5.12.2018

A DÉCADA DE 1980

Manifestação pela redemocratização

A década da cidadania. Dos comícios pelas diretas-já à eleição de Collor e a promulgação de uma nova Constituição, a grande vedete do período foi mesmo a urna.

Nunca, em toda a história do Brasil, se vira uma multidão como aquela, em abr. de 1984. Diante da enxurrada de manifestantes que inundou as ruas do Rio de Janeiro, concentrando-se junto à Igreja da Candelária exigindo urgência nas eleições diretas para a presidência da República, ficou claro que poucas vezes o povo brasileiro depositara tanta fé no poder do seu voto e no papel dos políticos. No entanto, apenas quatro anos depois do comício da Candelária, a maior manifestação política da História do país, boa parte da população do mesmo Rio de Janeiro havia tomado a direção oposta: às vésperas de uma eleição municipal, surgiu uma surpreendente pregação em favor do voto nulo.

Artistas e gente do povo lançaram na cena política um habitante do Jardim Zoológico da cidade, o Macaco Tião. Cujo nome, recomendavam, devia ser escrito nas cédulas eleitorais. “O Tião é um candidato melhor do que os outros porque já nasceu preso”, exortava o humorista Humberto Aranha, do jornal Planeta Diário, que detonara a campanha como uma piada que muitos levaram a sério.

Nos anos 80, como puderam sentir os políticos, não foi difícil passar de herói a vilão em muito pouco tempo. A década das viradas, dos contrastes e da convivência entre opostos deixou em toda parte os sinais de sua inconstância. A inflação atingiu níveis sem precedentes, tomando- se para muitos a lembrança mais dolorosa do período. Mas, a década também ofereceu um momento de paz sem equivalente em qualquer outra época, quando, em 1986, o Plano Cruzado mergulhou o país, embora por pouco tempo, na mágica da inflação zero.

Por certo, nenhum contraste foi tão forte quanto o verificado no âmbito dos costumes, com o salto entre a liberalidade sexual dos primeiros anos da década e o conservadorismo que se seguiu ao fantasma da AIDS. As notícias sobre o novo perigo começaram a ganhar contornos de pesadelo a partir de 1983, quando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida — expressão cujas iniciais em inglês geraram a terrível palavra que passou a correr mundo — começou sua devastação entre os homossexuais do país. Com o tempo, o temor do contágio provocou algo muito próximo de um pânico generalizado.

Mais tarde, se verificaria o exagero das primeiras notícias sobre a facilidade de transmissão do mal, e as campanhas de esclarecimento trataram de colocar a doença no seu devido lugar.

Com toda a pompa

Os preservativos tomaram-se assim mercadoria imune ao encalhe nas prateleiras das farmácias e assunto corriqueiro para adolescentes e crianças. A AIDS representou, portanto, um inesperado empurrão no diálogo dos pais com as novas gerações como observara Caetano Veloso, na sua música 'Vamos Comer': ‘‘a pretexto da AIDS — êids — nunca se falou de sexo com tanta franqueza e confiança, mas é bom saber o que dizer e o que não dizer na frente das crianças”. Perguntas às vezes embaraçosas passaram a percorrer a mesa do jantar — afinal, o próprio governo, convencido de que o grande perigo estava na desinformação, promovia campanhas para estimular tais conversas.

E provável que muitos pais tenham cedido ao bombardeio e avançado mais do que pretendiam na abordagem da questão sexual, ainda então um tabu de bom tamanhó. Boa parte deles, no entanto, procurou delegar a tarefa à escola, muitas vezes não menos perplexa. Em 1988, um pediatra paulista reunira muitas informações sobre sexo e AIDS: passou a ser tão requisitado para bem remuneradas palestras em colégios que praticamente fechou o consultório.

Se por um lado, havia esta ânsia de conhecimentos, em contrapartida, surgia uma atitude de distanciamento cada vez maior em relação aos grupos de risco. Foi uma reviravolta, pois antes da AIDS estava em moda a afirmação do direito de cada um viver e expressar suas preferências sexuais como bem entendesse. Numa entrevista à revista 'Nova', em 1980, o ator Raul Cortez defendeu o bissexualismo como “uma forma de amor igual a outra qualquer”.

No carnaval do ano seguinte, o Canecão, com ressonância de ser uma das mais badaladas casas de espetáculo do Rio de Janeiro, foi palco de um primeiro baile para homossexuais incluído na programação oficial e chique da cidade, o “Gala Gay”. Feliz com o êxito da promoção, repetida e imitada nos anos seguintes, seu inventor, o empresário carioca Guilherme Araújo, pontificava em 1984: “Não existe mais essa coisa de gueto. Há um deboche, que hoje põe lado a lado o travesti com seio de silicone, o gay, o médico heterossexual e a garotinha da Zona Sul”. Um dos foliões, o paulista Virgílio Siena, tinha múltiplos motivos para se alegrar. Cada baile daqueles deixava mais gorda sua conta bancária, já que um dia, pressentindo a onda, ele registrava a palavra gay como marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

O avanço da AIDS não impediu que os homossexuais continuassem a se divertir na festa das máscaras, mas provocou um nítido refluxo na tendência de tornar cada vez mais aceitos na sociedade comportamentos e atitudes dessa minoria sexual.

Também outras criações típicas da liberdade que marcou os costumes no início da década, como o casamento aberto e a amizade colorida, entraram em recesso quando a preocupação com- a saúde exigiu impor um limite ao número de parceiros.

Não faltaram estudiosos a jurar que tais mudanças nada tinham a ver com a AIDS, e sim com as marés da inconstância do ser humano, sempre pronto a trocar o radicalismo da véspera por um outro, de sentido exatamente oposto. O fato é que o casamento tradicional, com um homem e uma mulher empenhados em fazer vingar uma união duradoura, viveu uma espécie de renascimento. E com toda a pompa e circunstância a que tinha direito: convocaram-se de novo corais, damas de honra e, quando possível, limusine para conduzir a noiva. Ninguém se constrangeu em dizer o que pensava dessas cerimônias, nem mesmo uma mulher duas vezes descasada, como a então prefeita de Fortaleza, Maria Luíza Fontenele: “Continuo achando o casamento com véu e grinalda uma das coisas mais lindas do mundo”, desmanchou-se ela em 1987.

Pode-se concluir que, em questões dessa natureza, o que houve foi um real amadurecimento da sociedade brasileira. Uma evidência dessa evolução estava no fato de que, ao mesmo tempo em que se festejava o casamento sólido, também se ajustavam sem traumas a vida dos chamados “filhos do divórcio”. Aqueles garotos e meninas que, levados pelas circunstâncias, passaram a conviver com o novo marido da mãe, a nova mulher do pai ou uma repentina irmandade postiça. Tudo bem. Um desses filhos comunitários só se queixou, certa vez, da canseira que dava percorrer tantas casas e passar por tantas ceias na noite de Natal.

O mosaico jovem

E verdade que numa pesquisa realizada por uma agência de propaganda classificando a juventude brasileira em cinco grupos, o bloco dos entrevistados rotulados como inconformados foi também aquele em que se registrava a maior incidência de pais separados. Segundo a pesquisa, dvulgada em 1989 — e que atualizava outra, feita cinco anos antes —, os membros desse contingente mostravam- se pessimistas e descontentes a ponto de quererem mudar de país.

Os demais jovens, de um total de mil entrevistados pela agência, dividiam-se em quatro categorias de perfis bem diversos: os ingênuos, os reflexivos, os ajustados e os individualistas. Por que ingênuos? Porque não tinham muitos outros interesses além de gastar dinheiro, andar em grupo e ver televisão. Os reflexivos, ao contrário, valorizavam a cultura e o conhecimento e procuravam consumir apenas o necessário. Os ajustados, por sua vez, cultivavam o ideal de uma vida sem transgressões sociais, um casamento sem infidelidades e um corpo aprimorado pela ginástica e a dança. Os individualistas, por fim, concentrados na faixa de população mais pobre, a chamada classe C, não gostavam de ler ou estudar, embora ansiassem por subir na vida, e professavam idéias tão antiquadas como a de reservar à mulher apenas o papel de mãe e dona de casa.

O mosaico demonstra até que ponto a década de 80 se diferenciou de outros tempos. Ao menos nessa questão, ela foi o avesso, por exemplo, dos anos 60, quando o estereótipo único do contestador parecia espelhar toda a juventude. Não que tenham faltado rebeldes nos anos 80.

Eles existiram, mas formaram uma minoria inofensiva e exótica. A moda dos punks, importada da Inglaterra com meia década de atraso, salpicou as ruas das grandes metrópoles com aqueles jovens de cabelos coloridos e roupas cobertas de quinquilharias. Tanto eles como membros de outras “tribos”, os darks e skin heads, foram vistos com curiosidade, sem que a maioria dos observadores se apressasse em concluir se tinham diante de si uma ameaça ou mais um apelo pacifista.

Os demais jovens, de um total de mil entrevistados pela agência, dividiam-se em quatro categorias de perfis bem diversos: os ingênuos, os reflexivos, os ajustados e os individualistas. Por que ingênuos? Porque não tinham muitos outros interesses além de gastar dinheiro, andar em grupo e ver televisão. Os reflexivos, ao contrário, valorizavam a cultura e o conhecimento e procuravam consumir apenas o necessário. Os ajustados, por sua vez, cultivavam o ideal de uma vida sem transgressões sociais, um casamento sem infidelidades e um corpo aprimorado pela ginástica e a dança. Os individualistas, por fim, concentrados na faixa de população mais pobre, a chamada classe C, não gostavam de ler ou estudar, embora ansiassem por subir na vida, e professavam idéias tão antiquadas como a de reservar à mulher apenas o papel de mãe e dona de casa.

O mosaico demonstra até que ponto a década de 80 se diferenciou de outros tempos. Ao menos nessa questão, ela foi o avesso, por exemplo, dos anos 60, quando o estereótipo único do contestador parecia espelhar toda a juventude. Não que tenham faltado rebeldes nos anos 80. Eles existiram, mas formaram uma minoria inofensiva e exótica. A moda dos punks, importada da Inglaterra com meia década de atraso, salpicou as ruas das grandes metrópoles com aqueles jovens de cabelos coloridos e roupas cobertas de quinquilharias. Tanto eles como membros de outras “tribos”, os darks e skin heads, foram vistos com curiosidade, sem que a maioria dos observadores se apressasse em concluir se tinham diante de si uma ameaça ou mais um apelo pacifista.

Voar de verdade

A atitude mais desdenhosa para com os dependentes do tabaco e das drogas, porém, partia de um vistoso segmento da população, aquele representado por jovens cheios de vida, amantes de esportes e cultores da boa saúde. “Não bebo, não fumo maconha e não vou a festinhas”, dizia no início da década a carioca Ana Letícia Ávila, campeã sul-americana de windsurf. E esclarecia: “Alegria artificial não me atrai”. Outro carioca,"Antônio di Biasi, era mais explícito na comparação: “A rapaziada de antes tomava ácido e tinha a sensação de voar. Nós voamos de verdade e deixamos para trás o ‘bode’ em que deu a década de 70”.

Voar de verdade, no caso, era praticar asa-delta, uma das paixões da geração de Antônio, que tinha pouco mais de 20 anos na alvorada da década. Mas o chamado vôo livre, esporte em que Pedro Paulo Carneiro Lopes, o “Pepê”, começou a praticar na praia do Pepino, no Rio de Janeiro, e já em 1981 conquistava um campeonato mundial, era apenas uma entre as muitas curtições daquela tribo dourada, sequiosa de sol e emoções. O próprio Antônio di Biasi ajudou a dar aura de lenda a esse universo ao retratar, como co-roteirista, as alegres aventuras de um surfista no verão carioca. 'Menino do Rio', 0 filme que ele assinou, e cuja canção-título tornou-se um dos grandes sucessos de Caetano Veloso, teve como ator principal o irmão de Antônio, André, que repetiu nas telas um papel que se acostumara a interpretar na vida real. E, quando a Rede Globo escalou 0 mesmo André di Biasi e Kadu Moliterno para estrelarem a série 'Armação Ilimitada '— um reflexo daquele mundo de rapazes e moças saudáveis.e inquietos —, os dublês verificaram que não teriam muito trabalho. Quase tudo o que os roteiros previam, em matéria de ação e esportes, André e Kadu estavam aptos a fazer, graças a experiências reais anteriores.

Como eles, toda uma geração nessa década dedicou boa parte de seu tempo a saltar de pára-quedas, mergulhar em águas profundas, escalar montanhas, voar em balões ou enfrentar corredeiras em frágeis caiaques. Muitos desses apóstolos da comunhão com a natureza eram também adeptos de cardápios especialíssimos, em que sobressaíam ingredientes como o farelo de trigo e “iguarias” como o empadão de legumes. Foi uma das características da década a mania de ingerir determinados nutrientes e esperar recompensas quase imediatas em matéria de desempenho físico. A certa altura, assistiu-se à febre das vitaminas, dificilmente capazes de todos os prodígios imaginados por seus cultores. Valorizou-se muito o que vinha diretamente da natureza, embora a indústria também tenha sido hábil em capitalizar a onda e garantir seu quinhão.

Durante anos, por exemplo, ninguém ouvira falar de iogurte a não ser como um alimento feito artesanalmente e consumido por alguns europeus e seus descendentes. Ou, no máximo, por uns poucos iniciados. Agora, enobrecido por uma extensa gama de sabores de frutas, o produto multiplicava seu público com o apelo do prazer, ainda que a propaganda insistisse no estribilho da saúde. A crença nesses poderes era tanta que havia quem usasse o iogurte natural não apenas para satisfazer o estômago: a modelo e apresentadora de televisão Xuxa Meneghel divulgava sua receita para ter “um rosto mais vistoso” e toda a vitalidade que exibia: o hábito de untar 0 corpo inteiro com o produto. A exuberante loira, aliás, atravessou a década como um verdadeiro símbolo do seu tempo. Só houve um concorrente à altura: o rapaz que surgia por segundos na abertura da novela 'Brega e Chique',em 87,exibindo pela primeira vez o nu masculino, embora apenas dorsal, na TV.

O alto-astral foi a tônica também na música, dominada durante boa parte da década pela travessa Rita Lee, que em 1981 tinha nas paradas uma canção com o significativo título de Saúde, o mesmo nome do LP. Rita foi uma espécie de guia em cujo rastro brotaram muitos conjuntos de rock, donos de uma irreverência visível nos próprios nomes: de Herva Doce a Biquíni Cavadão, de Sempre Livre a Rapazes de Vida Fácil.

A força verde

Ao som de sua música descontraída e sob o espírito da valorização do estilo saudável de viver, houve ambiente para enfim despontar no país a luta em favor da natureza. Nos anos 80, graças à consciência ecológica, baleias e tartarugas foram salvas, eleitores puderam votar em candidatos de um Partido Verde (PV) e Cubatão (SP) livrou- se do indesejável título de cidade mais poluída do mundo. Nada, porém, despertou tanto interesse quanto a Amazônia. No início, um misto de ufanismo e desinformação científica atribuía à floresta um papel decisivo para a qualidade do ar respirado pela humanidade.

Depois se descobriu que a real importância da imensa reserva estava em sua condição de repositório de quase um terço das espécies vivas do planeta — razão suficiente para manter o mundo ligado no que se passava ali. Influentes vozes dos países mais desenvolvidos chegaram a murmurar, no final da década, a hipótese de vincular a preservação da floresta a algum tipo de desconto na monumental dívida externa brasileira— idéia repelida por Brasília como uma ofensa à soberania nacional.

Muito mais que conflitos de interesses, porém, abalaram a delicada equação ecológica brasileira. Até set. de 1988, somente na Amazônia, uma área de 200 000 km2 tinha sido consumida pelas queimadas. Assim como em outras regiões do país, esse atentado contra a natureza exibia um difícil reverso: para pequenos proprietários, desprovidos de equipamentos agrícolas adequados, a prática de riscar um fósforo para limpar o terreno constituía uma questão de sobrevivência. Mas também as grandes empresas adotaram o mesmo fácil recurso, colocando-se na contramão dos novos tempos. As que seguiram pela pista certa conquistaram uma melhor imagem junto à opinião pública. Atitudes como a que, em ago. de 1988, pôs em evidência uma conhecida rede de lanchonetes americana: ela deixou de utilizar embalagens de sanduíche produzidas a partir dos gases clorofluorcarbonos, responsáveis pela destruição da camada de ozônio, que protege a Terra dos cancerígenos raios ultravioletas.

Num país que despertara tarde para a preservação da natureza, era natural que as vitórias nessa área implicassem a quebra de velhos hábitos. Mas a década já mostrou também a novidade da ação preventiva: a prefeitura de São Paulo por iniciativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, conseguiu fazer com que todos os motoristas particulares deixassem voluntariamente de ir ao centro da cidade, num dia de jul. de 1988, colaborando no primeiro teste de alerta contra a poluição do país. Foi um sucesso: as ruas ficaram vazias e a qualidade do ar melhorou consideravelmente.

Um toque feliz

No entanto, entusiasmo mesmo, foi o dispensado ao videocassete, que ao longo da década se tomou uma presença obrigatória em milhares de residências, consolidando um crescente aumento de fitas, depois de uma acirrada batalha contra as cópias piratas. Afinal, era um equipamento que vinha na esteira de uma revolução tecnológica cuja maior vedete era o computador, consagrado já em 1982 com o surpreendente título de “Máquina do Ano”, substituindo a tradicional figura do “Homem (ou Mulher) do Ano”, na capa da revista Time. No Brasil, o computador esteve por trás de um alentado processo de automação de serviços, cuja face mais visível era as mudanças ocorridas nas agências bancárias, onde cartões magnéticos praticamente aboliram os cheques.

Já o computador pessoal não pode desfrutar da mesma penetração doméstica obtida pelo videocassete. No final da década, são ainda significativamente poucos os profissionais liberais ou donas-de-casa capazes de arcar com os preços pedidos pelo equipamento nacional, em média, o dobro de produtos similares à venda nos EUA. Conviver com inovações desse tipo, tivessem elas o nome de videocassete, computador, fax ou disco laser, foi uma imposição da década a quem não quisesse ficar para trás.

Uma prova do dinamismo dessas mudanças foi percebida naquela pesquisa da agência de publicidade sobre a juventude brasileira. Nas duas ocasiões em que foi feito, o trabalho dividiu o grupo analisado em cinco perfis básicos. Só que, entre uma e outra data, foi preciso trocar os conceitos usados para definir os “tipos” de cada um dos cinco grupos. Na versão de 1984, por exemplo, a pesquisa utilizou o rótulo de “moderno” para designar um padrão de jovem que praticava esportes, vestia-se na moda, era liberal em assuntos de sexo e estava de bem com a vida. Cinco anos depois, não apenas foram observadas mudanças na área sexual, onde a AIDS provocara uma guinada conservadora, mas tinha-se uma surpresa ao reler o rol das características daquele mesmo tipo em 1989. Uma delas consistia em ver a política como uma atividade “enfadonha”. Na verdade, uma contradição pois seria possível chamar de “moderno”, ao final da década, alguém com essa idéia? Muito dificilmente. Afinal de contas, as ruas estavam coalhadas de rapazes e moças engajados na campanha eleitoral para a presidência. Muitos deles prontos a votar pela primeira vez, graças a uma lei que estendera esse direito a quem tivesse mais de 16 anos.

Era, enfim, outro momento — e aqueles jovens tinham motivos para estar animados e otimistas. Porque o espetáculo das ruas embandeiradas, se não igualava a emoção da histórica concentração da Candelária, constituía uma imagem suficientemente poderosa para coroar com um toque feliz uma década que tivera um pouco de tudo.

Publicado em "Almanaque Abril Especial- Brasil Dia-a-Dia", Editora Abril, São Paulo, 1990, direção de Lucila Camargo, excertos pp. 134-143. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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