"Do desejo desnaturado, insaciável das mulheres, qual país, qual vila não reclama?"
Robert Burton, The Anatomy of Melancholy [A anatomia da melancolia], 1621, p. 541
"Por que as mulheres têm mais fantasia no amor do que os homens? Só pode ser porque elas têm mais desejos, mais paixões instigantes, mais lascívia, e mais do demônio".
William Wycherley, The Country-Wife [A esposa campestre], ato iv, cena 2, 1675
"Como sexo, as mulheres são mais castas que os homens [...] Os homens decerto estão mais sujeitos à influência de seus apetites que as mulheres".
Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Woman [Vindicação dos direitos da mulher], 1792, pp. 281, 312
" A maioria das mulheres (felizmente para elas) não é muito perturbada por nenhuma espécie de sentimento sexual. O que os homens são habitualmente, as mulheres são apenas excepcionalmente."
William Acton, The Functions and Disorders of the Reproductive Organs [As funções e distúrbios dos órgãos reprodutivos], 4ª ed. 1865, p. 112
Desde os primórdios da civilização ocidental, sempre se havia pressuposto que as mulheres eram o sexo mais lascivo. A versão mais extrema e mais misógina deste argumento afirmava que as mentes das mulheres eram tão corruptas, e seus úteros tão ávidos, seu “fogo amoroso” tão voraz, que de fato “se tivessem a ousadia, todas as mulheres seriam promíscuas”.[344] De um modo mais geral, a ideia era simplesmente que, embora o desejo da carne fosse uma tentação universal, as mulheres eram mental, moral e corporalmente mais fracas que os homens — menos racionais, menos capazes de controlar suas paixões, menos capazes de autodisciplina. Na verdade todo o pecado humano, assim se ensinava aos cristãos, provinha em última instância da fraqueza original de Eva, a primeira mulher: a impureza do sexo era, em si, apenas mais uma manifestação disto. O princípio da debilidade e lascívia feminina era um lugar-comum do pensamento bíblico, clássico, medieval e renascentista. Como historiadores, críticos literários e outros estudiosos já exploraram amplamente, este era um elemento básico e constituinte do universo conceitual pré-moderno.[345]
Dada a ideia inconteste de que as mulheres se excitavam facilmente, também se acreditava de um modo geral, até o século xviii, que o orgasmo feminino fosse essencial à gravidez: sem ele, nenhuma criança podia ser concebida. É por isso que Samuel Pepys, após atingir o clímax durante o sexo com uma de suas amantes ilícitas, ficou imediatamente apavorado ao achar que talvez a pudesse ter levado ao orgasmo também — até que o tom de voz da mulher garantiu a ele que isso não acontecera. Isto também explica a fala ofegante da criada Anna Harrison, que na década de 1690 complementava sua renda fazendo sexo casual com conhecidos. “Por favor depressa, depressa, depressa”, ela exclamou, enquanto um homem penetrava seu corpo, “temo que me faças um filho [...] não, não, preciso acautelar-me contra isso, é coisa assaz problemática ter um filho, sem nenhum pai que o assuma.” A visão ortodoxa era que, como advertiu o devoto e monogâmico John Evelyn a uma jovem noiva em 1676, evitar o orgasmo feminino durante o coito era “não apenas impossível, como uma estupidez”.[346]
Já em 1800, no entanto, a ideia exatamente oposta havia-se firmado de maneira sólida. Agora se acreditava que os homens eram muito mais libidinosos por natureza, e propensos a seduzir mulheres. As mulheres tinham passado a ser vistas como criaturas comparativamente delicadas, defensivas e sexualmente passivas, que precisavam estar o tempo todo em alerta contra a voracidade masculina. Não mais se pensava que o orgasmo feminino fosse essencial para a procriação.
Esta mudança já estava bem avançada na metade do século xviii. Ela foi expressa de forma mais notória nos primeiros grandes romances em língua inglesa, que surgiram nas décadas de 1740 e 1750. Como o crítico Ian Watt observou mais de cinquenta anos atrás, a ideologia sexual que eles personificavam era “uma novidade histórica [...] em completa contradição” com toda a literatura anterior: eles marcaram “uma epifania muito notável na história da nossa cultura”. Nunca antes existira esta distinção entre a lascívia irreparável dos homens e a essencial assexualidade das mulheres virtuosas; no entanto, a partir desse ponto, esta visão do sexo tornou-se “um componente essencial da nossa civilização”. Desse momento em diante, tornou-se inconteste a ideia de que o sexo feminino era, inerentemente, menos libidinoso que o masculino. Os efeitos desse novo pressuposto viriam a ser ainda mais profundos. Ao longo dos séculos xix e xx, a noção da relativa passividade sexual das mulheres foi fundamental para a dinâmica de gêneros em todo o mundo ocidental.[347] Seus efeitos eram onipresentes — e ainda são.
EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS?
quase nunca se pergunta como esta transformação veio a acontecer.[348] Em vez disso, historiadores, críticos literários, filósofos, teóricos do direito e outros estudiosos costumam encará-la sem questionamento, voltando o foco para suas consequências, muitas vezes supondo que a mudança foi resultado de novas ideias científicas. Especialmente influente na consolidação desta premissa foi o trabalho de Thomas Laqueur, cuja obra Making Sex: Body and Gender from the Greeks to Freud [Construindo o sexo: corpo e gênero, dos gregos a Freud] (1990), merecidamente célebre, domina os estudos históricos atuais sobre sexo e gênero. O livro é um belo estudo de caso de como algumas ideias médicas foram socialmente construídas ao longo da história do Ocidente. Os termos em que os cientistas descreviam o corpo, como mostra Laqueur, jamais eram neutros, mas sim derivados de premissas culturais em desenvolvimento, referentes à natureza dos homens e mulheres. Do período Clássico até o Iluminismo, geralmente se acreditava que ambos os sexos compartilhavam da mesma constituição anatômica básica; enquanto, depois disso, passou-se a dar uma ênfase muito maior, embora nunca exclusiva, às diferenças físicas supostamente inatas entre eles.[349]
O professor Laqueur está bastante ciente de que as mudanças nas ideias preconcebidas sobre anatomia refletiam transformações culturais mais gerais, não tanto avanços científicos — isto é parte de seu argumento. Quanto a quais foram de fato estes “novos fenômenos sociais e políticos”, e como eles se relacionavam às mudanças intelectuais, “estudos mais detalhados são necessários”. Entretanto, ele também sugere que “a reconstrução do corpo” foi a mudança mais profunda de todas: ela deu forma aos “vastos campos discursivos que estão por trás das ideologias concorrentes, que definem os termos do conflito, e que dão sentido a diversos debates”. Ela não foi “causada”, mas sim era “ela própria intrínseca à” ascensão da religião evangélica, a teoria política do Iluminismo, o desenvolvimento de novos tipos de espaços públicos no século xviii, ideias lockianas sobre o casamento como contrato, as possibilidades cataclísmicas de mudança social forjadas pela Revolução Francesa, o conservadorismo pós-revolucionário, o feminismo pós-revolucionário, o sistema de fábricas com sua reestruturação da divisão sexual do trabalho, a ascensão de uma nova livre economia de mercado nos ramos de serviços ou commodities, o nascimento das classes.
Não é surpresa que, na falta de uma explicação alternativa, muitos historiadores hoje em dia simplesmente invoquem as mudanças nas ideias médicas do fim do século xvii e do século xviii como se elas próprias tivessem dado origem a novas atitudes em relação à sexualidade masculina e feminina.[350]
Na verdade, a mudança pode ser explicada adequadamente adotando uma visão mais ampla. Mesmo em 1800, as ideias biológicas sobre comportamentos sexuais continuavam tendo uma influência independente muito menor do que viriam a ter nos séculos xix e xx. É verdade que as pessoas de fato começaram a ver o corpo masculino e o feminino de um modo diferente ao longo do século xviii, mas isto não fez mais que reproduzir a transformação cultural mais ampla. Como veremos, a mudança no equilíbrio de ideias sobre a lubricidade relativa de homens e mulheres foi articulada antes disso, e com maior influência, através de outros modos mais gerais de pensar a natureza, a cultura e a sociedade: em peças e romances, no jornalismo, na poesia, obras de teologia, filosofia e comentário moral. Este capítulo começará descrevendo as características mais óbvias da mudança, e terminará explicando a coincidência notável entre duas das inovações culturais mais duradouras do século xviii — a ascensão do romance, e o culto à sedução.
A ASCENSÃO DO LIBERTINO
o primeiro fenômeno foi o crescimento do princípio de que os homens eram inevitavelmente vorazes. A ideia de que eles podiam ter fortes impulsos sexuais não era nova, é claro. Era um lugar-comum da doutrina cristã afirmar que o desejo carnal era um impulso elementar, parte da natureza decaída de ambos os sexos. O estupro e a sedução de mulheres sempre tinham sido, portanto, perigos óbvios. Quando os homens cediam à paixão pecaminosa, lamentava a homilia oficial da dinastia Tudor, “quantas donzelas são defloradas, quantas esposas corrompidas, quantas viúvas aviltadas?”. “Nós mulheres”, advertiu Dorothy Leigh em 1616, sabemos “que os homens espreitam por toda parte para nos enganar, como fizeram os anciãos para enganar Susana”. Já na Idade Média, eclesiásticos haviam lamentado que mulheres fossem levadas para a cama sob falsas promessas de casamento. Muitas discussões sérias sobre o adultério também enfatizavam a maior culpabilidade do homem, por corromper as esposas e os casamentos alheios. Como reconheceu um dos líderes da Igreja da Escócia no meio do século xvii, “o homem é normalmente o tentador”. “Se Deus não houvesse restringido a lascívia por meio de leis”, observou outro teólogo influente em 1673, “isso teria tornado o sexo feminino assaz desprezível e infeliz, e mais abusado pelos homens do que os cachorros o são” — os homens teriam violentado mulheres à vontade, ou usado e descartado uma após a outra.[351]
Na realidade, também, os homens eram mais agressivos sexualmente. Embora sua caça às mulheres fosse baseada em ideias preconcebidas sobre o desejo e a fragilidade moral feminina, são a importunidade e o assédio masculino que dominam os registros da vida cotidiana na maior parte da população. Em tese deveria haver uma distinção clara entre o sexo consensual e o não-consensual. O estupro era um crime capital: nenhum homem tinha o direito de tomar uma mulher à força (embora dentro do casamento este conceito não fizesse sentido, pois uma esposa pertencia a seu marido). No entanto, o estigma de incastidade associado mesmo às mulheres estupradas, junto com a impossibilidade de conseguir uma condenação sem evidência de lesões graves ou a presença de testemunhas, significava que os julgamentos por este delito eram raros. A crença comum de que a concepção era impossível sem orgasmo acrescentava mais uma complicação terrível ao destino das mulheres engravidadas à força. Em 1632, uma jovem de Waltham Holy Cross explicou a um tribunal que seu estuprador “usara de muita violência com ela, arrastando-a pelos campos, e disse que a mataria se ela não se deitasse com ele, e estando muito apavorada e temendo por sua vida, ela cedeu a ele”. No entanto, como trazia um filho dele, foi ela quem foi punida e obrigada a pagar penitência pública na igreja. Ao mesmo tempo, a suposição de que em todos os casos, salvo estupro, a mulher era parcialmente responsável, ou tinha pouca razão para se queixar, legitimava uma vasta gama de comportamentos que, na verdade, eram mais predatórios do que consensuais. Como concluiu certo distinto estudioso da vida na Inglaterra no século xvii, “alguma forma de assédio sexual era sentida por um número muito grande de mulheres, possivelmente a maioria”.[352]
Eis por exemplo Samuel Pepys, em fevereiro de 1664, aos trinta anos de idade, presenciando o abuso de uma jovem e desejando ele próprio participar do ato: “Hoje, tarde da noite, subindo a Ludgate Hill em meu coche, vi dois cavalheiros e seus lacaios tomando uma bela moça em quem estive muito de olho recentemente [...] uma vendedora de fitas e luvas. Eles pareciam arrastá-la com alguma força, porém a moça foi, e acredito que recebeu o que merecia; mas Deus me livre, que pensamentos e desejos eu tive de estar no lugar deles”. Ainda nesse mesmo ano, seu diário registra alguns de seus primeiros encontros com a bela esposa de seu subordinado, William Bagwell. Por mais de 25 anos, ele ficou de promover Bagwell: “Sou seu amigo e sempre fui e serei”, ele escreveu ao homem em 1687. Não sabemos o nome da esposa: em todos os diários e toda a correspondência de Pepys, o nome jamais é mencionado. E no entanto, desde o momento em que conheceu o casal, Pepys a assediou sem nenhum escrúpulo — ainda estava dormindo com ela quando seu primeiro diário terminou em 1669. Foi assim que começou seu relacionamento sexual, após vários encontros preliminares em que ele começara a impor-se sobre ela com beijos e apalpadelas, apesar da resistência óbvia da mulher:
15 de novembro de 1664 [numa taverna]: e lá a acariciei, e comi e bebi, e muitos olhares duros e suspiros a pobre coitada me lançou, e acho que ficou assaz perturbada com o que fiz; mas por fim, após muitos protestos, pouco a pouco alcancei o que queria, com grande prazer.
20 de dezembro de 1664 [na casa dos Bagwell]: as pobres pessoas me trouxeram um jantar à sua moda — do qual também comi muito bem. Após o jantar achei ocasião para mandá-lo embora; e então sozinho avec elle je tentais à faire ce que je voudrais, et contre sa force je le faisais, bien que passe à mon contentement [sozinho com ela tentei fazer o que queria, e o fiz contra sua resistência, muito a meu contento].
23 de janeiro de 1665: [...] achando a sra. Bagwell esperando no escritório após o jantar, fomos elle [ela] e eu a um cabaré onde elle e eu avons été [estivemos] antes; e lá tive a companhia dela toute l’après-dîner [o tempo todo depois do jantar] e tive mon plain plaisir d’elle [meu pleno prazer dela] — mas estranhei ver como uma mulher, apesar de suas grandes demonstrações de amor à son mari [a seu marido] e de religião, pode ser vaincue [vencida].
20 de fevereiro de 1665: [...] estando escuro, entrei discretamente en la maison de la femme de Bagwell [na casa da mulher de Bagwell], e lá tive sa compagnie [sua companhia], embora com grande dificuldade; néanmoins, enfins j’avais ma volonté d’elle [mesmo assim, no fim tive o que queria dela]. E com isto estando saciado, voltei para casa.
25 de fevereiro de 1665: acordei e fui ao escritório (sentindo uma forte dor no indicador da mão esquerda, de um estiramento recebido ontem à noite ao lutar avec la femme que je [com a mulher que eu] mencionei ontem).[353]
Ainda mais grosseiras eram as importunidades de inúmeros homens (incluindo novamente o próprio Pepys) que se aproveitavam da vulnerabilidade de suas jovens criadas domésticas. Só quando a mulher vitimizada engravidava é que estes casos tinham sequer alguma chance de ser registrados legalmente; porém o tom resignado em que costumavam ser recontados, e a reação contemporânea a eles, evocam uma cultura muito mais ampla de exploração sexual disfarçada de prerrogativa patriarcal. O patrão de Alice Ashmore, uma cozinheira, “teve o uso e conhecimento carnal dela” durante um ano, “às vezes no próprio quarto dele, em sua cama, e em diversos outros lugares onde quer que pudesse encontrá-la sozinha”. Quando ela dizia não, ele retrucava rispidamente “és minha criada e posso fazer contigo o que me aprouver”; mas quando ela engravidou, ele negou a paternidade, e ela foi levada a julgamento por bastardia em Bridewell. Sempre que ela entrava no quarto do patrão de manhã, contou outra criada ao Tribunal de Bridewell no mesmo ano, 1605, ele “a puxava para sua cama, e lá abusava de seu corpo”. A exploração mais brutal de todas eram os estupros e abusos secretos de crianças, às vezes aparentemente inspirados pela trágica crença popular de que fazer sexo com uma menina virgem curava um homem de doenças venéreas. Em toda parte, mesmo entre pessoas de mesma condição social, havia sempre uma lacuna irredutível entre o senso de prerrogativa sexual da maioria dos homens e a experiência de vulnerabilidade da maioria das mulheres. É por isso que, mesmo em Shakespeare, com sua incomparável inventividade, a linguagem do sexo sempre foi dominada pelos temas básicos de homens caçando, possuindo, assediando e conquistando mulheres.[354] Para nossos próprios padrões, o equilíbrio de poder entre homens e mulheres era claramente enviesado, e a atuação e o consentimento da mulher nos assuntos sexuais eram muito limitados.
Do mesmo modo, os conceitos mais amplos que nossos ancestrais usavam também eram historicamente específicos. No século xviii, a definição básica de “sedução” era induzir uma mulher a fazer sexo ilícito porém consensual. Embora ambas as partes talvez fossem culpáveis por seu ato, a sedução em si não era um crime — mesmo que se desse através de um engodo, como uma falsa promessa de casamento. No entanto, porque a violência sexual masculina tendia a ser tão banalizada, os significados contemporâneos de sedução também coincidiam com comportamentos que hoje veríamos como assédio sexual, coerção, abdução ou estupro. Na verdade, era uma cultura em que mesmo o próprio estupro costumava ser tratado como piada — com base na ideia de que todas as mulheres secretamente desejavam ser violentadas, e que nunca se podia acreditar nelas quando alegavam ter sido tomadas contra sua vontade. Esta era uma mensagem antiquíssima, reciclada para efeito cômico pelas primeiras dramaturgas mulheres, como Mary Pix e Charlotte Lennox, assim como em inúmeras fantasias masculinas. Como muitos homens de sua época, por exemplo, Henry Fielding era fascinado pela violência sexual. Como veremos mais adiante neste capítulo, ele lidou ao longo de sua vida toda com as complexidades da paixão masculina e feminina, da sedução, e da injustiça sexual. Mas por enquanto, para entrar em sintonia com a mentalidade que ele e seus contemporâneos herdaram, comecemos ouvindo sua versão anônima do famoso (e infinitamente lido) conselho dado aos amantes pelo poeta romano Ovídio, de como são as mulheres, o que realmente querem, e como dar isso a elas. Nós homens, instrui ele a seus leitores, somos mais capazes de comandar nossas emoções, nem nossos desejos são tão furiosos, e excedem todos os limites, quanto os delas [...]. Cada nova armadura lhes agrada, e todas anseiam pelos amantes e maridos de outras mulheres.
[...]
Talvez ela vá te arranhar, e dizer que és rude: apesar dos arranhões, ela estará contente que leves a melhor [...]. Agora, quando tiveres avançado até os beijos [continua seguindo] até o fim de tua jornada! [...]. As garotas talvez chamem isso de violência, mas é uma violência que lhes é agradável. Pois elas muitas vezes são desejosas de ser agradadas contra sua vontade. Pois uma mulher tomada sem consentimento, a despeito de suas caretas, muitas vezes está bem satisfeita em seu coração, e tua impudência é tomada como um favor; enquanto aquela que, quando predisposta a ser violentada, retirou-se intocada, por mais que finja sorrir, na verdade está de mau humor.
Embora Fielding imediatamente advirta seus leitores modernos de que esta é a visão de Ovídio, e não a sua (pois “violentar está de fato fora de moda nesta época”), há muitos outros trechos em sua própria obra, assim como em todo o cânone literário ocidental antes e depois do século xviii, que ilustram um ponto de vista semelhante.[355] A fronteira entre coerção e consentimento nem sempre é fácil de discernir. Em tudo o que veremos em seguida, e principalmente ao considerar as atitudes contemporâneas em relação à sedução, precisamos ter em mente estas diferenças básicas entre nossos próprios pressupostos sobre as relações de gênero, e os dos homens e mulheres (principalmente homens) do passado.
Ficará claro que, mesmo antes do século xviii, a interminável repetição pública de chavões sobre a lascívia feminina era, até certo ponto, compensada por uma percepção da voracidade masculina. Entretanto, era justamente por o desejo carnal ser reconhecido como uma força perigosa que tradicionalmente se atribuíra um grande valor ao seu domínio. Já que os homens eram tanto intelectual quanto corporalmente superiores às mulheres, eles deviam, portanto, ser mais capazes de exercer este autocontrole. Esta forte equação entre castidade e autodisciplina racional era outro motivo por que as discussões clássicas, medievais e renascentistas sobre a imoralidade masculina muitas vezes a retratavam como mais voluntária e mais repreensível do que os lapsos sexuais de mulheres e jovens, que eram criaturas mais fracas e menos maduras.[356] Nas décadas anteriores ao ano de 1700, no entanto, a antiga estrutura da disciplina sexual começou a se desmantelar. Como vimos, sua base intelectual foi cada vez mais erodida por argumentos a favor de uma maior liberdade sexual para os homens, enquanto sua força prática foi seriamente solapada pela crescente complexidade da vida urbana, o fatal enfraquecimento dos tribunais eclesiásticos, e o declínio da regulação moral comunitária. Em resumo, algumas das pressões mais importantes para a continência sexual masculina de repente começaram a ceder.
O efeito desta mudança de circunstâncias pode ser visto no crescimento das atitudes libertinas na corte de Carlos ii. Como parte de sua inversão consciente dos valores convencionais, os libertinos cultivavam um etos em que a lascívia irrefreada era vista como algo que acentuava, e não diminuía, o prestígio masculino. A reação imediata a isto foi fortemente hostil, mesmo entre os partidários mais leais do rei. A maioria dos primeiros observadores via aquilo em termos convencionais, como a falência pessoal de homens que careciam de autodisciplina e haviam passado a ser governados por seus apetites mais vis. Esta percepção era reforçada por temores da ira divina, assim como pela relação tradicional entre libertinagem e tirania política. Mesmo os próprios libertinos compartilhavam destas associações entre luxúria e degeneração. Apesar de toda a sua fanfarrice sobre a conquista sexual masculina, os escritos libertinos sobre sexo são notavelmente obcecados pela insaciabilidade das mulheres e os efeitos emasculantes do excesso de sexo. Eis aqui o conde de Rochester, imaginando um diálogo entre duas das amantes de Carlos ii (“Sodom” era um bairro mal-afamado de Londres; o último verso refere-se a outros dois dos muitos amantes da duquesa de Cleveland):
Disse a duquesa de Cleveland à conselheira Knight, “Gostaria de um caralho, se soubesse como obtê-lo.Desejo que em segredo me dês o teu conselho: Embora a cona não seja tímida, a reputação é boa”.
“A alguma adega em Sodom deve Sua Graça retirar-se .Onde porteiros se sentam com panelas pretas ao redor do fogo; Ali abrir sua caixa, e Sua Graça obterá com certeza ma dúzia de caralhos por uma dúzia de cervejas.” “É mesmo?”, disse a duquesa. “Ai, por Deus!” disse a rameira. Então dá-me a chave que destranca a porta dos fundos, Pois eu preferiria ser fodida por porteiros e carroceiros A ser assim abusada por Churchill e Jermyn.”
De forma igualmente impiedosa, ele descrevia o próprio rei e outra amante, Nell Gwyn: Seu cetro e seu caralho são do mesmo comprimento; E aquela que brinca com um pode empunhar o outro... Pobre príncipe! teu caralho, como teus bufões na Corte, Vai governar-te, pois é ele que faz teu esporte... Incansável ele rola de uma rameira para a outra, Um monarca alegre, escandaloso e pobre... Isto creríeis, se eu tivesse tempo de contar-vos Os esforços que custam à pobre, laboriosa Nelly, Enquanto ela emprega mãos, dedos, boca e coxas, Até conseguir erguer o membro que lhe agrada.
Havia um temor disseminado de que os efeitos desta corrupção contagiassem toda a sociedade. Como outro poeta criticou Carlos ii, Teu vil exemplo arruína a cidade inteira, Pois todos mantêm rameiras, desde nobres até palhaços.
O rebento de uma esposa é semente espúria;
E nenhum é legítimo, mas sim raça mestiça.
Tu, e teus ramos, misturastes a linhagem,
Jamais veremos um pimpolho genuíno outra vez.[357]
No entanto, apesar desta apreensão, porque esse era o etos de um grupo tão prestigiado de homens, e porque não era punido, a visibilidade da libertinagem da Restauração também fortaleceu muito a associação entre permissividade sexual e eminência social. Muito além da corte e da capital, os ideais libertinos passaram a ser defendidos como algo que estava na moda. Como um homem de Leicestershire se justificou com um descaso arrepiante na década de 1660, após ter estuprado e engravidado sua criada, “essa era a moda hoje em dia [...] a melhor espécie de fidalgos no campo agora mantém uma meretriz em casa”.[358]
Foi este tipo de permissividade crescente que virou alvo do movimento pela reforma dos costumes após 1688.[359] No entanto, o foco efetivo da campanha em atos imorais das classes mais baixas, aliado ao avanço de argumentos a favor da liberdade sexual, levou a uma mudança significativa nas atitudes em relação à licenciosidade masculina. No começo do século xviii, como vimos no capítulo anterior, passara-se a acreditar amplamente que a corrupção dos costumes sexuais era tão disseminada que não podia ser erradicada por tentativas de reformar os indivíduos um por um, muito menos à força. A punição de infratores sexuais agora parecia apenas um paliativo superficial. O verdadeiro problema não era que alguns indivíduos escolhessem o vício, ou caíssem nele: era que os homens em geral, principalmente aqueles nas esferas mais altas, careciam de senso moral. Eles o menosprezavam tanto, comentou Jonathan Swift em 1709, que “qualquer homem [...] comenta que está indo a uma meretriz, ou que contraiu gonorreia, com a mesma indiferença com que comentaria uma notícia pública”. Que um homem da vida elegante aspirasse à castidade, observou o Guardian alguns anos depois, tornara-se “ridículo”. Embora os fornicadores e sedutores ainda sentissem pontadas de culpa, estas haviam se tornado fáceis de superar. Hoje em dia, entre “homens da moda”, “as restrições da vergonha e ignomínia são rompidas pela predominância do costume”.[360]
Este pessimismo pode ser encontrado nas opiniões de muitos moralistas anteriores. No começo do século xviii, porém, ele adquiriu uma nova força. O contexto mudara radicalmente: tanto a teoria quanto a prática da disciplina sexual agora estavam, pela primeira vez na história, gravemente comprometidas. Além disso, novas maneiras de explicar a imoralidade sexual estavam ganhando terreno, o que solapava o pressuposto cristão básico de que, em última instância, homens e mulheres eram pessoalmente responsáveis por seu comportamento moral. Como parte das tentativas de entender o mundo de modos empiricamente mais sofisticados, o equilíbrio começou a se afastar de seu foco tradicional no livre arbítrio, rumo a modos de pensar que davam mais ênfase às forças impessoais e estruturais da natureza e da sociedade que pareciam impelir diferentes sexos e classes de pessoas a se comportar de jeitos específicos.
Estas tendências, junto com a ascensão das atitudes libertinas, aos poucos criaram um lugar-comum poderosíssimo de astúcia masculina e vitimização feminina. Durante muitos séculos existira uma associação indestrutível entre a lascívia feminina e o pecado original de Eva, a cúmplice do Diabo, cuja fraqueza, se dizia, e cujo ato de tentar Adão à carnalidade haviam prefigurado as artimanhas das mulheres ao longo das eras. Agora, todos estes atributos negativos passaram a ser transpostos para a personalidade sexual dos homens. “Em nossa busca geral por sexo”, observou Daniel Defoe já em 1706, “o Diabo geralmente faz agir o homem, não a mulher.” “Toda arte que pode ser praticada, toda armadilha que pode ser armada para a beleza e a virtude”, concordou Henry Fielding, era pelos homens “praticada e armada hoje em dia” — “a mais abjeta fraude e traição não é constantemente usada nesta ocasião?” As mulheres, em contrapartida, “raramente se desviam, a não ser quando levadas por homens para um mau caminho; por quem elas são enganadas, corrompidas, traídas, e muitas vezes levadas à destruição, de corpo como de alma”. “O homem”, concluiu sem rodeios um crítico em 1754, “é sempre o tentador e o sedutor.”[361]
A própria Eva não era mais vista como instrumento de Satanás, mas sim como a primeira mulher seduzida. Sua queda pressagiava “uma sedução geral de seu sexo; pois toda mulher em estado de inocência hoje em dia é assediada por um tentador de igual astúcia [...] se as mulheres herdam a credulidade e a fraqueza de Eva, os homens estão igualmente dotados da arte e sutileza do Diabo”. Como uma cobra, advertiu um pastor, “o sedutor [...] empenha-se para fascinar, e depois destruir!”. O homem lascivo, concordava o autor de Advice to Unmarried Women [Conselhos para mulheres solteiras] (1791), era um perigo onipresente, insidioso, a ser evitado “como a serpente que ludibriou a primeira do vosso sexo”. Na verdade, como geralmente se concordava, os homens tinham não só a inspiração do Diabo, mas todas as suas vantagens injustas sobre sua presa mais fraca e incauta. Assim como ele, os homens eram mestres da insinuação e da enganação, decididos a corromper a virgem sem culpa: “O sedutor estende sua rede, contra a inocência ingênua e desprevenida. Sonhos dourados, e alegres deleites embalam sua imaginação e sua consciência: e ela não pensa em mais nada, até que desperta de seu sonho — e vê-se arruinada”. Através de seus cúmplices masculinos, Satanás agora estava continuamente infligindo às mulheres “a mesma catástrofe fatal que aconteceu no Éden tantos milhares de anos atrás”.[362]
LIBERTINOS E MESSALINAS
mesmo as atitudes em relação às prostitutas foram radicalmente remodeladas nas décadas após 1700. A visão tradicional que se tinha delas sempre fora fortemente incompreensiva. Afinal, o arquétipo bíblico da prostituta libidinosa, que destruía homens desprevenidos, personificava a visão convencional que se tinha das mulheres como o sexo mais lascivo, mais perigoso. Assim como Maria Madalena, as prostitutas podiam se arrepender, mas não fosse por isso, seu comportamento era concebido principalmente como uma forma extrema de promiscuidade feminina. Apesar do antigo argumento de que este era um mal necessário, pois sem eles os homens cometeriam “adultérios, defloramento de virgens, luxúria antinatural, e coisas do gênero”, a ideia de que as próprias prostitutas podiam ser vítimas da sedução masculina, ou do desespero econômico, era quase invisível na escrita séria antes de 1700. Apenas no palco as prostitutas às vezes eram retratadas como algo mais que pecadoras obstinadas e gananciosas. Mesmo nestes casos, no entanto, a culpabilidade masculina pelo destino delas continuava sendo um tema muito secundário. Embora a prostituição fosse um símbolo óbvio da amoralidade e corrupção do mundo, em última instância as prostitutas, como todos os homens e mulheres, eram consideradas pessoalmente responsáveis por suas escolhas morais, seus próprios pecados e sua própria redenção. Na dramaturgia do século xvi e começo do xvii, as mulheres enganavam, seduziam e iludiam os homens sexualmente tanto quanto o contrário. Isso implica que a batalha dos sexos está razoavelmente equilibrada, e o futuro ético dos indivíduos está principalmente em suas próprias mãos e nas do destino.[363]
Mesmo nos últimos anos do século xvii, a maioria dos comentadores continuava fiel a estes pressupostos. Em The Night-Walker [A caminhante noturna] (1696–1697), a mais extensa discussão sobre prostituição escrita no período, o influente jornalista e livreiro John Dunton entreteceu histórias secretas e entrevistas supostamente reais para provar que a maioria das prostitutas simplesmente cedia a sua natureza corrupta. Muitas eram tentadas pela primeira vez à fornicação “para satisfazer uma pequena comichão por um prazer roubado”, e, uma vez atiçada, a libido feminina — “as poderosas inclinações da natureza” — era difícil de conter. Se seus maridos revelavam-se inadequados, isso forçava as mulheres a seduzir aprendizes, pagar estranhos, ou ir à cidade. Na verdade, havia “tal feitiço no pecado” que muitas prostitutas continuavam exercendo essa profissão “apenas para satisfazer os desejos da carne”. Embora outros fatores pudessem contribuir, a responsabilidade primária por seu destino geralmente recaía sobre a própria mulher. De modo semelhante, a publicação atacava o libertinismo masculino como o fracasso pessoal e obstinado de certos homens na manutenção dos padrões corretos de comportamento.[364]
No entanto, pouco mais de uma década depois, em meio à crescente oposição às sociedades reformistas, a opinião pública dominante havia se deslocado de forma decisiva rumo à noção oposta de prostituição e de voracidade masculina. Na década de 1710, já estava virando moda analisar a imoralidade principalmente em termos de pressões sociais e restrições estruturais, que afetavam diferentes grupos da sociedade de maneiras diferentes. Como articulou diversas vezes o Spectator (1711–1714), a publicação mais influente e mais lida da época, as “prostitutas pobres e públicas” não eram pecadoras independentes e culpáveis por escolha própria mas, em grande parte, vítimas inocentes — da necessidade financeira, da exploração de cafetões e cafetinas, e da sedução de homens de condição superior. “O caso lastimável de muitas delas”, concluía o periódico, era que elas eram aliciadas “sem a mínima suspeita, tentação anterior, ou admonição”. De modo semelhante, “a prevaricação, e especialmente a parte ardilosa da captura [...] a prática de iludir mulheres” era cada vez mais retratada como uma norma social estabelecida, um dos vícios centrais da época. Os cafetões e libertinos juntos agora eram considerados os principais responsáveis pela prostituição, e sua culpabilidade contrastava fortemente com a das mulheres inocentes e dignas de pena cujas vidas eles destruíam. “Servitus crescit nova”, advertiu Richard Steele, citando Horácio — “um novo grupo de escravas está crescendo”.[365]
A mesma atitude também era cada vez mais dominante na escrita popular. Era evidente, explicou um jornalista da Grub Street em 1723, que as prostitutas eram “mulheres infelizes e arruinadas que merecem mais nossa comiseração do que nosso desprezo”. Na verdade “a paixão de nenhuma mulher pode ser tão forte a ponto de levar a qualquer ato criminoso em assuntos amorosos, se a violenta lascívia dos homens, e suas artimanhas fatais, não soprassem e alimentassem esse fogo em donzelas desprotegidas, o que frequentemente termina em sua completa ruína”. A verdade básica, concordava outro, era que “a proposta do homem as tenta à luxúria, a necessidade sucede o pecado, e a carência dá fim à vergonha”. Esta era exatamente a narrativa mostrada na famosa série pictórica de William Hogarth, A Harlot’s Progress [Trajetória de uma messalina] (1730–1732), cuja abertura mostra justamente o momento da aliciação, já contemplado pelo Spectator duas décadas antes: “Uma estalagem na metrópole”, a chegada de “uma carruagem do campo”, “a cafetã mais astuta da cidade pequena, examinando uma belíssima menina do campo, que viera na mesma carruagem” com, no fundo, o libertino para quem ela está sendo aliciada. Depois disso, seguia-se sua inevitável desonra, decadência e destruição, “da devassidão paparicada nas residências dos ricos, até que sua aflita vileza indigente lhe tirasse o refúgio do bordel”, e então sua morte ignominiosa (ver ilustração 21).[366]
Em 1730, as discussões sobre prostituição e culpabilidade já tendiam, portanto, a acontecer num tom marcadamente diferente do que acontecia até o final do século xvii. Continuava sendo um lugar-comum que as prostitutas eram perigosas agentes da corrupção, predadoras de rapazes incautos. No entanto, agora esta ideia era cada vez mais equilibrada pela percepção de que elas próprias eram, originalmente, vítimas inocentes da sedução de cafetões e libertinos, e que continuavam exercendo este modo de vida principalmente devido à necessidade econômica e ao ostracismo social. Sendo assim, era a voracidade masculina, e não a lascívia feminina, que estava na raiz do problema.
Esta nova ideia foi impulsionada pelos textos de Mandeville sobre a prostituição, que assumiam sem questionamento que a paixão sexual masculina era uma força natural irrefreável, e a corrupção de mulheres sua consequência inevitável. Sua crescente popularidade também se refletiu em The London Merchant [O mercador de Londres], de George Lillo, uma das primeiras tragédias inglesas sobre os dilemas morais de pessoas comuns. A peça foi um sucesso instantâneo quando estreou em 1731, e depois tornou-se uma das obras de êxito mais duradouro dos palcos ingleses e americanos no final do século xviii. Seu enredo era tirado de uma velha história popular — a de George Barnwell, um aprendiz de Londres levado por sua amante prostituta a roubar, assassinar, e ser executado na forca. Em todas as versões anteriores da história, a tentadora Sarah Millwood fora retratada como uma prostituta intrinsecamente má e dissimulada. No entanto, na versão de Lillo, pela primeira vez, lhe é dada uma história de fundo que explica sua personalidade. Descobre-se que não foram suas próprias inclinações, mas sim a natureza egoísta, hipócrita e predatória dos homens que a arruinara primeiro: “Que esforços eles não estão dispostos a fazer, que artifícios não estão dispostos a usar, para nos seduzir em nossa inocência, e nos tornar desprezíveis e perversas, mesmo na opinião deles próprios?”. Ela mesma havia outrora sido ingênua e sem culpa, dotada de inteligência e beleza: no entanto, os homens tinham “me roubado esses dons, antes que eu soubesse seu valor; depois me largaram tarde demais, a contar o valor deles por sua perda. Veio um saqueador após o outro, e meu ganho foi apenas pobreza e repreensão”. “Não passamos de escravas dos homens”, exclamava ela com amargor; era a exploração delas pelo “sexo bárbaro” que ensinava mulheres como ela própria a ser perversas e avarentas. Uma vez arruinadas, elas não tinham opção senão se manter, por sua vez, como predadoras da “parte jovem e inocente do sexo, que jamais tendo causado dano a mulheres, não receia nenhum dano vindo delas”.[367]
No meio do século, a noção da prostituta como vítima havia se arraigado com firmeza, mesmo nos círculos judiciais. Deparando-se com uma bela, e aparentemente modesta, prostituta de rua na manhã seguinte a sua detenção, o juiz-assistente Joshua Borgden relevou todas as evidências de que a mulher estivera embriagada procurando clientes, e focou-se no verdadeiro criminoso: seu sedutor original. “O que merece esse calhorda, que foi o destruidor de uma jovem criatura inocente e adorável?” A prostituição, queixava-se Henry Fielding, era “a miséria e ruína de grandes números de pobres garotas jovens, insensatas, desamparadas, que tantas vezes são traídas, e mesmo forçadas a cometer atos culposos, quantas são aliciadas e atraídas para isso”. Estava bastante claro, concordou um pastor em 1759, que as mulheres decaídas, em sua maioria, tinham sidos levadas para o mau caminho “por todos os métodos injustificáveis que a cruel e brutal lascívia sugere ao sedutor astucioso”. Mesmo entre as prostitutas “mais superlativamente depravadas”, afirmou um especialista posterior, ele não conseguira encontrar “uma única instância onde a perfídia de um homem não fosse a fonte do malfeito”.[368]
Inúmeras obras de ficção posteriores do fim do século xviii, de modo semelhante, mostravam a sedução, a prostituição e o final infeliz de jovens virgens inocentes. O folhetim Adventurer [Aventureiro] (1753–1754), de John Hawkesworth, de enorme popularidade, contava a história de um libertino que primeiro corrompe uma criada inocente e, vinte anos depois, está prestes a fazer sexo com uma jovem prostituta quando, de forma horrenda, revela-se que ela é sua própria filha abandonada e ilegítima, vítima da pobreza, de maus-tratos e de um cafetão malvado. “Misella”, de Samuel Johnson, era arruinada e abandonada por seu próprio tutor. Em The Sisters [As irmãs] (1754), de William Dodd, é o terrível destino que ameaça tanto Lucy quanto Caroline Sanson; no fim, o pai delas também morre de pesar. Em Nature and Art [Natureza e arte] (1796), da reformista radical Elizabeth Inchbald, a filha de um pobre camponês é primeiro seduzida, depois forçada a se prostituir e então literalmente sentenciada à morte pelo mesmo malfeitor, que ascende de jovem libertino a juiz empedernido. Em 1800, a trama básica já era tão familiar, mesmo para um público provinciano, que todo o arco narrativo podia ser percorrido em uns poucos parágrafos. No livreto popular barato Innocence Betrayed [Inocência traída] (reimpresso em lugares tão distantes quanto Hull, Banbury e Penrith), pouco mais de cinco páginas bastavam para descrever inteiramente a vida trágica de Sarah Martin, uma bela filha de fazendeiro seduzida “por um destes calhordas depravados, cuja ocupação favorita é arruinar a inocência feminina”, abandonada em Londres, “obrigada pela necessidade a ganhar um sustento miserável com a prostituição”, e por fim levada a tirar sua própria vida.[369]
As mesmas ideias eram infinitamente recicladas em poemas, imagens e escritos jurídicos (ver ilustração 57). Eis aqui “The Dying Prostitute” [A prostituta moribunda] (1785) de Thomas Holcroft, dirigindo-se alternadamente ao leitor solidário e ao libertino traiçoeiro e bestial que a destruíra:
Chorai sobre as misérias de uma moça arruinada,
Que a um homem sacrificou sua saúde e fama;
Cujo amor, e verdade, e confiança foram retribuídos
Com carência e sofrimento, doença e vergonha infinita.
Não venhais maldizer a pobre coitada perdida, que sustenta
Todo mal que o homem, orgulhoso e insensível, pode amealhar;
Decerto já é maldita o bastante aquela sobre quem a vontade dele,
Inflamada pela paixão brutal, reina sem limites.
[...]
Que eu outrora já tenha sido virtuosa, e também bela,
E livre das línguas invejosas era minha fama imaculada:
Isto apenas atormenta, apenas renova minhas lágrimas,
E agrava minha presente culpa e vergonha.
[...]
Ah! Diz, insidioso Demônio! Monstro! Onde?
Que glória ganhaste com minha derrota?
És mais feliz por eu ser menos limpa?
Ou florescem teus louros sobre minha mortalha?[370]
Desta nova mentalidade surgiria esse tão duradouro arquétipo fictício moderno, a prostituta com coração. As meretrizes como belos e inocentes “anjos caídos” já eram, na década de 1740, um tema tanto da escrita erótica de John Cleland quanto de textos sérios.[371]*[372]Após 1800, este tema foi desenvolvido por Thomas de Quincey, Charles Dickens, Dante Gabriel Rossetti, Elizabeth Gaskell, Thomas Hardy e inúmeros outros escritores e artistas. Ao longo dos séculos xix e xx, a prostituta com coração de ouro continuou sendo um ingrediente básico de romances, peças, óperas, filmes e obras televisivas. Esta com certeza nunca foi a única perspectiva. Em gravuras satíricas, na imprensa popular e em tratados morais, duas atitudes mais antigas também perduraram até muito além de 1800. Uma era uma fascinação por prostitutas de rua e cortesãs como empreendedoras autoconfiantes, capazes de ludibriar seus clientes simplórios (ver ilustração 6). A outra era um medo delas como ameaças odiosas e predatórias à saúde e à ordem da sociedade; veremos nos capítulos 4 e 5 até que ponto mesmo os filantropos eram incapazes de se livrar da repulsa pelas beneficiárias de sua caridade. A percepção que as mulheres plebeias cujos amantes as haviam abandonado, ou que faziam sexo por dinheiro, tinham sobre si mesmas também tendia a ser menos melodramática que a retórica de classe média da voracidade masculina, inocência feminina e prostituição. Quando por exemplo, em 1729, Winifred Lloyd, uma cafetina de meia idade, apresentou duas jovens criadas dispostas, Mary Macdonald e Hanna Smith, aos prazeres de se divertir com o sr. Jansen, seu cliente, as duas foram persuadidas de que o processo todo, longe de degradá-las, representava uma passagem para a independência e a vida adulta. Depois que Mary dormiu com o gentil squire pela primeira vez, pela enorme soma de cinco guinéus, a sra. Lloyd a “elogiou, dizendo-lhe que ela agora fora feita mulher”. Com Hanna, que tinha apenas catorze anos, ela compadeceu-se da dor do ato sexual — “Oh”, ela lhe disse, “da primeira vez em que ele se deitou comigo eu fiz um escândalo, mas se tivesses quarenta anos de idade isso não te machucaria” — e também “encorajou-a dizendo que ele faria dela uma mulher para sempre”. Como expressou Anne Carter, prostituta do East End, em 1730, o que ela fazia para ganhar a vida não era o recurso desesperado de uma mulher arruinada, mas simplesmente a troca de dinheiro pela “satisfação de seu corpo [...] conforme um contrato”.[373]
No entanto, as linguagens da pena e da perfídia masculina gradualmente se infiltraram mesmo nestes pontos de vista alternativos. Tão arraigadas se tornaram elas que as prostitutas e outras mulheres incastas eram cada vez mais conhecidas, e referiam a si mesmas em público, simplesmente como pessoas “desafortunadas” ou “desventuradas”.[374] O estereótipo da messalina seduzida foi, portanto, uma das inovações culturais mais notáveis e influentes do século xviii. Ele virou de cabeça para baixo velhas premissas antiquíssimas, profundamente arraigadas, sobre as prostitutas; alcançou destaque com uma velocidade extraordinária; e dominou a percepção sobre a prostituição a partir do meio do século xviii em diante. Ao longo dos séculos xix e xx, esta nova maneira de enxergar as prostitutas — não como agentes sexuais obstinadas e independentes, mas como vítimas da sedução, aliciamento e empobrecimento — continuaria sendo a visão predominante sobre o comércio sexual.
PERSPECTIVAS FEMININAS
as mudanças de atitude em relação à prostituição eram só a ponta de uma preocupação muito maior, e crescente, com a sedução de mulheres. A base disto era uma noção, agora dominante, de que os homens eram inerentemente egoístas e enganadores no amor. Muitos de seus expoentes mais articulados também eram homens — mas o motivo crucial de seu destaque cada vez maior era a ascensão pública das mulheres como escritoras, poetisas, atrizes e filósofas, que introduzia, na cultura predominante, novas e poderosas perspectivas femininas sobre conquista e desejo.[375]
Este era um fenômeno completamente sem precedentes, e cujos efeitos foram, até agora, surpreendentemente pouco reconhecidos. Em todas as épocas anteriores, a intervenção direta de mulheres na discussão pública sempre fora muito limitada. Para além da fala comum, os homens monopolizavam todos os meios em que as qualidades masculinas e femininas eram prescritas e reforçadas — ficção, dramaturgia, poesia, sermões, jornalismo, educação, escrita popular, polêmica moral, teologia e filosofia. Era por isto que a feminilidade tendera a ser tão subestimada publicamente. Mas a partir do fim do século xvii isto começou a mudar, em vários aspectos justapostos.
Uma das novidades foi o advento das atrizes profissionais no teatro inglês após 1660. Até este momento, as mulheres geralmente tinham sido proibidas de se apresentar em público: atuar era visto como algo grosseiro e pouco feminino para elas, e os papéis femininos eram interpretados por garotos. Na Itália, Espanha e França, no entanto, as mulheres haviam começado a aparecer no palco a partir do fim do século xvi, e esta moda exerceu uma enorme influência sobre Carlos ii. Sua mãe francesa, a rainha Henriette Marie, promoveu-a em caráter privado na corte, nas décadas de 1620 e 1630, e ele se acostumou a ela durante seus muitos anos de exílio no continente durante a década de 1650. Quando voltou à Inglaterra como rei em 1660 e reabriu os teatros públicos (que tinham sido fechados pelos puritanos desde 1642), ele imediatamente sancionou a prática. Isto transformou o tratamento das personagens femininas na dramaturgia, o meio de entretenimento público de maior destaque. A partir deste momento, a exploração dramática da sexualidade das atrizes tendia acima de tudo a enfatizar a submissão delas à conquista masculina. Em comparação com as peças elisabetanas e jacobitas, a lascívia masculina e a vulnerabilidade feminina agora eram contrastadas de forma muito mais acentuada. O estupro tornou-se um componente regular de enredos trágicos, sendo até mesmo acrescentado gratuitamente a adaptações de peças mais antigas. Isto permitia uma exploração muito mais provocante do sofrimento sexual no palco, mas também comunicava a ideia de que mesmo as mulheres mais inocentes eram indefesas ante os apetites masculinos. Também se enfatizava que a dominação das mulheres era baseada na relação de classes. O estuprador dos palcos era invariavelmente um homem de condição superior, que aliciava sua vítima menos por força bruta do que pelo abuso de seu poder sexual, social e político.[376]
Na comédia, a aparição de mulheres reais no palco estimulava o exame crítico dos temas da conquista, amor e casamento, que é uma característica notável da dramaturgia da Restauração. Pela primeira vez, prostitutas e amantes passaram a ser retratadas como vítimas infelizes da sedução masculina e da disfunção social. Na tragédia, houve uma transição acentuada para as “tragédias femininas” domésticas, centradas na vitimização das mulheres pelos homens. Na atualização de Rei Lear escrita por Nahum Tate (1681), Edmundo rapta e pretende estuprar Cordélia. Em Vertue Betray’d [Virtude traída] (1682), de John Banks, Ana Bolena é ludibriada para casar-se com Henrique viii, embora ame outro homem. Na infinitamente lida e encenada peça The Orphan [A órfã] (1680), de Thomas Otway, o libertino malvado promete tratar a heroína indefesa assim como “O touro lascivo percorre todo o campo,/ E escolhendo no rebanho sua fêmea,/ Dela desfruta, e a abandona quando quer”. Pouco importa que ela esteja em guarda contra todo o sexo masculino, “pois a adulação e o ludíbrio são famosos! [...] Por corromper pobres donzelas e facilitar nossa ruína”. Não importa que outros homens advirtam a ela:
Não confies num homem; por natureza somos falsos,
Dissimulados, sutis, cruéis e inconstantes:
Quando um homem fala de amor, confia nele com cautela;
No entanto, se ele jurar, certamente vai enganar-te.
Pouco importa que ela ame e secretamente case-se com outro: é tudo em vão.[377]
No começo do século xviii, estas novas concepções de sofrimento feminino já haviam se tornado temas básicos do teatro inglês. The Fair Penitent [A bela penitente], de Nicholas Rowe, apresentada pela primeira vez em 1703 e incessantemente reencenada, reimpressa e citada, baseava-se numa peça do começo do século xvii sobre uma adúltera inescrupulosa que é morta por seu marido ultrajado. Agora, em sintonia com a nova sensibilidade, esta figura foi transformada na trágica virgem Calista, que é seduzida e abandonada pelo atroz Lothario (tão grande era a popularidade da peça que o nome dele se tornou proverbial). Antes uma história sobre uma vilã lasciva, a peça tornara-se uma admoestação contra as artimanhas dos homens libertinos, as limitações sexuais impostas às mulheres, e o terrível preço do amor ilegítimo. “Homem pérfido!”, exclama a confidente de Calista, “Homem! Cuja alegria é nossa ruína!/ O vil traidor declarado de nosso sexo [...] Guarda-me dos homens,/ De suas línguas mentirosas, suas promessas e adulações”. “Como é difícil a condição de nosso sexo”, a própria Calista observa com amargor, “Escravas dos homens em cada estágio da vida.” Ela culpa sua própria fraqueza (caiu “porque era amada, e era mulher”), mas como indicava o epílogo, o verdadeiro problema subjacente era a licenciosidade masculina — “se quereis que algum dia a constância seja moda,/ vós homens deveis primeiro começar a reforma”. A mesma transformação se vê nos tratamentos dados no século xviii à história de Jane Shore, a lendária amante de Eduardo iv, que antes sempre fora retratada como uma cortesã ardilosa. Dali em diante, começando com a Jane Shore (1714) do próprio Rowe, ela foi reinventada como um belo e trágico exemplar da duplicidade de parâmetros sexuais:
Vê como é parcial a justiça com que nos julgam;
Tal é o destino infeliz que espera as mulheres,
E tal a maldição lançada sobre nossa espécie,
Que o homem, o libertino sem lei, pode campear
Livre e inconteste através das brenhas do amor;
Enquanto a mulher, que senso e natureza fazem uma tola fácil,
Se a pobre e fraca mulher desvia-se da regra da virtude,
Se, fortemente enfeitiçada, abandona a espinhosa via,
E perde-se nas trilhas mais macias do prazer;
Seguem-se ruína, censura e vergonha infinda,
E um único passo em falso dana por completo sua fama.
Em vão pode ela aos prantos deplorar a perda,
Em vão olhar para trás e ver o que era antes,
Ela declina, feito as estrelas que caem, para jamais se reerguer.[378]
Como bem se sabe, a dramaturgia da Restauração também incluía muitos papéis femininos lascivos — as esposas adúlteras, amantes ardilosas e prostitutas mercenárias não sumiram de repente dos palcos. Betty Frisque, em The Country Wit [A sagacidade do campo] (1676), de John Crowne, a sra. Tricksy em The Kind Keeper [O gentil estalajadeiro] (1678), de Dryden, e a madame Tricklove de Squire Oldsapp (1678) de Thomas D’Urfey, por exemplo, todas faziam jus a seus nomes.*[379]Os novos arquétipos foram surgindo aos poucos, ao lado destas figuras tradicionais, e não as suplantando da noite para o dia. No entanto, na virada do século eles já haviam se tornado cada vez mais influentes. É notável que peças como The Orphan e The Fair Penitent viram sua popularidade crescer ao longo do século xviii, enquanto aquelas que retratavam as mulheres como manipuladoras libidinosas no geral saíram de moda. Já nas décadas de 1670 e 1680, um sinal revelador da mudança de atitude era o fato de que, no palco, fazia-se os libertinos cuspirem a retórica tradicional da inconstância feminina de modos que realçassem sua artificialidade. “Encontra alguma canção para me agradar”, ordena o vilão Polydor a seu pajem em The Orphan, enquanto se prepara para atacar a virtude de uma moça inocente,
[...] que descreva
As hipocrisias das mulheres, seus artifícios sutis,
Sorrisos traidores, lágrimas fingidas, inconstâncias,
Seus aspectos pintados e mentes corrompidas,
A soma de todas as suas tolices, e de suas falsidades.
Quando sua presa resiste, ele lança sobre ela as mesmas calúnias misóginas. Mas nós, a plateia, devemos entender que tudo isso não passa de uma bravata cínica e manipuladora. Pois contrastamos sua fala com o que de fato está sendo mostrado. Uma mulher fraca e digna de pena está sofrendo o assédio de um homem inescrupuloso e poderoso. Como em tantas outras análises morais da Restauração, a mensagem mais importante é que a vida social é governada por costumes irracionais. À luz do exame empírico, proclama esta mensagem, os antigos tropos sobre a lascívia e a duplicidade feminina revelam-se apenas modos de pensar convencionais, contumazes e artificiais.[380]
Não foi só o advento das atrizes que inspirou estas novas atitudes, mas também um surgimento muito mais geral, pela primeira vez, das mulheres como parte permanente do mundo das letras.[381] Como dramaturgas, poetisas, romancistas e escritoras de outros gêneros, as mulheres influenciavam autores masculinos, ficavam atentas umas às outras, dirigiam-se diretamente ao público. Embora, no começo, suas noções de feminilidade muitas vezes incluíssem ideias convencionais sobre a volubilidade amorosa das mulheres, as escritoras também tendiam, e cada vez mais, a enfatizar a voracidade e duplicidade dos homens no amor. Mulheres dramaturgas, por exemplo, eram mais propensas a ridicularizar a dissimulação masculina, e explorar as visões femininas de forma mais extensa. Não é por acaso que os primeiros retratos compreensivos e aprofundados de mulheres decaídas infelizes a serem escritos em língua inglesa vieram da pena de Aphra Behn, a grande pioneira na exploração da sensibilidade sexual feminina. Especialmente reveladora era sua revisão (em The Revenge [A vingança], 1680) de The Dutch Courtesan [A cortesã holandesa] (1605), de John Marston. Na obra original, a protagonista era uma prostituta diabólica que recebe seu castigo merecido; agora esta personagem foi transformada em Corina, uma vítima trágica, inocente. Seduzida e traída pelo homem que ama, ela é tratada como prostituta, porém nunca age como uma. Quando a perfídia dele fica clara, o coração dela extravasa de dor e raiva:
É verdade, me abandonaste? Podes esquecer nossos muitos júbilos passados, as horas que esbanjamos em histórias de amor, e maldissemos qualquer interrupção que não a dos beijos, que entre tuas encantadoras palavras eu te dava; quando todo o arrastado dia achávamos curto demais, porém abençoávamos a noite que vinha? Esqueceste, falsos são teus votos, todos perjurados, e tua fé partida como meu pobre coração deserto? E ainda desejas que eu viva para ver esta mudança! Pudeste crer que, se a tivesses escondido do mundo falante, meu coração não a podia ter descoberto por afinidade! Um homem tolo, sem consideração, um infiel!
Em boa parte da escrita feminina sobre a relação entre os sexos, a mensagem principal, como explicou a jovem poetisa Sarah Fyge em 1686, era que os homens estavam sempre tentando “fazer de presas” as mulheres castas. Toda a sua bravata sobre a lascívia e a inconstância feminina não pretendia senão fazer das mulheres “o bode expiatório” — na verdade eram os homens que constantemente pressionavam e ludibriavam as mulheres, que eram insaciáveis em sua sede de novas conquistas, e tinham o descaramento de levá-las adiante:
Em vez de esconder seus monstruosos atos,
Eles revelam, gabam-se de seus feitos horrendos;
e no entanto,
Quereis persuadir-nos de que nós apenas
Temos a culpa de todos os crimes, e vós nenhuma,
[...]
E por terdes feito prostitutas de todas que podíeis,
Se assim ousásseis, diríeis que toda mulher o faria.[382]
Ainda mais influente, a longo prazo, foi o papel das mulheres na criação do novo gênero que era o romance, e que no meio do século xviii já se transformara rapidamente na forma de ficção mais influente de todas, e tornara-se um condutor central de educação moral e social. (Como explicou um distinto expoente do gênero em 1747, a “história ou entretenimento deveria ser considerada como pouco mais que o veículo para a instrução mais necessária”.) Embora o romance jamais tenha sido uma categoria estável ou uniforme, mas sim um híbrido de formas em constante evolução, o impacto deste tipo de narrativa, que virara moda recentemente, foi inconfundível. Seus autores tinham pretensões cada vez maiores de realismo — de estar retratando as vidas de homens e mulheres reais, e não personagens fictícios. O gênero também permitia uma visão muito mais penetrante das mentes e sentimentos de seus protagonistas do que o teatro, com suas restrições de enredo, tempo e fala, jamais conseguira. Agora havia um escopo ilimitado para a dissecação de estados emocionais cambiantes, pensamentos internos e percepções subjetivas, que podiam ser ponderados individualmente por cada leitor. Por todos estes motivos, a conquista e a sedução eram assuntos primordiais do romance. Desde o início as mulheres destacaram-se como romancistas, como leitoras de romances, e como suas heroínas. No começo do século xix, Jane Austen já podia afirmar com confiança que, embora fosse menosprezada como trivial, a exploração das vidas femininas pelas romancistas mulheres havia, na verdade, “proporcionado um prazer mais extenso e genuíno que os de qualquer outra corporação literária do mundo”: estas eram as produções literárias “em que se exibem os maiores poderes da mente, em que o mais meticuloso conhecimento da natureza humana, o mais feliz delineamento de suas variedades, as mais vivas efusões da perspicácia e do humor são transmitidos ao mundo na mais seleta das linguagens”.[383] [384]*
As heroínas das primeiras predecessoras de Austen, como Aphra Behn, Delarivier Manley e Eliza Haywood, não eram, de modo algum, todas inocentes de lubricidade. Mesmo assim, como no caso das primeiras dramaturgas, este tema foi cada vez mais suplantado por uma ênfase na sedução, traição e inconstância masculina, e na apresentação aprofundada dos pontos de vista de mulheres vitimizadas. No primeiro episódio de New Atlantis [Nova Atlântida] (1709), de Manley, vemos uma mulher lasciva sexualmente enganada e punida por dois homens ardilosos. O segundo nos mostra, de forma ainda mais crua, um poderoso aristocrata que inescrupulosamente trama a sedução e o estupro da virgem inocente que está sob sua tutela, e depois a abandona à ruína: “o restante de sua vida foi uma cena contínua de horror, pesar e arrependimento. Ela morreu como um verdadeiro marco, para advertir a todas as virgens crentes de que não naufraguem sua honra nessa perigosa e rochosa costa, as juras e a paixão fingida do sexo masculino”.[385]
Ideias sobre a insensibilidade e a iniquidade essencial das atitudes masculinas em relação ao sexo também começaram a ser expostas em profundidade por pensadoras e filósofas. Como Mary Astell escreveu em 1700, com um brilhante amargor, “não lhes importa muito se as mulheres, que nasceram para ser suas escravas, são de quando em quando arruinadas para que eles se divirtam [...]. Seria uma tarefa infinita computar os diversos estratagemas que os homens usam para capturar sua presa”. Nenhuma mulher podia “estar alerta demais”. Visões semelhantes foram expressas por Margaret Cavendish, Damaris Masham e outras das primeiras feministas. Não que os argumentos que elas apresentavam tivessem sido impensáveis antes. Temos um vislumbre deles em 1640, por exemplo, quando o popular poeta John Taylor imaginou os sentimentos das mulheres sobre o assunto. As prostitutas não nasciam assim, mas eram criadas pela perfídia dos homens: “Quem as viciou, senão vós que quereis parecer virtuosos? Ou quem as corrompeu, senão vós, os crocodilos machos? [...] Não é possível que o mundo gere uma mulher marcada com o nome de prostituta, mas sim deve haver um aliciador que assim a faça”. Eram os homens que eram “viciados em incontinência”, as mulheres que eram naturalmente castas.[386] Ideias análogas foram desenvolvidas por alguns críticos medievais à misoginia.[387] No entanto, foi só a partir do final do século xvii que elas passaram a ser apresentadas publicamente, de forma extensa e abundante, e de uma maneira que mudou perceptivelmente a cultura mais ampla da época.
Mesmo mulheres muito comuns agora podiam ter acesso a visões semelhantes e levá-las a público, como consumidoras e correspondentes da imprensa periódica em franca expansão. A partir da década de 1690, os jornais costumavam incentivar seus leitores a enviar perguntas, comentários, ensaios e poemas para publicação. Muitos periódicos dirigiam-se especificamente às mulheres; muitos outros assumiam que tinham leitores mistos. Atitudes femininas, amor e conquista tornaram-se, portanto, temas jornalísticos de imensa popularidade. Antes, aventurar-se na imprensa tendia a ser um ato controverso para uma mulher. Agora, como parte da explosão e democratização mais ampla da mídia impressa, da alfabetização e da correspondência, as vozes e preocupações femininas tornaram-se uma parte diária e permanente da discussão pública, falando de forma contínua e confiante a um público enorme de leitores que crescia cada vez mais.[388]
Todas estas tendências sociais e intelectuais (que exploraremos melhor no capítulo 6) são sintetizadas numa extraordinária carta escrita em 20 de maio de 1726 por uma jovem londrina de coração partido. Durante a ausência de seu marido no mar, ela fora seduzida (talvez estuprada) por um conhecido, induzida a ter um caso com ele, ficara grávida, e por fim fora abandonada. Desesperada, e já num estágio avançado da gravidez, ela viajou cem milhas até Kent para localizá-lo, e mandou-lhe uma mensagem a bordo de seu navio, que estava perto da costa, em Deal. Quando ele ignorou suas cartas, rejeitando-a insensivelmente como nada além de “uma vadia comum”, ela se afogou. Em questão de dias após seu suicídio, sua carta de despedida para uma amiga, encontrada em seus aposentos, fora impressa na primeira página do London Journal, para ser lida por milhares de homens e mulheres no país inteiro. Estas foram suas últimas palavras registradas:
Senhora,
[...]
Queria poder parar de pensar. Tolerar a vergonha, não posso; e encarar meus amigos, ou mesmo o mundo, me é mais terrível que a morte. Perdoo livremente o mundo todo, e mesmo o sr. L., o maior inimigo com quem nele jamais me deparei [...]. Reconheço ser eu mesma culpada por depositar nele tanta confiança: quero que minha infelicidade seja uma advertência para as outras, para que não confiem demais no homem infiel.
[...]
O sr. L. não deveria ler tanto os livros do sr. Locke e praticá-los tão pouco; ele inculca a necessidade de fazer como gostaríamos que fosse feito conosco, e de evitar a mentira, mesmo que seja para salvar a vida de um homem. Que ele pense nisto quando pensar em mim. Ele não pode esquecer a confusão em que fiquei da primeira vez em que ele se aproveitou da minha fraqueza, não tendo bastante força para lhe resistir: ele continuou de joelhos, implorando-me que o perdoasse; prometendo tudo o que um homem podia dizer; invocando a Deus que o danasse caso ele jamais se mostrasse vil para comigo [...]. Declarou que não mais me teria como sua amiga mas sim sua esposa, embora não estivesse em seu poder me desposar, mas possuiria o mesmo amor e dever. Ó se ele tivesse sempre mantido sua palavra! Então eu ainda seria feliz; mas não estando acostumada à companhia de homens, eu não conhecia tal perfídia [...] Mas ainda o posso perdoar, e reconhecer meu erro. Que não julgue com demasiada precipitação ninguém que não saiba dos motivos que tive para isso.
Sou, Tua humilde criada,
H. B.[389]
Esta era uma tragédia totalmente privada, entre pessoas tão desconhecidas que nem mesmo seus nomes completos chegaram até nós. Em nenhuma época anterior teria sido concebível que uma mulher assim escrevesse uma narrativa sobre sua ruína, culpando naturalmente por ela a libidinosa perfídia dos homens, e que este relato íntimo de uma vítima sexual comum fosse imediatamente publicado para uma audiência nacional de leitores simpatizantes. No começo do século xviii, no entanto, tudo isto se tornara possível.
Ao longo do fim do século xvii e começo do xviii, uma nova visão das relações entre os sexos tornou-se, portanto, cada vez mais dominante. Sua premissa da lascívia masculina devia muito à crescente proeminência cultural de mulheres artistas, escritoras, espectadoras e leitoras. Em épocas passadas, observou Samuel Johnson em 1750, “como a faculdade da escrita era principalmente um atributo masculino, a recriminação pelas misérias do mundo sempre foi lançada sobre as mulheres”: mas agora a quebra do monopólio masculino da escrita, e os “argumentos mais fortes” das mulheres, tinham virado do avesso a antiga falácia masculina de que elas eram o sexo mais volúvel e libidinoso.[390] Ironicamente, a nova atitude era compartilhada tanto por defensores quanto por críticos da liberdade masculina. Por conseguinte, ela tornou-se cada vez mais influente. Já na década de 1730, tornara-se um lugar-comum a ideia de que os homens, especialmente os de origem nobre, estavam constantemente dispostos a usar com sangue frio as mulheres — que eles empregavam todo o seu conhecimento e poder superior para tirar vantagem de mulheres inocentes, enquanto reforçavam uma iníqua duplicidade de parâmetros morais, que condenava a vítima e não o sedutor.
NOVAS ATITUDES
é por isto que os primeiros grandes romancistas da língua inglesa eram tão obcecados pela sedução. O mais destacado entre eles foi Samuel Richardson, cujos romances Pamela (1740), Clarissa (1747–1748) e Sir Charles Grandison (1753–1754) foram as obras de ficção mais sensacionalmente populares e influentes do século xviii. Seus livros foram um exemplo clássico do crescente poder dos pontos de vista femininos. Apesar de toda a sua originalidade de tratamento, a abordagem geral e a matéria-prima de sua ficção têm uma dívida óbvia para com a corrente anterior de romances sobre heroínas cortejadas, seduzidas, estupradas e oprimidas que haviam saído da pena de escritoras pioneiras como Penelope Aubin, Jane Barker, Mary Davys, Eliza Haywood e Elizabeth Rowe. Ele recebeu ajuda de um vasto círculo de conhecidas, leitoras e correspondentes; por sua vez, sua obra apresentava perspectivas em primeira mão de mulheres respeitáveis sob a ameaça de homens vorazes de condição superior. Estes foram, acima de todos os outros, os livros que ajudaram a estabelecer o romance como a forma predominante da literatura inglesa, e a narrativa de sedução como seu enredo mais fundamental. Mesmo até o século xix, é difícil pensar em muitos romancistas sérios que não tenham explorado este tema.[391]
A escrita de Richardson era ainda mais poderosa em seu impacto social porque se baseava conscientemente em exemplos da vida real, apresentava-se como história documental, e buscava instruir seus leitores em questões de amor, conquista e desejo carnal. Na verdade, muitos de seus temas são prefigurados em suas publicações anteriores, explicitamente didáticas. Já em seu primeiro livro, as Familiar Letters [Cartas familiares], o perigo da cupidez sexual masculina tinha sido um assunto de destaque. A mensagem central, como certo pai aconselhava francamente sua filha, era que “os homens são enganadores”. “A dissolução dos rapazes em geral da presente época”, advertiu outro, acarretava assustadores “riscos com os quais uma jovem virtuosa tem de se deparar”. Já outra menina foi advertida contra o terrível perigo de “andar na companhia de um cavalheiro de mau caráter”, que tinha “já arruinado duas, se não três, valorosas filhas de comerciantes” e que a arruinaria também — “não importa o que ele te prometa” em termos de casamento. Pois os libertinos eram onipresentes e incorrigíveis. Geralmente buscavam apenas a conquista sexual, insinuando-se “com todas as juras de um amor honrado”, antes de obter o que sua sordidez desejava. A maior ameaça de todas eram os homens de condição mais alta: o libertino “de fortuna superior” à de sua presa; o patrão que faz uma “vil investida” contra a castidade de sua criada.[392]
Este último exemplo refletia casos reais com que Richardson estava familiarizado. Havia uma história em particular que ele ouvira, sobre a bela e jovem criada que “aos quinze anos de idade chamou a atenção do filho de sua patroa, um jovem fidalgo de princípios livres, que, quando da morte da patroa, buscou, com toda sorte de tentações e artifícios, seduzi-la”.[393]Além disso havia os inúmeros exemplos, recontados pessoalmente e relatados nos jornais, de mulheres como Isabella Cranston, que no começo da década de 1720 fora atraída por uma “isca” ao bordel de Sarah Jolly, “pensando que seria contratada para trabalhar”, e ali entregue ao libertino coronel Francis Charteris. Ou como Anne Bond no fim da década, que “estando sem serviço, e sentada à porta da casa onde residia, uma mulher, que lhe era estranha, veio a ela, e perguntou-lhe se queria um lugar. E disse-lhe que ajudava criadas a arranjar lugares.” Esta mulher era Elizabeth Needham, antiga vizinha da sra. Jolly, e uma cafetina e proprietária de bordel tão notória quanto ela; e Anne Bond também foi posta a serviço do coronel Charteris. Durante dez dias ele a aprisionou dentro de casa, a fez dormir em seu quarto, “ofereceu-lhe uma bolsa de ouro [...] diversas vezes, e disse que lhe daria trajes finos e dinheiro, e uma casa onde morar, e também lhe arranjaria um marido”. Depois ele desistiu de tentar convencê-la, estuprou-a, e a expulsou de casa.[394] Como tantos comentadores contemporâneos, Richardson evidentemente ficou fascinado pelo tema da sedução forçada de mulheres, e seu aliciamento e prostituição. Nas Familiar Letters ele incluiu sua própria narrativa notável sobre uma jovem, recém-chegada em Londres, que é ludibriada para entrar num bordel, pensando que está indo trabalhar para uma senhora. Ali ela encontra outra jovem, que aos prantos conta como ela própria foi enganada, estuprada e prostituída à força: “Nesta pavorosa situação, fui transtornada pela odiosa importunidade de diversos homens a cada dia; e embora por muito tempo eu tenha resistido até o extremo, no entanto a força bruta jamais deixou de me sobrepujar. Assim, numa vergonhosa sucessão de culpa e horror, resisti dez meses; sujeita a mais infortúnios que a língua pode expressar”. Tão preocupado estava Richardson em transmitir a realidade de tais situações que, de todas as 173 cartas do livro, esta foi a única à qual ele anexou um post-scriptum enfatizando sua absoluta veracidade: “Obs.: esta chocante história é tirada da boca da própria jovem, que escapou por tão pouco da armadilha da vil alcoviteira; e é fato em cada circunstância”.[395]
Em seus romances, estes mesmos fatos ganham vida. Suas heroínas são todas virgens perseguidas, abduzidas, e sob a constante ameaça de homens predatórios de condição superior. Em Pamela, o lascivo senhor B faz de presa sua criada de quinze anos de idade: não porque seja um homem especialmente mau, mas porque toda a cultura deles é condescendente com a destruição de meninas inferiores por homens mais velhos, mais ricos e mais poderosos. Como uma cafetina, sua governanta, a sra. Jewkes, “uma alcoviteira sórdida”, mantém Pamela aprisionada, enquanto alterna entre ameaças e bajulações para que ela obedeça a seu patrão. “Os dois sexos não são feitos um para o outro? E não é natural que um homem nobre ame uma bela mulher? E supondo que ele possa obter o que deseja, isso é tão ruim?” “Ruína” era uma “palavra tola”, insistia ela, exaltando a condição de uma mulher manteúda, “ora, nenhuma mulher do país poderá viver mais feliz do que tu, se quiseres, ou ser usada de forma mais honrada.” Quando Pamela resiste assim mesmo, a mulher mais velha perde a paciência, agride-a e ofende-a, incentiva o sr. B, e segura a menina para que ele a estupre (ver ilustração 58). “Ora, o que é tudo isto”, comenta um dos vizinhos do sr. B sobre o tormento da heroína, “senão que o senhor nosso vizinho tem uma inclinação pela criada de sua mãe? E se ele cuidar para que nada falte a ela, não vejo nenhum grande dano que lhe vá ser feito. Ele não lesa família alguma com isto.” (Com isto ele quer dizer: o sr. B não lesa ninguém que importe, ninguém de sua própria classe.) Mesmo o padre da paróquia está resignado aos costumes mundanos: “Pois, disse ele, era um caso comum e corrente demais para ser obstado individualmente por um ou dois clérigos”. Ser mulher manteúda de um grande homem era algo perfeitamente honrado, “e é o que todos os jovens de bom berço costumam fazer”.[396]
A obra-prima de Richardson, Clarissa, aguça ainda mais os arquétipos do vício e da virtude sexual. Em Pamela, a virtude e a firmeza da heroína acabam por redimir o sr. B, que ainda não é “um devasso muito abandonado”: ele desiste de estuprá-la, os dois se casam e vivem felizes para sempre. Mas Richardson evidentemente ficou mordido com os leitores que haviam achado esta reviravolta inverossímil, duvidando especialmente que Pamela pudesse ser tão inocente quanto é retratada. Em Clarissa, a narrativa é, portanto, mais inequívoca, o tom muito mais sombrio, a análise da corrupção social e sexual muito mais profunda. Robert Lovelace, “um homem bem-nascido e abastado”, é um libertino empedernido e sem coração. Ele se apaixona por Clarissa Harlowe e quer se casar com ela, uma mulher rica, bela, e socialmente inferior a ele; mas também adora a mera emoção predatória de atrair e conquistar moças virgens. Ele já sacrificou dezenas delas. É impensável que uma mulher possa resistir a sua imensa força de vontade. E por isso ele mente e trama sem parar, engana Clarissa para que ela fuja com ele para Londres, e a mantém aprisionada, sob pressão constante. Por fim, quando ela se recusa a ceder, ele usa uma artimanha para atraí-la a um bordel, onde ela é drogada e estuprada por ele (ver ilustração 60). No entanto, mesmo após este golpe final, ela permanece virtuosa, morre como uma verdadeira cristã, e assim triunfa sobre seus inimigos mundanos.[397]
O impacto da representação da voracidade masculina e da sedução das mulheres na obra de Richardson foi enorme — não só nas atitudes inglesas do fim do século xviii e de todo o xix, mas na cultura letrada em todo o mundo ocidental. Pode-se ver isto no primeiro grande romance em língua holandesa, De historie van Mejuffrouw Sara Burgerhart [A história da sra. Sara Burgerhart] (1782), e em inúmeros outros escritores de porte: Rousseau, Diderot, Laclos, Goethe, Kleist, Púchkin, e mesmo o marquês de Sade. Charlotte Temple (1791), de Susanna Rowson, retrabalhou temas de Richardson num cenário transatlântico e tornou-se um enorme best-seller, de longe a mais popular obra de ficção dos Estados Unidos do começo do século xix. Em todo o mundo anglófono, seus romances foram infinitamente elogiados, citados, lidos e imitados por outros escritores.[398]
É claro que nem todos compartilhavam exatamente dos mesmos pressupostos que Richardson. Algumas romancistas audaciosas zombavam do estereótipo do libertino onipotente — embora estas sátiras também ilustrem o quão disseminado era o estereótipo. Assim, sir Edward Denham, o anti-herói de Sanditon (1817), o último romance, inacabado, de Jane Austen, lera mais romances sentimentais do que era bom para sua constituição. Sua imaginação fora capturada logo cedo por todas as partes apaixonadas, e mais objetáveis, dos de Richardson; e estes autores que desde então pareceram seguir os passos de Richardson, no que concerne à busca obstinada pela mulher, a despeito de todo sentimento e conveniência, haviam desde este momento ocupado a maior parte de suas horas literárias, e formado seu caráter.
Portanto, o grande objetivo de sir Edward na vida era ser um sedutor. Com as vantagens pessoais que sabia possuir, e os talentos pelos quais também se dava crédito, ele considerava este seu dever. Sentia que era formado para ser um homem perigoso — bem na linha dos Lovelaces [...]. Estava armado contra o mais alto timbre de desdém ou aversão. Se ela não podia ser vencida pelo afeto, ele devia subjugá-la. Ele sabia como lidar.[399]
Na vida real, por outro lado, os homens vorazes muitas vezes menosprezavam a modéstia feminina como algo que não passava de repressão artificial. “Tenho minhas próprias noções particulares quanto à modéstia”, registrou Boswell, “da qual apenas valorizo a aparência: pois se uma mulher não possui calor amoroso, ela é uma companheira insossa.”[400] [401]Um etos semelhante parecia revelar-se nos conselhos particulares do lorde Chesterfield a seu filho, que causaram um escândalo ao serem publicados em 1774. (Em The Pupil of Pleasure [O pupilo do prazer] [1776], de Samuel Jackson Pratt, que satiriza a moral de Chesterfield, o anti-herói Philip Sedley zomba que “Richardson é uma criança [...] seu Lovelace é um trapalhão”.) Quando, em 1813, Byron leu as visões de sua futura esposa sobre as relações entre os sexos, afirmou com desdém que “ela parece ter sido mimada — não como as crianças geralmente o são — mas sistematicamente submetida a uma espécie canhestra de dignidade, nos moldes de uma Clarissa Harlowe — com uma confiança em sua própria infalibilidade que vai ou pode levá-la a algum erro patente” (e de fato levou: a casar-se com ele).[402]
Outras correntes de pensamento, portanto, continuaram existindo ao lado da obsessão predominante pelo caráter predatório dos homens. Mesmo assim, é notável até que ponto se desenvolvera, já no meio do século xviii, um consenso subjacente sobre a natureza essencial da sexualidade masculina e feminina. Para ilustrar isto, basta compararmos as visões de Richardson às de Henry Fielding, seu principal antagonista literário.
Desde o começo de sua carreira, Fielding escreveu seus romances em oposição consciente aos de Richardson, repudiando explicitamente seu estilo, seu tom e seus enredos. Na vida real, também, os dois autores pertenciam a meios sociais marcadamente diferentes. Richardson, o sóbrio comerciante de classe média, de pouca instrução, cercava-se de mulheres virtuosas que o adoravam, orgulhava-se de jamais ter sequer conhecido uma mulher incasta, e se dirigia, no mínimo, tanto a um público feminino quanto a um masculino. Fielding, por outro lado, era um homem de origem nobre, um advogado formado em Eton, filho de um libertino, e intimamente relacionado com aristocratas e cortesãos poderosos. Em sua juventude, ele viveu a existência dissoluta e promíscua de um dramaturgo do West End; na meia-idade, engravidou sua criada (e acabou casando-se com ela); perto do fim da vida, trabalhando como magistrado, esteve diariamente imerso nas sórdidas circunstâncias da cafetinagem e do comércio sexual. Seu mundo era de classe alta, libertino e masculino — o que se refletia, como pensavam seus críticos contemporâneos, no caráter de sua escrita. Além do próprio Richardson, Samuel Johnson e Charles Burney também deploravam a “vida dispersa” de Fielding, “e a devassidão de quase todos os seus personagens masculinos. Quem ousaria ler um de seus romances em voz alta para mulheres modestas? Seus romances são divertimentos masculinos”.[403]
Não é grande surpresa, portanto, que há muito tempo estes dois escritores sejam considerados opostos morais. À primeira vista, a ética de Fielding de fato parece muito diferente. Na superfície, sua obra transmitia uma aceitação mundana da liberdade sexual masculina que enfurecia os leitores devotos. Ela também mostrava mulheres sexualmente experientes, que eram ardorosas, sedutoras, e perigosas para os homens. Em sua hilária paródia Shamela (1741), revela-se que Pamela é uma devassa desavergonhada, prostituta e mãe de filhos bastardos, uma mulher que, em conluio com seus criados igualmente astutos, engana o incauto sr. “Booby” para que se case com ela. Em Joseph Andrews (1742), o irmão inocente de Pamela é perseguido por uma viúva voluptuosa, lady Booby. Os heróis de Tom Jones (1749) e de Amelia (1751) ambos sucumbem às artimanhas de mulheres experientes.
No entanto, apesar de toda a sua leviandade e sua provocação libertina, as atitudes subjacentes de Fielding em relação ao desejo carnal e à sedução eram notavelmente próximas às de seu grande rival. Ele compartilhava dos princípios básicos da cultura deles de que, de um modo geral, eram os homens que corriam atrás das mulheres; de que a inocência feminina estava sob constante ameaça dos ardis masculinos; e de que as mulheres decaídas eram vítimas de sedutores libertinos. Como já vimos, estas eram as atitudes que ele expressava em seu jornalismo, e também estavam impregnadas em sua ficção. A lascívia de Shamela, lady Booby e lady Bellaston (em Tom Jones) é uma inversão, para efeito cômico, da ordem natural — as mulheres não eram libidinosas por natureza. Além disso, embora Fielding acreditasse que era inevitável os homens fornicarem, ele também deixava claro que era desprezível eles seduzirem virgens, e admirável se continuassem castos ou monogâmicos. Mesmo em Tom Jones, uma obra que festeja a tolice e a imperfeição humana, estas regras são respeitadas — na verdade, as reviravoltas e surpresas felizes da trama muitas vezes giram em torno de situações em que elas parecem ser desprezadas, para depois serem restabelecidas num momento de triunfo. A moral imperfeita, porém humana, que Fielding celebra é a do próprio Jones: “Não sou nenhum hipócrita dissimulado, nem finjo ter o dom da castidade, mais que meus vizinhos. Fui culpado com mulheres, reconheço; mas não estou ciente de jamais ter lesado alguma — e nem seria conscientemente, para obter prazer para mim mesmo, causa de infelicidade para nenhum ser humano”.
Contra esta visão, ele contrasta a amoralidade viciosa dos homens libertinos, que, como na obra de Richardson, são um perigo onipresente. Eles tratam as mulheres como “inimigas”, e têm “um esquema regular e premeditado” para conquistá-las. Suas promessas de casamento não valem nada. Eles são culpados de uma “perfídia indefensável”. Tais como o lorde Fellamar, que tenta estuprar Sophia Western para forçá-la a casar-se com ele, são todos sombras de Lovelace.[404]
Esta imagem é delineada de forma mais nítida no último e mais sombrio romance de Fielding, Amelia. Primeiro conhecemos a srta. Mathews, uma femme fatale aparentemente amoral, que por algum tempo desvia o herói de seu caminho. Mas então o narrador nos conta a história dela, a explicação de seu caráter. Ela própria foi desvirtuada primeiro por um belo oficial perverso, que cinicamente a seduziu, a manteve como amante, e diversas vezes a abandonou por outras mulheres — até que, levada à fúria e ao desespero pela insensibilidade dele, ela finalmente o apunhala no coração. “Que minha sina seja uma advertência para toda mulher”, ela exclama, para que conserve sua inocência, resista a qualquer tentação, já que certamente se arrependerá da tola permuta. Que isso seja um aviso para que ela lide com o sexo masculino com cuidado e cautela; rechace as menores aproximações desonradas, e jamais confie demais na honestidade de um homem, nem em sua própria força, onde ela tem tanto a perder; que ela lembre que caminha sobre um precipício, e o abismo sem fundo está lá para recebê-la, caso ela escorregue; ou mesmo caso dê sequer um passo em falso.[405]
Outra personagem central, a esposa virtuosa de um clérigo empobrecido, é vítima de um aristocrata frio e calculista, um desses sedutores em série que veem as mulheres como “inimigas” a serem perseguidas e destruídas: ele dorme com elas uma vez só, pois o que o excita é “novidade e resistência”. Usando sua rede organizada de cafetões e “um longo plano regular e premeditado”, ele a atrai para um baile de máscaras, droga a mulher e a estupra. Nisso ele a contamina com uma doença venérea. Então seu marido, o clérigo, pega a doença dela e se dá conta da verdade. Tresloucado de dor, ele tenta matar a esposa e a si mesmo, e morre logo em seguida. A própria heroína do livro é várias vezes perseguida por libertinos insidiosos e experientes. Sua resistência comprova sua virtude; mas também sua sorte diante de avassaladoras forças contrárias. Estes perigos espreitam por toda parte, e os homens superiores em busca do vício não hesitam em usar todos os meios que têm à disposição: insinuação, adulação, riqueza, suborno, seu poder sobre maridos e pais, favores políticos, álcool, drogas, bailes de máscaras, cafetinas, cafetões, mentiras e força bruta.[406] Em última instância, por trás da comédia, Fielding está fundamentalmente preocupado com a voracidade dos homens e a vitimização das mulheres.
Igualmente notável é o grau em que Richardson e seus admiradores aceitavam a premissa básica de que os homens estavam fadados a tomar liberdades sexuais — a verdadeira divisão era entre os “devassos moderados” e os libertinos incorrigíveis. Para a frustração de Richardson, mesmo suas leitoras mais virtuosas relevavam os atos imorais de homens como Lovelace e sir Hargrave Pollexfen, o libertino aspirante a estuprador de Grandison. No entanto, o romancista também seguia esta distinção. No primeiro esboço de Sir Charles Grandison, a heroína está perfeitamente disposta a se casar com um homem sexualmente experiente, contanto que ele abandone sua vida de libertino — pois, nas palavras dela, “talvez não seja considerado absolutamente necessário fazer escrutínios muito minuciosos na vida pregressa do homem a quem não temos objeções muito substanciais”.[407] A mesma indulgência pré-conjugal foi concedida ao sr. B em Pamela, e a Belford, o colega devasso de Lovelace em Clarissa. Mesmo na obra de Richardson, a fornicação masculina, e até a sedução, sempre eram potencialmente perdoáveis.
Quando, em seu último romance, ele tentou em vez disso retratar um herói totalmente casto, estava, portanto, muito ciente de estar advogando uma visão extrema. Com certeza, perguntou um de seus admiradores, “ninguém além dos padres e dos pudicos” poderia fazer objeção a “um devasso moderado”? Ao ser consultado sobre como mostrar “o caráter de um homem bom”, Colley Cibber, um amigo idoso de Richardson, sugeriu-lhe que um tal modelo de comportamento sempre faria questão de dispensar sua amante antes de propor casamento a uma mulher honrada. “Quando fiz minhas objeções à amante”, recontou o romancista, Cibber ficou atônito: “Um homem virgem, disse ele — rá, rá, rá, rá! [...] e ele riu até eu bem perder a compostura!” Era um erro ter sugerido que sir Charles Grandison “ainda conservava sua virgindade”, concordou outro crítico que, exceto por isso, era simpatizante ao livro, “acho que isso prejudicou seu personagem um bom tanto junto às senhoras”. Para o desânimo de Richardson, mesmo sua confidente mais próxima, lady Bradshaigh, que originalmente promovera o romance, tinha uma visão semelhante sobre a necessidade da complacência das mulheres para com a incastidade masculina. Certamente, argumentou ela, um homem podia ser sexualmente ativo sem se tornar um “libertino abandonado” irredimível, assim “como um homem pode às vezes beber um pouco além da conta sem ser um beberrão”. “Como, então, há tão poucos homens bons”, ela concluiu, “as moças acharão que é necessário se casar com libertinos, preferível a não se casar com ninguém.”[408]*[409]
Na metade do século xviii, já se estabelecera firmemente um novo equilíbrio de pressupostos sobre sexo, sedução, e a incastidade natural e inevitável dos homens. Este conjunto de ideias era compartilhado por homens e mulheres de condições sociais muito diferentes. Ele era especialmente ostentado por defensores da liberdade sexual. Em toda parte, acima de tudo nos escritos e conversas particulares do período, é possível encontrar a celebração, perturbadoramente inescrupulosa e misógina, da conquista sexual dos homens de origem nobre — não apenas por prazer sexual, mas como exercício de poder sobre pessoas inferiores. Como o célebre radical John Gawler, publicamente renomado por sua sagacidade e charme, explicou em particular para William Godwin, ele não dormia com mulheres porque gostasse de sexo, mas apenas para humilhá-las: “Há mais prazer na masturbação, considerada meramente pelo aspecto sensual [...] o prazer superior, no outro caso, consiste em ser mais esperto que uma mulher, tirando-lhe aquilo de que ela não gosta de abrir mão.”[410] No entanto, os princípios básicos da voracidade masculina e da passividade feminina eram igualmente aceitos por aqueles que lamentavam a licenciosidade dos homens. A literatura do período estava saturada deles. Este novo modo de pensar sobre desejo carnal e gênero dominaria as visões da sexualidade nos séculos xix e xx.
Notas
344 [gould, Robert]. Love Given O’r, 1682, citando 5.
345 Para visões gerais convenientes, ver p. ex. carson, Anne. “Putting Her in Her Place”. In: halperin, David et alii. (orgs.). Before Sexuality, 1990; pomeroy, Sarah B. Goddesses, Whores, Wives, and Slaves, 1995 ed.; brundage, James A. Law, Sex, and Society in Medieval Europe, 1987; blamires, Alcuin et alii. (orgs.). Woman Defamed and Woman Defended, 1992; maclean, Ian. The Renaissance Notion of Woman, 1980; sommerville, Margaret R. Sex and Subjection, 1995; fletcher, Anthony. Gender, Sex and Subordination in England 1500–1800, 1995, caps. 3–4; wiesner-hanks, Merry E. Christianity and Sexuality in the Early Modern World, 2000.
346 latham, Robert & matthews, William (org.). The Diary of Samuel Pepys, 11 vols., 1970–1983, v. 17, 16 de janeiro de 1664; Universiteitsbibliotheek Leiden, ms bpl 1325, fol. 149r; harris, Frances. Transformations of Love, 2003, 256.
347 watt, Ian. The Rise of the Novel, 1957, citando pp. 160–162. Sobre o surgimento destes temas, ver os brilhantes e pioneiros ensaios de spacks, Patricia Meyer. “Ev’ry Woman is at Heart a Rake”, Eighteenth-Century Studies, nº 8, 1974 e cott, Nancy F. “Passionlessness”. Signs, nº 4, 1978; muitos bons exemplos são fornecidos em blondel,Madeleine. Images de la femme dans le roman anglais de 1740 à 1771, 1976 & harvey, A. D. Sex in Georgian England, 1994, caps. 2–3.
348 Embora, para tratamentos instigantes de questões relacionadas, ver p. ex. leites, Edmund. The Puritan Conscience and Modern Sexuality, 1986; weber, Harold M. The Restoration Rake-Hero, 1986; perry, Ruth. “Colonizing the Breast”. In: Journal of the History of Sexuality, nº 2, 1991.
349 laqueur, Thomas. Making Sex, 1990.
350 Ibidem, citando pp. 11, 20, 23 (grifo do autor). Embora o argumento de Laqueur tenha sido muito criticado, nenhuma explicação alternativa ainda foi apresentada: para exemplos representativos, ver hitchcock, Tim. English Sexualities, 1700–1800, 1997, p. 111; shoemaker, Robert B. Gender in English Society, 1650–1850, 1998, cap. 3; foyster, Elizabeth. Manhood in Early Modern England, 1999, pp. 212–213; harvey, Karen. “The Century of Sex?”. In: Historical Journal, nº 45, 2002. A descrição mais completa da mudança geral pode ser encontrada em Anthony Fletcher, Gender, Sex and Subordination in England 1500–1800, 1995, esp. cap. 19 – embora mesmo esta investigação sensível e perspicaz a explique, em última instância, como apenas “o impacto de discursos biomédicos e do desenvolvimento de uma noção romântica de feminilidade” (392).
351 Certayne Sermons, or Homelies, Appoynted by the Kynges Maiestie, 1547, sig. Uii; leigh, Dorothy. The Mothers Blessing, 1616, p. 33; bennett, Judith M. “Writing Fornication”. In: Transactions of the Royal Historical Society, nº 13, 2003, pp. 146–147; durham, James. A Practical Exposition of the X Commandments, 1675), p. 355; baxter, Richard A Christian Directory, 1673, p. 395.
352 Sobre este parágrafo e os seguintes, ver esp. capp, Bernard. When Gossips Meet, 2003, caps. 4, 6 (aqui citando p. 227); gowing, Laura. Common Bodies, 2003, caps. 2, 3. Ver quaife, G. R. Wanton Wenches and Wayward Wives, 1979, passim; hindle, Steve. “The Shaming of Margaret Knowlsey”. In: Continuity and Change, nº 9, 1994; walker, Garthine. “Re-reading Rape and Sexual Violence in Early Modern England”. In: Gender and History, nº 10, 1998.
353 latham, Robert & mathews, William (ed.). The Diary of Samuel Pepys, 11 vols., 1970–1983, vol. 5, pp. 37, 322, 351; vol. 4, pp. 20, 40; bryant, Arthur. Samuel Pepys, 3 vols., 1933–1938), vol. 3, pp. 166–167, 386. Sobre o elemento de troca, aceitação e cumplicidade feminina dentro deste contexto social e sexual dominado pelos homens, ver dabhoiwala, Faramerz. “The Pattern of Sexual Immorality”. In: griffiths, Paul & jenner, Mark S. R. (eds.). Londinopolis, 2000.
354 Ver esp. gowing. Common Bodies, citando p. 61; clark, Anna. Women’s Silence, Men’s Violence, 1987; simpson, Antony E. “Vulnerability and the Age of Female Consent”. In: rousseau, G. S. & porter, Roy (eds.). Sexual Underworlds of the Enlightenment, 1987; trumbach, Randolph. Sex and the Gender Revolution, 1998, esp. cap. 7; meldrum, Tim. Domestic Service and Gender 1660–1750, 2000, cap. 4; ingram, Martin. “Child Sexual Abuse in Early Modern England”. In: braddick, Michael J. & walter, John. Negotiating Power, 2001; capp. When Gossips Meet, cap. 4; fletcher, Anthony. Gender, Sex and Subordination in England 1500–1800, 1995, pp. 93–94, e a literatura citada ali.
355 [fielding, Henry]. Ovid’s Art of Love Paraphrased, 1747, citando pp. 31, 39, 75, 77; donaldson, Ian. The Rapes of Lucretia, 1982), cap. 5; harvey, A. D. Sex in Georgian England, 1994, cap. 4; dickie, Simon “Fielding’s Rape Jokes”. In: Review of English Studies nº 61, 2010.
356 Ver p. ex. barnum, Priscilla Heath (ed.). Dives and Pauper, Early English Text Society, 1976–2004, vol. 2. 67–71; [milton, John]. An Apology against a Pamphlet, 1642, 18; herrup, Cynthia B. A House in Gross Disorder, 1999; blackburn, Simon. Lust, 2004, caps. 3–4; peters, Christine. Women in Early Modern Britain, 1450– 1640, 2004, cap. 3.
357 vieth, David M. (ed.). The Complete Poems of John Wilmot, Earl of Rochester, 1968, citando pp. 48, 60–61; love, Harold. English Clandestine Satire 1660–1702, 2004, pp. 61–62 e cap. 6 (citando p. 213); wilson, John Harold. Court Satires of the Restoration, 1976), passim; sharp, Buchanan. “Popular Political Opinion in England 1660–1685”. In: History of European Ideas, nº 10, 1989; weil, Rachel. “Sometimes a Sceptre is Only a Sceptre”. In: hunt, Lynn (ed.). The Invention of Pornography, 1993; bryson, Anna From Courtesy to Civility, 1998, cap. 7; southcombe, George & tapsell, Grant. Restoration Politics, Religion and Culture, 2010, pp. 150–60.
358 capp. When Gossips Meet, p. 145.
359 Para exemplos típicos, ver A Brief Collection of some Memorandums, 1689), p. 3; Athenian Mercury, ii/13, 1691), questão 3; [dunton, John]. The Night-Walker i/1, 1696), prefácio; God’s Judgements against Whoring, 1697, p. 45; gailhard, J[ean]. Four Tracts, 1699), p. 2.
360 [swift, Jonathan]. A Project for the Advancement of Religion, 1709, pp. 10–11; The Guardian, nº 45, (2 de maio de 1713).
361 secord, Arthur Wellesley. (ed.). Defoe’s Review, 9 vols. 1938, vol. 3, p. 132 (5 de novembro de 1706) (ver [defoe, Daniel]. Conjugal Lewdness, 1727, pp. 288–289; Marriage Promoted, 1690, p. 27; fielding, Henry The Covent-Garden Journal [1752], ed. Bertrand A. Goldgar, 1988, citando nºs 20 e 57; Critical Remarks on Sir Charles Grandison, 1754), p. 31.
362 holloway, Robert. The Rat-Trap [1773], pp. 56–57; barry, Edward. Theological... Essays [1790?], p. 75; Advice to Unmarried Women, 1791, p. 33; dodd, William. An Account of the Rise, Progress and Present State of the Magdalen Charity, 1761, prefácio; Reflections Arising from the Immorality of the Present Age, 1756), p. 45.
363 bacon, Francis. New Atlantis, publicado junto com seu Sylva Sylvarum, 1627), citando p. 27; karras, Ruth Mazo. Common Women, 1996; haselkorn, Anne M. Prostitution in Elizabethan and Jacobean Comedy, 1983.
364 [dunton, John]. The Night-Walker, 1696–1697, citando i/3, sig. [A3r]; i/4, p. 22; ii/3, p. 13; ii/4, sig. [A3v]; ver ibidem, i/1, sigs A2r–Br; Account of the Societies for Reformation of Manners, p. 93–97; A. M. The Reformed Gentleman, 1693; [dunton, John]. The Hazard of a Death-Bed-Repentance, 1708.
365 bond, Donald F. (ed.). The Spectator, 5 vols. 1965, esp. nºs 182 (citado), 190 (citado), 208, 266 (citado), 274, 276, 528; Original and Genuine Letters sent to the Tatler and Spectator, 2 vols. 1725, i. 54.
366 “Capt. Johnson”. In: The History of […] Eliz. Mann, 1724, citando iv–v, p. 43–5; [defoe, Daniel?]. Some Considerations upon Street-Walkers [1726], citando p. 8; bond, Spectator, citando nº 266; ver também secord, Arthur Wellesley (org.). Defoe’s Review, 9 vols.,1938, vol. 9, p. [84] (6 de janeiro de 1713); [wilcocks], Joseph. The Righteous Magistrate, 1723, 13.
367 The Prentice’s Tragedy [1700?]; An Excellent Ballad of George Barnwell (diversas edições); lillo, George. The London Merchant, 1731, citando ato i, cena 2 e ato iv, cena 2; Idem. odnb.
368 fielding, Henry. The Covent-Garden Journal [1752], Bertrand A. Goldgar (org.), 1988, pp. 393, 415 (ver também pp. 400–401); dodd, William A Sermon on St. Matthew, 1759, p. 12; holloway, Robert. The Rat-Trap [1773], pp. 57–58. Ver The Holy Penitent, 1740, p. 3; cobden, Edward A Persuasive to Chastity, 1749; Gentleman’s Magazine, xix. pp. 125–127 (março de 1749).
369 The Adventurer, nºs 86, 134–136, 1753–4; The Rambler, nºs 170–171, 1751; [dodd, William]. The Sisters, 2 vols. 1754; inchbald, Elizabeth. Nature and Art, 2 vols. 1796; Innocence Betrayed, or the Perjured Lover, citando Penrith (org.) [c. 1800], pp. 3–5.
370 lonsdale, Roger (org.). The New Oxford Book of Eighteenth-Century Verse, 1984, p. 683.
371 [cleland, John]. Memoirs of a Woman of Pleasure, 2 vols. 1749 e seu livro The Case of the Unfortunate Bosavern Penlez, 1749, citando p. 13; ver Ruth Bernard Yeazell, Fictions of Modesty, 1991, cap. 7, e, para exemplos do século xix, trudgill, Eric. Madonnas and Magdalens, 1976, cap. 11.
372 “Estas mulheres infelizes que vivem da prostituição”, concordou Adam Smith em 1776, eram “talvez as mais belas mulheres do território britânico”. campbell, R. H.; skinner, A. S. & todd, W. B. (org.). An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations [Investigação da natureza e causas da riqueza das nações], I. xi. b. 1976, p. 41. (N. do A.)
373 dabhoiwala, Faramerz. “The Pattern of Sexual Immorality”. In: griffiths, Paul & jenner, Mark S. R. (orgs.). Londinopolis, 2000, citando p. 97; OBP t17300704-40; evans, Tanya “Unfortunate Objects”: Lone Mothers in Eighteenth-Century London, 2005.
374 Ver p. ex. Ibidem.; OED. “unfortunate”; OBP. “unfortunate” e “misfortunate”.
375 Excelentes introduções ao contexto mais amplo incluem rendall, Jane. The Origins of Modern Feminism, 1985; knott, Sarah & taylor, Barbara (orgs.). Women, Gender and Enlightenment, 2005; o’brien, Karen. Women and Enlightenment in Eighteenth-Century Britain, 2009.
376 Sobre os temas deste parágrafo e dos seguintes, ver esp. roberts, David. The Ladies: Female Patronage of Restoration Drama, 1989; howe, Elizabeth. The First English Actresses, 1992; hughes, Derek. English Drama 1660–1700, 1996, e seu artigo “Rape on the Restoration Stage”. In: The Eighteenth Century, nº 46, 2005. Sobre o tratamento comum do estupro como metáfora para o martírio religioso e a tirania política na literatura anterior, ver esp. donaldson, Ian. The Rapes of Lucretia, 1982; swärdh, Anna. Rape and Religion in English Renaissance Literature, 2003.
377 Citando ato i, cena 3; ato ii, cena 1.
378 rowe, Nicholas The Fair Penitent, 1703, citando ato i, cena 2; ato ii, cena 1; ato iii, cena 1; ato v, cena 1; Epílogo; Idem, The Tragedy of Jane Shore, 1714) citando ato i, cena 2; scott, Maria M. Re-Presenting “Jane” Shore, 2005.
379 “Frisky” remete ao sentido de “vivaz, esperta”, “tricksy” significa “astuta, ardilosa”, e “tricklove” seria algo como “amor ardiloso”. (N. do T.)
380 otway, Thomas. The Orphan, 1680, ato i, cena final; ato iii, cena 1. Ver staves, Susan. Players’ Scepters, 1979, esp. cap. 5; hughes. English Drama, esp. cap. 1.
381 Para introduções aos temas dos parágrafos seguintes, ver p. ex. rogers, Katharine M. Feminism in Eighteenth-Century England, 1982; spencer, Jane. The Rise of the Woman Novelist, 1988; pearson, Jacqueline. The Prostituted Muse, 1988; turner, Cheryl. Living by the Pen, 1992; ballaster, Ros. Seductive Forms, 1992; eger, Elizabeth (org.). Women, Writing and the Public Sphere, 1730–1830. 2001; clarke, Norma. The Rise and Fall of the Woman of Letters, 2004; staves, Susan. A Literary History of Women’s Writing in Britain, 1660–1789, 2006; apetrei, Sarah. Women, Feminism and Religion in Early Enlightenment England, 2010.
382 [behn, Aphra]. The Revenge, 1680, citando ato ii, cena 2; [fyge, Sarah]. The Female Advocate, 1686, citando pp. 4, 10–11, 21.
383 richardson, Samuel. Clarissa, or The History of a Young Lady [1747–8], Angus Ross (org.), 1985, citando perfácio; austen, Jane. Northanger Abbey, 1818, citando cap. 5. Sobre a definição e evolução do gênero, ver esp. watt, Ian. The Rise of the Novel, 1957, cap. 1; mckeon, Michael. The Origins of the English Novel 1600–1740, 1987; hunter, J. Paul. Before Novels: The Cultural Contexts of Eighteenth-Century English Fiction, 1990; hammond, Brean S. Professional Imaginative Writing in England, 1670–1740, 1997; warner, William B. Licensing Entertainment, 1998.
384 ‘Para um historiador’, em contraste, ‘grandes habilidades... não são pré-requisito’, observou Samuel Johnson, ‘pois na composição histórica, todos os grandes poderes da mente humana ficam quiescentes — e nenhum escritor tem tarefa mais fácil que o historiador’. Boswell, Vida de Johnson, George Birkbeck Hill & L. F. Powell (orgs.), 6 vols. (1934-50), i. 424-5. (N. do A.)
385 manley, Delarivier. New Atalantis [1709], Ros Ballaster (org.), 1991, citando p. 45; spencer. Rise of the Woman Novelist, cap. 4.
386 astell, Mary. Some Reflections upon Marriage, 1700, citando pp. 65, 68, 74–75; [cavendish, Margaret], duquesa de Newcastle, The Convent of Pleasure, ato i, cena 2, em suas Plays Never Before Printed, 1668; [masham, Damaris]. Occasional Thoughts, 1705), pp.154–156; [taylor, John]. The Womens Sharpe Revenge, 1640, pp. 7–9, 119–120, 130–137. Ver killigrew, Thomas. Comedies and Tragedies, 1664, pp. 339, 396–397 (Thomaso, parte i, ato ii, cena 4; parte ii, ato i, cena 5).
387 Ver p. ex. blamires, Alcuin. The Case for Women in Medieval Culture, 1997, pp. 38, 47–48, 132, 135, 138–142, 153–137; a fascinante discussão em barnum, Priscilla Heath (org.). Dives and Pauper, 2 vols. Early English Text Society, 1976–2004, i. 2. pp. 71–95; e o exemplo mais famoso, o prólogo da Mulher de Bath, de Chaucer (skeat, Walter W. (org.). The Complete Works of Geoffrey Chaucer, 1957 ed., pp. 573–574).
388 Além das obras citadas na nota 6 acima, ver p. ex. shevelow, Kathryn. Women and Print Culture, 1989; berry, Helen. Gender, Society and Print Culture in Late- Stuart England, 2003; whyman, Susan E. The Pen and the People, 2009.
389 The London Journal, nº 359, (11 de junho de 1726). A descoberta do corpo da mulher já tinha sido amplamente noticiada: ver p. ex. Daily Post, nº 2088 (3 de junho de 1726). Mesmo que a carta não seja legítima, ou tenha sido editada para publicação, sua forma e conteúdo ilustram como as convenções destas narrativas haviam se tornado distintas e disseminadas, já no meio da década de 1720.
390 The Rambler, nº 18, 1750.
391 Sobre sua popularidade, e suas ressonâncias sexuais e políticas mais profundas, ver p. ex. Susan Staves, “British Seduced Maidens”. In: Eighteenth-Century Studies, nº 14, 1980–81; clark, Anna. “The Politics of Seduction in English Popular Culture, 1748–1848”. In: radford, Jean (org.). The Progress of Romance, 1986; potter, Tiffany. “Genre and Cultural Disruption”. In: English Studies in Canada, nº 29, 2003; binhammer, Katherine. The Seduction Narrative in Britain, 1747–1800, 2009; bowers, Toni. Force or Fraud: British Seduction Stories and the Problem of Resistance 1660– 1760, 2011; e as obras citadas na nota 7 abaixo.
392 [richardson, Samuel]. Letters Written to and for Particular Friends, 1741; mas começado antes de Pamela, e uma das inspirações deste romance, citando pp. 30, 94, 131, 179, 182, 200–201; barbauld, Anna Laetitia (org.). The Correspondence of Samuel Richardson, 6 vols., 1804, vol. 4, pp. 292–293.
393 Para um caso similar, da vida real, de meados da década de 1740, com notáveis paralelos com Pamela, ver Giles Worsley, “A sedução de Elizabeth Lister”, Women’s History Review, 13 (2004) — é muito tentador supor que os protagonistas devem ter lido o romance de Richardson. (N. do A.)
394 eaves, T. C. Duncan & kimpel, Ben D. Samuel Richardson, 1971, pp. 87–8; London Journal (6 de abril de 1723), 3; Westminster Public Library, E.2576, nº 103, 1724), citado em trumbach, Randolph. “Modern Prostitution and Gender in Fanny Hill”. In: rousseau, G. S. & porter, Roy. Sexual Underworlds of the Enlightenment, 1987), p. 76; The Proceedings at the Sessions of the Peace […] against Francis Charteris, Esq., 1730, citando p. 4.
395 [richardson]. Letters Written to [...] Friends, pp. 79–84.
396 richardson, Samuel. Pamela; or, Virtue Rewarded [1740], Thomas Keymer e Alice Wakely (orgs.), 2001, citando pp. 108, 110, 134–135, 137.
397 Ibidem, pp. 213; richardson, Samuel. Clarissa, or The History of a Young Lady [1747– 8], Angus Ross (orgs.), 1985, citando a lista de personagens.
398 Ver p. ex. utter, Robert Palfrey & needham, Gwendolyn Bridges. Pamela’s Daughters, 1936; eaves & kimpel. Richardson, cap. xxiv; doody, Margaret Anne. A Natural Passion, 1974, cap. xiv; goldberg, Rita. Sex and Enlightenment, 1984; perry, Ruth. “Clarissa’s Daughters”. In: Women’s Writing 1, 1994; hessinger, Rodney. “Insidious Murderers of Female Innocence”, In: smith, Merril D. Sex and Sexuality in Early America, 1998; keymer, Thomas & sabor, Peter. Pamela in the Marketplace, 2005.
399 chapman, R. W. (org.). Fragment of a Novel written by Jane Austen, 1925, cap. 8. Vale lembrar que Sir Charles Grandison era o romance favorito de Austen.
400 weis, Charles McC. & frederick pottle, A. (orgs.). Boswell in Extremes, 1776–1778, 1970, p. 180; ver Yale Lewis Walpole Library, Hanbury Williams MSS, vol. 68, fol. 74r, 1745; richardson, Clarissa, Ross (org.), carta 115.
401 Era ridículo como todos eram obcecados pelo “mérito fictício” da castidade feminina, queixou-se Shelley em 1812: na verdade, sedução era um termo que “não podia ter significado algum, numa sociedade racional”. The Letters of Percy Bysshe Shelley, Frederick L. Jones (org.), 2 vols. (1964), i. 323. (N. do A.)
402 “melmoth, Courtney” [i.e. Samuel Jackson Pratt]. The Pupil of Pleasure, 2 vols. 1776, citando i. 2; Byron’s Letters and Journals, marchand, Leslie A. (org.). 13 vols. 1973–94, vol. 3, 1813, p. 108.
403 Ver p. ex. sabor, Peter. “Richardson, Henry Fielding, and Sarah Fielding”. In: keymer, Thomas & mee, Jon (orgs.). The Cambridge Companion to English Literature 1740–1830, 2004; eaves & kimpel. Richardson, p. 302; hill, George Birkbeck e powell, L. F. (orgs.). Boswell’s Life of Johnson, 6 vols. 1934–50, vol. 2, p. 495 (citado).
404 fielding, Henry. Tom Jones, 1749, citando livro xiv, cap. iv; Ver park, William. “Fielding and Richardson”. In: Publications of the Modern Language Association of America, nº 81, 1966; eaves e kimpel. Richardson, pp. 134, 297, 303–305; battestin, Martin C. & probyn, Clive T. (orgs.).The Correspondence of Henry and Sarah Fielding, 1993, pp. 70–71.
405 fielding, Henry. Amelia, 1751, livro i, caps. 6–9 (citando cap. 8).
406 Ibidem, citando livro vii, caps. 7 e 9.
407 Ver p. ex. carroll, John (org.). Selected Letters of Samuel Richardson, 1964, pp. 141, 272–5; eaves & kimpel. Richardson, pp. 366, 370 (citado); barbauld (org.). Correspondence of Samuel Richardson, iii. pp. 7–10.
408 Ibidem. citando vi. 42–44, 62–66, 75; [plummer, Francis]. A Candid Examination of the History of Sir Charles Grandison, 3ª ed., 1755, citando p. 49. Ver bond, Donald F. (org.). The Spectator, 5 vols. 1965, nº 154; eaves e kimpel. Richardson, pp. 322, 354, 369, 375; richardson, Samuel. The History of Sir Charles Grandison [1753–1754], Jocelyn Harris (org.), 3 vols. 1972; “A Concluding Note by the Editor”; [priestley, Joseph]. Considerations for the Use of Young Men [1778], pp. 20–22.
409 Na primeira carta que escreveu a Richardson, durante a leitura de Clarissa, ela já tinha (anonimamente) confessado, “embora eu enrubesça [...], que mesmo que fosse morrer por isso, não posso deixar de ter apreço por Lovelace”, e fantasiava sobre sua redenção: “Um marido impecável eu fiz dele, até mesmo sem risco de uma recaída” (barbauld, Anna Laetitia [org.]. The Correspondence of Samuel Richardson [A correspondência de Samuel Richardson]. 6 vols. 1804, vol. 4, pp. 180-181). (N. do A.)
410 philp, Mark. Godwin’s Political Justice, 1986), p. 177 n. 5; ker, (John) Bellenden. odnb ; ver fletcher,Anthony. Gender, Sex and Subordination in England 1500–1800, 1995, pp, 342–346
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