4.18.2024

A IGREJA CATOLICA AUTORIZOU A PERSEGUIÇÃO AOS GATOS?


 

Não! A igreja jamais ensinou tal fato. O que houve na verdade foi um mal entendido, pois em 1230 o Papa Gregório IX enviou uma bula para o Imperador alemão Frederico II, pedindo providencias quanto a adoração de gatos pretos na região. Sendo assim, o documento condenava pessoas e não o gato. Não se sabe se tal fato deu inicio posteriormente a cultura de que gatos eram animais enviados do demônio.

De acordo com o historiador medievalista Tim O'Neil (Tim O'Neill. Is the Vox in Rama authentic? What effects did it have?) na Idade Média o gato foi associada à peste negra, muito provavelmente por conta da Inquisição, pois esses animais estavam associados às bruxas.

O que podemos afirmar e que a associação dos gatos com bruxaria se tornou muito forte na cultura popular. O que levou a diversos massacres destes animais ao longo da história em diferentes regiões da Europa.

O historiador Robert Darnton em seu livro "O grande massacre dos gatos" comenta o hábito de tal costume. Na história, a fim de se vingar de seus patrões, um dos aprendizes resolveu imitar o uivo dos gatos, impedindo o sono de seus patrões. Estes solicitaram aos aprendizes que dispersassem os gatos da região. Atendendo ao pedido, os aprendizes matam o gato da patroa, levando-a ao desespero.

Depois de matar, torturar e incinerar vários gatos, os aprendizes representaram para os demais tipógrafos da região um tribunal burlesco de inquisição dos gatos. O ambiente de hilaridade e zombaria produz de início um certo estranhamento, entre os leitores contemporâneos: por que tanta violência? Por que tanta aversão aos gatos? Por que tamanha crueldade?

Nesse sentido, Darnton recorre ao folclore e aos estudiosos da cultura popular. Recolhe relatos que evidenciam todo um imaginário medieval que atribuía aos gatos um significado misterioso, satânico e sobrenatural na Europa. As lendas associavam esse animal aos rituais de feitiçaria e muitos eram considerados encarnações de bruxas. Por isso, entre os camponeses, durante o calendário carnavalesco e religioso, era permitida a violência contra os gatos, arrancando seus pelos, quebrando e fraturando suas patas, jogando-o à fogueira sem piedade. Neste calendário, dramatizavam-se tribunais que levavam os gatos à fogueira, como nas guerras de religião da reforma e da contrarreforma.

Darnton se ampara nas lições de Mikhail Bakhtin sobre a cultura popular na Idade Média e no Renascimento. O carnaval era um ciclo do ano em que era permitida a inversão da ordem e dos papéis sociais. Assim, tratava-se de um rito ao mesmo tempo festivo e violento. O riso popular era ameaçador contra o mundo estabelecido e é esse mesmo riso que Darnton detecta entre os trabalhadores de Paris no século XVIII. O gato tinha também uma conotação sexual na Europa, associada à condição feminina. O episódio é assim algo mais do que uma história bizarra. É um acontecimento revelador de uma cultura muito antiga, que remonta às fontes da cultura popular.

Portanto, podemos afirmar que a Igreja não ensinou nem incentivou a ideia de que gatos eram maus. Tal fato esta contido apenas na cultura popular, principalmente da Idade Média. 

Texto de Jeferson Argolo Rosa publicado no Quora. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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