener (1635-1705), que com a ajuda de seus discípulos Francke e conde de Zinzerdorf difundiu o movimento na Alemanha. Os pietistas ensinaram que o arrependimento e a dor devem preceder todo nascimento, e que só um teólogo regenerado estará em condições de instruir sobre teologia. Condenaram toda forma de diversão, como o teatro, a dança e os jogos públicos. Em meados do século XVIII o movimento havia desaparecido.

Racionalismo

Movimento espiritual de aspectos complexos. Em filosofia, consiste na teoria de que a razão é fonte de todo conhecimento, independente dos sentidos. Em teologia, importa na doutrina de que a razão humana, sem auxílio da revelação divina, é guia suficiente para nos levar à verdade religiosa, supondo uma subordinação dos dogmas aos ditames da razão e da consciência. De um modo geral, é a tendência para aceitar a razão como suprema autoridade em questões filosóficas, psicológicas, éticas, históricas, religiosas, etc. O racionalismo foi exposto como teoria filosófica, no século XVII, por Descartes (1596-1650), desenvolvido por Espinosa (1632-1677) e Leibnitz (1646-1716) e sistematizado por Christian Wolff (1679-1754). Em sua «Crítica da Razão Pura», Kant (1724-1804) procurou suplantar o Racionalismo «dogmático» de Wolff por um Racionalismo «crítico».

Empirismo

É muito antigo como doutrina filosófica que considera a experiência a única ou a mais importante fonte do conhecimento. Opõe-se a toda forma de intuicionismo, sustentando que o espírito é urna espécie de «tábua rasa» na qual os conhecimentos são gravados pelos sentidos. O Empirismo, como doutrina, não foi alheio aos gregos. Como movimento espiritual, surgiu na Inglaterra com John Locke (1632-1704), desenvolvendo-se com Berkeley, Hume, James Mill, Bentham e Stuart Mill (1806-1873), que o levou ao apogeu.

Iluminismo

Originou-se esse movimento na França, como reflexo de uma corrente de admiração pela Inglaterra no século XVII. Foram seus arautos Voltaire e Rousseau. Trata-se de uma filosofia definida como um «otimismo racionalista» que se desenvolve em três direções teológicas: o Teísmo, o Deísmo e o Materialismo.

A literatura iluminística insiste muito sobre as «belezas» e «maravilhas» da Natureza, proclamando a difusão da luz da razão e da ciência entre as massas. Com este último objetivo, foi organizada a Enciclopédia de Diderot. Fora da França, o Iluminismo assume aspectos diversos: luta contra os privilégios eclesiásticos na Áustria e na Toscana; «absolutismo iluminado» de Frederico II na Prússia; ideal de governo «aristocrático iluminado» de Pestalozzi na Suíça. Chamou-se também Iluminismo a heresia dos «iluminados» espanhóis (séculos XV e XVI) e suas ulteriores ramificações na Europa. Os «iluminados» foram místicos que pretenderam chegar ao estado de perfeição por meio de práticas supersticiosas. A Inquisição lhe moveu encarniçada perseguição.

Irracionalismo

Em certo sentido corresponde a uma revolta contra as idealizações simplistas da razão, a uma ânsia de experimentação, de vida profunda e intensa à margem da disciplina e da ordem estabelecida. A corrente irracionalista moderna nasceu no século XVIII como reação contra o intelectualismo iluminístico. Nietszche deu-lhe grande impulso no século XIX. No últimos decênios, o Irracionalismo evidenciou-se em todos os aspecto da cultura: na política, com o culto do ativismo, do racismo e da violência; na educação, onde as liberdades da juventude assumem formas extremas; e na literatura, com o desenfreamento dionisíaco dos apetites e da fantasia.

Satanismo

Antigo como o homem, o Satanismo é uma expressão de revolta contra o Criador; um protesto do imperfeito contra a perfeição suprema; o grito lancinante de um orgulho impotente, de um trágico complexo de inferioridade. Como movimento espiritual, surgiu na época do Humanismo, cuja glorificação do espírito humano suscitou anseios de alcançar objetivos além de nossas forças: houve recurso à magia e a uma aliança com o Grande Rebelde a fim de garantir ao homem emancipar-se da sujeição divina. Assim nasceram Fausto e Don Giovanni, e assim se desenvolveu um ritual proibido de bruxedos e grotescas missas negras. Na pintura, observa-se o elemento satanístico desde Jerônimo Bosco (1450-1516) e Brueghel (1520-1560) até o Surrealismo contemporâneo, passando por Delacroix, Goya e Rops. Na literatura, o Satanismo teve influência no Decadentismo e no Romantismo do século XIX (o "Caim" de Byron, o «Prometeu» de  Shelley, o «Hernani» de Victor Hugo), e em romancistas como Dostoievski e Huysmans.

Sturm und Drang

Chama-se assim um período de florescimento do Romantismo alemão, entre os anos de 1765 e 1785. O drama «Sturm und Drang» (Tormenta e Paixão), de Friedrich M. Klinger, deu-lhe o nome. Caracterizou-se esse movimento pela impetuosidade do pensamento e do estilo da nova geração da época, inspirada nas obras de Rousseau, Klopstock e Herder. Surgiu como reação contra o Iluminismo, atribuindo mais importância às forças vitais do que à razão. Foram seus autênticos expoentes Goethe, Schiller, Klinger e Lenz.

Romantismo 

Movimento iniciado na Alemanha em fins do século XVIII e que se propagou na primeira metade do XIX. Opôs-se por um lado ao Classicismo, e por outro ao Naturalismo e ao Realismo. Buscou inspiração na Idade Média, nas literaturas «romances», nos cantos épicos, baladas e lendas cristãs e de cavalaria. Caracterizou-se pelo lirismo, pelo predomínio da sensibilidade e da imaginação sôbre a razão, e pelo exagero do individualismo que leva o homem a alimentar a ilusão de ser senhor de sua própria vida. A nova sensibilidade deleitou-se com o fantástico, o estranho, o misterioso, o melancólico, o terrífico, o aflitivo, etc. Entre os românticos cumpre enumerar: Schiller, Heine, na Alemanha; Scott, Byron, Shelley, na Inglaterra; Lamartine, Hugo, Musset, na França; Manzoni, Leo- pardi, na Itália; Almeida-Garrett, Herculano, em Portugal; Larra, Es- pronceda, Zorrilla, Becquer, na Espanha; Hawthorne, Poe, Melville, nos Estados Unidos; Gonçalves Dias, José de Alencar, Gonçalves Magalhães, Fagundes Varela, Joaquim Manoel de Macedo, Bernardo Guimarães, no Brasil; Acuña, Mármol e Isaacs na América espanhola. O Romantismo se fez sentir também sobre outros aspectos da atividade humana: as artes, a política, a filosofia e até mesmo os costumes.

Positivismo

Sistema filosófico que contrapôs o espírito naturalista e científico às tendências metafísicas e religiosas do Romantismo Fundado por Augusto Comte (1798-1857), dominou o pensamento do quase todo o século XIX. Oposto a toda especulação metafísica, admite unicamente o método experimental, prescinde de qualquer explicação transcendental dos fenômenos e não investiga as respectivas causas ou essências, mas as condições em que se produzem. É a teoria em que se funda o método empírico seguido pela ciência moderna em suas averiguações. Já no fim da vida, Comte pensou em fundir sua filosofia e sua política numa religião positiva repudiada, aliás, por Littré e outros de seus discípulos. Denominou-a Religião da Humanidade. Seu deus concreto era a humanidade do passado, do presente e do futuro, a que chamou o Grande Ser. Em sentido lato, dá-se o nome de positivistas aos filósofos empíricos em geral.

Pré-rafaelismo

Escola de pintura e literária fundada na Inglaterra, em meados do século XIII, por um grupo de sete artistas jovens, à frente dos quais figurava o poeta-pintor Dante Gabriel Rossetti (1828-1882). No outono de 1848, fundaram a «Pre-Raphaelite Brotherhood», fraternidade artística que se propôs reviver o estilo e o espírito dos pintores italianos anteriores a Rafael, quando a arte era simples, sincera e religiosa. O Pré-rafaelismo reagiu contra as tendências pseudo-clássicas e imitativas de sua época, descambando para o Simbolismo. Suas obras, delicadas no colorido e no acabamento, apresentam-se imbuídas de um sentimento poético um tanto artificial. Entre os companheiros de Rossetti conquistaram celebridade os pintores William Holman Hunt, John Everett Millais e Edward Burne-Jones. John Ruskin foi inspirador e definidor teórico da nova estética.

Parnasianismo

Tendência poética manifestada na França nos últimos dias do Império. O jovem livreiro parisiense Lemerre publicou, em 1866, uma antologia poética intitulada «Le Parnasse Contemporain», na qual figuravam obras de Gautier, Baudelaire, Banvílle, Leconte de Lisle, Sully-Prudhomme, Heredia, Copée, Mallarmé, Verlaine, etc. Embora no princípio não se tratasse de um grupo literário, a publicação deu origem a um movimento, iniciado por Catulle Mendès e Xavier de Ricart, que reagiu contra o Romantismo da geração de Hugo e Lamar- tine. Seus seguidores se impuseram a tarefa de cultivar «a arte pela arte», atribuindo grande importância à forma, ao requinte na escolha e à manipulação da frase, do ritmo e da estrofe. Em 1871 publicou-se o segundo «Parnasse» e em 1876 o terceiro, que foi o último. A essa altura o grupo, já dividido, começava a dispersar-se. Assim terminou esse movimento no período de um decênio.

Simbolismo

Movimento artístico e literário surgido na França por volta de 1876 (ano em que se publicou o último «Parnasse») como reação contra a arte demasiado definida e escrava da forma dos parnasianos. Fundado por Stéphane Mallarmé (1842-98), teve em Paul Verlaine (1844-1896) sua figura mais importante. O objetivo supremo do movimento consistia em expressar sentimentos e emoções por melo de ritmos e sons, valendo-se de seres ou assuntos introduzidos nas composições com a finalidade única de conseguir o efeito desejado. Os simbolistas ocupavam se muito de verdades gerais do que de fatos, como meios de expressão usaram a alegoria, a transposição, a alusão. Vários deles foram tachados de decadentes. Entre os poetas simbolistas figuram além de Mallarmé e Verlaine, Rimbaud, Villiers de L'Isle, Rémy de Gourmont, Moréas, Maeterlinck, Claudel, Gide, Valéry etc. A influência da escola simbolista se fez sentir na America espanhola com o Modernismo de Rubén Dario,e no Brasil  através de precursores como Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens e outros.

Naturalismo

movimento que no longo da história da cultura ocidental tem afirmado na arte como na filosofia, na religião como na política, a inesgotável riqueza da experiência, contra a tendência do pensamento intelectualista a fixar de uma vez por todas os cânones do belo, do justo, do verdadeiro ou do santo.

Foram naturalistas os filósofos pré-socráticos. Tal como seus sucessores, tentaram eles aplicar ao mundo do espírito as categorias e leis naturais. Na arte, a mais esplêndida forma de Naturalismo é a que surge com o Renascimento e chega a nossos dias como núcleo da revolução cultural da burguesia moderna. Na literatura, a tendência para retratar a realidade da natureza sem inibições aparece há vários séculos (Boccacio, Rabelais) e se cristaliza com Emile Zola contra a corrente romântica do século XIX.

Na Espanha, o Naturalismo se afirma por volta de 1880 com Palacio Valdés, la Pardo Bazán e Quimerá; em Portugal, com Eça de Queirós; no Brasil, com Machado de Assis, na América espanhola, com Carlos Reyles e Manuel Gálvez. Na Itália dá origem ao Verismo.

Verismo

Corrente estética surgida na Itália em fins do século XIX. Segundo ela, a representação direta da verdade e da realidade são essenciais em arte e literatura; por conseguinte, não deve excluir-se nem o feio nem o vulgar. É um movimento muito semelhante ao Naturalismo francês.

Realismo

Movimento estético caracterizado pelo empenho na fidelidade à natureza e à vida real. Semelhante ao Naturalismo e oposto ao Romantismo. Os escritores franceses de «fim do século», principalmente Emile Zola (1840-1902), erigiram o Realismo em sistema de criação artística cujos princípios eram:
1) deve o escritor refletir imparcial e objetivamente o que vê, sem deixar-se guiar por preconceitos ideais éticos ou estéticos;
2) a novela, obedecendo a rigorosos métodos científicos, deve basear-se unicamente em «documentos humanos» obtidos graças a uma imediata observação «clínica» do presente, ou mediante minuciosa investigação em se tratando da observação retrospectiva do passado.

Impressionismo

Escola de pintura que se originou em Paris na segunda metade do século XIX, com tendências anti-acadêmicas e anti-românticas. Seu batismo ocorreu em 1874, quando Claude Monet, Edouard Manet, Auguste Renoir, Camille Pissarro, Edgar Degas e outros inovadores expunham no «Salão dos Recusados». Monet apresentou um quadro intitulado «Impressão, sol nascente», pelo que ele e seus companheiros passaram a ser chamados, em tom de troça, «os impressionistas».

O Impressionismo procura refletir a verdade do objeto artístico através da impressão que produz no artista num dado momento. Utilizando apenas as cores fundamentais do espectro e aplicando-as diretamente sobre a tela, em vez de misturá-las antes na paleta, conseguiram os impressionistas admirável luminosidade. A luz constituiu o verdadeiro objeto de sua arte; qualquer coisa era digna de ser pintada, desde que oferecesse oportunidade de destacar os efeitos da luz sobre a natureza.
Com a inovação da técnica veio a revolução, encabeçada por Manet, contra os cânones acadêmicos da beleza — revolução paralela ao movimento literário promovido por Flaubert, os Goncourt e Zola na França e Salvador Rueda na Espanha. O impressionismo teve repercussão em outras artes. Como exemplo de música impressionista podem ser citadas as obras de Debussy e algumas de Isaac Albéniz e de Ravel.

Pós-impressionismo

Dá-se esse nome às diversas maneiras que certos pintores modernos desenvolveram entre 1875 e 1890. Constituiu uma rebeldia contra o naturalismo dos impressionistas, assim como estes se haviam revoltado contra a tirania das fórmulas acadêmicas. Os pós-impressionistas não desprezaram a técnica de seus antecessores, mas foram campeões da livre expressão das emoções de cada artista, sem preocupar-se com a fiel representação das aparências naturais. Seus representantes máximos foram Cézanne, Van Gogh, Seurat e Gauguin.

Decadentismo

Nome que comumente identifica o movimento literário que surgiu nos cenáculos boêmios da margem esquerda do Sena, em Paris, em fins do século XIX. Estendeu-se prontamente a outras partes da Europa e ao ultramar, criando em torno da «Cidade Luz» uma auréola de genialidade, descomedimento, pecado e poesia. São características do Decadentismo um exagerado requinte e sutileza no emprego das palavras, bem como uma marcada tendência para o artificial, que se afasta deliberadamente da singeleza e da naturalidade artísticas. Geralmente o Decadentismo se produz após um período histórico de esplendor, como reação contra a plenitude clássica.

Pragmatismo

Doutrina filosófica proposta pelo norte-americano William James (1843-1910). Em sinal de protesto contra a especulação intelectualista da época, pediu a seus contemporâneos que esquecessem o problema da «verdade» abstrata para se concentrarem na ação. O Pragmatismo se identifica com o que é eficaz na prática, pondo em relevo a responsabilidade moral implícita em toda atividade intelectual. Embora seus antecedentes diretos possam ser encontrados no pensamento empirista de David Hume e no Positivismo de Augusto Comte, o Pragmatismo é um produto típico da espiritualidade norte-americana. Foram seus principais expositores, além de James, Charles S. Peirce (que lhe deu o nome), John Dewey e o inglês Schiller, que o denominou «Humanismo» ou «hominismo».

Modernismo

Movimento de renovação que floresceu na América Latina, na Espanha e em outros países católicos em fins do século XIX. No terreno religioso, procurou interpretar os ensinamentos da Igreja â luz do pensamento filosófico e científico contemporâneo, tendo sido condenado por Pio X. Manifestou-se também na arte, na ciência, na política e em outros ramos da atividade humana. No campo da literatura, tal como o Simbolismo francês, baseia-se no cultivo da imagem e da musicalidade, respeita a forma e é rico em combinações métricas. Foram seus precursores, nas letras hispânicas, os mexicanos Gutiérrez Nájera e Díaz Mirón, os cubanos José Marti e Julián del Casal, o espanhol Salvador Rueda, o colombiano José Asunción Silva, o uruguaio José Enrique Rodó e, sobretudo, o nicaraguano Rubén Dario. No Brasil, o Modernismo eclodiu com o grito da Semana de Arte Moderna, em São Paulo (1922), sendo Graça Aranha e Mário de Andrade dois de seus vultos mais importantes. Outras figuras destacadas do Modernismo foram Lugones, Santos Chocano e Amado Nervo, na América; Juan Ramón Jiménez, Valle Inclán, Pérez de Ayala, Azorín, os Machados e Garcia Lorca, na Espanha.

Cubismo

Escola artística que, constituindo um dos aspectos do Pós- impressionismo, tende a expressar as emoções subjetivas por meio de figuras geométricas de várias cores e texturas. O Cubismo nasceu em Paris, no Salão dos Independentes, em 1908, quando Matisse cunhou a palavra com intuito de crítica a um quadro de Georges Braque. A crítica se transformou em programa.

Há cubistas analíticos, que se cingem a uma rígida disciplina geométrica, e niilistas sintéticos, que introduzem em sua arte elementos mais suaves e decorativos. Foram fundadores dessa escola Pablo Picasso e Georges Braque. A ela pertencem também André Derain, Albert Léon Gleizes, Jean Metzinger, Marcel Duchamp, Francis Picabia, Fernand Léger, Juan Gris, Gino Severini, Robert Delaunay e Zadkine e Aleksandr Archipenko (escultores).

Futurismo

Movimento artístico revolucionário encabeçado, em 1909, pelo poeta e dramaturgo italiano Filipe Tomaz Marinetti. Proclamava o culto da máquina e da velocidade, o amor ao perigo, o hábito da energia, o movimento agressivo, a glorificação da guerra, a liberdade sem as peias da sintaxe e o rompimento com o passado para emancipar a nascente geração de artistas e literatos. Os escultores e pintores futuristas exibiam uma plasticidade delirante, repetindo figuras em atitudes sucessivas para dar a impressão de movimento. Na música, procurava o Futurismo a harmonia estridente; na filosofia, na moral e na política a conciliação entre os mais opostos antagonismos. O Futurismo se desintegrou em menos de três lustros, mas seu culto da força e da mecânica sobreviveu como doutrina do Fascismo, do qual Marinetti chegou a ser o vate oficial.

Expressionismo

Corrente artística surgida na Alemanha e difundida na Europa ao tempo da Primeira Guerra Mundial, em revolta contra o naturalismo impressionista. Tendeu à livre expressão das reações emotivas do artista, ou à expressão subjetiva da natureza essencial, mais do que à representação da aparência natural dos objetos. As características destes aparecem modificadas ou exageradas até os limites da caricatura. É uma das formas de pintura abstrata, tendo-se algumas vêzes misturado com o Cubismo para formar «ismos» de duração efêmera. Kokoshka, Hodler, Heckel, Nolde, Rouault, Grosz, Chagall e Kandinsky são seus representantes máximos. O Expressionismo estendeu-se também à escultura (Lehmbruck), ao drama (Strindberg, O’Neill), ao romance (Virginia Woolf), à poesia e à música (Stravinsky, Bartók, etc.).

Dadaísmo

Movimento artístico e literário que floresceu durante a Primeira Guerra Mundial e imediatamente depois. Iniciou-o em Zurich o judeu romeno Tristán Tzara, com o propósito de desacreditar todos os valores artísticos anteriores a fim de substltul-los pelo incongruente e pelo acidental. Em 1917, apareceu como seu porta-voz a revista «Dada», palavra que Tzara encontrou por acaso, folheando o dicionário Larousse. («Dada» significa cavalo no vocabulário das crianças e ideia favorita em linguagem familiar.) Um dos principais expoentes do Dadaísmo foi o pintor Kurt Schwitters, que executava suas composições com lixo e detritos, com a ideia de provar que «mesmo o que o artista cospe é arte». O Dadaiismo representou um fugaz e medíocre movimento de protesto engendrado no caos da guerra.

Psicanálise 

Teoria psicológica proposta pelo médico austríaco Sigmund Freud (1865-1939). Seu conceito fundamental é a existência de uma mente subconsciente e de outra consciente. Explorando a primeira, por meio da análise retrospectiva, podem descobrir-se as causas morais ou afetivas de um estado psicológico mórbido; conhecidas as causas, será possível formular um tratamento adequado. Os estudos clínicos realizados por Freud levaram-no à convicção de que os conflitos que afetam os instintos sexuais são a causa primeira das neuroses, e de que esses instintos, ou «libido», constituem uma das forças (a construtiva) que animam a mente humana. A outra força (a destrutiva) é formada pelo «instinto mortal», impulso de reversão à matéria inorgânica, inerente a todo ser vivo. Freud chamou à Psicanálise «ciência do subconsciente». Na realidade, a natureza dos métodos de investigação que utiliza, seus postulados de ordem geral, suas incursões além do terreno dos fatos e o dogmatismo om que se encerram alguns de seus cultores fazem da Psicanálise mais um movimento ou uma escola do que uma ciência.

Surrealismo

Um dos mais recentes movimentos artísticos e literários. Surgiu em Paris no ano de 1924, quando André Bretón publicou o «Manifesto do Surrealismo» anunciando a nova técnica que, sob a influência da Psicanálise, pretende um «automatismo psíquico puro» capaz de dar expressão às atividades do subconsciente sem controle exercido pela razão. O escritor surrealista passa para o papel tudo que lhe vai ocorrendo. Assim concebeu o poeta Eluard o provérbio: «Os elefantes são contagiosos». Os surrealistas reconhecem como antecessores o Conde de Lautréamont, autor uruguaio dos «Cantos de Maldoror», o pintor inglês William Blake e o francês Odilon Redon. Entre seus maiores expoentes figuram André Bretón, Paul Eluard e Louis Aragon, bem como os pintores Salvador Dali, Giorgio de Chirico, Juan Miró, Yves Tanguy, Jean Arp, André Masson, René Magritte, Max Ernst, Alberto Giacometti e Roberto Matta Echaurren.

Existencialismo

Movimento espiritual cujas fontes remontam à Fenomenologia alemã (através de Heidegger) e a certas doutrinas do filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855). Essa filosofia, que considera a existência própria, concreta, como a última realidade, cristalizou-se na França, em 1943, com Jean Paul Sartre, que reconhece no postulado de Descartes «Penso, logo existo» o ponto de partida do pensamento existencialista. Procura este encontrar um termo médio entre o idealismo e o materialismo tradicional, atribuindo grande importância à livre decisão do homem em face de um universo sem propósito. Mais do que uma filosofia, o Existencialismo é um movimento ou uma modalidade que expressa a crise espiritual do nosso século, com manifestações filosóficas, religiosas, artísticas e políticas.

Texto publicado na edição de 1959 do "Almanaque Mundial", preparado sob os auspícios de Seleções do Reader's Digest com a direção de Eduardo Cárdenas, Editora Moderna, editor Fernando Chinaglia, excertos pp. 18-32, convertidos à nova ortografia. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

No comments:

Post a Comment

Thanks for your comments...