3.18.2019
O MARECHAL DEODORO
Até as vésperas de 15 de novembro de 1889, Manoel Deodoro da Fonseca,o fundador da República, não era republicano. Pelo menos é o que indica a correspondência que trocou um ano antes com o sobrinho Clodoaldo da Fonseca, aluno da Escola Militar de Porto Alegre. Integrante da “mocidade militar”liderada por Benjamin Constant, adm irador das ideias do francês Auguste Comte e ardoroso defensor da República, Clodoaldo escreveu uma carta ao tio em meados de 1888 na qual expressava suas convicções. Recebeu em resposta um a reprimenda:
República no Brasil é coisa impossível, porque será uma verdadeira desgraça — escreveu Deodoro. Os brasileiros estão e estarão muito mal educados para republicanos. O único sustentáculo do nosso Brasil é a Monarquia; se mal com ela, pior sem ela.
Em outra carta, pouco depois, o marechal recomendou ao sobrinho: Não te metas em questões republicanas, porquanto República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltarão educação e respeito. [192]
Documentos como esses ajudam a explicar os momentos de indecisão demonstrados por Deodoro no dia 15 de novembro. Nos momentos cruciais do golpe que liquidaria o Império, o marechal ainda relutava em assumir o papel que lhe caberia na história, contra a opinião de outras lideranças militares e civis que o pressionavam para proclamar oficialmente a República. “Deodoro ainda não tinha (...) a mais leve inclinação pelo regim e que se pretendia fundar”,
assegura seu biógrafo Raimundo Magalhães Júnior.[193] Aparentemente, só se converteu ao projeto republicano forçado pelas circunstâncias e a contragosto, ao perceber que a mudança de regim e se tornara inevitável.
Nascido na província de Alagoas em 5 de agosto de 1827, Deodoro da Fonseca cresceu em um a família de militares. Seu pai, natural de Pernambuco, chamava-se Manoel Mendes da Fonseca Galvão, mas, preocupado com a cacofonia gerada pela proximidade das sílabas ca e ga, elim inara o Galvão do sobrenom e Mendes da Fonseca ingressara no Exército em 1806, dois anos antes da chegada da corte de dom João ao Brasil, com o praça de infantaria. Após a Independência, em 1822, ajudara a suprir de armas e munições as tropas imperiais de dom Pedro I que expulsaram os portugueses da Bahia. Promovido a alferes logo em seguida, fora transferido do Recife para Alagoas, onde se casou com Rosa Maria Paulina, dezessete anos m ais nova do que ele. O casal teve dez filhos — oito homens e duas mulheres. Com o era com um naquela época, Mendes da Fonseca acabou se envolvendo na política local. Eleito vereador, chegou a acumular as funções de chefe de polícia e juiz de direito interino na vila de Alagoas, a primeira capital da província, atual município de Marechal Deodoro.[194]
Em 1839, quando Deodoro tinha doze anos de idade e seu pai ocupava o posto de major, os habitantes da vila de Alagoas, onde moravam , souberam da notícia de que a capital da província seria mudada para Maceió, 27 quilômetros ao norte. Pelo plano já traçado, o primeiro órgão a ser transferido para a nova sede de governo seria a Tesouraria da Fazenda. Feroz opositor da mudança, Mendes da Fonseca reuniu seus comandados, dirigiu-se ao palácio e depôs o presidente da província, Agostinho da Silva Neves. Por um a ironia do calendário, a rebelião, logo sufocada, aconteceu no dia 15 de novembro, exato m eio século antes do golpe que o filho do major lideraria em 1889 contra a Monarquia. Sitiado por tropas imperiais despachadas de Pernambuco e da Bahia, Mendes da Fonseca fugiu para o Sergipe, onde foi preso e enviado para a sede da corte, no Rio de Janeiro. Submetido a Conselho de Guerra, conseguiu ser absolvido em maio do ano seguinte, mas a ousadia lhe custou caro.[195]
Reformado no posto de tenente-coronel após a fracassada revolta, Mendes da Fonseca term inou a vida endividado e perseguido pelos credores. Com o não tinha dinheiro para sustentar a família, fez com que todos os filhos se alistassem no Exército. Em 1854, enviou um apelo patético ao imperador Pedro II suplicando por auxílio financeiro que o ajudasse a saldar as dívidas e permitir que os três filhos m ais j ovens completassem os estudos: Minha família, coitada, sempre mantida pelo apertado repuxo, já não de justas economias, mas de dolorosas misérias, nunca comeu mais do que o necessário para não morrer de fome, nunca trajou luxo, ainda não viu as paredes internas de um teatro, nunca foi mesmo a um baile dos muitos concorridos nesta Corte, onde vivemos há quinze anos. [196]
Até hoje não se sabe se a súplica do patriarca dos Fonseca foi atendida. Manuel Mendes da Fonseca morreu em 24 de agosto de 1859, quando Deodoro tinha 32 anos e era capitão do Exército. As dificuldades da família teriam deixado profundas marcas na personalidade do futuro proclamador da República brasileira. Segundo seu biógrafo Raimundo Magalhães Júnior, o fracasso do golpe liderado pelo pai em 1839 teria também influência decisiva no seu comportam ento meio século mais tarde, quando pegou em armas contra o Império. Na manhã de 15 de novem bro de 1889, Deodoro muito provavelmente tinha vivas na memória as dificuldades enfrentadas pelo pai naquele episódio e, portanto, sabia perfeitam ente as consequências de um novo eventual fracasso. Tudo isso, segundo Magalhães Júnior, teria contribuído para sua indecisão diante da perspectiva de derrubar o imperador Pedro II do trono e proclamar a República. [197]
No Exército, Deodoro pertencia à categoria dos “tarimbeiros”, com o eram conhecidos os oficiais veteranos da Guerra do Paraguai e oriundos de famílias pobres. A expressão fazia referência à tarimba, estrado de madeira usado com o cama improvisada nos acampamentos de guerra. Era um símbolo das agruras que esses militares haviam enfrentado ao longo da carreira, vivendo em condições precárias nos aloj am entos e quartéis, mudando com frequência de
cidade, enquanto lutavam em defesa do Império brasileiro. “Deodoro era um pobre homem , de alm a franca e cavalheiresca”, definiu o historiador Oliveira Vianna. “Pertencia bem ao tipo das naturezas ardentes e francas, capazes de dedicações profundas, mas também de antipatias irredutíveis.” [198] Raimundo Magalhães Júnior, seu biógrafo, o descreveu com o “uma figura imponente e bizarra, de olhar vivo, agudo, penetrante, revelando determ inação em cada gesto e em cada atitude”. [199]
Aluno da turm a de 1843 na Escola Militar, onde fez o curso de artilharia, Deodoro teve um a carreira apagada e difícil até a Guerra do Paraguai. Seu batism o de fogo aconteceu em 1849, durante a Revolução Praieira de Pernambuco, onde com bateu nas fileiras das tropas imperiais. Depois disso, seu currículo registra repetidos casos de indisciplina, sempre por desacato ou problemas com os superiores im ediatos. Em menos de dois anos foi preso cinco
vezes. O comportamento explosivo seria sua marca até o fim da vida.
Promovido a capitão em 1856 e transferido para Mato Grosso, Deodoro casou-se em Cuiabá, quatro anos m ais tarde, com Mariana Cecília de Sousa Meireles, órfã de um capitão do Exército e um ano mais velha do que ele. O casal nunca teve filhos. Em 1864, então com 37 anos, foi despachado para a Guerra do Paraguai. Seria a grande experiência de sua vida — e também a de toda a sua família. Dos sete irmãos homens de Deodoro, seis partiram para a
guerra. Três deles morreram nos campos de batalha. Deodoro permaneceu seis anos fora do Brasil lutando contra os paraguaios. Nesse período, foi promovido sucessivam ente a major, tenente-coronel e coronel, sempre por atos de bravura.
“Só tive um protetor: Solano López”, diria m ais tarde em uma entrevista ao jornal Diário da Manhã, em Santos, litoral paulista. “Devo a ele, que provocou a Guerra do Paraguai, a minha carreira.” [200] Ferido na batalha de Itororó, embarcou para o Brasil em meados de 1870, quando o conflito já chegava ao fim . Em 1874, com o peito repleto de medalhas e outros galardões, foi promovido a brigadeiro, posto equivalente ao de general na atual hierarquia do
Exército. Com essa patente, serviu em diversas regiões do país.
Depois da Guerra do Paraguai, a segunda grande transformação na vida de Deodoro aconteceria em 1883, ano em que foi nomeado comandante de armas da província do Rio Grande do Sul e começou a se envolver cada vez mais com a política local. Ali também começaram suas divergências com o estancieiro e conselheiro do Império Gaspar Silveira Martins, a mais importante figura da política gaúcha naquele período. O historiador Hélio Silva afirma que a briga entre os dois tinha origem em “uma competição em que aparece um a bela senhora da época”. Seria a baronesa de Triunfo, viúva bonita e elegante, fazendeira e filha do general gaúcho Andrade Neves. Nessa disputa, Deodoro levara a pior. Silveira Martins, um homem galanteador, mais culto, inteligente e viajado do que o marechal, teria conquistado o coração da bela baronesa — e
desde então as relações entre os dois azedaram de vez. [201] Seria a notícia da escolha de Silveira Martins para chefiar o ministério de dom Pedro II na noite de 15 de novem bro de 1889 que levaria o até então relutante Deodoro a aderir definitivamente à República, com o se verá em capítulo mais adiante.
Em 1886, depois de um breve retorno ao Rio de Janeiro, Deodoro passou a acumular o comando de armas com a presidência interina da província do Rio Grande do Sul, em substituição ao amigo pernambucano Henrique Pereira de Lucena, futuro barão de Lucena, que, eleito deputado, tivera de renunciar ao cargo. Na condição de presidente provisório, coube a Deodoro o privilégio de inaugurar a primeira linha telefônica de Porto Alegre, novidade que chegava aos
gaúchos apenas dez anos depois de exibida pela primeira vez por Graham Bell a dom Pedro II na Exposição Universal da Filadélfia de 1876. Foi de Deodoro o primeiro “alô” ouvido na sede da Companhia Telefônica em 15 de setem bro de 1886. Porto Alegre era a sexta cidade brasileira a adotar a invenção, depois de Rio de Janeiro, Petrópolis, Niterói, São Paulo e Santos. O comércio ficou com a maioria dos prim eiros aparelhos. A assinatura anual, de 120 mil réis pagos
adiantados, equivalia ao salário de um funcionário público de categoria média.[202]
Deodoro encontrava-se nessa poderosa condição — de simultaneam ente chefe militar e civil dos gaúchos — quando estourou a chamada Questão Militar. De lá seguiria para o Rio de Janeiro, onde se envolveria com a “mocidade militar” de Benjamin Constant e passaria a participar ativam ente da conspiração contra o Império. Anfriso Fialho, oficial do Exército e deputado piauiense que o conheceu nessa ocasião, descreveu o marechal da seguinte forma:
É alto, magro, moreno bronzeado, tem os olhos negros e penetrantes, lábios finos, nariz pontudo e aquilino, narinas rasgadas: todos estes traços dão-lhe à fisionomia uma aparência de águia e de grande energia. Usa toda a barba, curta, quase branca; os cabelos ainda pretos e rarefeitos no alto da cabeça, formando uma calva em coroa irregular; tem ombros largos e quadrados, mantém-se direito como um soldado perfilado. [203]
Outra testemunha da época, o coronel e futuro historiador Ernesto Senna relatou que, a despeito da aspereza da vida na caserna, Deodoro conhecia latim e gostava de música. Segundo ele, o marechal tinha o curioso hábito de cruzar os dedos e rodar os polegares enquanto conversava sentado em um a poltrona. Vaidoso, costumava aparecer à porta da Alfaiataria Rabelo, situada na rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, trajando roupas civis. “Quase sempre usava chapéu alto, preto, fraque curto da mesma cor, um tanto apertado na cintura, calça larga, deixando ver pendente do colete a corrente do relógio”, descreveu Ernesto Senna. Usava também uma bengala “cujo cabo representava a cabeça de um frade”. [204]
No final de 1888, superados os momentos mais tensos da Questão Militar, o governo buscava um motivo para afastar o marechal Deodoro do Rio de Janeiro e do centro das conspirações. O pretexto surgiu quando Paraguai e Bolívia romperam relações em virtude de um a disputa territorial na região do Chaco. Temia-se que uma guerra entre os dois países pudesse ameaçar as fronteiras do Brasil. Com a desculpa de que o clima de tensão exigia a presença
de um oficial de alta patente na região, o Ministério da Guerra despachou novam ente o marechal para Mato Grosso com a dupla função de com andante de armas da província e chefe de um a expedição militar de observação das fronteiras. “Na realidade, tratava-se de um desterro mal disfarçado”, com o observou o historiador Celso Castro.[205] Em barcou para Cuiabá em 27 de dezembro, deixando Benj am in Constant na presidência interina do Clube Militar.
Ao chegar a Mato Grosso, Deodoro deu-se conta de que fora, de fato, atraiçoado. Não havia m uito o que fazer ali. A disputa entre Bolívia e Paraguai estava longe de representar qualquer am eaça aos interesses brasileiros. Surpresa maior ele teve ao ser informado de que o governo havia nomeado para administrar Mato Grosso o coronel Cunha Matos — aquele m esm o oficial que havia detonado a Questão Militar durante um a visita de inspeção ao Piauí. Na condição de com andante de armas da província, Deodoro estaria subordinado ao novo governador. Portanto, ele, um marechal, iria responder a um coronel! Por fim, Deodoro recebeu a notícia de que o conselheiro Gaspar Silveira Martins, seu rival na vida privada e na política gaúcha, acabara de ser nomeado para a presidência da província do Rio Grande do Sul. Foi a gota d’água. Irritado com o que julgava ser um a afronta direta aos seus brios pessoais, o marechal abandonou o posto sem antes pedir autorização e tom ou um navio de volta para o Rio de Janeiro sem nunca ter exercido as novas funções.
A caminho da capital, Deodoro viajava triste também com a notícia do falecimento do irmão Severiano, ocorrido em março, durante seu desterro em Mato Grosso. Severiano Martins da Fonseca tinha sido, de todos os irmãos, o mais próximo da Monarquia. Fora conselheiro de guerra do imperador, veador (cargo equivalente ao de inspetor ou intendente) da imperatriz Teresa Cristina, comendador das ordens de Cristo e de Aviz, oficial da Rosa e do Cruzeiro. Em 2 de março de 1889, dom Pedro II o agraciou com o título de barão de Alagoas “com grandeza”, em retribuição aos bons serviços prestados ao Império. Morreu dezessete dias mais tarde. Deodoro tinha grande admiração por ele e costumava ouvir os seus conselhos. Por isso, ficara transtornado ao saber da morte do irmão. “Morreu a única pessoa que ainda podia m e conter”, afirmou na ocasião. [206]
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 13 de setembro de 1889, Deodoro era, portanto, um copo de mágoa já transbordado. E, mais do que antes, convertia-se no candidato natural da “mocidade militar” e dos oficiais republicanos para assumir a liderança da revolução.
Em 14 de setembro de 1889, dia seguinte ao do retorno do marechal Deodoro de Mato Grosso sem autorização prévia do governo imperial, um incidente menor ocorreu no Rio de Janeiro. Ao visitar a repartição do Tesouro, o presidente do Conselho de Ministros, visconde de Ouro Preto, não encontrou em seu posto o com andante da guarda, que, pelo protocolo, deveria prestar-lhe continência. Pelo relato do ministro, o tenente Pedro Carolino estava dormindo.
Na versão dos republicanos, tinha ido ao banheiro. Sentindo-se ofendido em sua autoridade, Ouro Preto mandou prendê-lo. Os jornais republicanos O País e Diário de Notícias publicaram artigos em que criticavam a “ignorância” do ministro. Dessa maneira, o tenente, que até então era um a figura apagada e “bem pouco estim ado dos seus colegas”, segundo o depoimento de Ximeno de Villeroy, foi promovido a celebridade da noite para o dia. Em cartas ao presidente do Clube Militar, dizia-se injustiçado e ultrajado pelo presidente do Conselho de Ministros.
No dia 16 de setem bro, quarenta sócios do Clube Militar enviaram um requerimento a Deodoro no qual pediam que se convocasse um a reunião com o objetivo de “tratar-se de negócio urgente e relativo aos direitos e garantias da classe” .[207] Todos os signatários eram tenentes ou alferes-alunos da Escola Superior de Guerra, ou seja, a “mocidade militar” de Benjamin Constant.
Deodoro devolveu o requerimento com uma mensagem curta e seca: “Por ora não há necessidade de reunir-se a sessão pedida”. O caso do tenente Carolino era, de fato, irrelevante, um a falta disciplinar menor que poderia ter sido tratada com uma advertência ou um a pequena punição dentro da cadeia de com ando militar. No clima explosivo que se instalara entre os militares e o governo, no entanto, tudo era pretexto para a radicalização. Os republicanos aproveitaram a ocasião para esticar a já morna Questão Militar. Era a arrancada final do processo que levaria ao golpe de 15 de novembro.
Pelos jornais, os civis continuavam a instigar os militares contra o governo imperial. No dia 10 de novembro, um artigo no diário O País, dirigido por Quintino Bocaiúva, botou lenha na fogueira ao anunciar supostas m edidas que o governo estaria preparando contra militares rebeldes. “Entre as medidas previam ente asseguradas para a instalação do Terceiro Reinado, nos consta que será apresentado ao Parlamento, pelo governo im perial, um plano de
desmobilização do Exército”, afirmava o jornal. Pelo plano, as forças do Exército até então concentradas no Rio de Janeiro seriam espalhadas “pela vasta superfície do Império”, em contingentes pequenos, “distribuindo-se, para esse fim , os batalhões pelas províncias”. À Guarda Nacional, mais fiel à Monarquia, ficaria confiada a guarda da capital do Império. Outras medidas afetavam o valor do soldo dos militares e autorizavam o governo a demitir qualquer oficial sem processo prévio.[208]
Em outra manobra desastrada, às vésperas do golpe de 15 de novembro, o governo havia transferido para o Rio de Janeiro alguns oficiais gaúchos conhecidos pela militância e pela radicalização na campanha republicana. Eram o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, de 46 anos, filho de um fazendeiro gaúcho ligado aos liberais. Sólon passara a maior parte de sua carreira no Rio Grande do Sul, mas, com a ascensão de Silveira Martins à presidência da província, foi removido para o Rio de Janeiro, onde passou a com andar o 9º Regimento de Cavalaria em São Cristóvão. No dia 6 de outubro de 1889 também chegou à corte, vindo do Rio Grande do Sul, o capitão Antônio Adolfo da Fontoura Mena Barreto, de 43 anos. Com o Deodoro, era opositor de Silveira Martins, vítima do expurgo prom ovido pelo novo presidente da província. Ao chegar ao Rio de Janeiro, passou a servir no mesmo 9º Regimento com andado por Sólon Ribeiro, onde tam bém estava o alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso. Nos dois meses seguintes, os três oficiais teriam participação fundam ental na organização do golpe republicano. Desse modo, enquanto tentava “limpar” as fileiras do Exército no Rio Grande do Sul, vistas com o um foco de subversão republicana, o governo na verdade reforçava o poder de fogo dos conspiradores concentrando-os no próprio coração do Império, o Rio de Janeiro.
Os temores se confirmaram no dia 10 de novembro, quando o 22º batalhão de Infantaria, conhecido reduto da campanha republicana, embarcou no navio Maranhão com destino ao Amazonas. Era comandado pelo coronel Carlos Magno. Ele e seus oficiais ficariam sabendo da Proclam ação da República ao chegar a Pernambuco às sete horas da m anhã do dia 16. Retornariam ao Rio de Janeiro só em 2 de janeiro de 1890. [209] Tudo isso teve a força de um estopim aceso no ânimo dos militares já em franco estado de rebelião.
No dia 14, interrogado sobre os boatos pelo ministro da Guerra, visconde de Maracaju, Floriano Peixoto respondeu: — Estamos sobre um vulcão! [210]
Sem que o visconde soubesse, entre os que alimentavam o combustível dentro do vulcão estava ninguém menos que o próprio Floriano, a essa altura já com prometido com os republicanos.
Notas
[192] Leôncio Correia, A verdade histórica sobre o 15 de Novembro, pp. 181-182.
[193] Raimundo Magalhães Júnior, Deodoro: a espada contra o Império, p. 334.
[194] Para a biografia de Mendes da Fonseca, ver Raim undo Magalhães Júnior, Deodoro: a espada contra o Império, pp. 11-22.
[195] Leôncio Correia, A verdade histórica sobre o 15 de Novembro, pp. 23-24.
[196] Celso Castro, Os militares e a República: um estudo sobre cultura e ação política, p. 82.
[197] Raim undo Magalhães Júnior, Deodoro: a espada contra o Império, p. 20.
[198] Oliveira Vianna, O ocaso do Império, pp. 182-183.
[199] Raim undo Magalhães Júnior, Deodoro: a espada contra o Império, p. 197.
[200] Deodoro e a verdade histórica, p. 76.
[201] Hélio Silva, 1889: a República não esperou o amanhecer, pp. 441 e 552.
[202] Elmar Bones, A espada de Floriano, p. 34.
[203] Anfriso Fialho, História da fundação da República no Brasil, p. 36.
[204] Ernesto Senna, Deodoro: subsídios para a história, p. 131.
[205] Celso Castro, Os militares e a República, p. 134.
[206] Raim undo Magalhães Júnior, Deodoro: a espada contra o Império, p. 348.
[207] Celso Castro, Os militares e a República, p. 159.
[208] Claudio da Costa Braga, El último baile del Imperio, p. 29.
[209] Ernesto Senna, Deodoro: subsídios para a história, p. 33.
[210] Ibidem , p. 41.
Texto de Laurentino Gomes em " 1889- como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da República no Brasil",Editora Globo, São Paulo, 2013, capítulo 10. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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